sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Crítica – Dragon’s Dogma: 1ª Temporada

 Análise Crítica – Dragon’s Dogma: 1ª Temporada


Review – Dragon’s Dogma: 1ª Temporada
Depois da inesperada surpresa que foi a série animada baseada em Castlevania, fiquei curioso com o anúncio de que a Netflix produziria uma animação baseada no game Dragon’s Dogma da Capcom. Por um lado o resultado de Castlevania dava motivos para ter esperança, por outro, o fato de Dragon’s Dogma não ter lá muita narrativa, deixando espaço para o jogador construir sua própria experiência naquele universo, dava motivos para apreensão de como isso seria transposto para tela. Felizmente o que este ano de estreia entrega é majoritariamente positivo, ainda que tenha alguns problemas.

A narrativa é protagonizada por Ethan, um guerreiro ressuscitado em uma jornada para recuperar o próprio coração, roubado pelo dragão que matou sua família. O primeiro episódio mostra brevemente a vida de Ethan e da esposa, Olivia, antes da destruição causada pelo dragão. Há a tentativa de que isso é feito para dar mais peso às perdas do protagonista, mas como é muito rápido (e o mesmo ocorre com os flashbacks envolvendo Olivia), não consegue ir além de uma trama de vingança bem típica. Em sua jornada, Ethan conta com a ajuda de Hannah, uma Peoa. No mundo de Dragon’s Dogma Peões são seres que existem para auxiliar Ressurgidos como Ethan em suas missões.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Uma Mulher é Uma Mulher

Resenha – Uma Mulher é Uma Mulher

Review – Uma Mulher é Uma Mulher
Dirigido por Jean-Luc Godard um ano depois de Acossado (1960), filme que o lançou em evidência no mundo todo, este Uma Mulher é Uma Mulher segue a tendência iconoclasta do diretor em brincar com as convenções dos gêneros hollywoodianos. Se em Acossado Godard jogava com a iconografia do noir, aqui Godard joga com os elementos típicos do filme musical.

Na trama, Angela (Anna Karina) é uma dançarina que sente o desejo de ter um filho, mas o namorado dela, Emile (Jean-Claude Brialy), está hesitante. Emile sugere que Angela tenha um filho com Alfred (Jean-Paul Belmondo), melhor amigo dela. Angela acaba achando a sugestão uma boa ideia e isso logicamente cria uma crise no relacionamento dos dois. Boa parte das razões pelas quais o filme é tão lembrado é pela direção iconoclasta de Godard, mas não se pode negar o carisma do trio principal, especialmente Anna Karina, envolvente e encantadora como Angela, convencendo de como sua personagem seria capaz de mobilizar a atenção dos homens ao seu redor.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Crítica – Carmen Sandiego: 3ª Temporada

Análise Crítica – Carmen Sandiego: 3ª Temporada

Review – Carmen Sandiego: 3ª Temporada
Assim como aconteceu com a segunda temporada, este terceiro ano de Carmen Sandiego começa com a promessa de entregar mais sobre o passado da protagonista conforme ela se aproximava de descobrir quem era sua mãe. A promessa não se concretiza, embora aqui isso possa ser atribuído a uma temporada abreviada (somente cinco episódios) provavelmente por conta da pandemia do coronavírus.

A trama começa com Carmen indo ao México para descobrir mais sobre a possível identidade de sua mãe. Ao mesmo tempo, a VILE transfere a base de operações da organização para o norte da Escócia depois dos eventos do segundo ano e planeja uma série de roubos para se reerguer.

Os cinco episódios que compõem a temporada apresentam a estrutura de “caso do dia” com Carmen e sua trupe viajando a um novo país para impedir mais um golpe da Vile ao mesmo tempo que precisam evadir o agente Deveraux e outros membros da ACME que ainda acham que Carmen é a vilã da história. Como em outras temporadas, os casos apresentam uma construção competente de suspense, personagens e antagonistas carismáticos, boas cenas de ação, além de um cunho educativo sobre história, geografia e cultura que é organicamente costurado nas tramas.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Línguas Desatadas

 

Análise Crítica – Línguas Desatadas

Review – Línguas Desatadas
Lançando em 1989 e dirigido por Marlon Riggs, Línguas Desatadas é um documentário menos interessado em informar ou convencer o público de um ponto de vista específico e mais em partilhar a experiência sensível de mundo de um grupo social específico. Especificamente o documentário fala sobre as experiências de homens negros gays de comunidades periféricas dos Estados Unidos.

O documentário mistura vários recursos, desde entrevistas e imagens de arquivo passando por poesias recitadas e imagens de arquivo. A montagem costura tudo de modo a produzir uma bricolagem que mistura todos esses recursos expressivos. Poderia resultar em algo caótico, mas a montagem consegue fazer esses diferentes materiais dialogarem para deixar o espectador imerso na subjetividade dos sujeitos filmados.

Quando um dos entrevistados narra suas primeiras experiências de juventude com homofobia e racismo a montagem alterna entre o depoimento e imagens em close de bocas proferindo ofensas preconceituosas, abruptamente interrompendo o fluxo da fala do entrevistado. A escolha estética provavelmente foi feita no sentido de fazer o público experimentar a sensação de receber uma torrente constante de ódio sem conseguir se fazer ouvir, com o esforço de um sujeito em se auto afirmar interrompido incessantemente pela intolerância alheia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Crítica – Get Duked!

 

Análise Crítica – Get Duked!

Review – Get Duked!
Fui assistir este Get Duked!, produção original da Amazon Prime Video, sem esperar muita coisa. Parecia mais uma dessas comédias adolescentes com piadas sobre drogas e escatologia jogadas de qualquer maneira na tela. De certa forma é isso, no entanto, o roteiro é bem amarrado o suficiente para que as situações absurdas façam algum sentido dentro da lógica da trama e não sejam simplesmente gags cômicas jogadas a esmo sem muito critério.

A história acompanha quatro adolescentes britânicos que são colocados em uma competição no interior da Escócia na qual precisam atravessar as Terras Altas até chegarem na costa. Ian (Samuel Bottomley), Dean (Rian Gordon), Duncan (Lewis Gribben) e DJ Beatroot (Viraj Juneja) não são exatamente os melhores alunos e o orientador vocacional deles acha que participar dessa expedição é uma boa maneira de colocá-los nos eixos. O que os garotos não imaginavam é que a expedição os colocaria diante de situações inesperadas, como um culto mascarado que caça pessoas e policiais atrapalhados que confundem os jovens com terroristas.

Toda premissa de uma viajem pelo campo é uma clara desculpa para não precisar construir muita coisa em termos de história, se calcando em uma série de encontros fortuitos com personagens pitorescos e as situações absurdas que emergem disso para mover as coisas adiante. Apesar de praticamente nenhuma trama, o filme diverte pela criatividade das situações absurdas e inesperadas com as quais os quatro adolescentes se envolvem. Como a cena em que Beatroot usa drogas com um grupo de fazendeiros dentro de um celeiro ou o momento em que Duncan inesperadamente atropela uma pessoa com uma van.

Contribuindo para o senso de absurdo e anarquia estão as escolhas estéticas, que constantemente recorre a distorções de imagem e forma para dar a impressão de uma cognição alterada. A inserção de cores fortes em alguns momentos contribui para um ar lisérgico aos eventos, como se tudo fosse resultado de uma viagem errada de drogas (e na maioria dos casos aqui é mesmo). Além de uma montagem acelerada que confere uma ritmo de energia alucinada, como que se tudo fosse contado por alguém completamente fora de si.

Considerando a natureza sem noção do longa, eu até me surpreendi pelo modo como o desfecho consegue amarrar bem e de maneira convincente (dentro da lógica de absurdo da trama, claro) todos os arcos e fios narrativos que convergem em uma fusão de sorte e estupidez para resolver todos os problemas dos personagens. O texto também acerta em dotar os personagens de alguma vulnerabilidade e insegurança, evitando reduzi-los a mera caricatura. Tudo bem que não sejam personagens complexos, mas pelo menos há uma dimensão de humanidade neles, não sendo idiotas apenas por serem idiotas e pronto.

Com situações absurdas bem construídas e personagens carismáticos, Get Duked! consegue funcionar como uma diversão despretensiosa.

 

Nota: 6/10


Trailer

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Lixo Extraordinário – King of Fighters: A Batalha Final

 

Análise Crítica – King of Fighters: A Batalha Final

Review – King of Fighters: A Batalha Final
Não é novidade que filmes baseados em games sejam péssimos. Temos inúmeros exemplos da tentativa de levar games para o cinema rendendo alguns longas extremamente ruins. Este King of Fighters: A Batalha Final é só mais um exemplo de como uma adaptação de games pode ser pavorosa. É tão ruim que perto dele Street Fighter: A Última Batalha (1994) parece até assistível em comparação.

Na trama, a energia emanada por três tesouros místicos é usada para acessar uma realidade (ou dimensão) virtual na qual acontece um torneio para decidir quem será o rei dos lutadores. Essa dimensão alternativa não traz consequência para o mundo real, ou seja, não é possível ser ferir ou morrer de verdade nela. Isso muda quando o criminoso Rugal (Ray Park) rouba os três tesouros e toma a dimensão para si, tornando o jogo em um torneio mortal para poder absorver o poder dessa dimensão e da criatura sobrenatural conhecida como Orochi. Para detê-lo, a agente da CIA Mai Shiranui (Maggie Q) precisa reunir os representantes dos três clãs: Kyo Kusanagi (Sean Faris), Iori Yagami (Will Yun Lee) e Chizuru Kagura (Françoise Yip).

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Crítica – A Ilha da Fantasia

 

Análise Crítica – A Ilha da Fantasia

Review – A Ilha da Fantasia
A série A Ilha da Fantasia sempre foi uma espécie de versão tropical de Além da Imaginação, mas agora, nas mãos da produtora Blumhouse, essa nova versão tenta entrar mais no reino do horror. Digo tenta porque o filme nunca consegue estabelecer com clareza o que quer para si, transitando abruptamente entre drama, comédia e horror sem um tom claro e incapaz de conseguir dar conta dos múltiplos arcos de personagem.

Na trama, um grupo de pessoas ganha um final de semana de estadia na chamada Ilha da Fantasia. Uma locação paradisíaca administrada pelo misterioso Sr. Roarke (Michael Peña). Roarke diz que a ilha tem propriedades mágicas, que pode tornar qualquer fantasia realidade. Assim, o grupo de personagens começa a viver suas fantasias, mas elas não se desenvolvem como esperado.

De cara chama atenção a natureza unidimensional dos personagens. Gwen (Maggie Q) tem um trauma do passado, Patrick (Austin Stowell) quer se tornar militar para honrar o pai morto em serviço, Melanie (Lucy Hale) quer se vingar da patricinha que praticou bullying contra ela no colégio e os irmãos Brax (Jimmy O. Yang) e J.D (Ryan Hansen) querem festas e curtição.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Katamari Damacy

 

Análise Crítica - Katamari Damacy

Review - Katamari Damacy
Lançado em 2004 para o Playstation 2, Katamari Damacy é um dos games mais estranhos com os quais eu tive contato. A esquisitice e a personalidade singulares provavelmente foi o que garantiu a longevidade da franquia, que ganhou algumas continuações e também um remaster para Nintendo Switch e PC em 2018 intitulado Katamari Damacy Reroll. É com base na versão do Switch desse remaster que escrevo esse texto.

Katamari Damacy Reroll parte de uma premissa totalmente aloprada. Em uma noite de bebedeira o Rei de Todo Cosmos derruba todas as estrelas do céu. Agora cabe ao jogador, controlando o Príncipe, o filho do rei, resolver tudo e restaurar as estrelas. Como o príncipe fará isso? Rolando um katamari para criar novas estrelas. “O que é um katamari?”, vocês me perguntam, bem um katamari é uma espécie de bola grudenta que absorve qualquer coisa menor que ela e vai aumentando de tamanho conforme o jogador vai grudando coisas nela.

Assim, se inicialmente você começa as fases com katamaris com alguns centímetros, grudando tachinhas ou pacotes de chiclete, rapidamente você tem uma bola com dezenas de metros e já está grudando pessoas, árvores, carros e outras coisas maiores. Crescendo o katamari o suficiente é possível chegar a níveis apocalípticos de tamanho, grudando prédios, navios cargueiros e até as nuvens.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Crítica – Enola Holmes

Análise Crítica – Enola Holmes

 

Review – Enola Holmes
Tentando contar a história da irmã mais nova do famoso detetive Sherlock Holmes, este Enola Holmes busca adicionar uma perspectiva feminina às tramas do investigador vitoriano. De início parece estar no caminho certo para alcançar seus objetivos, mas aos poucos vai se tornando menos interessante conforme a narrativa se afasta de seus temas centrais.

Enola (Millie Bobby Brown) cresce sozinha com a mãe Eudoria (Helena Bonham Carter) na propriedade rural dos Holmes. Eudoria faz questão de educar Enola em artes, ciências, criptografia e até em combate. As duas se tornam muito próximas até que um dia Eudoria desaparece misteriosamente e Enola é colocada sob os cuidados do irmão mais velho Mycroft (Sam Claflin), que decide mandá-la para um colégio interno para aprender a ser uma dama da sociedade. Sem interesse nisso e sem auxílio do irmão Sherlock (Henry Cavill) para dissuadir Mycroft, Enola decide fugir e investigar o desaparecimento da mãe por conta própria.

A ligação entre Enola e Eudoria é o ponto forte da narrativa, com os primeiros minutos nos fazendo entender como a mãe é tão central na vida da protagonista ao ponto dela arriscar tudo para encontrá-la. O sumiço de Eudoria e a chegada dos irmãos que insistem em torná-la uma dama serve de contraponto para a relação da protagonista com a mãe. Se Eudoria queria uma Enola independente e emancipada, Mycroft quer apenas que ela se encaixe no papel social aferido à mulher pela sociedade da época. Se Eudoria fazia parte do movimento sufragista e militava por direitos iguais, Mycroft parece querer manter as coisas exatamente como estão.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Crítica - Hades

Análise Crítica - Hades

Review - Hades
Nunca fui muito fã dos chamados roguelikes games que colocam o jogador em uma série de desafios completamente randomizados em termos de inimigos, estrutura de fases e itens para tentar vencer tudo de uma vez só. Nesses jogos, morrer significa recomeçar do início sem qualquer coisa (dinheiro, upgrades, etc) conquistada durante a jornada, embora alguns games do gênero ofereçam alguns módicos upgrades permanentes. Sempre me pareceu um gênero que não respeitava muito o tempo do jogador, usando a ideia de recomeçar para alongar artificialmente o jogo.

Ainda assim, resolvi conferir este Hades (disponível para Switch e PC) porque gosto muito do trabalho da desenvolvedora Supergiant Games (responsável por Bastion, Transistor e Pyre) e fiquei bem surpreso com o que encontrei. Não só os elementos de roguelike conseguem ser desafiadores sem, no entanto, eliminar o sentimento de progresso ao oferecer uma boa quantia de upgrades permanentes, como também a estrutura repetitiva do game é trazida para dentro da estrutura narrativa do jogo.