Adaptando o livro Território
Lovecraft de Matt Ruff, a série Lovecraft
Country traz uma releitura da mitologia criada pelo autor H.P Lovecraft,
bem como de vários outros elementos típicos do terror e da fantasia, a partir
das experiências da população negra dos Estados Unidos. É um movimento
importante não apenas por questões de representatividade, mas por tentar
responder a questão do que fazemos com as obras de autores que sabemos terem
sido péssimas pessoas?
Lovecraft era racista. Quando digo isso não quero dizer que
ele apenas aderia ao racismo estrutural de sua época como a maioria das pessoas
brancas que lhe eram contemporâneas. Lovecraft era ativamente racista, adepto a
um discurso de supremacia branca que ia muito além do racismo estrutural. Nesse
sentido, reapropriar a obra dele a partir da cultura e da vivência negras é um
modo de revelar como a obra pode ir além do autor, pode sobreviver às
limitações e falhas dele, pode até ser usada para tentar reparar a visão de
mundo excludente e preconceituosa que esse autor ajudou a disseminar.
A trama da série se passa nos Estados Unidos da década de 50
e é focada em Atticus (Jonathan Majors), também chamado de Tic. Quando o pai de
Tic, Montrose (Michael K. Williams), desaparece misteriosamente ele, a amiga
Leti (Jurnee Smolett) e o tio George (Courtney B. Vance) embarcam em uma viagem
pelo interior dos EUA. A viagem os colocará em rota de colisão com um antigo e
poderoso culto, além de revelar segredos a respeito da família de Tic.