segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Crítica – Vigiados

 

Análise  Crítica – Vigiados

Review – Vigiados
Dirigido por Dave Franco este Vigiados começa como um suspense no qual as tensões emergem das relações problemáticas entre os protagonistas. O que começa promissor, logo se torna desinteressante quando chega o momento de fazer as tensões de fato explodirem.

Na trama, dois casais alugam uma luxuosa casa à beira mar para passar um final de semana. Charlie (Dan Stevens) e Michelle (Alison Brie) vão para a propriedade acompanhados de Josh (Jeremy Allen White), irmão de Charlie, e Mina (Sheila Vand), namorada de Josh e sócia de Charlie. A chegada à casa traz algumas tensões envolvendo o preconceituoso gestor da propriedade e, aos poucos, percebemos também que a relação entre os quatro não é o que parece, com muitas tensões latentes.

A primeira metade da narrativa trabalha com certa habilidade as tensões subjacentes entre esses protagonistas. De maneira muito sutil vemos como Charlie e Josh guardam certas mágoas em relação ao outro, como Michelle parece deslocada em seu relacionamento com Charlie ou a impressão de que Mina e Charlie talvez tenham algo mais entre eles além de serem apenas parceiros de negócios.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Crítica – Lovecraft Country (Parte 3)

 

Análise Crítica – Lovecraft Country (Parte 3)

Review – Lovecraft Country (Parte 3)
Nas duas partes anteriores da análise de Lovecraft Country falei como a série trabalhava com vários elementos típicos do terror e da fantasia para falar de elementos da experiência negra nos EUA. Avisamos que o texto abaixo contem SPOILERS.

A questão da brutalidade policial, por exemplo, aparece no oitavo episódio, que lida com o trauma coletivo da morte de Emmett Till, um brutal crime real que chocou (e choca ainda hoje) tanto pela violência do crime quanto pela sua motivação banal (ele supostamente teria assoviado para uma mulher branca) e pelo fato dos assassinos terem ficado impune.

A ideia de que as autoridades detêm um controle e poder sobre as vidas da população negra é ilustrada pelo arco de Dee (Jada Harris) ao longo do episódio. Amaldiçoada por um policial que faz parte do culto em busca do sangue de Tic, Dee começa a ser perseguida por duas entidades que se parecem como duas garotas gêmeas em blackface, maquiadas para reproduzirem traços da população negra de maneira caricatural e deturpada. A lógica da maldição se assemelha a da criatura de Corrente do Mal (2014), que não para de seguir o alvo até matá-lo, enquanto da ideia de alguém ser perseguido por um duplo deturpado remete a Nós (2018), do Jordan Peele, um dos produtores da série.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Crítica – Lovecraft Country (Parte 2)

Análise Crítica – Lovecraft Country (Parte 2)


Review – Lovecraft Country (Parte 2)
Na primeira parte do texto sobre Lovecraft Country, falei sobre como a série usava o terror e a fantasia para abordar os elementos das vivências negras nos EUA, usando monstros, assombrações, cultos e outros elementos como metáforas para processos de racismo, exploração e desigualdade social. Nessa segunda parte vou tentar observar como a série lida com questões de identidade e a construção de papeis sociais aferidos a negros ou a mulheres. Avisamos que o texto contem SPOILERS.

O quarto episódio continua a expandir o jogo que a série faz com certos elementos da ficção de horror, fantasia ou aventura ao inserir os personagens em uma trama que poderia tranquilamente ter saído de filmes como Indiana Jones ou A Lenda do Tesouro Perdido (2004). Ao procurar um cofre secreto do culto liderado pela família Braithwhite, eles começam a explorar as catacumbas de um museu que, logicamente, está repleta de armadilhas.

Os diálogos entre Tic, Leti e Montrose explicitam a natureza autoconsciente do episódio, com o trio usando o conhecimento de narrativas de aventura para pautar como devem prosseguir pelos testes e tribulações impostos pelo labirinto. Até mesmo a música de fundo do episódio, com um uso constante de instrumentos metálicos, remete às composições de John Williams para os filmes do Indiana Jones.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Crítica – Os 7 de Chicago

 

Análise Crítica – Os 7 de Chicago

Review – Os 7 de Chicago
Em 1962 John F. Kennedy disse em um discurso algo que em português poderia ser traduzido como “aqueles que fazem revoluções pacíficas serem impossíveis, tornam revoluções violentas inevitáveis”. Essa frase não está ligada aos eventos reais retratados neste Os 7 de Chicago, produção da Netflix escrita e dirigida por Aaron Sorkin, mas veio à minha mente em alguns momentos durante o filme.

A trama narra os eventos reais do julgamento de sete líderes de movimentos contra a Guerra do Vietnã, presos sob a acusação de terem incitado a multidão contra a polícia de Chicago durante um protesto que terminou de maneira violenta. Chamados de “os 7 de Chicago”, o julgamento do grupo teve alta cobertura da imprensa e chamou a atenção pelo modo como muito do devido processo legal era jogado pela janela apenas para condená-los.

O estilo de Sorkin já se manifesta na montagem inicial que traz imagens de arquivo sobre os protestos contra o Vietnã que já aconteciam anos antes dos eventos em Chicago. Imagens de Martin Luther King e Robert Kennedy discursando contra a guerra são abruptamente interrompidas por uma tela preta acompanhada pelo som de tiros para nos lembrar que eles foram assassinados e denotar o silenciamento das vozes que se manifestavam contra o Vietnã. A ideia parece associar como esse sistemático esforço de suprimir vozes e ações contra a guerra desembocaram nos protestos de Chicago.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Crítica – Genshin Impact

 

Análise Crítica – Genshin Impact

Review – Genshin Impact
Os primeiros trailers de Genshin Impact chamavam atenção pelo tanto que os gráficos e jogabilidade pareciam similares a The Legend of Zelda: Breath of the Wild ao ponto que indagações a respeito se isso configuraria plágio ou não começavam a ser ventiladas. As preocupações sobre o jogo aumentaram quando foi anunciado que seria um RPG gratuito com mecânicas de microtransações para obter mais personagens e equipamentos, o que levantava a questão se ele seria mais um daqueles jogos gratuitos impossíveis de progredir sem gastar. Lançado recentemente para Playstation 4, PC e celulares, Genshin Impact de fato tem muito de similar a Breath of the Wild e de fato possui microtransações, mas também tem alguns méritos próprios que fazem a experiência valer a pena.

A história se passa no mundo de Teyvat no qual algumas pessoas escolhidas por deuses recebem uma Visão, pedras mágicas que conferem poderes especiais aos portadores. O jogador começa como um viajante vindo de outro mundo tentando encontrar a irmã (ou irmão, depende de qual personagem você escolher no início) de quem se perdeu. A partir daí se inicia uma longa jornada por este mundo para desvendar seus segredos e as verdades ocultas sobre os deuses.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Crítica – Lovecraft Country (Parte 1)

Análise Crítica – Lovecraft Country (Parte 1)


Review – Lovecraft Country (Parte 1)
Adaptando o livro Território Lovecraft de Matt Ruff, a série Lovecraft Country traz uma releitura da mitologia criada pelo autor H.P Lovecraft, bem como de vários outros elementos típicos do terror e da fantasia, a partir das experiências da população negra dos Estados Unidos. É um movimento importante não apenas por questões de representatividade, mas por tentar responder a questão do que fazemos com as obras de autores que sabemos terem sido péssimas pessoas?

Lovecraft era racista. Quando digo isso não quero dizer que ele apenas aderia ao racismo estrutural de sua época como a maioria das pessoas brancas que lhe eram contemporâneas. Lovecraft era ativamente racista, adepto a um discurso de supremacia branca que ia muito além do racismo estrutural. Nesse sentido, reapropriar a obra dele a partir da cultura e da vivência negras é um modo de revelar como a obra pode ir além do autor, pode sobreviver às limitações e falhas dele, pode até ser usada para tentar reparar a visão de mundo excludente e preconceituosa que esse autor ajudou a disseminar.

A trama da série se passa nos Estados Unidos da década de 50 e é focada em Atticus (Jonathan Majors), também chamado de Tic. Quando o pai de Tic, Montrose (Michael K. Williams), desaparece misteriosamente ele, a amiga Leti (Jurnee Smolett) e o tio George (Courtney B. Vance) embarcam em uma viagem pelo interior dos EUA. A viagem os colocará em rota de colisão com um antigo e poderoso culto, além de revelar segredos a respeito da família de Tic.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Crítica – Sob Pressão: Plantão Covid

Análise Crítica – Sob Pressão: Plantão Covid

Review – Sob Pressão: Plantão Covid
Baseada no filme homônimo dirigido por Andrucha Waddington, Sob Pressão é provavelmente a melhor série brasileira em exibição hoje. A pandemia paralisou muito das atividades dos setores audiovisuais no Brasil, mas a série conseguiu realizar dois  episódios especiais com os médicos lidando com o combate à pandemia basicamente porque as situações em que esses personagens estariam exigiria um equipamento de proteção, o que tornaria possível as gravações sem sacrificar a segurança do elenco e equipe.

Na trama, Evandro (Júlio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano) são chamados para trabalhar em um hospital de campanha depois de um tempo prestando serviço em uma ONG atendendo pessoas carentes em localidades remotas. No hospital de campanha, encontram um cotidiano tenso ao lidarem com uma doença que ainda não entendem completamente, superlotação, falta de equipamento e riscos de contaminação. Ocasionalmente o texto derrapa em alguns diálogos um pouco didáticos e expositivos demais sobre as situações em que os personagens se encontram, mas são momentos pequenos diante da força que o especial consegue construir.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Crítica – O Halloween do Hubie

 

Análise Crítica – O Halloween do Hubie

Review – O Halloween do Hubie
Depois de entregar uma das melhores atuações de sua carreira no excelente Joias Brutas (2020), Adam Sandler volta a suas comédias preguiçosas com este O Halloween do Hubie, um filme igual a praticamente todas as outras comédias feitas por Sandler sem nenhum tipo de esmero.

Na trama, Hubie (Adam Sandler) é basicamente “o idiota da vila”. Residindo na cidade de Salem, famosa pela queima de bruxas no século XIX, Hubie adora o Halloween e sempre tenta transformar a data em algo especial, buscando garantir que todos se divirtam. Esse ano, no entanto, o trabalho de Hubie fica mais difícil quando um perigoso paciente psiquiátrico escapa de uma instituição próxima.

Sandler interpreta Hubie como o mesmo adulto imaturo de boca torta e voz fina que fez em boa parte de sua carreira como em Billy Madison: O Herdeiro Bobalhão (1995), O Rei da Água (1999) ou Little Nicky: Um Diabo Diferente (2000). Não há aqui nenhum esforço de dar alguma personalidade a Hubie ou torná-lo diferente de qualquer outra coisa que Sandler tenha feito, sendo uma repetição preguiçosa dos mesmos trejeitos e cacoetes que já não eram muito engraçados vinte anos atrás.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Crítica – Bom Dia, Verônica

 

Análise Crítica – Bom Dia, Verônica

Review – Bom Dia, Verônica
Fiquei curioso para conferir este Bom Dia, Verônica desde que tinha sido anunciado. Já tinha lido outros trabalhos do romancista Raphael Montes e o considero um dos melhores escritores de narrativas policiais no Brasil hoje. A ideia de uma série baseada em um de seus livros, este escrito junto com Ilana Casoy, parecia bem empolgante.

A trama é centrada em Verônica (Tainá Muller), escrivã da delegacia de homicídios da polícia civil de São Paulo. Quando um caso ligado a feminicídio dá errado e uma testemunha se suicida na frente de Verônica, a protagonista se torna obcecada em descobrir o abusador em série que aborda mulheres em aplicativos de namoro. Ao mesmo tempo, a protagonista é procurada por Janete (Camila Morgado), uma mulher que sofre constante violência do marido, Brandão (Eduardo Moscovis), que além de sujeitar a esposa a violência também sequestra e mata outras mulheres. As coisas que se complicam quando Verônica descobre que Brandão é um tenente-coronel da Polícia Militar, tornando-o ainda mais perigoso.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Crítica – The Boys: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – The Boys: 2ª Temporada

Review – The Boys: 2ª Temporada
A primeira temporada de The Boys foi uma grata surpresa ao construir um mundo em que super-heróis são praticamente celebridades e propriedades corporativas, reduzidos a peças no xadrez do capitalismo com as grandes corporações sendo as grandes vilãs. Apesar dos méritos, também incomodava como em muitos momentos a série era violenta, profana e sombria apenas para chocar. Essa segunda temporada se mostra mais consistente ao dar explorar mais a complexidade de seus personagens, humanizando até mesmo figuras cruéis como o Capitão Pátria (Anthony Starr).

A trama começa meses depois dos eventos do ano de estreia. Billy Bruto (Karl Urban) e sua equipe são considerados culpados pela morte de Stillwell (Elizabeth Shue), se tornando homens procurados. Ao mesmo tempo, os Sete recebem um novo membro em Tempesta (Aya Cash), cuja presença chama tanta atenção que começa a incomodar o Capitão Pátria por estar perdendo os holofotes. Ainda nos Sete, Luz-Estrela (Erin Moriarty) planeja junto com Hughie (Jack Quaid) em como expor a Vought pelo Composto V.