quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Crítica – Pokémon: The Crown Tundra

 

Análise Crítica – Pokémon: The Crown Tundra

Resenha – Pokémon: The Crown Tundra
A primeira expansão de PokémonSword/Shield, Isle of Armor, trazia novos monstrinhos e o retorno de velhos conhecidos, mas não acrescentava muito em termos de novas mecânicas ou narrativa. Este The Crown Tundra, por sua vez, além de novos pokémons a capturar também tem um pouco mais de trama e alguns novos eventos para mexer na jogabilidade.

Na trama, o jogador chega à titular tundra e se envolve em uma expedição liderada pelo ex-líder de ginásio Peony e sua filha Peonia para encontrarem os vários pokémons lendários que habitam a região. O principal deles é Calyrex, considerado uma divindade capaz de fazer as colheitas crescerem, mas que foi esquecido pela população local. Além deles o jogador também encontrará as formas Galar das três aves lendárias de Kanto: Articuno, Zapdos e Moltres.

A trama tem um pouco mais de substância que a da primeira expansão, ainda que relativamente curta. A narrativa nunca explora como deveria a relação entre Peony e a filha, reduzindo-os a momentos de humor. Sim, Peony é um personagem divertido, mas considerando o passado dele (explicado em sua carta de treinador) é uma pena que trama não o desenvolva a ponto de repercutir nele as ações do presidente Rose, irmão do personagem, e o mais próximo de um vilão na campanha principal.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Jogamos a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity

Jogamos a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity

Não joguei o primeiro Hyrule Warriors quando ele saiu para WiiU, só me aproximando do jogo na Definitive Edition que foi lançada para Nintendo Switch e confesso que fiquei bastante surpreso. De todos os spin-offs da franquia Dynasty Warriors em outros universos (como Dragon Quest ou One Piece), Hyrule Warriors me pareceu o que melhor combinava os elementos das duas propriedades convergentes. Nunca imaginei que ver Link, Zelda e outros massacrando exércitos inteiros em ataques especiais que despachavam centenas de inimigos por vez pudesse ser tão divertido.

O anúncio de um novo jogo na forma deste Hyrule Warriors: Age of Calamity me deixou bastante empolgado não só pela possibilidade de refinar o primeiro jogo, mas também por contar uma história que serviria de prelúdio para Zelda: Breath of the Wild, mostrando como Calamity Ganon derrotou os guardiões e Link precisou ser colocado em hibernação por 100 anos.

O demo do jogo disponibilizado pela Nintendo dá acesso ao primeiro capítulo da campanha principal, algumas breves missões secundárias e três personagens jogáveis em Link, Zelda e Impa. Se o primeiro Hyrule Warriors misturava personagens de diferentes temporalidades ou universos da franquia Zelda (além de alguns originais), aqui todos (ao menos por enquanto) se baseiam nas versões de BoW.

A estrutura básica da jogabilidade é similar a de qualquer game em estilo Musou, com o jogador correndo por um grande campo de batalha cumprindo objetivos como capturar bases inimigas, derrotar líderes adversários ou escoltar algum aliado. Tudo serve como desculpa para massacrar centenas de inimigos por missão, deixando o jogador imerso na fantasia de poder de ser um guerreiro apelativamente habilidoso.

Cada personagem tem uma habilidade própria ligada ao botão ZR, com Link usando seu arco ou Impa colocando símbolos mágicos que atacam os inimigos e podem ser absorvidos por ela para deixá-la ainda mais poderosa. Além disso todos os personagens tem acesso ao uso de runas como bombas, magnesis ou stasis, mas o modo como cada um as usa é diferente. Ao usar bombas, Link arremessa uma série de explosivos nos inimigos, enquanto Zelda invoca uma espécie de Guardião (que pode ser controlado pelo jogador) que caminha pelo cenário disparando bombas. Isso ajuda a diferenciar ainda mais cada personagem, já que no primeiro Hyrule Warriors equipamentos como bombas, gancho ou arco eram iguais para todos os personagens.

O jogo ainda utiliza várias mecânicas presentes em Breath of Wild, ainda que aplicando-as ao seu modo. Cozinhar alimentos, por exemplo, é algo que pode ser feito no início de cada missão e cada prato oferece uma bonificação diferente. Vasculhar o mapa por sementes Korok também está presente, embora pelo demo ainda não seja possível dizer a função delas. Diferente de BoW, no entanto, aqui as receitas precisam primeiro ser aprendidas antes de serem utilizadas e isso pode ser feito completando algumas missões ou atendendo aos pedidos de recursos de NPCs.

Entre uma missão e outra o jogador tem uma visão do mapa de Hyrule, no qual pode visualizar as próximas missões além de entrepostos comerciais e NPCs pedindo recursos. Atender aos pedidos dos NPCs ajuda a desenvolver cada região de Hyrule, além de recompensar o jogador com receitas, equipamentos, golpes ou mesmo novos mercadores de onde comprar. O mapa tem o mesmo visual de Breath of the Wild ainda que as localidades estejam obviamente diferente já que tudo se passa 100 anos antes da destruição provocada por Ganon. Todo o jogo, na verdade, é visualmente bem fiel a BoW, reforçando a impressão de que é tudo no mesmo universo.

Com um combate ágil, personagens bacanas e uma narrativa com o potencial de ampliar nossa compreensão do universo de Breath of the Wild, a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity nos deixou muito empolgados pelo produto final, que será lançado para Switch em 20 de novembro.


Trailer

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Nome da Rosa

 

Análise Crítica – O Nome da Rosa

Escrito por Umberto Eco, o romance O Nome da Rosa promoveu a quebra de uma série de paradigmas quando foi lançado em 1980. Era uma narrativa policial passada no período medieval protagonizada por um detetive arguto, extremamente racional, nos moldes de Sherlock Holmes, que, ainda assim, falhava em desvendar o crime e encontrava o culpado apenas por acidente. Isso colocava em questão a exaltação à racionalidade feita pelo gênero, ponderando sobre a complexidade e a não linearidade do conhecimento.

Com o sucesso feito pelo romance era inevitável que houvesse uma adaptação para os cinemas. Em 1986 foi lançada a adaptação para cinemas dirigida por Jean-Jacques Annoud e estrelada por Sean Connery. O filme era um pouco mais convencional do que o romance, já que nele o protagonista de fato resolvia o crime, inclusive já explicando a resolução na metade da narrativa enquanto os líderes da abadia na qual os assassinatos aconteciam se recusavam a acreditar nas deduções do protagonista. Deduções essas que vinham se confirmar ao final. Desta maneira, a versão para os cinemas de O Nome da Rosa não tem o questionamento de paradigmas das narrativas investigativas trazida pelo livro e com isso boa parte do impacto do texto de Eco, mas isso não o faz ser necessariamente um produto ruim.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Torre das Donzelas

Análise Crítica – Torre das Donzelas

O Brasil nunca passou plenamente à limpo o período da ditadura militar. Nunca confrontamos diretamente o que aconteceu naquele momento da nossa história tampouco conseguimos resgatar ou trazer à tona os eventos que foram ocultados e enterrados. Essas lacunas na memória do período e ausência reverberam ainda hoje e são parte das razões de nos últimos anos termos visto a ascensão de negacionistas históricos a altos cargos de poder.

Este Torre das Donzelas toma para si a tarefa de reconstruir parte dessas memórias do período da ditadura e violações cometidas pelo regime ao contar a história de mulheres que foram presas e torturadas nesta época. O filme conta a história de detentas do Presídio Tiradentes, apelidado de Torre das Donzelas justamente por ser um presídio feminino.

O documentário ouve diferentes ex-detentas do local, inclusive a ex-presidente Dilma Roussef, transformando o testemunho dessas mulheres no principal meio de reconstrução desse passado ausente do qual não há registro formal. Durante os testemunhos vemos como a memória não se apresenta apenas na fala das entrevistadas, mas também em seus corpos, no modo como elas reagem quando entram no espaço vazio de ficavam suas antigas celas. As vozes embargadas, as inflexões tremidas presentes em momentos que mencionam algumas das experiências mais traumáticas mostram como elas ainda carregam consigo as marcas do passado.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Crítica – Borat: Fita de Cinema Seguinte

 

Análise Crítica – Borat: Fita de Cinema Seguinte

Review – Borat: Fita de Cinema Seguinte
O primeiro Borat (2006) chamava atenção por suas imagens de cunho semi-documental na qual o fictício repórter do Cazaquistão interagia com pessoas reais dos Estados Unidos e expunha o preconceito, a intolerância e a xenofobia do país. Repetir esse tipo de personagem hoje, mais de uma década depois, e com o fato dos EUA terem um presidente que costumeiramente dá declarações abertamente racista, além de literais nazistas fazendo marchas pelas ruas, provavelmente não traria o mesmo impacto. O comediante Sacha Baron Cohen parece saber disso e neste Borat: Fita de Cinema Seguinte investe mais em uma trama melhor construída e menos nesses esquetes soltos em que ele interage com anônimos.

Na trama, descobrimos que depois dos eventos do primeiro filme Borat (Sacha Baron Cohen) ficou preso em uma gulag sendo submetido a trabalhos forçados. Ele é retirado da gulag a pedido do primeiro ministro do Cazaquistão, que lhe dá a missão de ir aos Estados Unidos para entregar um presente ao vice-presidente Mike Pence e assim recuperar o prestígio do Cazaquistão. Na viagem Borat é acompanhado por Tutar (Maria Bakalova), a filha caçula que ele nem sabia que tinha. Assim, a narrativa é mais sobre essa relação entre Borat e Tutar do que os momentos semi-documentais, ainda que eles continuem presentes.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Crítica – Noturno

Análise Crítica – Noturno

Review – Noturno
Produzido pela Blumhouse, o terror Noturno parte da familiar premissa do conflito entre duas irmãs. Juliet (Sydney Sweeney) e Vivian (Madison Iseman) são gêmeas que estudam em um colégio interno voltado para o ensino de artes e ambas estudam piano. Vivian é popular, tem o melhor professor de piano da escola e conseguiu ser aceita na prestigiosa Julliard. Juliet, por outro lado, não tem nada disso. Farta de viver à sombra da irmã, Juliet vê uma oportunidade ao encontrar o caderno de uma colega que cometeu suicídio. No caderno ele encontra desenhos macabros que talvez tenham um significado oculto que a ajude a ter sucesso.

O primeiro acerto do filme é manter ambíguos seus elementos sobrenaturais. Afinal, Juliet de fato vendeu a alma ao diabo para conseguir superar a irmã? Ou na verdade ela está surtando por conta da pressão e ansiedade que sente ao não corresponder ao que os pais e ela mesma espera de si? Essa incerteza contribui para boa parte do suspense e da tensão, já que não sabemos com certeza qual a causa dos problemas da protagonista. Nesse sentido, a trama consegue criar imagens bem sinistras quando Juliet parece ver os desenhos do caderno ganhando vida diante de seus olhos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Crítica – Vigiados

 

Análise  Crítica – Vigiados

Review – Vigiados
Dirigido por Dave Franco este Vigiados começa como um suspense no qual as tensões emergem das relações problemáticas entre os protagonistas. O que começa promissor, logo se torna desinteressante quando chega o momento de fazer as tensões de fato explodirem.

Na trama, dois casais alugam uma luxuosa casa à beira mar para passar um final de semana. Charlie (Dan Stevens) e Michelle (Alison Brie) vão para a propriedade acompanhados de Josh (Jeremy Allen White), irmão de Charlie, e Mina (Sheila Vand), namorada de Josh e sócia de Charlie. A chegada à casa traz algumas tensões envolvendo o preconceituoso gestor da propriedade e, aos poucos, percebemos também que a relação entre os quatro não é o que parece, com muitas tensões latentes.

A primeira metade da narrativa trabalha com certa habilidade as tensões subjacentes entre esses protagonistas. De maneira muito sutil vemos como Charlie e Josh guardam certas mágoas em relação ao outro, como Michelle parece deslocada em seu relacionamento com Charlie ou a impressão de que Mina e Charlie talvez tenham algo mais entre eles além de serem apenas parceiros de negócios.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Crítica – Lovecraft Country (Parte 3)

 

Análise Crítica – Lovecraft Country (Parte 3)

Review – Lovecraft Country (Parte 3)
Nas duas partes anteriores da análise de Lovecraft Country falei como a série trabalhava com vários elementos típicos do terror e da fantasia para falar de elementos da experiência negra nos EUA. Avisamos que o texto abaixo contem SPOILERS.

A questão da brutalidade policial, por exemplo, aparece no oitavo episódio, que lida com o trauma coletivo da morte de Emmett Till, um brutal crime real que chocou (e choca ainda hoje) tanto pela violência do crime quanto pela sua motivação banal (ele supostamente teria assoviado para uma mulher branca) e pelo fato dos assassinos terem ficado impune.

A ideia de que as autoridades detêm um controle e poder sobre as vidas da população negra é ilustrada pelo arco de Dee (Jada Harris) ao longo do episódio. Amaldiçoada por um policial que faz parte do culto em busca do sangue de Tic, Dee começa a ser perseguida por duas entidades que se parecem como duas garotas gêmeas em blackface, maquiadas para reproduzirem traços da população negra de maneira caricatural e deturpada. A lógica da maldição se assemelha a da criatura de Corrente do Mal (2014), que não para de seguir o alvo até matá-lo, enquanto da ideia de alguém ser perseguido por um duplo deturpado remete a Nós (2018), do Jordan Peele, um dos produtores da série.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Crítica – Lovecraft Country (Parte 2)

Análise Crítica – Lovecraft Country (Parte 2)


Review – Lovecraft Country (Parte 2)
Na primeira parte do texto sobre Lovecraft Country, falei sobre como a série usava o terror e a fantasia para abordar os elementos das vivências negras nos EUA, usando monstros, assombrações, cultos e outros elementos como metáforas para processos de racismo, exploração e desigualdade social. Nessa segunda parte vou tentar observar como a série lida com questões de identidade e a construção de papeis sociais aferidos a negros ou a mulheres. Avisamos que o texto contem SPOILERS.

O quarto episódio continua a expandir o jogo que a série faz com certos elementos da ficção de horror, fantasia ou aventura ao inserir os personagens em uma trama que poderia tranquilamente ter saído de filmes como Indiana Jones ou A Lenda do Tesouro Perdido (2004). Ao procurar um cofre secreto do culto liderado pela família Braithwhite, eles começam a explorar as catacumbas de um museu que, logicamente, está repleta de armadilhas.

Os diálogos entre Tic, Leti e Montrose explicitam a natureza autoconsciente do episódio, com o trio usando o conhecimento de narrativas de aventura para pautar como devem prosseguir pelos testes e tribulações impostos pelo labirinto. Até mesmo a música de fundo do episódio, com um uso constante de instrumentos metálicos, remete às composições de John Williams para os filmes do Indiana Jones.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Crítica – Os 7 de Chicago

 

Análise Crítica – Os 7 de Chicago

Review – Os 7 de Chicago
Em 1962 John F. Kennedy disse em um discurso algo que em português poderia ser traduzido como “aqueles que fazem revoluções pacíficas serem impossíveis, tornam revoluções violentas inevitáveis”. Essa frase não está ligada aos eventos reais retratados neste Os 7 de Chicago, produção da Netflix escrita e dirigida por Aaron Sorkin, mas veio à minha mente em alguns momentos durante o filme.

A trama narra os eventos reais do julgamento de sete líderes de movimentos contra a Guerra do Vietnã, presos sob a acusação de terem incitado a multidão contra a polícia de Chicago durante um protesto que terminou de maneira violenta. Chamados de “os 7 de Chicago”, o julgamento do grupo teve alta cobertura da imprensa e chamou a atenção pelo modo como muito do devido processo legal era jogado pela janela apenas para condená-los.

O estilo de Sorkin já se manifesta na montagem inicial que traz imagens de arquivo sobre os protestos contra o Vietnã que já aconteciam anos antes dos eventos em Chicago. Imagens de Martin Luther King e Robert Kennedy discursando contra a guerra são abruptamente interrompidas por uma tela preta acompanhada pelo som de tiros para nos lembrar que eles foram assassinados e denotar o silenciamento das vozes que se manifestavam contra o Vietnã. A ideia parece associar como esse sistemático esforço de suprimir vozes e ações contra a guerra desembocaram nos protestos de Chicago.