Lançado em 1988, Duro
de Matar é constantemente lembrado como um dos melhores filmes de ação de
todos os tempos. Recentemente ele também entrou em outras discussões sobre
gêneros e subgêneros narrativos, mais especificamente: seria Duro de Matar um filme de Natal? A
narrativa certamente se passa no período natalino, mas seria isso o bastante
para considerá-lo um filme de Natal?
Para quem não conhece, na trama o policial nova-iorquino
John McClane (Bruce Willis) viaja até Los Angeles para reencontrar a esposa
Holly (Bonnie Bedelia) para tentar recuperar o casamento dos dois. Holly
trabalha em um luxuoso e tecnologicamente avançado arranha-céu na cidade e John
chega para encontrá-la durante uma festa da empresa, mas a festa é invadida
pelo grupo de ladrões liderados por Hans Gruber (Alan Rickman) que toma todos
de reféns. McClane consegue escapar e agora ele tentará lidar com os criminosos
por conta própria.
Na época de seu lançamento, o filme chamou atenção pelo modo
como reconfigurava os padrões de um filme de ação hollywoodiano. Durante a
década de oitenta, o gênero era tomado por astros com corpos hiperbólicos e
personagens virtualmente indestrutíveis que despachavam hordas de bandidos sem
se ferir como acontecia em Comando para
Matar (1985) ou Stallone Cobra
(1986). O John McClane de Bruce Willis era o oposto disso. Ele tinha um físico
relativamente normal, estava em uma clara situação de desvantagem em relação
aos seus inimigos e era vulnerável, física e emocionalmente.
Confesso que os primeiros trailers de Tenet não me atraíram em nada. Tudo parecia uma reciclagem de
coisas que o diretor Christopher Nolan tinha feito antes em seus outros filmes.
A impressão era de se tratava de um A
Origem (2010) que trocava a manipulação de realidades e sonhos por
manipulação temporal. Ainda assim fui assistir aberto ao que filme me traria e
devo dizer que o resultado final é relativamente decepcionante.
Na trama, um agente (John David Washington) é recrutado por
uma força-tarefa secreta para combater a mais nova ameaça ao mundo: a
manipulação temporal. O protagonista descobre que forças do futuro estão
enviando para o presente itens com “entropia invertida” que se movem
temporalmente ao contrário. Para descobrir quem está por trás disso, o
protagonista recorre a ajuda do misterioso Neil (Robert Pattinson) para
localizar o elusivo traficante de armas russo Sator (Kenneth Branagh) que
parece ser o responsável por trazer ou receber esses objetos do futuro.
É um conceito complexo, tal como outros filmes do diretor,
mas se antes havia um mínimo de clareza em estabelecer esses elementos
complicados de maneira que fosse possível entender o que está em jogo, isso não
acontece aqui. Nos primeiros minutos o protagonista ouve a explicação de uma
cientista de que esses objetos invertidos seriam extremamente perigosos, o
motivo disso, no entanto, não fica claro e o texto demora em evidenciar as
razões disso. Se em outros filmes Nolan conseguia apresentar seu universo
ficcional no primeiro ato, aqui o filme é inteiro permeado por longos diálogos
expositivos que tentam explicar o tempo todo as regras de funcionamento desse
universo.
Uma assassina de aluguel tem uma crise de consciência e
começa a questionar a vida de violência que leva, por causa disso é considerada
inapta para o serviço e seus superiores tentam eliminá-la. É uma premissa pra
lá de batida, mas considerando o elenco formado por nomes como Jessica
Chastain, John Malkovich, Geena Davis e outros, poderia até render um exame
envolvente do que move uma pessoa que leva essa vida. Os primeiros minutos
também dão a impressão de que este Ava vai
conseguir ir além dos clichês narrativos ao inserir também elementos de drama
familiar ao explorar a relação complicada que a protagonista tem com a mãe e as
irmãs. O problema é que o filme acaba apenas passando superficialmente por
todas essas ideias.
Na trama, Ava (Jessica Chastain) é uma ex-militar que virou
assassina de aluguel. Seu contato é Duke (John Malkovich), antigo mentor de Ava
no exército e que nutre um afeto paternal por ela. Quando Ava começa a
questionar a natureza do trabalho, Duke tenta convencer o líder da organização,
Simon (Colin Ferrel), de que Ava não é um risco para as operações, mas Simon
acha melhor descartá-la. Ao mesmo tempo, Ava tenta se reaproximar da família
depois que a mãe, Bobbi (Geena Davis), tem um infarto.
Confesso que fiquei surpreso com a primeira temporada de O Mandaloriano. De cara chamava atenção
como ela, assim como o primeiro filme de Star
Wars, evocava antigos seriados de aventura. Com episódios de tramas quase
que inteiramente autocontidas enquanto acompanhávamos um mercenário errante,
remetendo a histórias de faroeste e filmes de samurai, vagando por uma galáxia
devastada pela guerra em busca de respostas envolvendo seu próprio povo e o que
fazer com uma pequena criatura que encontrara em sua missão. O segundo ponto
era a inesperada conexão emocional que aos poucos se desenvolvia entre o
estoico mercenário e a pequena criatura, que foi apelidada de Baby Yoda,
conforme a trama progredia.
A segunda temporada segue no ponto em que o ano de estreia
parou. Em fuga de Moff Gideon (Giancarlo Esposito), o mandaloriano Din Djarin
(Pedro Pascal) parte em busca de informação sobre algum Jedi que pudesse lhe
ajudar com a pequena criatura que protege. Tal como no primeiro ano há o mesmo
espírito de aventura despretensiosa, com o protagonista chegando a um planeta
diferente a cada semana e alguém ou alguma crise específica para resolver nesse
local que ao final dá alguma contribuição para mover a trama principal para frente.
A partir desse ponto, aviso que o texto pode conter SPOILERS da temporada.
Quando escrevi sobre a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity mencionei o quanto fiquei surpreso
do jogo conseguir transpor tantas mecânicas de Zelda: Breath of the Wild para a estrutura de um game de ação
estilo Musou do spin-off Hyrule Warriors.
O primeiro dessa série de derivados contava uma história própria que misturava
diferentes temporalidades do universo Zelda, misturando heróis e vilões de
games como Ocarina of Time, Twilight Princess ou Skyward Sword, mas este é todo centrado
no universo apresentado em Breath of the
Wild.
A trama se passa 100 anos antes de Breath of the Wild e conta a história do ataque de Calamity Ganon
que levou à queda de Hyrule, a morte dos quatro pilotos das feras divinas e a
Link ser colocado em estase durante um século. Ajuda não só a dar mais contexto
a Breath of the Wild como também
amplia nosso entendimento sobre esse universo ao ver como a Hyrule do jogo era
antes da devastação de Ganon. A narrativa também nos mostra versões muito mais
jovens dos personagens de BoW, como
Impa, que lá era já uma senhorinha idosa e aqui, em sua juventude, é uma ágil
guerreira, lutando com espadas, selos mágicos e símbolos místicos.
Há um
elemento de viagem no tempo aqui, no entanto, que pode desagradar os fãs mais
puristas de BoW. Outro problema é que
a trama é, em muitos momentos, excessivamente expositiva, focando mais em
explicar como as coisas aconteceram do que desenvolver os personagens e as
relações entre eles. Uma pena, já que os campeões Daruk, Mipha, Revali e Urbosa
são tão carismáticos. A única que recebe um pouco mais de desenvolvimento é Zelda, com a trama focando no senso de inadequação da princesa conforme ela parece não conseguir despertar o poder profetizado para ela.
Exclusivo para Playstation 4, Marvel’s Spider-Man fez pelo amigão da vizinhança nos games o que Batman: Arkham Asylum fez pelo
Homem-Morcego. Era um game que realmente nos fazia sentir como o Homem-Aranha,
seja na física do movimento com as teias, seja na narrativa que mostra os
conflitos de Peter Parker em manter sua vida pessoal no lugar enquanto salva a
cidade como Homem-Aranha. Uma sequência é inevitável, inclusive por conta das
cenas pós-créditos que deixam alguns ganchos. Antes de acompanharmos uma
segunda aventura de Parker, no entanto, a Sony nos dá Spider-Man: Miles Morales, que foca no personagem titular que ganhou
poderes no final do primeiro game do Aranha.
A trama se passa durante as festas de fim de ano. Peter sai
de Nova Iorque em uma viagem de trabalho com Mary Jane e deixa a cidade a cargo
de Miles Morales, que começou a treinar com Peter para desenvolver seus
poderes. Sozinho e sem o auxílio de Peter, Miles precisa lidar com a ameaça da
corporação Roxxon, cujo novo reator de energia parece mais perigoso do que
parece, e do vilão Tinkerer, que parece ter contas a acertar com a Roxxon. Além
disso, Miles precisa lidar com a campanha de sua mãe, Rio, que concorre a
vereadora, a reaproximação com o tio Aaron e o retorno de uma antiga amiga de
infância, Phin.
Apesar de ter gostado de Dragon Ball Z Kakarote o modo como o jogo nos fazia viver no universo de Dragon
Ball revivendo os principais arcos, fiquei um pouco decepcionado com o primeiro
DLC, Um Novo Poder Desperta Parte 1.
A primeira expansão levava o jogador a uma área vazia, o planeta de Bills, sem
muito o que fazer fora uma série de batalhas similares entre si contra Whis
e Bills, além de quebrar a progressão de níveis com itens de aumento de XP que
tornavam fácil demais subir de nível. Esse segundo DLC, Um Novo Poder Desperta Parte 2, se sai melhor em oferecer mais
conteúdo e uma experiência mais significativa.
Se a primeira expansão era basicamente uma série de batalhas
contra chefes, essa segunda reconta a trama de A Ressurreição de Freeza, com direito a cutscenes que tem a mesma intensidade e dramaticidade daquelas
contidas na campanha principal. Não é uma história longa, podendo ser
completada em pouco mais de uma hora, mas o jogo ainda oferece mais algumas
missões secundárias após a trama principal que injetam um pouco de humor ao
desenvolver mais alguns personagens do exército de Freeza e também alguns dos
guerreiros Z.
Falando neles, essa expansão também consegue dar evidência a
outros personagens para além de Goku e Vegeta. Como os dois estão treinando com
Whis quando Freeza ataca, cabe a Gohan, Piccolo e os demais proteger o planeta,
o que dá motivo para continuar usando e evoluindo muitos personagens que tinham
sido deixados de lado após o fim da campanha principal.
A expansão adiciona novas transformações para Goku e Vegeta
no Super Saiyajin Azul, além de novos combos e golpes especiais para eles, o
que ajuda a dar um frescor à jogabilidade. Assim como algumas transformações do
jogo base, a nova transformação consome ki muito rápido (diferente de Super
Saiyajin Deus, que não consumia ki) o que mais uma vez traz um componente
estratégico às batalhas já que exige que o jogador fique atento para gerenciar
sua energia.
Além disso, há uma nova mecânica na forma das batalhas de
hordas, feitas para simular as lutas contra centenas de soldados de Freeza ao
mesmo tempo. A mecânica acaba sendo um pouco decepcionante porque você não tem
realmente uma centena de inimigos ao seu redor de uma vez só, mas apenas uma
dezena deles e o resto vai aparecendo conforme você vai derrotando inimigos. Ao
usar um ataque combinado de todo o grupo é possível eliminar dezenas de
inimigos de uma vez, gerando algumas cutscenes
com os ataques grandiloquentes típicos da franquia. Apesar de trazer alguma
novidade, a mecânica não explora plenamente o potencial que poderia ter.
Ainda assim Um Novo
Poder Desperta Parte 2 consegue entregar algo mais consistente do que a
primeira parte, lembrando os elementos que o jogo base tinha de melhor de dando
boas razões para que retornemos a ele.
Lançado em 1995, 007
Contra Goldeneye tinha a missão de mostrar que o famoso agente britânico
com licença para matar ainda poderia ser relevante em um contexto pós-Guerra
Fria. No final da década de oitenta as duas tentativas protagonizadas por
Timothy Dalton, 007 Marcado Para Morte (1987)
e 007 Permissão Para Matar (1989), não
agradaram muito por conta da persona mais
violenta do Bond de Dalton e pela natureza mais banal de seus inimigos, como
contrabandistas, oficiais governamentais corruptos ou crimes de evasão de divisas.
Com um novo Bond em Pierce Brosnan, 007 Contra Goldeneye tentava trazer de volta a glória dos tempos
áureos de James Bond, afastando-o do tom excessivamente sisudo de Dalton ou do camp e da galhofa de Roger Moore. A
abordagem parecia remeter à fase de Sean Connery, mas fazendo o personagem e as
ameaças enfrentadas por ele soarem contemporâneas (para a época em que foi
feito, claro). Nesse sentido, a trama do filme é sobre as marcas indeléveis da
guerra, sobre como o fim de um conflito não significa que as feridas abertas
por ele deixam de sangrar e as consequências disso reverberam por anos a fio.
Não sei se serei capaz de dizer algo sobre Os Pássaros, filme seminal de Alfred
Hitchcock, que já não tenha sido dito antes. É um suspense de condução segura
que trabalha para nos deixar à beira da poltrona em tensão mesmo que em um
primeiro momento a ideia da ameaça principal soe um pouco risível. Afinal, ninguém
pensaria que pássaros comuns poderiam ser tão aterrorizantes, no entanto é a
condução segura do diretor e as situações inventivas que consegue criar ao
redor da premissa.
Na trama a socialite Melanie (Tippi Hedren) viaja até uma
cidadezinha no norte da Califórnia para encontrar Mitch (Rod Taylor), por quem
talvez esteja interessada romanticamente. Chegando no local, no entanto,
fenômenos estranhos começam a acontecer quando pássaros parecem atacar a
população e os ataques vão se tornando cada vez mais frequentes.
O texto é inteligente o bastante para não explicar demais o
que está acontecendo, se recusando a entregar uma motivação explícita para os
ataques dos animais. Essa recusa é eficiente em termos de suspense porque o
fato de não sabermos exatamente com o que esses personagens estão lidando ou
como combater a ameaça torna tudo ainda mais incerto. Além disso, seria difícil
dar uma explicação convincente que funcionasse para todo mundo, então deixar
isso em aberto à imaginação do espectador serve para que o público projete seus
medos e inquietações diante do estranho fenômeno. Sei que pode parecer óbvio
falar disso hoje, mas essa é uma lição que muitos seguidores de Hitchcock ainda
não pareceram captar, vide M. Night Shyamalan em Fim dos Tempos (2008) e as explicações risíveis que o filme dá.
Quando escrevi sobre a primeira temporada de O Alienista falei que era uma narrativa
policial competente, ainda que bastante presa às convenções do gênero. Essa
segunda temporada, O Alienista: Anjo das
Trevas, segue um pouco os resultados do ano de estreia, com um mistério
envolvente, ainda que bastante aderente aos lugares comuns desse tipo de
narrativa.
A trama se passa na Nova Iorque no final do século XIX
durante o auge da guerra hispano-americana. Laszlo (Daniel Bruhl), John (Luke
Evans) e Sara (Dakota Fanning) voltam a trabalhar juntos para impedir a
execução de uma mulher que julgam ter sido condenada injustamente de ter matado
o próprio bebê, sendo que o corpo nunca foi encontrado. O trio não consegue
deter a execução, mas pouco tempo depois o corpo da criança é encontrado e
Laszlo encontra provas suficientes para demonstrar que a real culpada ainda
está à solta. As coisas se agravam quando o bebê de um dignitário espanhol é
sequestrado e as autoridades nada fazem. A senhora Linares (Bruna Cusí), esposa
do diplomata, acaba contratando Sara para resolver o caso. Logicamente a
investigadora recorre também a John e Laszlo.
Assim como na primeira temporada, a ambientação no passado é
usada também para falar do presente. O arco de Sara continua a ser usado para
falar do machismo daquela sociedade, com a investigadora não sendo levada a
sério pela polícia local ou outros com quem interage. A investigação sobre o
sequestro dos bebês também mostra toda uma rede de abuso de mulheres
perpetradas por homens poderosos e médicos sem escrúpulos. Esses homens em
posições de poder pagavam médicos para fazerem os partos de suas amantes e
depois dizer a elas que as crianças morreram no parto, esterilizando as
mulheres contra a vontade delas. Toda a trama revela como as mulheres eram
tratadas como objetos, sendo descartadas pelos homens no momento em que se
tornavam inconvenientes e internadas como loucas se causassem problemas.