sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Crítica – A Voz Suprema do Blues

 

Análise Crítica – A Voz Suprema do Blues

Review – A Voz Suprema do Blues
Baseada em uma peça de teatro escrita por August Wilson, A Voz Suprema do Blues usa a figura real da cantoria Ma Rainey para falar do racismo e das vivências da comunidade negra dos Estados Unidos no início do século XX. Tal como Um Limite Entre Nós (2016), também uma adaptação de uma peça de Wilson, a trama demora um pouco a engrenar e a dizer a que veio, mas assim que isso acontece é difícil não se envolver.

A trama acompanha um dia na vida da cantora Ma Rainey (Viola Davis) enquanto ela tenta iniciar a gravação de um disco. Ao mesmo tempo, a banda de Ma, presa na claustrofóbica sala de ensaio do estúdio, começa a discutir entre si e os ânimos começam a se exaltar quanto Levee (Chadwick Boseman), um dos músicos da banda, começa a querer mais destaque.

A trama demora a tocar nos seus temas principais, inicialmente acompanhando o cotidiano dos personagens e as conversas sobre banalidades. O elenco convence da naturalidade dessas interações, mas em seu terço inicial fica a impressão de que testemunhamos verborragia apenas pela verborragia. As coisas começam a melhorar a partir do momento em que começamos a entender melhor aqueles personagens e como eles têm experiências similares de racismo e exclusão.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Duro de Matar

 

Die Hard christmas movie

Análise crítica - Duro de Matar
Lançado em 1988, Duro de Matar é constantemente lembrado como um dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Recentemente ele também entrou em outras discussões sobre gêneros e subgêneros narrativos, mais especificamente: seria Duro de Matar um filme de Natal? A narrativa certamente se passa no período natalino, mas seria isso o bastante para considerá-lo um filme de Natal?

Para quem não conhece, na trama o policial nova-iorquino John McClane (Bruce Willis) viaja até Los Angeles para reencontrar a esposa Holly (Bonnie Bedelia) para tentar recuperar o casamento dos dois. Holly trabalha em um luxuoso e tecnologicamente avançado arranha-céu na cidade e John chega para encontrá-la durante uma festa da empresa, mas a festa é invadida pelo grupo de ladrões liderados por Hans Gruber (Alan Rickman) que toma todos de reféns. McClane consegue escapar e agora ele tentará lidar com os criminosos por conta própria.

Na época de seu lançamento, o filme chamou atenção pelo modo como reconfigurava os padrões de um filme de ação hollywoodiano. Durante a década de oitenta, o gênero era tomado por astros com corpos hiperbólicos e personagens virtualmente indestrutíveis que despachavam hordas de bandidos sem se ferir como acontecia em Comando para Matar (1985) ou Stallone Cobra (1986). O John McClane de Bruce Willis era o oposto disso. Ele tinha um físico relativamente normal, estava em uma clara situação de desvantagem em relação aos seus inimigos e era vulnerável, física e emocionalmente.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Crítica – Tenet

 

Análise Crítica – Tenet

Review – Tenet
Confesso que os primeiros trailers de Tenet não me atraíram em nada. Tudo parecia uma reciclagem de coisas que o diretor Christopher Nolan tinha feito antes em seus outros filmes. A impressão era de se tratava de um A Origem (2010) que trocava a manipulação de realidades e sonhos por manipulação temporal. Ainda assim fui assistir aberto ao que filme me traria e devo dizer que o resultado final é relativamente decepcionante.

Na trama, um agente (John David Washington) é recrutado por uma força-tarefa secreta para combater a mais nova ameaça ao mundo: a manipulação temporal. O protagonista descobre que forças do futuro estão enviando para o presente itens com “entropia invertida” que se movem temporalmente ao contrário. Para descobrir quem está por trás disso, o protagonista recorre a ajuda do misterioso Neil (Robert Pattinson) para localizar o elusivo traficante de armas russo Sator (Kenneth Branagh) que parece ser o responsável por trazer ou receber esses objetos do futuro.

É um conceito complexo, tal como outros filmes do diretor, mas se antes havia um mínimo de clareza em estabelecer esses elementos complicados de maneira que fosse possível entender o que está em jogo, isso não acontece aqui. Nos primeiros minutos o protagonista ouve a explicação de uma cientista de que esses objetos invertidos seriam extremamente perigosos, o motivo disso, no entanto, não fica claro e o texto demora em evidenciar as razões disso. Se em outros filmes Nolan conseguia apresentar seu universo ficcional no primeiro ato, aqui o filme é inteiro permeado por longos diálogos expositivos que tentam explicar o tempo todo as regras de funcionamento desse universo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Crítica – Ava

Análise Crítica – Ava

Review – Ava
Uma assassina de aluguel tem uma crise de consciência e começa a questionar a vida de violência que leva, por causa disso é considerada inapta para o serviço e seus superiores tentam eliminá-la. É uma premissa pra lá de batida, mas considerando o elenco formado por nomes como Jessica Chastain, John Malkovich, Geena Davis e outros, poderia até render um exame envolvente do que move uma pessoa que leva essa vida. Os primeiros minutos também dão a impressão de que este Ava vai conseguir ir além dos clichês narrativos ao inserir também elementos de drama familiar ao explorar a relação complicada que a protagonista tem com a mãe e as irmãs. O problema é que o filme acaba apenas passando superficialmente por todas essas ideias.

Na trama, Ava (Jessica Chastain) é uma ex-militar que virou assassina de aluguel. Seu contato é Duke (John Malkovich), antigo mentor de Ava no exército e que nutre um afeto paternal por ela. Quando Ava começa a questionar a natureza do trabalho, Duke tenta convencer o líder da organização, Simon (Colin Ferrel), de que Ava não é um risco para as operações, mas Simon acha melhor descartá-la. Ao mesmo tempo, Ava tenta se reaproximar da família depois que a mãe, Bobbi (Geena Davis), tem um infarto.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Crítica – O Mandaloriano: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – O Mandaloriano: 2ª Temporada

Review – O Mandaloriano: 2ª Temporada
Confesso que fiquei surpreso com a primeira temporada de O Mandaloriano. De cara chamava atenção como ela, assim como o primeiro filme de Star Wars, evocava antigos seriados de aventura. Com episódios de tramas quase que inteiramente autocontidas enquanto acompanhávamos um mercenário errante, remetendo a histórias de faroeste e filmes de samurai, vagando por uma galáxia devastada pela guerra em busca de respostas envolvendo seu próprio povo e o que fazer com uma pequena criatura que encontrara em sua missão. O segundo ponto era a inesperada conexão emocional que aos poucos se desenvolvia entre o estoico mercenário e a pequena criatura, que foi apelidada de Baby Yoda, conforme a trama progredia.

A segunda temporada segue no ponto em que o ano de estreia parou. Em fuga de Moff Gideon (Giancarlo Esposito), o mandaloriano Din Djarin (Pedro Pascal) parte em busca de informação sobre algum Jedi que pudesse lhe ajudar com a pequena criatura que protege. Tal como no primeiro ano há o mesmo espírito de aventura despretensiosa, com o protagonista chegando a um planeta diferente a cada semana e alguém ou alguma crise específica para resolver nesse local que ao final dá alguma contribuição para mover a trama principal para frente. A partir desse ponto, aviso que o texto pode conter SPOILERS da temporada.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Crítica – Hyrule Warriors: Age of Calamity

Análise Crítica – Hyrule Warriors: Age of Calamity


Review – Hyrule Warriors: Age of Calamity
Quando escrevi sobre a demo de Hyrule Warriors: Age of Calamity mencionei o quanto fiquei surpreso do jogo conseguir transpor tantas mecânicas de Zelda: Breath of the Wild para a estrutura de um game de ação estilo Musou do spin-off Hyrule Warriors. O primeiro dessa série de derivados contava uma história própria que misturava diferentes temporalidades do universo Zelda, misturando heróis e vilões de games como Ocarina of Time, Twilight Princess ou Skyward Sword, mas este é todo centrado no universo apresentado em Breath of the Wild.

A trama se passa 100 anos antes de Breath of the Wild e conta a história do ataque de Calamity Ganon que levou à queda de Hyrule, a morte dos quatro pilotos das feras divinas e a Link ser colocado em estase durante um século. Ajuda não só a dar mais contexto a Breath of the Wild como também amplia nosso entendimento sobre esse universo ao ver como a Hyrule do jogo era antes da devastação de Ganon. A narrativa também nos mostra versões muito mais jovens dos personagens de BoW, como Impa, que lá era já uma senhorinha idosa e aqui, em sua juventude, é uma ágil guerreira, lutando com espadas, selos mágicos e símbolos místicos. 

Há um elemento de viagem no tempo aqui, no entanto, que pode desagradar os fãs mais puristas de BoW. Outro problema é que a trama é, em muitos momentos, excessivamente expositiva, focando mais em explicar como as coisas aconteceram do que desenvolver os personagens e as relações entre eles. Uma pena, já que os campeões Daruk, Mipha, Revali e Urbosa são tão carismáticos. A única que recebe um pouco mais de desenvolvimento é Zelda, com a trama focando no senso de inadequação da princesa conforme ela parece não conseguir despertar o poder profetizado para ela.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Crítica – Spider-Man: Miles Morales


Análise Crítica – Spider-Man: Miles Morales


Review - Spider-Man: Miles Morales
Exclusivo para Playstation 4, Marvel’s Spider-Man fez pelo amigão da vizinhança nos games o que Batman: Arkham Asylum fez pelo Homem-Morcego. Era um game que realmente nos fazia sentir como o Homem-Aranha, seja na física do movimento com as teias, seja na narrativa que mostra os conflitos de Peter Parker em manter sua vida pessoal no lugar enquanto salva a cidade como Homem-Aranha. Uma sequência é inevitável, inclusive por conta das cenas pós-créditos que deixam alguns ganchos. Antes de acompanharmos uma segunda aventura de Parker, no entanto, a Sony nos dá Spider-Man: Miles Morales, que foca no personagem titular que ganhou poderes no final do primeiro game do Aranha.

A trama se passa durante as festas de fim de ano. Peter sai de Nova Iorque em uma viagem de trabalho com Mary Jane e deixa a cidade a cargo de Miles Morales, que começou a treinar com Peter para desenvolver seus poderes. Sozinho e sem o auxílio de Peter, Miles precisa lidar com a ameaça da corporação Roxxon, cujo novo reator de energia parece mais perigoso do que parece, e do vilão Tinkerer, que parece ter contas a acertar com a Roxxon. Além disso, Miles precisa lidar com a campanha de sua mãe, Rio, que concorre a vereadora, a reaproximação com o tio Aaron e o retorno de uma antiga amiga de infância, Phin.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Drops – DBZ Kakarot: Um Novo Poder Desperta Parte 2

 Análise Crítica - DBZ Kakarot: Um Novo Poder Desperta Parte 2

Apesar de ter gostado de Dragon Ball Z Kakarot e o modo como o jogo nos fazia viver no universo de Dragon Ball revivendo os principais arcos, fiquei um pouco decepcionado com o primeiro DLC, Um Novo Poder Desperta Parte 1. A primeira expansão levava o jogador a uma área vazia, o planeta de Bills, sem muito o que fazer fora uma série de batalhas similares entre si contra Whis e Bills, além de quebrar a progressão de níveis com itens de aumento de XP que tornavam fácil demais subir de nível. Esse segundo DLC, Um Novo Poder Desperta Parte 2, se sai melhor em oferecer mais conteúdo e uma experiência mais significativa.

Se a primeira expansão era basicamente uma série de batalhas contra chefes, essa segunda reconta a trama de A Ressurreição de Freeza, com direito a cutscenes que tem a mesma intensidade e dramaticidade daquelas contidas na campanha principal. Não é uma história longa, podendo ser completada em pouco mais de uma hora, mas o jogo ainda oferece mais algumas missões secundárias após a trama principal que injetam um pouco de humor ao desenvolver mais alguns personagens do exército de Freeza e também alguns dos guerreiros Z.

Falando neles, essa expansão também consegue dar evidência a outros personagens para além de Goku e Vegeta. Como os dois estão treinando com Whis quando Freeza ataca, cabe a Gohan, Piccolo e os demais proteger o planeta, o que dá motivo para continuar usando e evoluindo muitos personagens que tinham sido deixados de lado após o fim da campanha principal.

A expansão adiciona novas transformações para Goku e Vegeta no Super Saiyajin Azul, além de novos combos e golpes especiais para eles, o que ajuda a dar um frescor à jogabilidade. Assim como algumas transformações do jogo base, a nova transformação consome ki muito rápido (diferente de Super Saiyajin Deus, que não consumia ki) o que mais uma vez traz um componente estratégico às batalhas já que exige que o jogador fique atento para gerenciar sua energia.

Além disso, há uma nova mecânica na forma das batalhas de hordas, feitas para simular as lutas contra centenas de soldados de Freeza ao mesmo tempo. A mecânica acaba sendo um pouco decepcionante porque você não tem realmente uma centena de inimigos ao seu redor de uma vez só, mas apenas uma dezena deles e o resto vai aparecendo conforme você vai derrotando inimigos. Ao usar um ataque combinado de todo o grupo é possível eliminar dezenas de inimigos de uma vez, gerando algumas cutscenes com os ataques grandiloquentes típicos da franquia. Apesar de trazer alguma novidade, a mecânica não explora plenamente o potencial que poderia ter.

Ainda assim Um Novo Poder Desperta Parte 2 consegue entregar algo mais consistente do que a primeira parte, lembrando os elementos que o jogo base tinha de melhor de dando boas razões para que retornemos a ele.

 

Nota: 7/10


Trailer

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Rapsódias Revisitadas - 007 Contra Goldeneye

Análise Crítica - 007 Contra Goldeneye

Review - 007 Contra Goldeneye
Lançado em 1995, 007 Contra Goldeneye tinha a missão de mostrar que o famoso agente britânico com licença para matar ainda poderia ser relevante em um contexto pós-Guerra Fria. No final da década de oitenta as duas tentativas protagonizadas por Timothy Dalton, 007 Marcado Para Morte (1987) e 007 Permissão Para Matar (1989), não agradaram muito por conta da persona mais violenta do Bond de Dalton e pela natureza mais banal de seus inimigos, como contrabandistas, oficiais governamentais corruptos ou crimes de evasão de divisas.

Com um novo Bond em Pierce Brosnan, 007 Contra Goldeneye tentava trazer de volta a glória dos tempos áureos de James Bond, afastando-o do tom excessivamente sisudo de Dalton ou do camp e da galhofa de Roger Moore. A abordagem parecia remeter à fase de Sean Connery, mas fazendo o personagem e as ameaças enfrentadas por ele soarem contemporâneas (para a época em que foi feito, claro). Nesse sentido, a trama do filme é sobre as marcas indeléveis da guerra, sobre como o fim de um conflito não significa que as feridas abertas por ele deixam de sangrar e as consequências disso reverberam por anos a fio.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Rapsódias Revisitadas – Os Pássaros

Crítica – Os Pássaros

Review – Os Pássaros
Não sei se serei capaz de dizer algo sobre Os Pássaros, filme seminal de Alfred Hitchcock, que já não tenha sido dito antes. É um suspense de condução segura que trabalha para nos deixar à beira da poltrona em tensão mesmo que em um primeiro momento a ideia da ameaça principal soe um pouco risível. Afinal, ninguém pensaria que pássaros comuns poderiam ser tão aterrorizantes, no entanto é a condução segura do diretor e as situações inventivas que consegue criar ao redor da premissa.

Na trama a socialite Melanie (Tippi Hedren) viaja até uma cidadezinha no norte da Califórnia para encontrar Mitch (Rod Taylor), por quem talvez esteja interessada romanticamente. Chegando no local, no entanto, fenômenos estranhos começam a acontecer quando pássaros parecem atacar a população e os ataques vão se tornando cada vez mais frequentes.

O texto é inteligente o bastante para não explicar demais o que está acontecendo, se recusando a entregar uma motivação explícita para os ataques dos animais. Essa recusa é eficiente em termos de suspense porque o fato de não sabermos exatamente com o que esses personagens estão lidando ou como combater a ameaça torna tudo ainda mais incerto. Além disso, seria difícil dar uma explicação convincente que funcionasse para todo mundo, então deixar isso em aberto à imaginação do espectador serve para que o público projete seus medos e inquietações diante do estranho fenômeno. Sei que pode parecer óbvio falar disso hoje, mas essa é uma lição que muitos seguidores de Hitchcock ainda não pareceram captar, vide M. Night Shyamalan em Fim dos Tempos (2008) e as explicações risíveis que o filme dá.