segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Crítica – Pieces of a Woman

 Análise Crítica – Pieces of a Woman


Review – Pieces of a Woman
Perder um filho provavelmente deve ser uma das maiores dores que uma pessoa pode sentir. Perder um filho segundos depois do parto, sem sequer ter tempo para entender o que aconteceu, deve ser uma dor ainda pior. É sobre essa dor que Pieces of a Woman, produção original da Netflix, constrói sua narrativa.

Na trama, depois de um parto em casa que sai terrivelmente errado, Martha (Vanessa Kirby) perde a filha recém-nascida e fica sem saber como seguir adiante. O companheiro de Martha, Sean (Shia LaBeouf), e a mãe dela, Elizabeth (Ellen Burstyn), insistem que a culpa é da parteira e iniciam uma processo criminal contra ela a revelia da decisão de Martha. Enquanto isso, a protagonista tenta lidar com a perda ao seu modo.

O roteiro é hábil em evitar armadilhas e lugares comuns que uma trama dessas poderia cair. Poderia ser um dramalhão choroso e manipulativo cheio de platitudes e epifanias forçadas, poderia se reduzir a um drama de tribunal discutindo os méritos e problemas de partos em casa, corria o risco de cair em maniqueísmos simplórios e reduzir a mãe ou o marido de Martha em vilões manipuladores, mas o texto de Kata Weber evita tudo isso.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Crítica – O Céu da Meia-Noite

 

Análise Crítica – O Céu da Meia-Noite


Review – O Céu da Meia-Noite
Um homem em estado terminal é deixado sozinho em um observatório na Antártica com o objetivo de avisar uma missão espacial retornando de uma das luas de Júpiter para não retornar ao planeta, que enfrenta uma catástrofe irreversível, esse é o início de O Céu da Meia-Noite. Enquanto Augustine (George Clooney) tenta contatar a estação espacial tripulada por Sully (Felicity Jones), ele encontra uma menina deixada no observatório. Sem escolha, ele decide cuidar da menina enquanto tenta avisar Sully e os demais para retornarem para a lua de Júpiter que descobriram ser habitável.

É um filme que tem muitas pretensões sobre temas como preservação ambiental, importância da família, o futuro da humanidade e outros temas complexos. A questão é essas ideias são todas tratadas sem qualquer complexidade ou nuance, recorrendo a clichês e discursos pré-prontos que não trazem nada de muito novo à discussão dessas ideias, mas que são tratadas por Clooney (que também dirige o filme) como se ele estivesse descobrindo a roda. A mesma empáfia messiânica que ele já tinha exibido no péssimo Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso (2017).

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Crítica – Cobra Kai: 3ª Temporada

Análise Crítica – Cobra Kai: 3ª Temporada


Review – Cobra Kai: 3ª Temporada
As duas primeiras temporadas de Cobra Kai surpreendiam por pegar um material que poderia ser reduzido a um puro memorialismo vazio e o usou justamente para falar dos problemas de se viver apegado ao passado e a nostalgia. Johnny Lawrence (William Zabka) não consegue superar a derrota do passado e sua vida é pior por isso. Do mesmo modo Daniel Larusso (Ralph Macchio) se apega aos dias de glória de outrora e não aprecia plenamente a carreira e a família que construiu para si. Reviver a antiga rivalidade é, para os dois, uma maneira de tentar retornar a essa “era de ouro” da vida deles, no entanto isso só traz problemas a ambos. Aviso que o texto a seguir tem SPOILERS da temporada.

A terceira temporada continua onde o segundo ano parou, com Miguel (Xolo Maridueña) em coma depois da briga generalizada na escola, Kreese (Martin Kove) forçando a saída de Johnny do Cobra Kai e Daniel decidindo fechar o Miyagi-Do pela segurança dos alunos. Era de se esperar que as coisas esfriassem depois do conflito, mas Kreese parece disposto a insuflar ainda mais a rivalidade entre os seus alunos para provar que é superior a Daniel e Johnny.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Reflexões Boêmias - Melhores Filmes de 2020

 

Crítica Melhores Filmes

Com todo final de ano e início de ano novo chega a hora de fazer um balanço do que passou. Já apresentamos nossa lista de piores filmes, então é chegada a hora de falarmos dos melhores. Por conta da pandemia do COVID-19 esse foi um ano atípico, ficamos de quarentena em casa, cinemas foram fechados, mas mais do que nunca, nesse período de confinamento, ficou evidente a importância da cultura e das artes. Sem filmes, séries, música, games e outras peças expressivas o confinamento da quarentena seria provavelmente muito pior. A arte nos ajudou a lidar com o isolamento, ofereceu alento, conexão, leveza, reflexão e tantas outras coisas que a arte pode trazer. Diante disso, vou listar os dez melhores filmes que assisti ao longo de 2020 levando em consideração o lançamento oficial no Brasil, nos cinemas ou plataformas digitais.

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Crítica – Soul

 

Análise Crítica – Soul


Review – Soul

A Pixar criou o costume de trabalhar temas complexos com uma linguagem acessível a todas as idades. Fez isso em filmes como Divertida Mente (2015) e tantos outros. Este Soul segue essa tendência ao trazer questionamentos existenciais e também ponderações metafísicas.

Na trama, Joe é um pianista de jazz que sofre um acidente e tem a alma separada de seu corpo horas antes de um grande show que ele acredita que mudaria sua carreira. No mundo das almas ele se recusa a ir ao pós-vida e aceita ser mentor de uma alma ainda para nascer, chamada de 22, para poder ter uma chance de voltar ao mundo dos vivos.

Como em outros filmes da produtora, a direção de arte é bastante criativa em ilustrar concretamente ideias abstratas, como o espaço do sublime no qual as pessoas, através da arte ou outros meios, entram em contato com o universo espiritual ou o modo como almas que se perdem em obsessões se tornam monstros presos em um invólucro de suas próprias ansiedades.

domingo, 3 de janeiro de 2021

Crítica – Nunca, Raramente, As Vezes, Sempre

Crítica – Nunca, Raramente, As Vezes, Sempre


Review – Nunca, Raramente, As Vezes, Sempre
Falar sobre aborto e questões relacionadas ao acesso ao aborto não são temas fáceis. Filmes que tratam do tema muitas vezes adotam um tom excessivamente panfletário e didático com diálogos pouco orgânicos que funcionam como palestras ao espectador sobre a necessidade de descriminalizar o aborto e deixá-lo acessível por questões de saúde pública. Esse erro nunca é cometido por este Nunca, Raramente, As Vezes, Sempre, da diretora Eliza Hittman,

A trama é centrada em Autumn (Sidney Flanigan), uma garota do interior dos Estados Unidos que descobre estar grávida. Quando ela vai a uma clínica em sua cidade se informar sobre a questão, é atendida por pessoas que a estimulam a continuar com a gravidez, mesmo que seja para posteriormente dar o bebê para adoção. Querendo encerrar a gravidez, Autumn pesquisa sobre as leis de aborto em diferentes estados e resolve ir até Nova Iorque. Acompanhada pela amiga Skylar (Talia Ryder), a única pessoa com quem confidencia a situação, Autumn reúne um pouco de dinheiro e parte em sua viagem até Nova Iorque.

sábado, 2 de janeiro de 2021

Reflexões Boêmias: Piores Filmes de 2020

 

Piores Filmes de 2020

Final de ano é sempre o momento de fazer um balanço de tudo que passou e com 2020 é diferente. Não foi um ano fácil graças à pandemia do COVID-19 e foi particularmente difícil para os filmes com o fechamento de cinemas, grandes lançamentos indefinidamente adiados ou lançados direto em streaming. Sim, alguns lugares até reabriram cinemas, mas o medo do contágio fez muitos se manterem afastados (eu incluso). Deixar de ir aos cinemas, no entanto, não significa que eu não tenha assistido vários filmes ao longo de 2020, bons e ruins. Como eu prefiro dar as notícias ruins primeiro, começo meu balanço do ano com os piores, então vamos a eles. Como em outros anos, a lista leva em consideração filmes que tiveram seu lançamento oficial no Brasil em 2020, seja nos cinemas ou direto em plataformas digitais.

 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Crítica – Mulan

Análise Crítica – Mulan

Review – Mulan
De toda a onda de remakes live action que a Disney vem empreendido de suas clássicas animações, Mulan era o que eu estava mais empolgado. Não porque tenho particular afeto pelo filme original de 1999, mas porque era o único que parecia efetivamente fazer um esforço de reimaginar o original. Enquanto Aladdin (2019), O Rei Leão (2019) e A Bela e a Fera (2017) eram recriações preguiçosamente fidedignas do original com muito pouco que justificasse um remake além da vontade da Disney fazer dinheiro, Mulan parecia se justificar por tentar ser algo diferente. Ao invés do musical da animação, esta nova versão estaria mais próxima de um wuxia, gênero chinês que mistura artes marciais e fantasia (pensem em O Tigre e o Dragão ou Herói).

Na trama, Mulan (Yifei Liu) é uma garota que se recusa a se resignar ao papel que a sociedade chinesa obriga as mulheres a se colocarem. Quando invasores estrangeiros liderados por Bori Khan (Jason Scott Lee) colocam a China em risco, o imperador obriga que cada família ceda um homem para o exército. Querendo evitar que seu idoso pai, Zhou (Tzi Ma), sirva no exército, Mulan rouba as armas e armaduras da família e vai se alistar fingindo ser homem, temendo que caso o segredo seja revelado sua família seja desonrada e ela seja executada.

sábado, 26 de dezembro de 2020

Crítica – Os Segredos do Castelo

 

Análise Crítica – Os Segredos do Castelo

Review Crítica – Os Segredos do Castelo
Adaptando um romance de Shirley Jackson, este Os Segredos do Castelo parecia, pela divulgação, um suspense ao redor dos segredos de uma estranha família que mora em uma ampla mansão no interior dos Estados Unidos. O produto final, no entanto, é mais um estudo de personagem que trata de alienação e relações entre irmãs do que algo repleto de tensão e mistério, então é possível que muitos não se agradem com o ritmo mais lento da narrativa.

A trama gira em torno das irmãs Marricat (Taissa Farmiga) e Constance (Alexandra Daddario) que vivem isoladas em uma grande mansão depois que o pai delas morreu de maneira extremamente suspeita e as pessoas da cidade acham que elas foram responsáveis por isso. Elas tem uma existência reclusa, com apenas Marricat saindo uma vez por semana para fazer compras, somente com a companhia do estranho tio Julian (Crispin Glover). O cotidiano das irmãs muda com a chegada do primo Charles (Sebastian Stan), que diz estar interessado em cuidar das irmãs, mas na verdade deseja colocar as mãos na fortuna da família.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Crítica – A Voz Suprema do Blues

 

Análise Crítica – A Voz Suprema do Blues

Review – A Voz Suprema do Blues
Baseada em uma peça de teatro escrita por August Wilson, A Voz Suprema do Blues usa a figura real da cantoria Ma Rainey para falar do racismo e das vivências da comunidade negra dos Estados Unidos no início do século XX. Tal como Um Limite Entre Nós (2016), também uma adaptação de uma peça de Wilson, a trama demora um pouco a engrenar e a dizer a que veio, mas assim que isso acontece é difícil não se envolver.

A trama acompanha um dia na vida da cantora Ma Rainey (Viola Davis) enquanto ela tenta iniciar a gravação de um disco. Ao mesmo tempo, a banda de Ma, presa na claustrofóbica sala de ensaio do estúdio, começa a discutir entre si e os ânimos começam a se exaltar quanto Levee (Chadwick Boseman), um dos músicos da banda, começa a querer mais destaque.

A trama demora a tocar nos seus temas principais, inicialmente acompanhando o cotidiano dos personagens e as conversas sobre banalidades. O elenco convence da naturalidade dessas interações, mas em seu terço inicial fica a impressão de que testemunhamos verborragia apenas pela verborragia. As coisas começam a melhorar a partir do momento em que começamos a entender melhor aqueles personagens e como eles têm experiências similares de racismo e exclusão.