segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Drops – Proud Mary

 

Análise Crítica – Proud Mary

Review – Proud Mary
Apesar da trama baseada na velha premissa do assassino de aluguel protegendo uma criança para tentar reparar um passado de violência, esperava que Proud Mary fosse ao menos um filme de ação divertido, mas o que encontrei foi algo tão preso a clichês e sem personalidade que não há muito o que aproveitar. A trama é focada em Mary (Taraji P. Henson), uma assassina de aluguel que trabalha para o mafioso Benny (Danny Glover). Depois que um assassinato dá errado, Mary passa a proteger o garoto Danny (Jahi Di'Allo Winston), mas isso a coloca no caminho de uma guerra de gangues.

É curioso que apesar dos créditos iniciais trazerem uma estética visual e musical que remete aos filmes de blaxploitation dos anos 70, mas o restante do filme nunca investe nesse clima, preferindo ser o mesmo tipo de história criminal urbana com ambientes cinzentos e com baixa saturação de cor que Hollywood vem fazendo nos últimos anos. Uma pena, já que uma pegada mais próxima do blaxploitation poderia dar algum grau de personalidade ao filme.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Rapsódias Revisitadas – Histórias que Contamos

 

Análise Crítica – Histórias que Contamos

Review – Histórias que Contamos
Quando damos um testemunho ou rememoramos algo muitas vezes pensamos que estamos sendo objetivos, que estamos lembrando as coisas exatamente como elas são, mas na prática não é exatamente assim. Nossa memória é falha, muitas vezes preenchemos as lacunas com suposições ou fabulações que não necessariamente correspondem ao que ocorreu. Ás vezes até somos influenciados pela fala de outros e acreditamos nos lembrar de algo que nunca aconteceu de verdade, como o fato dos ataques de 11 de setembro terem interrompido Dragon Ball Z na TV Globinho. Lançado em 2012, o documentário Histórias que Contamos trata justamente dessa natureza lacunar e fabulativa da memória, lembrando que são as narrativas que construímos sobre os fatos, não os fatos por si só, que ficam na nossa mente.

A diretora Sarah Polley conta a história de sua família, em especial de sua falecida mãe, Diane, e a relação dela com o pai de Sarah, Michael. Ao longo do filme ela ouve o pai, os irmãos e outras pessoas conhecidas da família, até mesmo aqueles não se envolveram diretamente com os eventos narrados. Paralelamente às entrevistas, o filme nos mostra cenas que parecem ser imagens de arquivo, aparentemente dos eventos narrados.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Crítica – O Cofre

 

Análise Crítica – O Cofre

Review – O Cofre
O Cofre mistura dois elementos que eu não esperava ver junto. A trama faz uma mescla de um filme de roubo com um filme de casa (ou cofre nesse caso) assombrada. O problema é que apesar da mistura de formatos ser, em si, criativa, a mistura desses elementos não é lá muito bem executada.

A narrativa conta a história de duas irmãs, Vee (Taryn Manning) e Leah (Francesca Eastwood) que roubam um banco para conseguir dinheiro para salvar o irmão delas, Michael (Scott Haze). Quando o cofre do banco tem menos dinheiro do que esperavam e a polícia começa a cercar o local as irmãs ficam sem saber o que fazer até que Ed (James Franco), o subgerente do banco, informa que há um segundo cofre no subsolo com mais dinheiro e que lá há um túnel que pode ser usado na fuga. O que as irmãs não sabiam é que os túneis sob o banco eram assombrados.

É uma mescla inesperada de elementos que poderia render algo verdadeiramente tenso, com as protagonistas tendo que lidar tanto com a pressão da polícia do lado de fora quanto a presença do sobrenatural dentro do banco. A questão é que os dois elementos são mal trabalhos demais para funcionar. A presença da polícia do lado de fora do banco é esquecida durante boa parte da duração assim com a presença dos reféns e qualquer demanda deles é também deixada de lado depois da meia hora inicial.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Drops – Yes God Yes

 

Análise Drops – Yes God Yes

Review – Yes God Yes
Adaptando seu curta-metragem de mesmo nome, em Yes God Yes a diretora Karen Maine fala sobre o despertar sexual feminino e como a sociedade, especialmente em comunidades religiosas, tenta suprimir as vivências sexuais dos jovens e incute neles uma culpa por quererem experimentar algo que é normal.

A trama se passa no final da década de noventa, ainda com internet discada. Alice (Natalia Dyer, que também protagonizou o curta original) é uma adolescente que estuda em uma escola católica. Lá a ideia de educação sexual consiste em dizer que sexo fora do casamento e qualquer coisa relacionada, como masturbação, são pecados imperdoáveis. Quando um chat de internet caminha para conversas quentes, Alice começa a contemplar a possibilidade de se masturbar, o problema é que logo ela embarca para um retiro cristão.

A trama mostra que tratar sexualidade como motivo de culpa ou vergonha em nada inibe os adolescentes de fazerem sexo, apenas os torna moralistas hipócritas (como os adultos que ensinam isso). A abordagem à sexualidade também permeada por machismos, tratando os homens como irracionalmente sexualizados que podem ser atiçados facilmente por qualquer ação ou atributo feminino, injustamente colocando na mulher a responsabilidade sobre as ações masculinas.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Crítica – Relatos do Mundo

 


Westerns em geral são sobre o homem contra a selvageria. A selvageria do espaço árido do oeste selvagem ou a do ser humano. São histórias sobre o triunfo de domar esse espaço brutal e sem lei, sobre a força do espírito humano em resistir a tudo. Este Relatos do Mundo toca nesses temas, mas, de certa, forma, vai na contramão de alguns elementos típicos do gênero para construir um feel good movie dentro do oeste selvagem.

A trama é protagonizada por Kidd (Tom Hanks), um veterano da Guerra de Secessão que viaja de cidade em cidade do estado do Texas narrando as notícias que saem nos jornais impressos. A rotina dele muda quando ele encontra Johanna (Helena Zengel), uma menina que foi sequestrada por indígenas. Agora Kidd precisa cruzar o Texas para devolver a garota para a família dela.

Se passando pouco tempo depois do fim da Guerra de Secessão, a narrativa mostra um Texas devastado pelo conflito, ainda com as cicatrizes da guerra, tentando se reconstruir, mas ainda sendo tratado como inimigo pelos soldados do norte que ocupam a região. É um lugar polarizado, sem esperança e sem perspectiva. Com as histórias insólitas que conta das manchetes de jornais Kidd espera trazer algum alento ao sofrimento daquelas pessoas. Nesse sentido, além da ligação entre Kidd e Johanna, o filme é também sobre o poder das narrativas, na força que elas tem em nos mover, inspirar, nos conectar uns com os outros, e modificar um cotidiano de dor.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Crítica – Lupin: 1ª Temporada

 Análise Crítica – Lupin: 1ª Temporada


Criado no final do século XIX por Maurice Leblanc, o cavalheiro ladrão Arsene Lupin chamava atenção por seus roubos engenhosos e seu talento por disfarces. Apesar de um nome conhecido na literatura e já ter recebido sua parcela de adaptações para cinema e televisão, o personagem estava relativamente do audiovisual mainstream nos últimos anos. A série francesa Lupin, produzida pela Netflix, tenta trazer o personagem para os dias atuais, ao mesmo tempo em que celebra o legado literário da criação de Leblanc.

A trama acompanha Assane (Omar Sy), um imigrante senegalês que chegou na França ainda garoto e que viu o pai ser preso por um crime que não cometeu. Anos depois, já adulto, decide se vingar da rica família responsável pela prisão do pai. Inspirado pelos livros de Arsene Lupin que seu pai lhe deixou, Assane monta audaciosos esquemas para descobrir o que realmente aconteceu com o pai dele, que teria se suicidado na prisão.

Omar Sy tem carisma e charme de sobra para convencer que seu personagem seria capaz de levar qualquer um na conversa e se infiltrar em qualquer lugar, trazendo a confiança, postura cavalheiresca e a astúcia que se espera de um pretenso Lupin. O arco do personagem também lida com questões de preconceito e de classe social, mostrando como o pai de Assane foi facilmente incriminado por ser um imigrante negro e pobre, sendo facilmente devorado e desacreditado pelo sistema de justiça. Para além da trama criminal, a série também desenvolve a relação de Assane com o filho e a ex-esposa, com o último episódio da temporada nos fazendo compreender como os planos de vingança de Assane afetaram o relacionamento.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Crítica – Cidade Invisível

 

Análise Crítica – Cidade Invisível

Review – Cidade Invisível
Narrativas policiais e investigativas são costumeiramente calcadas em racionalidade, em um exame lógico-dedutivo de evidências para resolver um crime aparentemente sem explicação e demonstrar a onipotência da razão humana desvendar o mundo a nossa volta. A partir disso a ideia de misturar um gênero tão cartesiano e positivista com elementos de fantasia, como faz a série brasileira Cidade Invisível, poderia parecer contraprodutivo, mas não é a primeira vez que esses elementos convergem.

Tim Burton, por exemplo, já tinha misturado investigação e magia no bacana A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999), a série Supernatural em suas primeiras temporadas tinha esse misto de investigação e sobrenatural e Sleepy Hollow, série também baseada nas histórias do Cavaleiro Sem Cabeça, igualmente caminhava por esses dois gêneros. É portanto, perfeitamente possível convergir esses dois elementos, mas a questão é: Cidade Invisível consegue trabalhar bem mescla? A resposta é um sonoro sim.

A trama é centrada em Eric (Marco Pigossi), um investigador da polícia ambiental do Rio de Janeiro que perdeu a esposa em um misterioso incêndio florestal em uma vila próxima ao Rio. Depois da morte da esposa Eric começa a se deparar com eventos estranhos, como um boto cor de rosa (um animal de água doce) aparecendo morto em uma praia carioca. A partir daí, Eric começa a perceber elementos que pareciam estar ocultos em nosso mundo e descobre que histórias do nosso folclore, como o Saci, a Cuca e o Curupira, na verdade são bem reais.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Crítica – Carmen Sandiego: 4ª Temporada


Depois de duas temporadas que pouco faziam para avançar a  trama principal ou desenvolver os personagens, focada apenas nos “casos da semana”, o quarto ano de Carmen Sandiego finalmente retoma boa parte das narrativas que tinham sido deixadas de lado. Com isso, acaba sendo a temporada mais interessante da série em muito tempo.

Na trama, a VILE tenta se reestruturar depois de sucessivas derrotas contra Carmen, pensando em substituir seus agentes por robôs. Ao mesmo tempo, a ACME se aproxima um pouco mais de saber sobre a VILE e Carmen ao capturar Graham, cuja memória foi apagada pela VILE. Ao mesmo tempo, Carmen e a VILE encontram relíquias que podem apontar para um antigo tesouro guardado pelos fundadores da organização.

Ao contrário de outras temporadas, essa tem um foco e um objetivo mais claros desde o início, se beneficiando de uma trama maior que amarra todos os episódios de uma maneira coesa. Além da trama principal que traz Graham de volta a um papel de relevância e explora a complicada relação dele com Carmen, a temporada se beneficia em explorar personagens e interações que até então não vinham recebendo muita atenção.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Crítica – Bliss: Em Busca da Felicidade

 Análise Crítica – Bliss: Em Busca da Felicidade


Review – Bliss: Em Busca da Felicidade
O que significa ser feliz? É uma pergunta pertinente, cujo exame poderia render um bom filme. Isso não acontece neste Bliss: Em Busca da Felicidade, que parte deste questionamento, mas se perde em um universo mal concebido e uma exploração rasa dos temas que tenta apresentar.

Na narrativa Greg (Owen Wilson) é um homem recém divorciado que tem sonhos vívidos de uma vida à beira mar em um local paradisíaco, o oposto de seu cotidiano com um trabalho desinteressante em uma cidade tomada por poluição e desigualdades sociais. Quando Greg é demitido, ele conhece a misteriosa Isabel (Salma Hayek) que lhe diz que tudo aquilo é uma simulação e começa a mostrar a ele como tudo ali é artificial.

Uma reviravolta na metade explica a real natureza da simulação em que os personagens viviam e a partir daí o filme praticamente responde suas principais questões e não há muito motivo para continuar, já que tudo passa a ser uma repetição das mesmas ideias que são prejudicadas por situações que nunca são plenamente explicadas ou desenvolvidas. É o tipo de filme que ficaria melhor como um curta metragem do que como um longa.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Crítica – How To Get Away With Murder: 6ª Temporada

 Análise Crítica – How To Get Away With Murder: 6ª Temporada


Review – How To Get Away With Murder: 6ª Temporada
Depois da péssima quinta temporada, pensei seriamente em não retornar a How To Get Away With Murder. Na verdade, tinha certeza que não voltaria e só assisti essa sexta temporada por ela ser a última. Afinal, já que aguentei até aqui, melhor terminar com isso de uma vez. A conclusão se sai um pouco, mas apenas um pouco mesmo, melhor que o terrível quinto, embora não deixe de ser uma fraca conclusão para uma série que começou muito bem e teve a qualidade caindo a cada novo ano. Aviso que o texto contem SPOILERS da temporada.

Depois dos eventos da quinta temporada, Annalise (Viola Davis) está em uma clínica de reabilitação para resolver seus vícios e reconstruir a vida. Enquanto isso, Frank (Charlie Weber), Bonnie (Liza Weil) e os demais tentam desvendar o sumiço de Laurel (Karla Souza) e do filho dela, tentando entender quais foram as razões de seu desaparecimento.

Como falei em críticas sobre temporadas anteriores, a série ficou refém do próprio formato, com a estrutura de flashfowards em cada episódio tentando criar uma pista do que virá ao mesmo tempo em que tenta desviar a atenção do espectador torna-se extremamente previsível. Assim que vemos o enterro de Annalise no final do primeiro episódio já dá para prever que ela não morrerá como decorrência da investigação da conspiração que tenta incriminá-la. Do mesmo modo, quando um dos flashfowards mostra Michaela (Aja Naomi King), sabemos que ela não vai ser a culpada. Desta maneira, ao invés de gerar intriga ou suspense os flashfowards se tornam um exercício de paciência, uma tentativa de distração que já não funciona mais porque entendemos muito bem como funciona e a série não faz qualquer esforço para subverter isso.