quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Rapsódias Revisitadas – A Pequena Loja dos Horrores

Análise Crítica – A Pequena Loja dos Horrores

Review – A Pequena Loja dos Horrores

Lançado em 1986, A Pequena Loja dos Horrores não é exatamente um remake direto do filme homônimo feito em 1960 dirigido pelo lendário Roger Corman. Na verdade, a versão de 1986 é uma adaptação do musical da Broadway, sendo, também um musical. Essa mistura entre horror, comédia e musical é um dos elementos que torna o filme tão memorável e o transformou em cult.

Dirigido por Frank Oz (que faz a voz do Yoda na franquia Star Wars), o filme acompanha Seymour (Rick Moranis), um florista tímido e retraído cuja vida muda quando ele encontra uma estranha planta durante um eclipse. Apaixonado pela colega de trabalho, Audrey (Ellen Greene), Seymour nomeia a planta como Audrey II (voz de Levi Stubbs) e acredita que a estranha planta pode melhorar os negócios da dilapidada floricultura em que trabalha. O problema é que Audrey II precisa ser alimentada, com sangue fresco, o que causa problemas para Seymour.

Só pela sinopse já é possível perceber que são temas que se distanciam bastante do romantismo ingênuo no qual boa parte do musical clássico hollywoodiano se construiu ao longo das décadas de 1930 a 1960 e boa parte da graça do filme é exatamente o modo como brinca com essas convenções. Ver o sádico dentista Orin (Steve Martin) alegremente cantar sobre como adora causar dor aos seus pacientes diverte justamente pela oposição das melodias alegres com as letras e ações do personagem que fala sobre seu prazer em torturar as pessoas.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Drops – O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas

 Análise Crítica – O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas


Review – O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas
Uma pessoa fica presa em um loop temporal revivendo o mesmo dia várias vezes e aprende a apreciar as pequenas coisas da vida. É o que acontece em Feitiço do Tempo (1993) e também neste O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas, que repete muito do filme estrelado por Bill Murray e também outras histórias sobre viagem no tempo.

Na trama, o jovem Mark (Kyle Allen) se vê preso revivendo o mesmo dia. Explorando a cidade Mark conhece Margaret (Kathryn Newton) e percebe que ela também está vivenciando o mesmo loop temporal. Os dois se juntam para explorar a cidade e observar as pequenas coisas significativas que ocorrem ao longo do dia.

Durante boa parte da projeção, o filme faz o que outros sobre o mesmo tema já fizeram, mostram os personagens aproveitando a oportunidade para abrirem seus horizontes, observarem um mundo que muitas vezes não prestam atenção e apreciando as pequenas coisas da vida que muitas vezes nos passam batido. Não há muita novidade em nada disso, nem nas tentativas de Mark em descobrir um meio de escapar do loop, mas é bonitinho o suficiente para não entediar.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Crítica – Eu Me Importo

Análise Crítica – Eu Me Importo

Review – Eu Me Importo
Devo dizer que Eu Me Importo não é um filme para qualquer um. Não por ser algo complexo, de difícil entendimento ou apreciação, mas por construir uma comédia sombria ao redor de personagens que não são exatamente simpáticos e com um absurdo crescente que pode dificultar a imersão de algumas pessoas. Nada disso quer dizer que se trata necessariamente de um filme ruim, mas se trata de um produto que pode dividir opiniões.

A narrativa é protagonizada por Marla (Rosamund Pike), uma mulher que trabalha como tutora de idosos que são colocados sob a tutela do Estado. Marla, no entanto, vê esses idosos como meras formas de enriquecer, rapidamente colocando-os em asilos e depois vendendo todos os bens deles para lucrar. Marla vê uma oportunidade de faturar alto em cima de Jennifer (Dianne Wiest), uma idosa endinheirada e aparentemente sem família. Depois de conseguir tomar o controle dos bens de Jennifer, Marla descobre que a idosa tem conexões com o mafioso russo Roman (Peter Dinklage) e então começa um perigoso embate entre Marla e Roman.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Drops – Proud Mary

 

Análise Crítica – Proud Mary

Review – Proud Mary
Apesar da trama baseada na velha premissa do assassino de aluguel protegendo uma criança para tentar reparar um passado de violência, esperava que Proud Mary fosse ao menos um filme de ação divertido, mas o que encontrei foi algo tão preso a clichês e sem personalidade que não há muito o que aproveitar. A trama é focada em Mary (Taraji P. Henson), uma assassina de aluguel que trabalha para o mafioso Benny (Danny Glover). Depois que um assassinato dá errado, Mary passa a proteger o garoto Danny (Jahi Di'Allo Winston), mas isso a coloca no caminho de uma guerra de gangues.

É curioso que apesar dos créditos iniciais trazerem uma estética visual e musical que remete aos filmes de blaxploitation dos anos 70, mas o restante do filme nunca investe nesse clima, preferindo ser o mesmo tipo de história criminal urbana com ambientes cinzentos e com baixa saturação de cor que Hollywood vem fazendo nos últimos anos. Uma pena, já que uma pegada mais próxima do blaxploitation poderia dar algum grau de personalidade ao filme.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Rapsódias Revisitadas – Histórias que Contamos

 

Análise Crítica – Histórias que Contamos

Review – Histórias que Contamos
Quando damos um testemunho ou rememoramos algo muitas vezes pensamos que estamos sendo objetivos, que estamos lembrando as coisas exatamente como elas são, mas na prática não é exatamente assim. Nossa memória é falha, muitas vezes preenchemos as lacunas com suposições ou fabulações que não necessariamente correspondem ao que ocorreu. Ás vezes até somos influenciados pela fala de outros e acreditamos nos lembrar de algo que nunca aconteceu de verdade, como o fato dos ataques de 11 de setembro terem interrompido Dragon Ball Z na TV Globinho. Lançado em 2012, o documentário Histórias que Contamos trata justamente dessa natureza lacunar e fabulativa da memória, lembrando que são as narrativas que construímos sobre os fatos, não os fatos por si só, que ficam na nossa mente.

A diretora Sarah Polley conta a história de sua família, em especial de sua falecida mãe, Diane, e a relação dela com o pai de Sarah, Michael. Ao longo do filme ela ouve o pai, os irmãos e outras pessoas conhecidas da família, até mesmo aqueles não se envolveram diretamente com os eventos narrados. Paralelamente às entrevistas, o filme nos mostra cenas que parecem ser imagens de arquivo, aparentemente dos eventos narrados.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Crítica – O Cofre

 

Análise Crítica – O Cofre

Review – O Cofre
O Cofre mistura dois elementos que eu não esperava ver junto. A trama faz uma mescla de um filme de roubo com um filme de casa (ou cofre nesse caso) assombrada. O problema é que apesar da mistura de formatos ser, em si, criativa, a mistura desses elementos não é lá muito bem executada.

A narrativa conta a história de duas irmãs, Vee (Taryn Manning) e Leah (Francesca Eastwood) que roubam um banco para conseguir dinheiro para salvar o irmão delas, Michael (Scott Haze). Quando o cofre do banco tem menos dinheiro do que esperavam e a polícia começa a cercar o local as irmãs ficam sem saber o que fazer até que Ed (James Franco), o subgerente do banco, informa que há um segundo cofre no subsolo com mais dinheiro e que lá há um túnel que pode ser usado na fuga. O que as irmãs não sabiam é que os túneis sob o banco eram assombrados.

É uma mescla inesperada de elementos que poderia render algo verdadeiramente tenso, com as protagonistas tendo que lidar tanto com a pressão da polícia do lado de fora quanto a presença do sobrenatural dentro do banco. A questão é que os dois elementos são mal trabalhos demais para funcionar. A presença da polícia do lado de fora do banco é esquecida durante boa parte da duração assim com a presença dos reféns e qualquer demanda deles é também deixada de lado depois da meia hora inicial.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Drops – Yes God Yes

 

Análise Drops – Yes God Yes

Review – Yes God Yes
Adaptando seu curta-metragem de mesmo nome, em Yes God Yes a diretora Karen Maine fala sobre o despertar sexual feminino e como a sociedade, especialmente em comunidades religiosas, tenta suprimir as vivências sexuais dos jovens e incute neles uma culpa por quererem experimentar algo que é normal.

A trama se passa no final da década de noventa, ainda com internet discada. Alice (Natalia Dyer, que também protagonizou o curta original) é uma adolescente que estuda em uma escola católica. Lá a ideia de educação sexual consiste em dizer que sexo fora do casamento e qualquer coisa relacionada, como masturbação, são pecados imperdoáveis. Quando um chat de internet caminha para conversas quentes, Alice começa a contemplar a possibilidade de se masturbar, o problema é que logo ela embarca para um retiro cristão.

A trama mostra que tratar sexualidade como motivo de culpa ou vergonha em nada inibe os adolescentes de fazerem sexo, apenas os torna moralistas hipócritas (como os adultos que ensinam isso). A abordagem à sexualidade também permeada por machismos, tratando os homens como irracionalmente sexualizados que podem ser atiçados facilmente por qualquer ação ou atributo feminino, injustamente colocando na mulher a responsabilidade sobre as ações masculinas.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Crítica – Relatos do Mundo

 


Westerns em geral são sobre o homem contra a selvageria. A selvageria do espaço árido do oeste selvagem ou a do ser humano. São histórias sobre o triunfo de domar esse espaço brutal e sem lei, sobre a força do espírito humano em resistir a tudo. Este Relatos do Mundo toca nesses temas, mas, de certa, forma, vai na contramão de alguns elementos típicos do gênero para construir um feel good movie dentro do oeste selvagem.

A trama é protagonizada por Kidd (Tom Hanks), um veterano da Guerra de Secessão que viaja de cidade em cidade do estado do Texas narrando as notícias que saem nos jornais impressos. A rotina dele muda quando ele encontra Johanna (Helena Zengel), uma menina que foi sequestrada por indígenas. Agora Kidd precisa cruzar o Texas para devolver a garota para a família dela.

Se passando pouco tempo depois do fim da Guerra de Secessão, a narrativa mostra um Texas devastado pelo conflito, ainda com as cicatrizes da guerra, tentando se reconstruir, mas ainda sendo tratado como inimigo pelos soldados do norte que ocupam a região. É um lugar polarizado, sem esperança e sem perspectiva. Com as histórias insólitas que conta das manchetes de jornais Kidd espera trazer algum alento ao sofrimento daquelas pessoas. Nesse sentido, além da ligação entre Kidd e Johanna, o filme é também sobre o poder das narrativas, na força que elas tem em nos mover, inspirar, nos conectar uns com os outros, e modificar um cotidiano de dor.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Crítica – Lupin: 1ª Temporada

 Análise Crítica – Lupin: 1ª Temporada


Criado no final do século XIX por Maurice Leblanc, o cavalheiro ladrão Arsene Lupin chamava atenção por seus roubos engenhosos e seu talento por disfarces. Apesar de um nome conhecido na literatura e já ter recebido sua parcela de adaptações para cinema e televisão, o personagem estava relativamente do audiovisual mainstream nos últimos anos. A série francesa Lupin, produzida pela Netflix, tenta trazer o personagem para os dias atuais, ao mesmo tempo em que celebra o legado literário da criação de Leblanc.

A trama acompanha Assane (Omar Sy), um imigrante senegalês que chegou na França ainda garoto e que viu o pai ser preso por um crime que não cometeu. Anos depois, já adulto, decide se vingar da rica família responsável pela prisão do pai. Inspirado pelos livros de Arsene Lupin que seu pai lhe deixou, Assane monta audaciosos esquemas para descobrir o que realmente aconteceu com o pai dele, que teria se suicidado na prisão.

Omar Sy tem carisma e charme de sobra para convencer que seu personagem seria capaz de levar qualquer um na conversa e se infiltrar em qualquer lugar, trazendo a confiança, postura cavalheiresca e a astúcia que se espera de um pretenso Lupin. O arco do personagem também lida com questões de preconceito e de classe social, mostrando como o pai de Assane foi facilmente incriminado por ser um imigrante negro e pobre, sendo facilmente devorado e desacreditado pelo sistema de justiça. Para além da trama criminal, a série também desenvolve a relação de Assane com o filho e a ex-esposa, com o último episódio da temporada nos fazendo compreender como os planos de vingança de Assane afetaram o relacionamento.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Crítica – Cidade Invisível

 

Análise Crítica – Cidade Invisível

Review – Cidade Invisível
Narrativas policiais e investigativas são costumeiramente calcadas em racionalidade, em um exame lógico-dedutivo de evidências para resolver um crime aparentemente sem explicação e demonstrar a onipotência da razão humana desvendar o mundo a nossa volta. A partir disso a ideia de misturar um gênero tão cartesiano e positivista com elementos de fantasia, como faz a série brasileira Cidade Invisível, poderia parecer contraprodutivo, mas não é a primeira vez que esses elementos convergem.

Tim Burton, por exemplo, já tinha misturado investigação e magia no bacana A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999), a série Supernatural em suas primeiras temporadas tinha esse misto de investigação e sobrenatural e Sleepy Hollow, série também baseada nas histórias do Cavaleiro Sem Cabeça, igualmente caminhava por esses dois gêneros. É portanto, perfeitamente possível convergir esses dois elementos, mas a questão é: Cidade Invisível consegue trabalhar bem mescla? A resposta é um sonoro sim.

A trama é centrada em Eric (Marco Pigossi), um investigador da polícia ambiental do Rio de Janeiro que perdeu a esposa em um misterioso incêndio florestal em uma vila próxima ao Rio. Depois da morte da esposa Eric começa a se deparar com eventos estranhos, como um boto cor de rosa (um animal de água doce) aparecendo morto em uma praia carioca. A partir daí, Eric começa a perceber elementos que pareciam estar ocultos em nosso mundo e descobre que histórias do nosso folclore, como o Saci, a Cuca e o Curupira, na verdade são bem reais.