Perdi as contas de quantas vezes vi Um Príncipe em Nova York (1988) na Sessão da Tarde e em VHS. Era
uma comédia romântica bem tradicional em termos de trama (o cara rico que finge
ser pobre é usado por Hollywood desde a década de 1930), mas tinha um diretor e
um protagonista no auge de suas respectivas formas, conduzindo tudo com um
carisma e um afeto que é difícil não se deixar conquistar pelo filme. É o tipo
de clássico que não dá para repetir, então me aproximei deste Um Príncipe em Nova York 2 com certa
cautela. O resultado é logicamente inferior ao original, mas não chega a ser
intragável.
Na trama, Akeem (Eddie Murphy) se torna rei de Zamunda
depois do falecimento de seu pai, Jaffe (James Earl Jones). Como Akeem não tem
filhos homens, ele ascende ao trono sem um príncipe herdeiro, pois as leis de
Zamunda determinam que apenas homens podem assumir o trono. Isso o coloca sob
ameaça do general Izzi (Wesley Snipes), governante do país vizinho que planeja
assassinar Akeem. As coisas mudam quando Semmi (Arsenio Hall) conta a Akeem que
ele tem um filho bastardo nos Estados Unidos. Assim, Akeem retorna ao Queens
para tentar trazer o filho, Lavelle (Jermaine Fowler), para Zamunda e torná-lo
seu herdeiro.
Lançado em 1962, Cleo
das 5 às 7 é o segundo longa-metragem dirigido pela cineasta Agnes Varda e
ajudou a sedimentar a diretora como um nome importante do movimento da nouvelle vague francesa bem como no
cinema mundial. Em um espaço dominado por homens (e mesmo hoje ainda é) o filme
de Varda toca em questões de existencialismo e também de como a sociedade
francesa percebia as mulheres.
A trama é centrada na cantora Florence “Cleo” Victoire
(Corinne Marchand) que aguarda o resultado de um exame que lhe dirá se ela tem
câncer. Nas horas que antecedem a resposta sobre sua saúde, acompanhamos Cleo
conforme ela questiona o que fazer com sua vida e encara a possibilidade da
morte.
Se passando quase que em tempo real, a narrativa pondera
sobre a vida e as coisas que lhe de dão sentido, mostrando como mesmo em um
curto espaço de tempo muita coisa pode acontecer, podemos descobrir sentimentos
que não conhecíamos ao nosso respeito, trabalhar ou mesmo agir de maneira
fútil, mas que tudo isso significa estar experimentando a vida, as
possibilidades que o mundo nos dá.
A série (minissérie?) WandaVision
não era para ser a primeira entre os seriados do universo Marvel previstos
para o Disney+. O previsto era que O
Falcão e o Soldado Invernal fosse a estreia da Marvel no streaming da Casa do Mickey, mas a série
sofreu atrasos nas gravações, então esse papel coube a WandaVision. Assistindo à série é possível entender porque
inicialmente ela não foi pensada para ser nosso primeiro contato com esse
universo depois de quase um ano de hiato por conta da pandemia. O formato e
estrutura narrativa, que foca em paródias de sitcoms é diferente demais do tipo de narrativas encontradas nos
filmes da Marvel, um atributo que acaba sendo a principal vantagem e também um
dos problemas da série. Aviso que o texto abaixo contem SPOILERS da série.
A trama se passa tempos depois de Vingadores: Ultimato(2019). Wanda (Elizabeth Olsen) está
aparentemente casada com Visão (Paul Bettany) e vivendo uma idílica vida de
classe média suburbana. Só um problema, Visão foi morto por Thanos (Josh
Brolin) nos eventos de Vingadores: Guerra Infinita (2018) e, de alguma maneira, o casal parece estar vivendo em uma
espécie de sitcom da década de 50.
Aos poucos, no entanto, vamos percebendo que há algo muito estranho nessa
realidade.
A pandemia trouxe várias mudanças em nosso cotidiano. Afetou
nossas relações pessoais, trabalho e mexeu na maneira como fazemos muitas
coisas. A realização audiovisual foi uma das atividades mais afetadas pela
pandemia, afinal ter dezenas de pessoas em um set fechado, mesmo de máscara,
não é plenamente seguro. Muitos realizadores tentam pensar em tipos de
histórias que podem ser contadas no contexto pandêmico e Cuidado Com Quem Chama é um desses esforços.
A narrativa segue um grupo de amigas que, entediadas com o
confinamento da quarentena, contratam uma médium para fazer uma sessão espírita
via videoconferência. Logicamente coisas estranhas começam a ocorrer e o grupo
desconfia que talvez tenham invocado algum espírito maligno.
Não é o primeiro filme a ser feito com personagens em
videoconferência, outros como Amizade Desfeita (2014) e Buscando(2018)
já contaram histórias usando esses dispositivos. Até mesmo a série Modern Family já tinha feito um episódio
inteiro dessa maneira. Aqui, no entanto, dado o contexto da pandemia, recorrer
a esse meio para contar uma história bem típica de invocação maligna soa como
uma solução esperta para contornar os problemas que se impõem na realização
audiovisual por conta dos cuidados sanitários que devem ser tomados.
De início este Pode
Guardar Um Segredo? começa como uma banal comédia romântica, mas conforme a
trama se desenvolve, vai se tornando cada vez mais problemático, ao ponto em
que fica insuportável de assistir. É o tipo de filme que até poderia funcionar
como uma diversão despretensiosa, mas é tão equivocado na construção do
relacionamento do casal principal que reproduz ideias antiquadas sobre homens e
mulheres.
Na trama, Emma (Alexandra Daddario) é uma jovem atrapalhada,
que constantemente se mete em problemas e não consegue manter um emprego.
Durante um voo ela conhece Jack (Tyler Hoechlin) e acaba confidenciando a ele
seus principais segredos durante uma violenta turbulência do avião. Ao voltar
para o trabalho, Emma fica sabendo que o dono da empresa vai chegar para
supervisionar a filial e descobre que ele é ninguém menos que Jack. Agora ela
precisa saber como lidar com alguém que conhece seus segredos mais íntimos.
O roteiro tenta construir Emma como aquele clichê de comédias
românticas como a jovem aparentemente banal, atrapalhada e sem confiança que
não consegue fazer nada certo até que conhece um homem que abre seus horizontes
e ela começa a por a vida no lugar. Tem vários problemas dentro dessa
construção. O primeiro é que tanto o texto quanto a performance de Daddario
pesam tanto a mão no lado desengonçado e esquisito da personagem que ela soa
como uma completa lunática desequilibrada ao invés encantadora. Outro problema
é que o texto tenta vender a ideia de Emma como essa garota sem graça, tão
incapaz de chamar a atenção de qualquer homem que ela fica surpresa quando Jack
demonstra interesse nela. Essa ideia cai por terra quando lembrando que a
personagem tem a aparência de Alexandra Daddario, uma mulher extremamente
atraente. Então quando ouvimos Emma falar sobre padrões de beleza é difícil
comprar a insegurança da personagem, já que ela se encaixa completamente
naquilo que seria considerado atraente.
Se por um lado temos Emma como uma mulher cheia de falhas,
por outro Jack não possui absolutamente nenhuma. O personagem é um príncipe
encantado perfeito durante boa parte da trama e relação entre dois não só é
unilateral como nunca explica o motivo dele se sentir atraído por Emma. Sim,
Jack explica que foram as confissões dela no avião, mas considerando que a
personagem pende mais para doida do que para desengonçada, é difícil embarcar
na ideia de que o alto executivo de uma empresa se apaixonaria por uma
histérica que lhe revelou todas as intimidades durante uma turbulência. Além
disso, incomoda que a relação deles consista em Emma idolatrar Jack enquanto
ele é retratado como alguém magnânimo por estar dando oportunidade para que uma
garota tão cheia de falhas como Emma esteja com alguém tão perfeito quanto ele.
Essa dinâmica da mulher cheia de problemas que é “resgatada”
por um “príncipe encantado” transforma Emma em uma figura passiva, que precisa
ser salva de sua vida de mediocridade por esse homem aparentemente perfeito já
que de outro modo não conseguiria dar uma guinada na própria existência.
Reproduzir essas noções anacrônicas em pleno século XXI, de que uma mulher só
seria capaz de amadurecer quando um homem salvador aparecer em sua porta, é um
desserviço.
O que já era ruim se torna muito pior quando Jack revela em
uma entrevista na televisão todos os segredos íntimos que Emma lhe contou e a
trama trabalha pesado em relativizar o comportamento do executivo e força a
barra para atenuar as consequências. Realisticamente seria impossível que Emma
conseguisse continuar trabalhando na empresa ou que conseguisse reconstruir a
carreira por um bom tempo. O filme até mostra os colegas fazendo piadas e
comentários maldosos, mas logo tudo é esquecido pelo roteiro.
Do mesmo modo, ter um alto executivo revelando em rede nacional
as intimidades de uma funcionária com quem ele se relaciona certamente
levantaria acusações de assédio a tal ponto que seria inviável ele se manter no
cargo e causaria um enorme dano à imagem da empresa. Mais uma vez o filme até
tenta abordar essa questão com a supervisora de Emma perguntando a ela se houve
algum assédio, mas o momento é completamente sabotado pelo fato da supervisora
dizer que conhece a boa índole de Jack, como que fazendo uma defesa prévia do
personagem. É como se essa declaração anulasse a óbvia dinâmica de poder em
jogo ou fato de Jack ser gente boa tornasse impossível que ele pudesse cometer
assédio, sendo que assediadores comumente se apresentam como “caras legais”.
Para piorar tudo, o texto ainda tenta colocar Jack como uma
vítima da situação ao inserir um mal entendido em que Jack crê que Emma iria
contar as intimidades dele para um repórter. Assim que isso acontece, o filme
parece esquecer a gravidade do que Jack fez (de novo, realisticamente ele teria
acabado com a carreira de Emma) e constrói toda a situação como se Emma que
devesse desculpas a Jack e as ações dele fossem um mero vacilo sem grandes
consequências. Tudo isso soa manipulativo e desonesto, tentando forçar um
enlace romântico quando não devia ter um e sequer temos motivos para torcer
para que o casal termine junto, já que Jack se comportou como um babaca e Emma
passa o filme inteiro agindo como uma lunática.
Os momentos de humor raramente funcionam, gerando mais
vergonha ou irritação do risadas de fato. Gemma (Kimiko Glenn), por exemplo,
deveria ser a amiga engraçada da protagonista que dá conselhos absurdos, mas
ela é tão fútil, autocentrada e desagradável que mais causa incômodo do que
gargalhadas. As cenas que o texto tenta fazer rir pela conduta desengonçada de
Emma não funcionam porque é tudo tão exagerado que a protagonista não soa
apenas como uma garota atrapalhada, mas como alguém tão incapaz de entender
conduta humana básica que chega a ser surpreendente que ela consiga viver em
sociedade.
Com personagens desinteressantes, humor que não funciona e
uma visão problemática sobre relacionamentos, Pode Guardar um Segredo? é um desastre do qual praticamente nada se
salva.
Persona 5é um dos
melhores JRPGs da última geração de consoles, então quando foi anunciado este Persona 5 Strikers(disponível para PS4 e Nintendo Switch), um spin-off desenvolvido pela Omega Force
que traria o combate explosivo de Dynasty
Warriors para Persona 5 de
maneira semelhante ao que tinham feito com Zelda
em Hyrule Warriors ou com Dragon Questem Dragon Quest Heroes. Tendo jogado Persona 5 Strikers posso dizer que o jogo é menos um derivado e
mais uma continuação direta, que mantem muito da estrutura do jogo original.
A trama se passa seis meses depois da trama original (Persona 5 Royal não é cânone) com os
personagens se reencontrando para passarem férias juntos. Antes que saiam em
uma viajem juntos, no entanto, descobrem que o Metaverso ainda está ativo e
alguém o está usando para roubar os desejos das pessoas. Os personagens logo
descobrem que as prisões do Metaverso estão se manifestando ao redor do Japão,
então decidem usar a viagem de férias para tentar resolver o mistério do que
está acontecendo.
Apesar da narrativa ser uma continuação, é possível
acompanhar o que acontece mesmo sem ter jogado Persona 5. Claro, você provavelmente vai perder uma ou outra
referência aos eventos do original, mas a história consegue se sustentar por
conta própria. A trama mostra o quanto os personagens amadureceram desde a
última vez que os vimos, muitas vezes tentando aconselhar e redimir os
antagonistas que controlam as prisões que encontram. Falo antagonistas porque
muitos deles não são necessariamente malignos, são, em muitos casos, pessoas
tomadas por trauma, que fizeram escolhas equivocadas e tentaram resolver seus
problemas da pior maneira possível. Isso ajuda a dotar os antagonistas e
situações encontradas de alguma medida de ambiguidade moral, evitando
maniqueísmos fáceis.
De uma biografia esperamos não só uma narrativa sobre a vida
de uma pessoa, mas o esforço para entender esse sujeito e, no caso de uma
pessoa famosa, ir além do retrato midiático, mostrando o indivíduo que existe
para além da imagem pública construída a seu respeito. O documentário Pelé até narra um recorte da vida do
célebre jogador de futebol, mas faz pouco para ir além de um relato da imagem
midiática já conhecida de Edson Arantes do Nascimento.
A narrativa do filme foca no início da carreira de Pelé e vai
até o período de quatro Copas do Mundo, indo de 1958, quando o Brasil foi
campeão pela primeira vez, ao tri campeonato na Copa de 1970. Tirando a parte
da juventude do jogador, o documentário se detêm principalmente sobre a
carreira profissional de Pelé.
É um documentário relativamente convencional em sua
estrutura, recorrendo a entrevistas com conhecidos, jornalistas esportivos como
Juca Kfouri e José Trajano e o próprio Pelé. Essas entrevistas são intercaladas
por imagens de arquivo das partidas e eventos históricos narrados.
Ocasionalmente temos imagens de bastidores de treinos, instantes pouco
conhecidos de um Pelé em momentos mais íntimos, mas no geral essas imagens de
arquivo são de eventos e ações públicas e já conhecidas a respeito do biografado.
O comediante Mel Brooks se tornou famoso pelos filmes
paródicos que realizou. Brincou com o universo dos musicais da Broadway em Primavera para Hitler (1967), com o
terror em O Jovem Frankenstein
(1974), filmes de aventura em A Louca!
Louca História de Robin Hood (1993) e com os faroestes neste Banzé no Oeste, lançado em 1974.
A trama se passa durante a expansão para o oeste dos Estados
Unidos. O empresário Hedley Lamarr (Harvey Korman) deseja construir uma nova
ferrovia, mas a pequena de Rocky Ridge está em seu caminho. Para conseguir as
terras da cidade, Lamarr planeja manipular o corrupto governador do estado para
nomear um xerife que a cidade deteste, esperando que todos abandonem o local. O
escolhido para a ingrata tarefa é Bart (Cleavon Little) um trabalhador
ferroviário negro que estava prestes a ser enforcado. Lamarr espera que a
população não irá aceitar um xerife negro, mas não imaginava que Bart
conquistaria a população, se tornando uma pedra em seu sapato.
Lançado em 1986, A
Pequena Loja dos Horrores não é exatamente um remake direto do filme homônimo feito em 1960 dirigido pelo
lendário Roger Corman. Na verdade, a versão de 1986 é uma adaptação do musical
da Broadway, sendo, também um musical. Essa mistura entre horror, comédia e
musical é um dos elementos que torna o filme tão memorável e o transformou em cult.
Dirigido por Frank Oz (que faz a voz do Yoda na franquia Star Wars), o filme acompanha Seymour
(Rick Moranis), um florista tímido e retraído cuja vida muda quando ele
encontra uma estranha planta durante um eclipse. Apaixonado pela colega de
trabalho, Audrey (Ellen Greene), Seymour nomeia a planta como Audrey II (voz de
Levi Stubbs) e acredita que a estranha planta pode melhorar os negócios da
dilapidada floricultura em que trabalha. O problema é que Audrey II precisa ser
alimentada, com sangue fresco, o que causa problemas para Seymour.
Só pela sinopse já é possível perceber que são temas que se
distanciam bastante do romantismo ingênuo no qual boa parte do musical clássico
hollywoodiano se construiu ao longo das décadas de 1930 a 1960 e boa parte da
graça do filme é exatamente o modo como brinca com essas convenções. Ver o
sádico dentista Orin (Steve Martin) alegremente cantar sobre como adora causar
dor aos seus pacientes diverte justamente pela oposição das melodias alegres
com as letras e ações do personagem que fala sobre seu prazer em torturar as
pessoas.
Uma pessoa fica presa em um loop temporal revivendo o mesmo dia várias vezes e aprende a
apreciar as pequenas coisas da vida. É o que acontece em Feitiço do Tempo (1993) e também neste O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas, que repete muito do filme
estrelado por Bill Murray e também outras histórias sobre viagem no tempo.
Na trama, o jovem Mark (Kyle Allen) se vê preso revivendo o
mesmo dia. Explorando a cidade Mark conhece Margaret (Kathryn Newton) e percebe
que ela também está vivenciando o mesmo loop
temporal. Os dois se juntam para explorar a cidade e observar as pequenas
coisas significativas que ocorrem ao longo do dia.
Durante boa parte da projeção, o filme faz o que outros
sobre o mesmo tema já fizeram, mostram os personagens aproveitando a
oportunidade para abrirem seus horizontes, observarem um mundo que muitas vezes
não prestam atenção e apreciando as pequenas coisas da vida que muitas vezes
nos passam batido. Não há muita novidade em nada disso, nem nas tentativas de
Mark em descobrir um meio de escapar do loop,
mas é bonitinho o suficiente para não entediar.