A narrativa é protagonizada por Vivian (Hadley Robinson), que cansa dos padrões machistas de sua escola, do bullying constante por conta dos garotos populares e da falta de ação da diretora Shelly (Marcia Gay Harden) e decide mobilizar as garotas do colégio. Para tanto, ela cria uma revista chamada Moxie que distribui anonimamente pela escola e, com isso, as coisas começam a mudar.
É um filme cheio de boas intenções para falar da importância da mobilização feminina e quanto as mulheres podem crescer se ficarem unidas e agirem junto. A questão é que a condução desses elementos acontece de maneira um tanto ingênua, com as garotas da escola rapidamente aderindo à revista de Vivian sem qualquer oposição além dos já citados garotos populares.
Tudo se resolve muito rapidamente, bastam algumas palavras de ordem e todos se dobram às garotas, sejam colegas, professores ou outras instâncias. Eu sei que filmes ou a arte como um todo não precisam necessariamente falar sobre como o mundo é, que podem contar histórias sobre como queriam que o mundo fosse, mas mesmo sob este viés, é difícil crer que, no mundo de hoje, as falas da protagonista e suas amigas não encontrariam oposição ou resistência.
Ocasionalmente o filme até põe em questão as facilidades que Vivian encontra em sua jornada ao mostrar as consequências das ações dela sobre Claudia (Lauren Tsai), melhor amiga de Vivian, que acaba sendo responsabilizada pela revista. Filha de imigrantes, Claudia conta a Vivian as dificuldades que ela e a família passam, chamando a atenção de como o feminismo sem consciência de classe social, etnia ou outras variáveis interseccionais pode continuar propagando as mesmas desigualdades. Como tudo mais no filme, passa por esses temas de maneira superficial, mas é um ponto importante de ser abordado.
Até então era possível deixar passar as palavras de ordem e resoluções fáceis por entender ser um feel good movie feito para funcionar como um passatempo para o público se sentir bem e inspirado. O problema maior vem nos últimos vinte minutos da narrativa quando a trama insere um problema sério demais para ser tratado de maneira tão leviana.
Nos seus últimos momentos o filme traz uma acusação de estupro contra o garoto popular que praticava bullying constantemente. É uma questão séria, que destoa do tom leve do restante do filme. Tratar esse tema com o devido cuidado por si só já traria uma mudança brusca no tom do filme, fazer isso nos cerca de quinze minutos entre o surgimento da acusação e o desfecho da trama é quase irresponsável. Isso porque, como todo resto da narrativa, bastam algumas palavras de ordem e frases motivacionais para que tudo se resolva e tudo fique bem, quando no mundo real as coisas são muito mais complexas.
Dificilmente uma acusação dessa natureza, principalmente contra um garoto popular e de classe alta, se resolveriam com tanta facilidade. A garota que denunciou provavelmente enfrentaria ataques pessoais e mesmo sendo muito otimista que isso não acontecesse, dificilmente seu trauma se resolveria com meia dúzia de frases clichê de autoajuda. Do modo como aparece no filme o estupro é usado de maneira sensacionalista e irresponsável apenas para gerar um choque e depois passar por cima de todas as repercussões e complexidades que um tema desses geraria. Dá para perceber que o filme tinha boas intenções, mas nem sempre boas intenções se concretizam e aqui elas prestam um desserviço que banaliza o modo como lidamos com abuso.
Perdido entre ser uma comédia adolescente leve ou filme
sério sobre abuso, Moxie: Quando as
Garotas Vão à Luta é um exemplo que de que boas intenções não são
suficiente para sustentar uma narrativa problemática.
Nota: 5/10
Trailer