segunda-feira, 15 de março de 2021

Crítica – A Arte de Ser Adulto

Análise Crítica – A Arte de Ser Adulto

Review – A Arte de Ser Adulto
Dirigido por Judd Apatow, este A Arte de Ser Adulto tem muitos dos mesmos problemas recorrentes nos filmes do diretor, protagonistas masculinos emocionalmente imaturos sob um prisma romantizado, se alonga mais do que deveria, uma clara divisão entre uma primeira parte mais focada em comédia e uma segunda parte mais voltada para o drama. Não significa que seja desprovido de qualidades, mas, ao mesmo tempo, mostra o quanto os mecanismos do diretor já estão cansando. Eu sequer sabia que era dirigido por Apatow quando comecei a assistir e durante a projeção achei que tinha muito a “cara” do realizador. Resolvi conferir os créditos e vi que de fato era Apatow dirigindo.

A trama, escrita pelo comediante Pete Davidson, tem um cunho semiautobiográfico. O protagonista, Scott (Pete Davidson), é um jovem de 24 anos que não terminou a escola, vive com a mãe, Margie (Marisa Tomei), e lida com problemas de ansiedade e depressão desde muito cedo quando perdeu o pai, um bombeiro que faleceu em serviço. Quando a irmã mais nova de Scott, Claire (Maude Apatow), sai de casa para ir para a faculdade e Margie arruma um novo namorado, Ray (Bill Burr), que também é bombeiro, Scott é confrontado sua imaturidade e forçado a revisitar traumas passados. Assim como o protagonista, Davidson também cresceu em Staten Island e também perdeu o pai, um bombeiro que faleceu durante o resgate de vítimas do 11 de setembro, quando ainda era criança.

Conheçam os indicados ao Oscar 2021

 

Indicados ao Oscar

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou nesta segunda-feira (15) os indicados ao Oscar 2021. Dirigido por David Fincher, Mank recebeu o maior número de indicações, com 11 menções, o que foi uma relativa surpresa considerando a passagem discreta por outras premiações.

Considerando o contexto da pandemia do COVID-19 e que muitos países estão com salas de cinema fechadas ou funcionando de modo limitado, o que não foi surpreendente foi o lugar ocupado por serviços de streaming. A Netflix foi a produtora com o maior número de indicações esse ano e a Amazon Prime ficou em segundo lugar. Um fato curioso entre os indicados é Glenn Close ter sido simultaneamente indicada ao Oscar e ao Framboesa de Ouro (ou seja, como melhor e pior atriz coadjuvante respectivamente) pelo seu trabalho em Era uma Vez um Sonho.

A 93ª premiação do Oscar deve acontecer no dia 25 de abril, mas seu formato ainda não foi divulgado. Imagina-se que adaptações serão necessárias por conta da pandemia. Confiram abaixo a lista completa de indicados.

 

sexta-feira, 12 de março de 2021

Crítica – Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta

 


De início este Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta parece uma comédia adolescente colegial cheia de mensagens positivas, girl power e autoafirmação, mas uma guinada brusca no terceiro ato dá um peso e uma seriedade inesperada que a trama não consegue lidar.

A narrativa é protagonizada por Vivian (Hadley Robinson), que cansa dos padrões machistas de sua escola, do bullying constante por conta dos garotos populares e da falta de ação da diretora Shelly (Marcia Gay Harden) e decide mobilizar as garotas do colégio. Para tanto, ela cria uma revista chamada Moxie que distribui anonimamente pela escola e, com isso, as coisas começam a mudar.

É um filme cheio de boas intenções para falar da importância da mobilização feminina e quanto as mulheres podem crescer se ficarem unidas e agirem junto. A questão é que a condução desses elementos acontece de maneira um tanto ingênua, com as garotas da escola rapidamente aderindo à revista de Vivian sem qualquer oposição além dos já citados garotos populares.

Tudo se resolve muito rapidamente, bastam algumas palavras de ordem e todos se dobram às garotas, sejam colegas, professores ou outras instâncias. Eu sei que filmes ou a arte como um todo não precisam necessariamente falar sobre como o mundo é, que podem contar histórias sobre como queriam que o mundo fosse, mas mesmo sob este viés, é difícil crer que, no mundo de hoje, as falas da protagonista e suas amigas não encontrariam oposição ou resistência.

Ocasionalmente o filme até põe em questão as facilidades que Vivian encontra em sua jornada ao mostrar as consequências das ações dela sobre Claudia (Lauren Tsai), melhor amiga de Vivian, que acaba sendo responsabilizada pela revista. Filha de imigrantes, Claudia conta a Vivian as dificuldades que ela e a família passam, chamando a atenção de como o feminismo sem consciência de classe social, etnia ou outras variáveis interseccionais pode continuar propagando as mesmas desigualdades. Como tudo mais no filme, passa por esses temas de maneira superficial, mas é um ponto importante de ser abordado.

Até então era possível deixar passar as palavras de ordem e resoluções fáceis por entender ser um feel good movie feito para funcionar como um passatempo para o público se sentir bem e inspirado. O problema maior vem nos últimos vinte minutos da narrativa quando a trama insere um problema sério demais para ser tratado de maneira tão leviana.

Nos seus últimos momentos o filme traz uma acusação de estupro contra o garoto popular que praticava bullying constantemente. É uma questão séria, que destoa do tom leve do restante do filme. Tratar esse tema com o devido cuidado por si só já traria uma mudança brusca no tom do filme, fazer isso nos cerca de quinze minutos entre o surgimento da acusação e o desfecho da trama é quase irresponsável. Isso porque, como todo resto da narrativa, bastam algumas palavras de ordem e frases motivacionais para que tudo se resolva e tudo fique bem, quando no mundo real as coisas são muito mais complexas.

Dificilmente uma acusação dessa natureza, principalmente contra um garoto popular e de classe alta, se resolveriam com tanta facilidade. A garota que denunciou provavelmente enfrentaria ataques pessoais e mesmo sendo muito otimista que isso não acontecesse, dificilmente seu trauma se resolveria com meia dúzia de frases clichê de autoajuda. Do modo como aparece no filme o estupro é usado de maneira sensacionalista e irresponsável apenas para gerar um choque e depois passar por cima de todas as repercussões e complexidades que um tema desses geraria. Dá para perceber que o filme tinha boas intenções, mas nem sempre boas intenções se concretizam e aqui elas prestam um desserviço que banaliza o modo como lidamos com abuso.

Perdido entre ser uma comédia adolescente leve ou filme sério sobre abuso, Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta é um exemplo que de que boas intenções não são suficiente para sustentar uma narrativa problemática.

 

Nota: 5/10


Trailer


Conheçam os indicados ao Framboesa de Ouro 2021

 

indicados ao Framboesa de Ouro 2021

O Framboesa de Ouro, premiação que “homenageia” os piores filmes do ano divulgou nesta sexta-feira (12/03) os seus indicados. 365 Dias e Dolittle lideram com seis indicações cada. Entre as omissões está The Last Days of American Crime, que foi massacrado no lançamento, mas não recebeu nenhuma indicação, e A Última Coisa que Ele Queria, que ficou em primeiro lugar em nossa lista de piores filmes do ano passado, mas aqui recebeu apenas uma indicação. O anúncio dos vencedores deve acontecer on-line no dia 24 de abril, até lá confiram abaixo a lista completa de indicados e contem para nós qual filme tem a torcida de vocês.

 

quinta-feira, 11 de março de 2021

Crítica - Duas Tias Loucas de Férias

 Análise Crítica - Duas Tias Loucas de Férias


Review - Duas Tias Loucas de Férias
Escrito e estrelado por Annie Mumolo e Kristen Wiig (que juntas também escreveram Missão Madrinha de Casamento) este Duas Tias Loucas de Férias é uma comédia tão absurda e sem noção que me pergunto como as duas roteiristas conseguiram pensar em tantas coisas sem sentido e conseguiram mesclar tudo em um filme minimamente coeso dentro do universo quase que cartunesco que tenta criar. Digo isso porque penso é necessário muita fabulação e inteligência para criar personagens tão estúpidos e ainda assim nos fazer minimamente nos importar com eles.

A trama acompanha as amigas Barb (Annie Mumolo) e Star (Kristen Wiig), duas mulheres de meia idade que ficam sem rumo depois que a loja de móveis em que trabalham acaba fechando. Elas decidem se reinventar viajando para uma pequena cidade na Flórida chamada Vista Del Mar, supostamente um paraíso para pessoas de meia idade. Lá elas conhecem o bonitão Edgar (Jamie Dornan) e se envolvem com ele romanticamente. O que elas não sabem é que Edgar é um perigoso espião trabalhando para a supervilã Sarah Gordon Fisherman (também Kristen Wiig) que deseja matar todos em Vista Del Mar usando um dispositivo que controla mosquitos assassinos.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Crítica – Raya e o Último Dragão

 

Análise Crítica – Raya e o Último Dragão

Review – Raya e o Último Dragão
Em termos de premissa, a jornada de uma garota para encontrar a última esperança de salvar um mundo à beira da destruição por forças malignas não é exatamente novidade, nem mesmo a ideia da necessidade de união diante de um grande mal. Estamos, no entanto, vivendo tempos tão polarizados, com tanta divisão e falta de diálogo que é difícil não perceber o quanto a animação Raya e o Último Dragão é relevante para os tempos em que estamos vivendo.

Na trama, a jovem Raya (voz de Kelly Marie Tran) percorre seu reino na esperança de conseguir invocar Sisu (voz de Awkwafina) a última dos dragões e a aparentemente a única capaz de deter o avanço dos Druun, uma praga mística que transforma em pedra todos os seres vivos que toca. Sisu já tinha contindo os Druun séculos atrás quando concentrou a magia dos dragões em uma joia mágica, mas a gema se partiu quando as múltiplas nações do reino lutaram por sua posse.

O coração da trama, portanto, é a ideia de união. O avanço dos Druun não se dá por conta de um vilão específico e sim pela incapacidade humana de cooperar. As nações se dividem porque não conseguem dialogar e se mantem divididas porque todos estão presos a rancores de séculos atrás e são incapazes de dar um voto de confiança para o outro. A divisão, portanto, enfraquece um mundo da trama. O arco de Raya vai se o de superar o trauma do passado quando foi traída por alguém que julgava ser sua amiga e aprender que as outras nações não são o que ela pensava ser.

terça-feira, 9 de março de 2021

Crítica – Um Príncipe em Nova York 2

 


Perdi as contas de quantas vezes vi Um Príncipe em Nova York (1988) na Sessão da Tarde e em VHS. Era uma comédia romântica bem tradicional em termos de trama (o cara rico que finge ser pobre é usado por Hollywood desde a década de 1930), mas tinha um diretor e um protagonista no auge de suas respectivas formas, conduzindo tudo com um carisma e um afeto que é difícil não se deixar conquistar pelo filme. É o tipo de clássico que não dá para repetir, então me aproximei deste Um Príncipe em Nova York 2 com certa cautela. O resultado é logicamente inferior ao original, mas não chega a ser intragável.

Na trama, Akeem (Eddie Murphy) se torna rei de Zamunda depois do falecimento de seu pai, Jaffe (James Earl Jones). Como Akeem não tem filhos homens, ele ascende ao trono sem um príncipe herdeiro, pois as leis de Zamunda determinam que apenas homens podem assumir o trono. Isso o coloca sob ameaça do general Izzi (Wesley Snipes), governante do país vizinho que planeja assassinar Akeem. As coisas mudam quando Semmi (Arsenio Hall) conta a Akeem que ele tem um filho bastardo nos Estados Unidos. Assim, Akeem retorna ao Queens para tentar trazer o filho, Lavelle (Jermaine Fowler), para Zamunda e torná-lo seu herdeiro.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Rapsódias Revisitadas – Cleo das 5 às 7

 Análise Crítica – Cleo das 5 às 7

Review - Cleo das 5 às 7
Lançado em 1962, Cleo das 5 às 7 é o segundo longa-metragem dirigido pela cineasta Agnes Varda e ajudou a sedimentar a diretora como um nome importante do movimento da nouvelle vague francesa bem como no cinema mundial. Em um espaço dominado por homens (e mesmo hoje ainda é) o filme de Varda toca em questões de existencialismo e também de como a sociedade francesa percebia as mulheres.

A trama é centrada na cantora Florence “Cleo” Victoire (Corinne Marchand) que aguarda o resultado de um exame que lhe dirá se ela tem câncer. Nas horas que antecedem a resposta sobre sua saúde, acompanhamos Cleo conforme ela questiona o que fazer com sua vida e encara a possibilidade da morte.

Se passando quase que em tempo real, a narrativa pondera sobre a vida e as coisas que lhe de dão sentido, mostrando como mesmo em um curto espaço de tempo muita coisa pode acontecer, podemos descobrir sentimentos que não conhecíamos ao nosso respeito, trabalhar ou mesmo agir de maneira fútil, mas que tudo isso significa estar experimentando a vida, as possibilidades que o mundo nos dá.

domingo, 7 de março de 2021

Crítica – WandaVision

 Análise Crítica – WandaVision


Review – WandaVision
A série (minissérie?) WandaVision não era para ser a primeira entre os seriados do universo Marvel previstos para o Disney+. O previsto era que O Falcão e o Soldado Invernal fosse a estreia da Marvel no streaming da Casa do Mickey, mas a série sofreu atrasos nas gravações, então esse papel coube a WandaVision. Assistindo à série é possível entender porque inicialmente ela não foi pensada para ser nosso primeiro contato com esse universo depois de quase um ano de hiato por conta da pandemia. O formato e estrutura narrativa, que foca em paródias de sitcoms é diferente demais do tipo de narrativas encontradas nos filmes da Marvel, um atributo que acaba sendo a principal vantagem e também um dos problemas da série. Aviso que o texto abaixo contem SPOILERS da série.

A trama se passa tempos depois de Vingadores: Ultimato (2019). Wanda (Elizabeth Olsen) está aparentemente casada com Visão (Paul Bettany) e vivendo uma idílica vida de classe média suburbana. Só um problema, Visão foi morto por Thanos (Josh Brolin) nos eventos de Vingadores: Guerra Infinita (2018) e, de alguma maneira, o casal parece estar vivendo em uma espécie de sitcom da década de 50. Aos poucos, no entanto, vamos percebendo que há algo muito estranho nessa realidade.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Drops – Cuidado Com Quem Chama

 

Análise Drops – Cuidado Com Quem Chama

Review Drops – Cuidado Com Quem Chama
A pandemia trouxe várias mudanças em nosso cotidiano. Afetou nossas relações pessoais, trabalho e mexeu na maneira como fazemos muitas coisas. A realização audiovisual foi uma das atividades mais afetadas pela pandemia, afinal ter dezenas de pessoas em um set fechado, mesmo de máscara, não é plenamente seguro. Muitos realizadores tentam pensar em tipos de histórias que podem ser contadas no contexto pandêmico e Cuidado Com Quem Chama é um desses esforços.

A narrativa segue um grupo de amigas que, entediadas com o confinamento da quarentena, contratam uma médium para fazer uma sessão espírita via videoconferência. Logicamente coisas estranhas começam a ocorrer e o grupo desconfia que talvez tenham invocado algum espírito maligno.

Não é o primeiro filme a ser feito com personagens em videoconferência, outros como Amizade Desfeita (2014) e Buscando (2018) já contaram histórias usando esses dispositivos. Até mesmo a série Modern Family já tinha feito um episódio inteiro dessa maneira. Aqui, no entanto, dado o contexto da pandemia, recorrer a esse meio para contar uma história bem típica de invocação maligna soa como uma solução esperta para contornar os problemas que se impõem na realização audiovisual por conta dos cuidados sanitários que devem ser tomados.