A produção francesa A
Sentinela parece não ser capaz de decidir que história quer contar. De
início parece um filme que visa discutir as consequências da guerra contra o
terrorismo e as sequelas disso nas tropas. Logo depois vira um filme de
vingança com cara das produções estreladas por Stallone ou Schwarzenegger na
década de oitenta.
Na trama, a soldado Klara (Olga Kurylenko) volta para a
França depois de uma missão de combate ao terrorismo no exterior dar errado.
Afetada por estresse pós-traumático, a soldado tenta reconstruir a vida. Tudo
muda quando a irmã de Klara é estuprada e espancada por um rico estrangeiro com
imunidade diplomática. Quando as autoridades não podem tocar no estuprador de
sua irmã, Klara decide fazer justiça com as próprias mãos.
Apesar de tocar em temas sérios, como as marcas da guerra
que ficam nos soldados ou violência contra a mulher, o filme não tem nada a
dizer sobre nada disso. Toda questão do trauma da protagonista é basicamente
irrelevante para a trama, já que ela poderia ser simplesmente uma soldado
competente que não mudaria coisa alguma. Do mesmo modo, o estupro da irmã dele
serve apenas de motivador para a ação e poderia ser substituído por qualquer
outro crime, como assassinato, espancamento ou atropelamento que não faria
qualquer diferença, é meramente um dispositivo de roteiro para servir de
gatilho para a história.
O filme Janela
Indiscreta (1954) segue na memória do cinema pela excelente condução do
suspense por parte de Alfred Hitchcock e pelo modo como sua narrativa servia
para pensarmos o voyeurismo do próprio ato de ser um espectador de cinema. Este
O Recepcionista também toca no tema do
voyeurismo, mas não tem muito a pensar sobre esse tópico, tampouco consegue criar
um suspense minimamente envolvente.
Na trama, Bart (Tye Sheridan) é um jovem com Síndrome de
Asperger que trabalha como recepcionista noturno em um hotel e tem o hábito de
filmar as pessoas com quem interage para tentar aprender a socializar melhor.
Bart não filma apenas quem conversa diretamente com ele, mas também coloca
câmeras em alguns quartos do hotel em que trabalha. Quando uma mulher é
assassinada diante das câmeras de Bart, isso o coloca em uma corrida contra o
tempo para evitar que a polícia desconfie dele, em especial o detetive Espada
(John Leguizamo), e para descobrir a identidade do real culpado.
Sherdian pesa a mão dos trejeitos e nas inflexões vocais de
Bart, muitas vezes pendendo para uma composição histriônica e exagerada. Não
ajuda que o texto não dê nenhuma nuance ao personagem, reduzindo-o ao seu
transtorno, o que soa anacrônico e um retrocesso na representação de
personagens no espectro do autismo, principalmente quando tivemos retratos mais
complexos de personagens dessa natureza como a Benê (Daphne Bozaski) de Malhação Viva a Diferença e As Five.
Quando vi os trailers deste Dia do Sim me pareceu que seria basicamente uma versão infantil de Sim, Senhor (2008) e, bem, é exatamente
isso. Tem as mesmas mensagens sobre se abrir a novas experiências, sair da zona
de conforto ao mesmo tempo em que lembra que é possível (e necessário) dizer
não em certos momentos. Mesmo com toda a sensação de conteúdo reciclado,
esperava que fosse ao menos divertido. A questão é que enquanto o filme
estrelado por Jim Carrey conseguia trazer situações absurdas e alguma
ponderação dotada de emoção genuína sobre como nos fechamos para a vida ao
nosso redor, Dia do Sim não consegue
fazer nenhuma dessas coisas.
Na trama, o casal Allison (Jennifer Garner) e Carlos (Edgar
Ramirez) está em um relacionamento estagnado e com problemas com os três filhos
que os acham muito controladores e repressores, principalmente Allison. Quando
a escola chama a atenção do casal pelo modo como lidam com os filhos, os
protagonistas decidem tentar um “dia do sim”, um dia em que dizem sim para tudo
que os filhos pedirem.
Dirigido por Judd Apatow, este A Arte de Ser Adulto tem muitos dos mesmos problemas recorrentes
nos filmes do diretor, protagonistas masculinos emocionalmente imaturos sob um prisma romantizado, se
alonga mais do que deveria, uma clara divisão entre uma primeira parte mais
focada em comédia e uma segunda parte mais voltada para o drama. Não significa
que seja desprovido de qualidades, mas, ao mesmo tempo, mostra o quanto os
mecanismos do diretor já estão cansando. Eu sequer sabia que era dirigido por
Apatow quando comecei a assistir e durante a projeção achei que tinha muito a
“cara” do realizador. Resolvi conferir os créditos e vi que de fato era Apatow dirigindo.
A trama, escrita pelo comediante Pete Davidson, tem um cunho
semiautobiográfico. O protagonista, Scott (Pete Davidson), é um jovem de 24
anos que não terminou a escola, vive com a mãe, Margie (Marisa Tomei), e lida
com problemas de ansiedade e depressão desde muito cedo quando perdeu o pai, um
bombeiro que faleceu em serviço. Quando a irmã mais nova de Scott, Claire
(Maude Apatow), sai de casa para ir para a faculdade e Margie arruma um novo
namorado, Ray (Bill Burr), que também é bombeiro, Scott é confrontado sua
imaturidade e forçado a revisitar traumas passados. Assim como o protagonista,
Davidson também cresceu em Staten Island e também perdeu o pai, um bombeiro que
faleceu durante o resgate de vítimas do 11 de setembro, quando ainda era criança.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood
anunciou nesta segunda-feira (15) os indicados ao Oscar 2021. Dirigido por
David Fincher, Mank recebeu o maior
número de indicações, com 11 menções, o que foi uma relativa surpresa
considerando a passagem discreta por outras premiações.
Considerando o contexto da pandemia do COVID-19 e que muitos
países estão com salas de cinema fechadas ou funcionando de modo limitado, o
que não foi surpreendente foi o lugar ocupado por serviços de streaming. A Netflix foi a produtora com
o maior número de indicações esse ano e a Amazon Prime ficou em segundo lugar.
Um fato curioso entre os indicados é Glenn Close ter sido simultaneamente
indicada ao Oscar e ao Framboesa de Ouro (ou seja, como melhor e pior atriz
coadjuvante respectivamente) pelo seu trabalho em Era uma Vez um Sonho.
A 93ª premiação do Oscar deve acontecer no dia 25 de abril, mas seu
formato ainda não foi divulgado. Imagina-se que adaptações serão necessárias
por conta da pandemia. Confiram abaixo a lista completa de indicados.
De início este Moxie:
Quando as Garotas Vão à Luta parece uma comédia adolescente colegial cheia
de mensagens positivas, girl power e
autoafirmação, mas uma guinada brusca no terceiro ato dá um peso e uma seriedade
inesperada que a trama não consegue lidar.
A narrativa é protagonizada por Vivian (Hadley Robinson),
que cansa dos padrões machistas de sua escola, do bullying constante por conta dos garotos populares e da falta de
ação da diretora Shelly (Marcia Gay Harden) e decide mobilizar as garotas do
colégio. Para tanto, ela cria umarevista
chamada Moxie que distribui anonimamente pela escola e, com isso, as coisas
começam a mudar.
É um filme cheio de boas intenções para falar da importância
da mobilização feminina e quanto as mulheres podem crescer se ficarem unidas e
agirem junto. A questão é que a condução desses elementos acontece de maneira
um tanto ingênua, com as garotas da escola rapidamente aderindo à revista de
Vivian sem qualquer oposição além dos já citados garotos populares.
Tudo se resolve muito rapidamente, bastam algumas palavras
de ordem e todos se dobram às garotas, sejam colegas, professores ou outras
instâncias. Eu sei que filmes ou a arte como um todo não precisam
necessariamente falar sobre como o mundo é, que podem contar histórias sobre
como queriam que o mundo fosse, mas mesmo sob este viés, é difícil crer que, no
mundo de hoje, as falas da protagonista e suas amigas não encontrariam oposição
ou resistência.
Ocasionalmente o filme até põe em questão as facilidades que
Vivian encontra em sua jornada ao mostrar as consequências das ações dela sobre
Claudia (Lauren Tsai), melhor amiga de Vivian, que acaba sendo responsabilizada
pela revista. Filha de imigrantes, Claudia conta a Vivian as dificuldades que
ela e a família passam, chamando a atenção de como o feminismo sem consciência
de classe social, etnia ou outras variáveis interseccionais pode continuar
propagando as mesmas desigualdades. Como tudo mais no filme, passa por esses temas
de maneira superficial, mas é um ponto importante de ser abordado.
Até então era possível deixar passar as palavras de ordem e
resoluções fáceis por entender ser um feel
good movie feito para funcionar como um passatempo para o público se sentir
bem e inspirado. O problema maior vem nos últimos vinte minutos da narrativa
quando a trama insere um problema sério demais para ser tratado de maneira tão
leviana.
Nos seus últimos momentos o filme traz uma acusação de
estupro contra o garoto popular que praticava bullying constantemente. É uma
questão séria, que destoa do tom leve do restante do filme. Tratar esse tema
com o devido cuidado por si só já traria uma mudança brusca no tom do filme,
fazer isso nos cerca de quinze minutos entre o surgimento da acusação e o
desfecho da trama é quase irresponsável. Isso porque, como todo resto da
narrativa, bastam algumas palavras de ordem e frases motivacionais para que
tudo se resolva e tudo fique bem, quando no mundo real as coisas são muito mais
complexas.
Dificilmente uma acusação dessa natureza, principalmente
contra um garoto popular e de classe alta, se resolveriam com tanta facilidade.
A garota que denunciou provavelmente enfrentaria ataques pessoais e mesmo sendo
muito otimista que isso não acontecesse, dificilmente seu trauma se resolveria
com meia dúzia de frases clichê de autoajuda. Do modo como aparece no filme o
estupro é usado de maneira sensacionalista e irresponsável apenas para gerar um
choque e depois passar por cima de todas as repercussões e complexidades que um
tema desses geraria. Dá para perceber que o filme tinha boas intenções, mas nem
sempre boas intenções se concretizam e aqui elas prestam um desserviço que
banaliza o modo como lidamos com abuso.
Perdido entre ser uma comédia adolescente leve ou filme
sério sobre abuso, Moxie: Quando as
Garotas Vão à Luta é um exemplo que de que boas intenções não são
suficiente para sustentar uma narrativa problemática.
O Framboesa de Ouro, premiação que “homenageia” os piores
filmes do ano divulgou nesta sexta-feira (12/03) os seus indicados. 365 Dias e Dolittle lideram com seis indicações cada. Entre as omissões está The Last Days of American Crime, que foi massacrado no lançamento, mas não recebeu nenhuma indicação, e A Última Coisa que Ele Queria, que ficou em primeiro lugar em nossa lista de piores filmes do ano passado, mas aqui recebeu apenas uma indicação. O anúncio dos vencedores
deve acontecer on-line no dia 24 de abril, até lá confiram abaixo a lista
completa de indicados e contem para nós qual filme tem a torcida de vocês.
Escrito e estrelado por Annie Mumolo e Kristen Wiig (que
juntas também escreveram Missão Madrinha
de Casamento) este Duas Tias Loucas
de Férias é uma comédia tão absurda e sem noção que me pergunto como as
duas roteiristas conseguiram pensar em tantas coisas sem sentido e conseguiram
mesclar tudo em um filme minimamente coeso dentro do universo quase que
cartunesco que tenta criar. Digo isso porque penso é necessário muita fabulação
e inteligência para criar personagens tão estúpidos e ainda assim nos fazer
minimamente nos importar com eles.
A trama acompanha as amigas Barb (Annie Mumolo) e Star
(Kristen Wiig), duas mulheres de meia idade que ficam sem rumo depois que a
loja de móveis em que trabalham acaba fechando. Elas decidem se reinventar
viajando para uma pequena cidade na Flórida chamada Vista Del Mar, supostamente
um paraíso para pessoas de meia idade. Lá elas conhecem o bonitão Edgar (Jamie
Dornan) e se envolvem com ele romanticamente. O que elas não sabem é que Edgar
é um perigoso espião trabalhando para a supervilã Sarah Gordon Fisherman
(também Kristen Wiig) que deseja matar todos em Vista Del Mar usando um
dispositivo que controla mosquitos assassinos.
Em termos de premissa, a jornada de uma garota para
encontrar a última esperança de salvar um mundo à beira da destruição por
forças malignas não é exatamente novidade, nem mesmo a ideia da necessidade de
união diante de um grande mal. Estamos, no entanto, vivendo tempos tão
polarizados, com tanta divisão e falta de diálogo que é difícil não perceber o
quanto a animação Raya e o Último Dragão é
relevante para os tempos em que estamos vivendo.
Na trama, a jovem Raya (voz de Kelly Marie Tran) percorre
seu reino na esperança de conseguir invocar Sisu (voz de Awkwafina) a última
dos dragões e a aparentemente a única capaz de deter o avanço dos Druun, uma
praga mística que transforma em pedra todos os seres vivos que toca. Sisu já
tinha contindo os Druun séculos atrás quando concentrou a magia dos dragões em
uma joia mágica, mas a gema se partiu quando as múltiplas nações do reino
lutaram por sua posse.
O coração da trama, portanto, é a ideia de união. O avanço
dos Druun não se dá por conta de um vilão específico e sim pela incapacidade
humana de cooperar. As nações se dividem porque não conseguem dialogar e se
mantem divididas porque todos estão presos a rancores de séculos atrás e são
incapazes de dar um voto de confiança para o outro. A divisão, portanto, enfraquece
um mundo da trama. O arco de Raya vai se o de superar o trauma do passado
quando foi traída por alguém que julgava ser sua amiga e aprender que as outras
nações não são o que ela pensava ser.
Perdi as contas de quantas vezes vi Um Príncipe em Nova York (1988) na Sessão da Tarde e em VHS. Era
uma comédia romântica bem tradicional em termos de trama (o cara rico que finge
ser pobre é usado por Hollywood desde a década de 1930), mas tinha um diretor e
um protagonista no auge de suas respectivas formas, conduzindo tudo com um
carisma e um afeto que é difícil não se deixar conquistar pelo filme. É o tipo
de clássico que não dá para repetir, então me aproximei deste Um Príncipe em Nova York 2 com certa
cautela. O resultado é logicamente inferior ao original, mas não chega a ser
intragável.
Na trama, Akeem (Eddie Murphy) se torna rei de Zamunda
depois do falecimento de seu pai, Jaffe (James Earl Jones). Como Akeem não tem
filhos homens, ele ascende ao trono sem um príncipe herdeiro, pois as leis de
Zamunda determinam que apenas homens podem assumir o trono. Isso o coloca sob
ameaça do general Izzi (Wesley Snipes), governante do país vizinho que planeja
assassinar Akeem. As coisas mudam quando Semmi (Arsenio Hall) conta a Akeem que
ele tem um filho bastardo nos Estados Unidos. Assim, Akeem retorna ao Queens
para tentar trazer o filho, Lavelle (Jermaine Fowler), para Zamunda e torná-lo
seu herdeiro.