sexta-feira, 19 de março de 2021

Crítica – A Festa de Formatura

 Análise Crítica – A Festa de Formatura


O musical A Festa de Formatura narra a história de Emma (Jo Ellen Pellman), uma adolescente lésbica cuja associação de pais da escola em que ela estuda se recusa a fazer uma festa de formatura na qual ela possa ir com a namorada. Ao saberem da notícia, um grupo de fracassadas estrelas da Broadway decide partir a pequena cidadezinha na qual Emma vive para protestar contra a homofobia do caso e, além disso, se promoverem para retomarem as carreiras.

Tinha tudo para ser um musical vibrante e divertido com uma mensagem positiva de enfrentamento dos preconceitos. De certa forma, até é isso, mas também é demasiadamente arrastado, se alongando por desnecessárias duas horas e quinze com várias subtramas que apenas repetem as mesmas ideias do conflito principal envolvendo Emma. Lá pela marca de uma hora, quando a presidente da associação de pais, Sra. Greene (Kerry Washington), trapaceia na realização da formatura e deixa Emma sozinha na festa, imaginamos que o filme caminha para o seu clímax, com as estrelas da Broadway encabeçadas por Dee Dee Allen (Meryl Streep) organizando uma nova festa ou denunciando a Sra. Greene. Só que não, ainda há mais de uma hora de filme em que a trama se arrasta para chegar a esse ponto.

Boa parte dos problemas vem da necessidade da trama em dar a cada personagem uma subtrama só sua, sendo que muitas dessas histórias soam redundantes. A narrativa do ator Barry (James Corden) narrando como foi expulso de casa pela mãe por ser gay toca nas mesmas questões de homofobia da trama principal, por exemplo. Imagino que todas essas narrativas secundárias já estivessem presentes no musical teatral que deu origem ao filme, a questão é que nem tudo que funciona em um meio, funciona em outro.

O discurso contra a homofobia por vezes peca pelo excesso de didatismo, muitas vezes soando como uma videoaula na qual essas ideias são explicadas com pouca organicidade. Claro, em muitos momentos o filme lida bem com isso, em especial no conflito do relacionamento de Emma com a namorada, Shelby (Sofia Daler), que teme em sair do armário para a mãe. Há também a questão das variações bruscas de tom, com a narrativa muitas vezes saindo de uma cena envolvendo um drama sério sobre preconceito para um número musical alegre e exuberante, com essas transações por vezes soando abruptas.

O ponto alto, logicamente, são os números musicais. Repletos de cor, energia e exuberância, as canções retratam os sonhos românticos de Emma ou os desejos de grandeza dos astros da Broadway. As canções também trazem uma boa dose de humor, reconhecendo que o núcleo da Broadway está agindo mais por ego do que por crença, com Meryl Streep e Nicole Kidman vendendo muito bem a falta de noção e desespero por holofotes dessas personagens.

Eu queria ter gostado mais de A Festa de Formatura por causa de suas canções divertidas e elenco carismático, mas seu ritmo arrastado e excesso de subtramas atrapalham a experiência.

 

Nota: 6/10


Trailer

quinta-feira, 18 de março de 2021

Drops – A Sentinela

 

Análise Crítica – A Sentinela

Review – A Sentinela
A produção francesa A Sentinela parece não ser capaz de decidir que história quer contar. De início parece um filme que visa discutir as consequências da guerra contra o terrorismo e as sequelas disso nas tropas. Logo depois vira um filme de vingança com cara das produções estreladas por Stallone ou Schwarzenegger na década de oitenta.

Na trama, a soldado Klara (Olga Kurylenko) volta para a França depois de uma missão de combate ao terrorismo no exterior dar errado. Afetada por estresse pós-traumático, a soldado tenta reconstruir a vida. Tudo muda quando a irmã de Klara é estuprada e espancada por um rico estrangeiro com imunidade diplomática. Quando as autoridades não podem tocar no estuprador de sua irmã, Klara decide fazer justiça com as próprias mãos.

Apesar de tocar em temas sérios, como as marcas da guerra que ficam nos soldados ou violência contra a mulher, o filme não tem nada a dizer sobre nada disso. Toda questão do trauma da protagonista é basicamente irrelevante para a trama, já que ela poderia ser simplesmente uma soldado competente que não mudaria coisa alguma. Do mesmo modo, o estupro da irmã dele serve apenas de motivador para a ação e poderia ser substituído por qualquer outro crime, como assassinato, espancamento ou atropelamento que não faria qualquer diferença, é meramente um dispositivo de roteiro para servir de gatilho para a história.

quarta-feira, 17 de março de 2021

Crítica - O Recepcionista

Análise Crítica - O Recepcionista

Review - O Recepcionista
O filme Janela Indiscreta (1954) segue na memória do cinema pela excelente condução do suspense por parte de Alfred Hitchcock e pelo modo como sua narrativa servia para pensarmos o voyeurismo do próprio ato de ser um espectador de cinema. Este O Recepcionista também toca no tema do voyeurismo, mas não tem muito a pensar sobre esse tópico, tampouco consegue criar um suspense minimamente envolvente.

Na trama, Bart (Tye Sheridan) é um jovem com Síndrome de Asperger que trabalha como recepcionista noturno em um hotel e tem o hábito de filmar as pessoas com quem interage para tentar aprender a socializar melhor. Bart não filma apenas quem conversa diretamente com ele, mas também coloca câmeras em alguns quartos do hotel em que trabalha. Quando uma mulher é assassinada diante das câmeras de Bart, isso o coloca em uma corrida contra o tempo para evitar que a polícia desconfie dele, em especial o detetive Espada (John Leguizamo), e para descobrir a identidade do real culpado.

Sherdian pesa a mão dos trejeitos e nas inflexões vocais de Bart, muitas vezes pendendo para uma composição histriônica e exagerada. Não ajuda que o texto não dê nenhuma nuance ao personagem, reduzindo-o ao seu transtorno, o que soa anacrônico e um retrocesso na representação de personagens no espectro do autismo, principalmente quando tivemos retratos mais complexos de personagens dessa natureza como a Benê (Daphne Bozaski) de Malhação Viva a Diferença e As Five.

terça-feira, 16 de março de 2021

Crítica – Dia do Sim

 

Análise Crítica – Dia do Sim

Review – Dia do Sim
Quando vi os trailers deste Dia do Sim me pareceu que seria basicamente uma versão infantil de Sim, Senhor (2008) e, bem, é exatamente isso. Tem as mesmas mensagens sobre se abrir a novas experiências, sair da zona de conforto ao mesmo tempo em que lembra que é possível (e necessário) dizer não em certos momentos. Mesmo com toda a sensação de conteúdo reciclado, esperava que fosse ao menos divertido. A questão é que enquanto o filme estrelado por Jim Carrey conseguia trazer situações absurdas e alguma ponderação dotada de emoção genuína sobre como nos fechamos para a vida ao nosso redor, Dia do Sim não consegue fazer nenhuma dessas coisas.

Na trama, o casal Allison (Jennifer Garner) e Carlos (Edgar Ramirez) está em um relacionamento estagnado e com problemas com os três filhos que os acham muito controladores e repressores, principalmente Allison. Quando a escola chama a atenção do casal pelo modo como lidam com os filhos, os protagonistas decidem tentar um “dia do sim”, um dia em que dizem sim para tudo que os filhos pedirem.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Crítica – A Arte de Ser Adulto

Análise Crítica – A Arte de Ser Adulto

Review – A Arte de Ser Adulto
Dirigido por Judd Apatow, este A Arte de Ser Adulto tem muitos dos mesmos problemas recorrentes nos filmes do diretor, protagonistas masculinos emocionalmente imaturos sob um prisma romantizado, se alonga mais do que deveria, uma clara divisão entre uma primeira parte mais focada em comédia e uma segunda parte mais voltada para o drama. Não significa que seja desprovido de qualidades, mas, ao mesmo tempo, mostra o quanto os mecanismos do diretor já estão cansando. Eu sequer sabia que era dirigido por Apatow quando comecei a assistir e durante a projeção achei que tinha muito a “cara” do realizador. Resolvi conferir os créditos e vi que de fato era Apatow dirigindo.

A trama, escrita pelo comediante Pete Davidson, tem um cunho semiautobiográfico. O protagonista, Scott (Pete Davidson), é um jovem de 24 anos que não terminou a escola, vive com a mãe, Margie (Marisa Tomei), e lida com problemas de ansiedade e depressão desde muito cedo quando perdeu o pai, um bombeiro que faleceu em serviço. Quando a irmã mais nova de Scott, Claire (Maude Apatow), sai de casa para ir para a faculdade e Margie arruma um novo namorado, Ray (Bill Burr), que também é bombeiro, Scott é confrontado sua imaturidade e forçado a revisitar traumas passados. Assim como o protagonista, Davidson também cresceu em Staten Island e também perdeu o pai, um bombeiro que faleceu durante o resgate de vítimas do 11 de setembro, quando ainda era criança.

Conheçam os indicados ao Oscar 2021

 

Indicados ao Oscar

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou nesta segunda-feira (15) os indicados ao Oscar 2021. Dirigido por David Fincher, Mank recebeu o maior número de indicações, com 11 menções, o que foi uma relativa surpresa considerando a passagem discreta por outras premiações.

Considerando o contexto da pandemia do COVID-19 e que muitos países estão com salas de cinema fechadas ou funcionando de modo limitado, o que não foi surpreendente foi o lugar ocupado por serviços de streaming. A Netflix foi a produtora com o maior número de indicações esse ano e a Amazon Prime ficou em segundo lugar. Um fato curioso entre os indicados é Glenn Close ter sido simultaneamente indicada ao Oscar e ao Framboesa de Ouro (ou seja, como melhor e pior atriz coadjuvante respectivamente) pelo seu trabalho em Era uma Vez um Sonho.

A 93ª premiação do Oscar deve acontecer no dia 25 de abril, mas seu formato ainda não foi divulgado. Imagina-se que adaptações serão necessárias por conta da pandemia. Confiram abaixo a lista completa de indicados.

 

sexta-feira, 12 de março de 2021

Crítica – Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta

 


De início este Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta parece uma comédia adolescente colegial cheia de mensagens positivas, girl power e autoafirmação, mas uma guinada brusca no terceiro ato dá um peso e uma seriedade inesperada que a trama não consegue lidar.

A narrativa é protagonizada por Vivian (Hadley Robinson), que cansa dos padrões machistas de sua escola, do bullying constante por conta dos garotos populares e da falta de ação da diretora Shelly (Marcia Gay Harden) e decide mobilizar as garotas do colégio. Para tanto, ela cria uma revista chamada Moxie que distribui anonimamente pela escola e, com isso, as coisas começam a mudar.

É um filme cheio de boas intenções para falar da importância da mobilização feminina e quanto as mulheres podem crescer se ficarem unidas e agirem junto. A questão é que a condução desses elementos acontece de maneira um tanto ingênua, com as garotas da escola rapidamente aderindo à revista de Vivian sem qualquer oposição além dos já citados garotos populares.

Tudo se resolve muito rapidamente, bastam algumas palavras de ordem e todos se dobram às garotas, sejam colegas, professores ou outras instâncias. Eu sei que filmes ou a arte como um todo não precisam necessariamente falar sobre como o mundo é, que podem contar histórias sobre como queriam que o mundo fosse, mas mesmo sob este viés, é difícil crer que, no mundo de hoje, as falas da protagonista e suas amigas não encontrariam oposição ou resistência.

Ocasionalmente o filme até põe em questão as facilidades que Vivian encontra em sua jornada ao mostrar as consequências das ações dela sobre Claudia (Lauren Tsai), melhor amiga de Vivian, que acaba sendo responsabilizada pela revista. Filha de imigrantes, Claudia conta a Vivian as dificuldades que ela e a família passam, chamando a atenção de como o feminismo sem consciência de classe social, etnia ou outras variáveis interseccionais pode continuar propagando as mesmas desigualdades. Como tudo mais no filme, passa por esses temas de maneira superficial, mas é um ponto importante de ser abordado.

Até então era possível deixar passar as palavras de ordem e resoluções fáceis por entender ser um feel good movie feito para funcionar como um passatempo para o público se sentir bem e inspirado. O problema maior vem nos últimos vinte minutos da narrativa quando a trama insere um problema sério demais para ser tratado de maneira tão leviana.

Nos seus últimos momentos o filme traz uma acusação de estupro contra o garoto popular que praticava bullying constantemente. É uma questão séria, que destoa do tom leve do restante do filme. Tratar esse tema com o devido cuidado por si só já traria uma mudança brusca no tom do filme, fazer isso nos cerca de quinze minutos entre o surgimento da acusação e o desfecho da trama é quase irresponsável. Isso porque, como todo resto da narrativa, bastam algumas palavras de ordem e frases motivacionais para que tudo se resolva e tudo fique bem, quando no mundo real as coisas são muito mais complexas.

Dificilmente uma acusação dessa natureza, principalmente contra um garoto popular e de classe alta, se resolveriam com tanta facilidade. A garota que denunciou provavelmente enfrentaria ataques pessoais e mesmo sendo muito otimista que isso não acontecesse, dificilmente seu trauma se resolveria com meia dúzia de frases clichê de autoajuda. Do modo como aparece no filme o estupro é usado de maneira sensacionalista e irresponsável apenas para gerar um choque e depois passar por cima de todas as repercussões e complexidades que um tema desses geraria. Dá para perceber que o filme tinha boas intenções, mas nem sempre boas intenções se concretizam e aqui elas prestam um desserviço que banaliza o modo como lidamos com abuso.

Perdido entre ser uma comédia adolescente leve ou filme sério sobre abuso, Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta é um exemplo que de que boas intenções não são suficiente para sustentar uma narrativa problemática.

 

Nota: 5/10


Trailer


Conheçam os indicados ao Framboesa de Ouro 2021

 

indicados ao Framboesa de Ouro 2021

O Framboesa de Ouro, premiação que “homenageia” os piores filmes do ano divulgou nesta sexta-feira (12/03) os seus indicados. 365 Dias e Dolittle lideram com seis indicações cada. Entre as omissões está The Last Days of American Crime, que foi massacrado no lançamento, mas não recebeu nenhuma indicação, e A Última Coisa que Ele Queria, que ficou em primeiro lugar em nossa lista de piores filmes do ano passado, mas aqui recebeu apenas uma indicação. O anúncio dos vencedores deve acontecer on-line no dia 24 de abril, até lá confiram abaixo a lista completa de indicados e contem para nós qual filme tem a torcida de vocês.

 

quinta-feira, 11 de março de 2021

Crítica - Duas Tias Loucas de Férias

 Análise Crítica - Duas Tias Loucas de Férias


Review - Duas Tias Loucas de Férias
Escrito e estrelado por Annie Mumolo e Kristen Wiig (que juntas também escreveram Missão Madrinha de Casamento) este Duas Tias Loucas de Férias é uma comédia tão absurda e sem noção que me pergunto como as duas roteiristas conseguiram pensar em tantas coisas sem sentido e conseguiram mesclar tudo em um filme minimamente coeso dentro do universo quase que cartunesco que tenta criar. Digo isso porque penso é necessário muita fabulação e inteligência para criar personagens tão estúpidos e ainda assim nos fazer minimamente nos importar com eles.

A trama acompanha as amigas Barb (Annie Mumolo) e Star (Kristen Wiig), duas mulheres de meia idade que ficam sem rumo depois que a loja de móveis em que trabalham acaba fechando. Elas decidem se reinventar viajando para uma pequena cidade na Flórida chamada Vista Del Mar, supostamente um paraíso para pessoas de meia idade. Lá elas conhecem o bonitão Edgar (Jamie Dornan) e se envolvem com ele romanticamente. O que elas não sabem é que Edgar é um perigoso espião trabalhando para a supervilã Sarah Gordon Fisherman (também Kristen Wiig) que deseja matar todos em Vista Del Mar usando um dispositivo que controla mosquitos assassinos.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Crítica – Raya e o Último Dragão

 

Análise Crítica – Raya e o Último Dragão

Review – Raya e o Último Dragão
Em termos de premissa, a jornada de uma garota para encontrar a última esperança de salvar um mundo à beira da destruição por forças malignas não é exatamente novidade, nem mesmo a ideia da necessidade de união diante de um grande mal. Estamos, no entanto, vivendo tempos tão polarizados, com tanta divisão e falta de diálogo que é difícil não perceber o quanto a animação Raya e o Último Dragão é relevante para os tempos em que estamos vivendo.

Na trama, a jovem Raya (voz de Kelly Marie Tran) percorre seu reino na esperança de conseguir invocar Sisu (voz de Awkwafina) a última dos dragões e a aparentemente a única capaz de deter o avanço dos Druun, uma praga mística que transforma em pedra todos os seres vivos que toca. Sisu já tinha contindo os Druun séculos atrás quando concentrou a magia dos dragões em uma joia mágica, mas a gema se partiu quando as múltiplas nações do reino lutaram por sua posse.

O coração da trama, portanto, é a ideia de união. O avanço dos Druun não se dá por conta de um vilão específico e sim pela incapacidade humana de cooperar. As nações se dividem porque não conseguem dialogar e se mantem divididas porque todos estão presos a rancores de séculos atrás e são incapazes de dar um voto de confiança para o outro. A divisão, portanto, enfraquece um mundo da trama. O arco de Raya vai se o de superar o trauma do passado quando foi traída por alguém que julgava ser sua amiga e aprender que as outras nações não são o que ela pensava ser.