quarta-feira, 7 de abril de 2021

Crítica – Você Deveria Ter Partido

 Análise Crítica – Você Deveria Ter Partido

Review – Você Deveria Ter Partido
Centrado no relacionamento deteriorado de um casal, Você Deveria Ter Partido começa como um exame de um relacionamento erodido por mentiras, aos poucos, porém, vai entrando no reino do suspense e do terror para se tornar uma espécie de cópia sem graça de O Iluminado (1980). É aquele tipo de filme que parecia ter algo a dizer até resolver se conformar aos clichês do gênero.

Na trama, Theo (Kevin Bacon) é um ex-banqueiro marcado pelo trauma da morte da primeira esposa. Ele viaja com a filha e a atual esposa, a atriz Susanna (Amanda Seyfred), uma mulher mais jovem que ele, para alguns dias de férias em uma casa de campo no interior do País de Gales. Logicamente, nem tudo é o que parece e fenômenos estranhos começam a acontecer na casa.

Há um esforço genuíno da parte de Kevin Bacon em dotar Theo de complexidade, fazendo dele um sujeito marcado por dor e trauma, mas, ao mesmo tempo, cheio de inseguranças em relação a estar casado com uma mulher mais jovem, algo evidenciado quando ele vai visitá-la num set de filmagem e reage incomodado ao ser perguntado se é o pai de Susanna. Todos esses problemas fazem o protagonista agir com certa amargura e de maneira passivo-agressiva em relação à esposa, com uma desconfiança que nos deixa em dúvida se é apenas insegurança ou se há algo ali. É um personagem difícil de se conectar por se comportar de maneira tão desagradável a maior parte do tempo, mas Bacon dá sentimentos tão verdadeiros a ele que conseguimos enxergar a humanidade machucada dentro dessa personalidade tão complicada.

terça-feira, 6 de abril de 2021

Crítica – Meu Pai

Análise Crítica – Meu Pai

Review – Meu Pai
Dirigido por Florian Zeller a partir de uma peça de teatro que ele mesmo escreveu, Meu Pai é um retrato bem direto e seco sobre a dificuldade em lidar com um idoso com problemas neurológicos. Não há uma epifania aqui, uma catarse, apenas o reconhecimento da severidade da degradação mental e como isso afeta a pessoa e aqueles que o cercam. Talvez por isso não seja um filme fácil de assistir, já que somos duramente confrontados com a vida de uma pessoa em uma situação de grande fragilidade, mas nem por isso deixa de ser uma obra muito bem executada.

Na trama, Anthony (Anthony Hopkins) é um senhor idoso que está com extrema dificuldade de reter memórias ou de se situar no tempo e no espaço, muitas vezes confuso em relação a onde está, quando e quais são as pessoas à sua volta. Ele é cuidado pela filha, Anne (Olivia Colman), que o traz para a casa dela, já que ele não tem mais condições de ficar sozinho. Como Anthony já está muito esquecido, ele tem dificuldade de lidar e reconhecer as cuidadoras, o que deixa Anne sozinha em muitos momentos para cuidar dele. O marido de Anne, Paul (Rufus Sewell), começa a se ressentir da situação, já que Anne praticamente abre mão da própria vida para cuidar do pai.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Crítica – Tom & Jerry: O Filme

 Análise Crítica – Tom & Jerry: O Filme


Review – Tom & Jerry: O Filme
Faz tempo que Hollywood encontrou uma espécie de “formato” para trazer desenhos antigos para o cinema. Mistura-se animação com atores de verdade, coloca-se esses personagens para interagir com humanos em alguma trama genérica focada nesses personagens humanos e pronto, um desenho é trazido para os cinemas contemporâneos. Foi isso que aconteceu com Alvin e os Esquilos (2007), Zé Colmeia: O Filme (2010), Os Smurfs (2011) ou Pica-Pau: O Filme (2017), todos muito ruins e a maioria deles fracassos de público. Ainda assim, a indústria continua insistindo nessa fórmula neste Tom & Jerry: O Filme.

A trama é protagonizada por Kayla (Chloe Moretz), que conseguiu um emprego temporário em um hotel de luxo. Seu hotel está para ser o palco do casamento das celebridades Preeta (Pallavi Sharda) e Ben (Colin Jost) e o supervisor de Kayla, Terence (Michael Peña), pede que ela livre o hotel do rato que passou a morar no local, Jerry. Para conseguir espantar o rato, ela traz o gato Tom e assim espera salvar o emprego.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Crítica – Marvel’s Avengers (Playstation 5)

Análise Crítica – Marvel’s Avengers (Playstation 5)

Review – Marvel’s Avengers (Playstation 5)
Quando escrevi sobre o game Marvel’s Avengers mencionei que o jogo tinha uma boa campanha principal e um sistema de combate que te fazia sentir estar no controle de super-herói poderoso, mas seu multiplayer online pecava por uma repetição excessiva de conteúdos e missões, bem como um sistema de equipamentos desinteressante. Pois agora o jogo recebe uma versão dedicada aos consoles da nova geração (PS5 e Xbox Series S/X) junto com algumas adições de conteúdo (para todas as versões do jogo).

Então vale a pena retornar a Marvel’s Avengers? Bem, depende de como você se sente em relação ao jogo base, já que além do conteúdo adicional não muito em termos de reestruturar os elementos problemáticos que apontei no lançamento. A principal adição é a campanha Futuro Imperfeito centrada em Clint Barton, o Gavião Arqueiro. A narrativa mistura elementos de dois arcos do personagem nos quadrinhos, Minha Vida como Uma Arma, que mostrava ele vivendo num prédio em Nova Iorque com vizinhos pitorescos, e em Old Man Hawkeye que colocava o velho Clint em um futuro apocalíptico.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Crítica – Os Novos Mutantes

Análise Crítica – Os Novos Mutantes

Review Crítica – Os Novos Mutantes
Eu fiquei curioso por Os Novos Mutantes na época que foi anunciado. A ideia de um filme de terror situado no universo mutante parecia promissora e tinha potencial para trazer frescor ao molde já previsível de tramas de super-heróis. O problema é que veio a compra da Fox pela Disney e o filme, apesar de pronto e finalizado, ficou na gaveta enquanto a Disney pensava o que fazer com ele. Pelo menos duas ondas de refilmagens foram realizadas e a esse ponto eu já imaginava que quando fosse efetivamente lançado seria uma bagunça sem sentido do nível de Quarteto Fantástico (2015).

A trama começa quando a jovem Danielle Moonstar (Blu Hunt) chega a uma isolada instalação médica liderada pela doutora Reyes (Alice Braga). Dani acabou de passar por uma tragédia familiar, perdendo toda a família, e é informada por Reyes que foi acolhida na instituição por ter poderes mutantes e precisa colocá-los sob controle. Na instituição Dani conhece os outros jovens internos, Rahne (Maisie Williams), Sam (Charlie Heaton), Roberto (Henry Zaga) e Illyiana (Anya Taylor-Joy). Aos poucos coisas estranhas começam a acontecer no instituto conforme os personagens começam a ter visões de traumas passados.

quarta-feira, 31 de março de 2021

Crítica – Druk: Mais Uma Rodada

 Análise Crítica – Druk: Mais Uma Rodada


Review – Druk: Mais Uma Rodada
Por mais que o consumo de álcool seja algo natural em nossa sociedade, ainda há uma dimensão de julgamento moral associada a ele, principalmente quando falamos em um consumo com alguma regularidade ou quando vemos alguém beber além da conta em alguma ocasião. Dirigido por Thomas Vinterberg este Druk: Mais Uma Rodada pondera sobre nossa relação complicada com essa substância.

A trama é protagonizada por Martin (Madds Mikkelsen), um professor de história que vê sua carreira e seu casamento estagnarem e sente viver em uma bolha de apatia. Um dia, em um jantar com outros colegas professores colegiais, Martin ouve falar de uma proposição de um filósofo de que seria possível melhorar a vida pessoal e profissional mantendo constantemente um pequeno percentual de álcool no sangue. Assim, Martin e seus colegas de trabalho decidem fazer um experimento de tentar manter essa pequena quantidade de álcool para verificar se isso produz algum resultado.

De início a trama discute como tratamos o álcool como tabu, mas, ao mesmo tempo, idolatramos os feitos de pessoas que eram notórios consumidores de álcool como Churchill (que aqui é exibido sob um prisma puramente positivo, sem mencionar sua violência colonial) ou Hemingway. A pequena dose de álcool consumida pelos personagens vai alterando seu cotidiano, deixando-os mais criativos, mais soltos melhorando a atividade profissional e socialização deles.

terça-feira, 30 de março de 2021

Crítica – Bad Trip

De cara este Bad Trip parece basicamente uma reciclagem da trama de Debi & Loide (1994), mas em sua estrutura ele se faz em cima de cenas nas quais os personagens interagem com populares na rua que não estão cientes de estarem participando de uma encenação. Assim, boa parte do filme soa como uma coleção de pegadinhas a la Jackass com os protagonistas colocando anônimos em situações absurdas.

A premissa é bem básica, Chris (Eric André) e Bud (Lil Rel Howery) são dois amigos de infância que moram em uma cidadezinha da Flórida, vivendo de bicos e subempregos. Quando Chris fica sabendo que Maria (Michaela Conlin), de quem gosta desde os tempos de escola, vai se mudar para Nova Iorque ele convence Bud a ir numa viagem de carro para a grande cidade. A questão é que Chris pede a Bud para usar o carro de Trina (Tiffany Haddish), irmã de Bud e uma criminosa violenta que está na prisão. Ao longo da viagem, Trina foge da prisão e resolve ir atrás dos dois.

É um fiapo de roteiro que serve apenas para justificar ações alopradas de seus personagens, que funcionam por conta da entrega ao absurdo e cara de pau de André, Howery e Raddish em se manterem no personagem enquanto reagem com populares incrédulos. Ao contrário de programas de pegadinhas como o já citado Jackass, esses populares pegos no meio das cenas raramente servem de vítimas ou objetos de humilhação para os protagonistas, funcionando mais como cúmplices de cena, reagindo aos atores e dando a eles mais combustível para que eles construam seu humor físico e nonsense.

A questão é que, na prática, essas interações com os populares são muitas vezes reduzidas a olhares curiosos e/ou constrangidos desses indivíduos, um expediente que fica rapidamente cansativo. Ocasionalmente, o filme encontra boas interações como na cena em que Chris e Bud batem o carro, no momento em que Chris cai de cima de um bar ou durante o confronto final com Trina nas quais vemos os populares tentando ajudar de alguma maneira. Considerando os tempos em que vivemos, chega a ser reconfortante ver que existem pessoas dispostas a ajudar completos estranhos em situações doidas no meio da rua.

Por outro lado, boa parte cenas são completamente inconsequentes para a trama e considerando que o filme tem oitenta e cinco minutos, não sobra muito material para sustentar a jornada dos personagens. Se eles apenas queriam experimentar fazer comédia com pessoas aleatórias na rua, teria sido melhor criar um programa de esquetes do que um filme narrativo. Essas cenas também incomodam pelo excesso de edição no qual fica evidente que cada interação num mesmo espaço aconteceu em momentos e/ou dias diferentes, como se o filme estivesse esperando que alguém reagisse da maneira desejada para enfim construir a cena.

Os recursos de montagem tiram a espontaneidade e fazem muitos segmentos soarem forçados, um sentimento ampliado durante os créditos do filme quando vemos que várias cenas, a exemplo do despertar de Chris, foram filmadas com inúmeras “vítimas”, deixando claro que é menos um exercício de improviso e mais em provocar os anônimos até obterem o efeito desejado. Aliás, a própria ideia de que o uso de não-atores produziria algo mais genuíno ou mais real é, em si, problemática, já que viver uma situação e performar para a câmera são duas coisas muito distintas (que o diga Clint Eastwood e seu insosso 15h17: Trem Para Paris). Se isso fosse verdade todo mundo usaria não profissionais e não haveria necessidade para atores treinados. O fato de Bad Trip ter que constantemente recorrer a truques de montagem para tentar fazer render essas interações mostra que essa espontaneidade não vem assim fácil.

Apesar de alguns lampejos de humor e emoção genuínas, Bad Trip tem dificuldade de conciliar sua trama com as “pegadinhas” envolvendo pessoas reais, com situações que soam forçadas em muitos momentos.

 

Nota: 4/10


Trailer

segunda-feira, 29 de março de 2021

Crítica – Framing Britney Spears: A Vida de Uma Estrela

 Análise Crítica – Framing Britney Spears: A Vida de Uma Estrela


Review Crítica – Framing Britney Spears: A Vida de Uma Estrela
Produzido pelo jornal New York Times, o documentário Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela chamou atenção por revelar a situação jurídica da cantora pop Britney Spears, que desde 2008 vive sob tutela jurídica do pai, como se fosse alguém completamente incapaz de cuidar de si mesma.

O que é apresentado aqui é um competente trabalho de pesquisa que examina a trajetória profissional de Britney desde quando ela começou no mundo do entretenimento ainda muito jovem até os dias atuais quando ela luta para reverter a situação da tutela jurídica. Em termos de forma é um documentário bem simples, se baseando no padrão de entrevistas e imagens de arquivo, privilegiando mais a transmissão de informações e a construção da retórica de convencimento acerca da questão problemática que é a tutela de Spears.

Mais do que a questão da tutela, o documentário pondera sobre o papel da mídia na trajetória da cantora, especialmente no modo como ela foi, desde muito nova, constantemente cobrada, vigiada e pressionada pelos veículos de imprensa do mundo todo, algo que não deve ser saudável. A natureza predatória dos paparazzi fica evidente na entrevista com o fotógrafo que registrou o ataque de Britney com um guarda chuva. Os vídeos feitos por ele evidenciam que a cantora claramente não estava bem e o tempo todo ouvimos ela ou as pessoas que estavam com ela pedindo para pararem de filmar, mas ainda assim o paparazzo a seguiu de carro por horas e na entrevista para o documentário ainda diz que não fez nada de errado, deixando claro que esse modo de cobrir celebridades não tem nenhuma preocupação em estabelecer uma boa relação com a fonte, com o consentimento de imagem ou com princípios éticos.

sexta-feira, 26 de março de 2021

Crítica – Mank

 Análise Crítica – Mank


Review – Mank
Dentro da crítica e da cinefilia há toda uma corrente de debate que argumenta que boa parte dos méritos de Cidadão Kane (1941) residiam no roteiro escrito por Herman Mankiewicz. Este Mank, dirigido por David Fincher parece tomar essa posição ao acompanhar Mank enquanto escreve o roteiro para Orson Welles.

A trama mostra Herman “Mank” Mankiewicz (Gary Oldman) acamado depois de um acidente de carro. Com problemas financeiros e de saúde que vinham desde antes do acidente e com a reputação prejudicada entre os executivos de grandes estúdios por conta de seu alcoolismo, vício em apostas e constantes críticas às hipocrisias dos magnatas da mídia, Mank aceita escrever um roteiro para o então incipiente diretor Orson Welles (Tom Burke), uma história inspirada na trajetória de William Randolph Hearst (Charles Dance).

A narrativa vai e volta no tempo entre o Mank do presente tentando finalizar seu roteiro e o passado do roteirista, mostrando sua relação complicada com o produtor Louis B. Mayer (Arliss Howard), chefão da MGM, com o ricaço Hearst e com Marion (Amanda Seyfred), a jovem esposa de Hearst. Os flashbacks mostram a relação complicada de Mank com os figurões de Hollywood e da mídia por conta de sua vida de excessos e posições políticas. Enquanto a Hollywood da década de 1930 adotava uma postura de não criticar a Alemanha nazista por medo de perder arrecadação por lá, Mank já denunciava os perigos que os nazistas representavam.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Crítica – O Som do Silêncio

 

Análise Crítica – O Som do Silêncio

Review – O Som do Silêncio
Lidando com um personagem que passa por transformações radicais em sua vida, O Som do Silêncio não trata apenas da perda de audição, mas de como aceitar as inevitáveis mudanças que a vida nos impõe e entender que certas coisas não podem ser restauradas como eram. São temas delicados, principalmente em relação à comunidade surda, que muitos filmes as vezes derrapam no excesso de romantização da condição desses personagens.

Ruben (Riz Ahmed) é um baterista de heavy metal que começa a perder a audição. Ele tem uma banda junto com a namorada, Lou (Olivia Cooke), e logicamente se preocupa em como seu problema inviabilizará seu modo de vida. Ruben pensa na possibilidade de conseguir retomar a vida com um implante coclear, no entanto, o custo alto o impede de conseguir a cirurgia. Sem alternativas, ele vai morar em uma comunidade de surdos para aprender a lidar com a nova condição e aceitar que não há nada de errado com ele.

A jornada do protagonista é quase uma jornada de luto, passando por estágios como negação, raiva, barganha ou aceitação. De certa forma faz sentido, já que Ruben experimenta uma perda que praticamente torna impossível que ele siga com o mesmo modo de vida e precisa de tempo para se adequar à sua nova realidade. Nesse sentido, Riz Ahmed é ótimo em nos apresentar o desespero e desamparo de Ruben conforme ele percebe que está em um caminho sem volta.