terça-feira, 11 de maio de 2021

Crítica – Vozes e Vultos

 

Análise Crítica – Vozes e Vultos

Review – Vozes e Vultos
Partindo de uma típica premissa de casa assombrada, Vozes e Vultos tenta inserir vários outros elementos em sua trama, como um drama conjugal e uma ponderação metafísica sobre arte e espiritualidade. O problema é que a trama tem dificuldade de costurar tudo isso junto, com alguns elementos não funcionando.

A trama se passa na década de oitenta e segue o casal Catherine (Amanda Seyfried) e George Claire (James Norton). Quando George consegue uma vaga de professor em uma universidade no interior, o casal e sua filha pequena deixam suas vidas em Nova Iorque para viver em uma casa de campo perto de onde George trabalha. Enquanto George dá aula Catherine fica em casa trabalhando com suas pinturas, mas aos poucos vai percebendo fenômenos estranhos na casa.

Desde o início há um clima de estranhamento, de que há algo errado embora não saibamos exatamente o que é. Apesar de abusar de sustos súbitos gratuitos, como barulhos altos e outras estratégias batidas, a narrativa é bem sucedida em uma atmosfera de suspense por conta da animosidade crescente entre o casal principal. Catherine está descontente com a mudança, recorrendo a tiradas passivo-agressivas para mostrar seu desprezo e escondendo seu comportamento bulimico. Já George é o pior. Ele mente e trai a esposa constantemente, mantendo um caso com a jovem Willis (Natalia Dyer), além de tratar todos ao seu redor da maneira mais babaca possível.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Crítica – O Legado de Júpiter

 Análise Crítica – O Legado de Júpiter

Review – O Legado de Júpiter
Apesar de nunca ter lido, já tinha ouvido falar do quadrinho O Legado de Júpiter escrito por Mark Millar e desenhado por Frank Quitely, e fiquei curioso com o anúncio de que a Netflix faria uma série baseada nele. Em essência é uma história sobre conflitos geracionais e questões morais, no entanto essa primeira temporada apenas toca na superfície de alguns desses elementos.

Na trama, Sheldon (Josh Duhamel) é um homem que, ao lado de outras cinco pessoas, ganhou super-poderes na década de 1930, se tornando o poderoso Utópico. Nos dias de hoje, um pouco mais velho, mas longe de aparentar seus mais de 100 anos, o herói se preocupa em manter seu estrito código de não interferir na sociedade e não matar, valores que ele também tenta passar para seus filhos, Brendon (Andrew Horton), que tenta seguir os passos do pai e ser herói, e Chloe (Elena Kampuris), que apesar dos poderes tem pouco contato com a família e vive como supermodelo. Durante uma batalha contra o vilão Estrela Negra (Tyler Mane), Brendon decide matar o inimigo para salvar os pais e vingar a morte de outros heróis na batalha. A decisão incomoda o Utópico e cria um conflito entre ele e o filho sobre a aplicabilidade do código que os rege.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Drops – À Espreita do Mal

 

Análise Crítica – À Espreita do Mal

Review – À Espreita do Mal
Este À Espreita do Mal é aquele tipo de suspense que parece mais preocupado em concatenar reviravoltas do que efetivamente contar uma história envolvente. Existem algumas boas ideias em sua trama, mas em geral não são muito bem aproveitadas e se perdem em meio a várias escolhas que pouco fazem para tornar as múltiplas ideias em um todo coeso.

A trama é focada na família de Jackie (Helen Hunt), que está passando por um momento de crise. Jackie está se separando do marido, o policial Greg (Jon Tenney), depois de tê-lo traído. Connor (Judah Lewis), o filho adolescente do casal, não recebe bem a informação e fenômenos estranhos começam a acontecer na casa. Ao mesmo tempo, Greg investiga uma série de sequestros de crianças.

A trama do sequestro inicialmente parece não se conectar com a trama da casa e demora a se encontrar com o resto dos conflitos do filme. O fluxo da trama é prejudicado pela montagem cheia de cortes abruptos que propositalmente omite informações do espectador apenas para depois inserir a revelação do que de fato acontecia na casa. O expediente acaba soando mais desonesto do que capaz de evocar tensão. Ainda assim, a noção de que os eventos estranhos da casa não eram fruto de algo sobrenatural e sim de phrogging é uma boa reversão de expectativas.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Crítica – Minari: Em Busca da Felicidade

 

Análise Crítica – Minari: Em Busca da Felicidade

Review – Minari: Em Busca da Felicidade
Ao tratar da imigração de uma família coreana para o interior dos Estados Unidos na década de oitenta imaginei que Minari: Em Busca da Felicidade fosse apenas repetir o que outros filmes sobre imigração falam. Pensei que fosse ser um filme sobre o preconceito contra imigrantes ou as barreiras que esses imigrantes encontram num país que não necessariamente os quer lá. Não é isso que o filme trata, preferindo focar na sensação de deslocamento, na incerteza de começar uma vida nova em um lugar tão distante de tudo que lhe é familiar e os conflitos geracionais de uma família com pais e avós que ainda se lembram do modo de vida e cultura do país natal e filhos pequenos que se identificam mais facilmente com o novo lar.

A narrativa foca na família de Jacob (Steve Yeun), que se muda para uma propriedade rural no interior do Arkansas na década de oitenta. Junto com ele estão a esposa Monica (Yeri Han) e os filhos Anne (Noel Cho) e David (Alan Kim). Jacob e Monica começam a trabalhar em uma granja, mas em paralelo Jacob tenta começar uma plantação de vegetais coreanos para criar um negócio próprio.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Crítica – Passageiro Acidental

 

Análise Crítica – Passageiro Acidental

Review – Passageiro Acidental
Viajar através do espaço sideral é sempre uma empreitada perigosa. É um ambiente que não sustenta vida humana, então toda a viagem e recursos necessários precisam ser planejados com antecedência e precisão já que dificilmente será possível obter novos recursos durante a viagem. Lidar com esses recursos limitados diante de imprevistos é o tema central deste Passageiro Acidental.

A trama acompanha uma missão de dois anos rumo a Marte em uma espaçonave com três tripulantes, a comandante Marina (Toni Colette), a médica Zoe (Anna Kendrick) e o cientista David (Daniel Dae Kim). Após um lançamento tranquilo, eles encontram problemas ao descobrirem Michael (Shamier Anderson) um técnico ferido e desacordado em um dos dutos da espaçonave. Agora eles precisam gerenciar recursos planejados para três pessoas e fazê-los render para quatro, mas o principal problema é o suprimento limitado de oxigênio.

A narrativa aos poucos vai nos apresentando à rotina dos personagens dentro da espaçonave, a relação amistosa entre eles e a natureza altamente restrita de todos os recursos que eles dispõem. O trio principal é competente em nos convencer de que esses astronautas passaram tanto tempo juntos se preparando para a missão que já desenvolveram uma certa proximidade um com o outro, inclusive desenvolvendo suas próprias piadas internas.

terça-feira, 4 de maio de 2021

Crítica – Sem Remorso

 

Análise Crítica – Sem Remorso

Review – Sem Remorso
Baseado em um livro de Tom Clancy, este Sem Remorso é, na prática, um filme de vingança idêntico a todos os outros que já vimos, seguindo boa parte das batidas de trama que imaginamos que o filme irá seguir. Ainda assim,  a trama tem momentos de ação e tensão suficientemente bem construídos para valer a experiência.

Depois de uma missão na Síria na qual sua tropa encontrou e matou criminosos russos, o soldado John Kelly (Michael B. Jordan) retorna para casa para ficar com a esposa, grávida do primeiro filho do casal. Kelly e os demais membros de sua tropa, no entanto, se tornam alvo de operativos russos, que invadem a casa do protagonista e matam sua família. Apesar de baleado Kelly consegue sobreviver e ver o rosto de um dos agressores. Recuperado, Kelly decide ir atrás dos culpados, contando com a ajuda de sua antiga comandante, Greer (Jodi Turner-Smith, do ótimo e pouco visto Queen and Slim), que lhe dá os nomes dos possíveis envolvidos.

Em termos de narrativa não há nada aqui que já não tenhamos visto antes e ainda por cima reproduz alguns lugares comuns antiquados que não deveriam ter mais espaço em narrativas. Um exemplo é o velho clichê da esposa que não tem qualquer outro propósito na trama a não ser morrer para servir de motivação para as ações de um protagonista masculino, o velho tropo das “mulheres em geladeiras” que reduz personagens femininas a um mero adereço na jornada do homem. Claro, a trama apresenta personagens em posições de poder como a oficial Greer, mas isso não cobre o fato de que a esposa do protagonista existe apenas para ser assassinada.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Crítica – Invincible: 1ª Temporada

 

Análise Crítica – Invincible: 1ª Temporada

Review – Invincible: 1ª Temporada
Eu já tinha ouvido falar dos quadrinhos do personagem Invencível, criado por Robert Kirkman (a mente por trás dos quadrinhos de The Walking Dead), mas nunca tinha lido. Então quando a Prime Video anunciou que faria uma série animada fiquei curioso para conferir e devo dizer que o resultado deste Invincible é bem bacana.

A trama é protagonizada por Mark (Steven Yeun) cujo pai, Nolan (J.K Simmons), é ninguém menos que o maior super-herói do mundo, o Omni-Man. Mark aparentemente é um garoto normal, até chegar na adolescência e manifestar os mesmos poderes de seu pai. Assim, Mark decide se tornar um super-herói, assumindo o nome de Invencível, e Nolan passa a ensinar o filho sobre esse trabalho e também a respeito do planeta natal dele Viltrum. Ao mesmo tempo, Nolan mata todos os Guardiões do Globo (a versão desse universo da Liga da Justiça) sem que ninguém saiba que foi ele, colocando as autoridades para investigarem quem matou os heróis mais poderosos do mundo.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Crítica – Silk Road: Mercado Clandestino

 

Análise Crítica – Silk Road: Mercado Clandestino

Review – Silk Road: Mercado Clandestino
O diretor Tiller Russell realizou alguns documentários sobre histórias criminais insólitas como Operation Odessa (2018), mas Silk Road: Mercado Clandestino, sua primeira incursão no domínio da ficção, é simplesmente um desastre. Sem ritmo, com personagens vazios e uma visão problemática acerca dos pontos de vista de seu protagonista, é impressionante como praticamente tudo dá errado aqui.

A narrativa se baseia na história real de Ross Ulbricht (Nick Robinson), criador do site Silk Road, uma página de comércio eletrônico na deep web que servia de ponto de compra e venda para qualquer substância ilegal. Logicamente a venda de drogas via internet o coloca na mira das autoridades, em especial do agente Nick Bowden (Jason Clarke), um sujeito mentalmente instável que retornou recentemente ao serviço e foi colocado em uma função burocrática no departamento de crimes digitais, mesmo sem ter qualquer intimidade com computadores.

A história tinha potencial para discutir temas como a ineficácia da guerra às drogas ou questões relativas à liberdades individuais, mas, ao invés disso, parece apenas aderir acriticamente aos ideais libertários (não confundir com liberais, que é outra coisa) de seu protagonista. Ross não é um personagem, é uma palestra ambulante sempre falando dos méritos dos ideais libertários, sendo que os argumentos dele, sejam eles sobre economia ou sobre política, são facilmente refutados.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)

 

Análise Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)

Review - Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)
Depois de vários episódios construindo os dilemas de Sam em relação ao assumir o escudo do Capitão América, confrontando o personagem com o histórico de injustiças dos Estados Unidos ao mesmo tempo que mostrava os riscos de um Capitão América mais dedicado a obedecer ao governo do que a um senso de valores, Falcão e o Soldado Invernal chegou em seu último episódio com muitas pontas a amarrar. Algumas tramas se resolvem muito bem, embora outras não tenham o impacto que deveriam. Assim, nesta terceira e última parte me dedico a entender o que funciona e o que não se resolve tão bem no episódio final da série.

O desfecho

Assim como aconteceu com WandaVision, a série tem alguns problemas em seu episódio final. Ela lida muito bem com o arco do protagonista, mas resolve de maneira problemática as tramas dos demais personagens. As cenas com Sam são o ponto alto do episódio final, com ele finalmente decidindo assumir o manto de Capitão América e se revelando como tal. Além das cenas de ação que mostram as habilidades do personagem com o escudo e seu novo uniforme, o que mais o define como alguém que merece o posto é a maneira como ele questiona as autoridades para o tratamento dado aos Apátridas.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 2)

 Análise Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 2)

Review – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 2)
A série Falcão e o Soldado Invernal me surpreendeu por ampliar nosso entendimento sobre o universo Marvel, em especial o estado do mundo após o estalo de Thanos ser desfeito, e também como o roteiro trabalha questões relativas à identidade nacional dos Estados Unidos. Ao longo da temporada os episódios analisam as contradições e injustiças do projeto de nação dos EUA, expondo as fragilidades do discurso do país sobre liberdade e justiça. Muito dessa discussão se dá no arco de Sam e seu percurso para aceitar o escudo do Capitão América, mas os antagonistas da série também desempenham um papel importante e é sobre eles que falaremos nessa segunda parte.

Os antagonistas

A série também acerta no seu tratamento aos antagonistas, evitando maniqueísmos simplórios e tratando esses personagens como figuras complexas. Seria fácil tornar John Walker um babaca sem qualquer aspecto positivo, afinal ele é o sujeito que recebeu o escudo do Capitão América de mão beijada, sem ter feito por merecer. Ainda assim, a série escolhe que o primeiro grande contato que temos com Walker seja em um vestiário, nervoso por assumir o posto de Capitão, sobrepujado pela pressão de existir à sombra de Steve Rogers. O vemos como um sujeito vulnerável e instável, que até quer fazer a coisa certa, mas não tem a temperança e a empatia de Steve. Wyatt Russell, por sinal, é ótimo em construir a personalidade arrogante e impertinente de Walker, fazendo dele o tipo de adversário que dá gosto de odiar.