quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Crítica – Um Ninho Para Dois

 Análise Crítica – Um Ninho Para Dois


Review – Um Ninho Para Dois
O luto pela perda de um ente querido não é fácil. O luto pela perda de um filho pequeno provavelmente é ainda mais difícil. É sobre isso que este Um Ninho Para Dois tenta tratar misturando drama e comédia, embora essa mescla não funcione como deveria.

A trama é focada no casal Lilly (Melissa McCarthy) e Jack (Chris O’Dowd) que está passando por dificuldades depois do falecimento da filha ainda bebê. Lilly tenta seguir com o trabalho, enquanto Jack está internado em uma clínica depois de uma tentativa de suicídio. Lilly tenta ocupar o tempo plantando uma horta em seu quintal, mas começa a ter problemas quando um estorninho, um pássaro bastante territorial, começa a “morar” em uma das árvores do quintal, atacando Lilly sempre que ela se aproxima da horta.

O elenco é o ponto forte do filme. Melissa McCarthy já tinha mostrado habilidade para o drama no subestimado Poderia Me Perdoar? (2018) e aqui volta a exibir seu alcance dramático. Com um olhar perdido, Lilly é uma mulher à deriva, que não sabe como tocar a vida depois da perda e dos traumas que isso infligiu no marido. Os esforços dela em seguir adiante mostram que ela não deu o devido tempo ao luto, como que querendo pular as etapas, algo visível na cena em que ela tenta desesperadamente remover as marcas do berço no carpete, esperando que a ausência de marcas torne mais fácil aceitar a partida da filha.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Crítica – Cry Macho: O Caminho Para Redenção

 Análise Crítica – Cry Macho: O Caminho Para Redenção


Review – Cry Macho: O Caminho Para Redenção
É curioso que este Cry Macho: O Caminho Para Redenção seja simultaneamente muito arrastado, parando subitamente o desenvolvimento da trama principal e seus temas, e muito apressado ao levar seus personagens a conclusões que não soam plenamente construídas. O filme segue a tendência dos últimos anos da produção de Clint Eastwood em refletir sobre os Estados Unidos e sobre o imaginário do país, aqui especificamente ele pondera sobre ideais de “hombridade” e comunidade.

Na trama, Mike (Clint Eastwood) é um ex-peão de rodeio e criador de cavalos que aceita o pedido de um amigo, Howard (Dwight Yoakam), para ir até o México trazer de volta o filho dele, Rafo (Eduardo Minett), que vive sob a guarda da mãe alcoólatra. A jornada no México não é fácil, já que Rafo inicialmente não quer acompanhar Mike, a mãe do garoto coloca pessoas atrás deles e Howard parece ter motivos ocultos para querer o filho de volta.

Indicado pelo fato de Rafo ter um galo de briga chamado Macho, a relação entre Mike o garoto vai se construindo ao redor da ideia de representação de masculinidade. Para Rafo, ser valente, bruto e brigar são os atributos que envolver ser “macho”, são os elementos constitutivos de ser homem e desempenhar bem a função masculina na sociedade. Mike, aos poucos, vai mostrando ao garoto que nada disso faz um homem ou um vaqueiro, mas agir de maneira correta, sincera, cuidar da comunidade, estar em comunhão com o mundo a sua volta e com os próprios sentimentos, tudo é mais importante do que ser brabo ou qualquer outra coisa similar.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Crítica – A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais

 

Análise Crítica – A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais

A produção dos filmes que narram o assassinato brutal cometido por Suzane Von Richthofen e Daniel Cravinhos não teve um percurso fácil para chegar às telas. Cercado de controvérsia por contar a história de um crime real que chocou o Brasil, a produção chegou a ser falsamente acusada de estar dando dinheiro para a patricida (Suzane não recebeu nada e o filme é baseado no livro de Ilana Casoy). A decisão de dividir a história em dois filmes (A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais) também teve sua parcela de controvérsia, com muitos achando que era um expediente para vender mais ingressos e não necessariamente traçar um panorama mais amplo. Pois bem, agora os dois filmes estão disponíveis em streaming e é possível conferi-los.

Como são experiências “complementares” (explicarei as aspas mais adiante) farei um texto só sobre os dois filmes. Primeiro vou falar de maneira geral sobre ambos, depois entrarei em especificidades sobre cada um, já que são experiências relativamente diferentes. A Menina Que Matou os Pais se baseia na versão de Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt) sobre os fatos, fazendo a responsabilidade do crime cair mais sobre Suzane (Carla Diaz), enquanto que O Menino Que Matou Meus Pais apresenta a versão de Suzane, incriminando mais Daniel.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Crítica – Caminhos da Memória

 

Análise Crítica – Caminhos da Memória

Review – Caminhos da Memória
Ao lado de Jonathan Nolan, Lisa Joy explorou temas de memória, identidade e narrativa ao longo da série Westworld. Neste Caminhos da Memória, dirigido e escrito por ela, Joy volta a explorar todas essas ideias, mas sem o mesmo sucesso.

A trama se passa no futuro, numa Miami parcialmente inundada Nick (Hugh Jackman) ganha dinheiro usando um dispositivo que faz as pessoas reviverem memórias e, com o mundo em caos, o mercado para escapismo nostálgico está em alta. A vida de Nick muda quando ele é visitado pela misteriosa Mae (Rebecca Ferguson) e os dois vivem um romance até que Mae desaparece misteriosamente. Agora, Nick decide vasculhar a própria memória para encontrar pistas a respeito do paradeiro da amada.

É uma trama que remete muito ao noir, com um protagonista amargurado e cínico perambulando por uma metrópole decadente e corrompida em busca de uma mulher misteriosa. O desencanto, as profundas desigualdades que o noir tanto tratava estão aqui também. O futuro mostrado pela trama, de uma Miami tomada pelas águas por conta da mudança climática com uma pequena elite vivendo as áreas secas cercada por represas e diques enquanto a população vive ao sabor das marés talvez esteja mais próximo do que estamos imaginando. As paisagens inundadas da arquitetura art decó de Miami combinadas à iluminação cheia de tons de neon e aparatos futuristas rende uma espécie de Waterworld (1995) cyberpunk.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Rapsódias Revisitadas – Questão de Honra

 Crítica – Questão de Honra


Review – Questão de Honra
Confesso que até hoje nunca tinha assistido Questão de Honra, originalmente lançado em 1992, apesar da clássica cena do interrogatório entre Tom Cruise e Jack Nicholson já ter sido citada e parodiada à exaustão. Tampouco sabia que o texto fora escrito por Aaron Sorkin, baseado numa peça escrita por ele mesmo. O texto é, de fato, marcado pelos diálogos ágeis de Sorkin e é também uma ponderação sobre o papel dos militares, o que significa honra e a banalidade do mal.

A trama é protagonizada pelo advogado da marinha Daniel Kaffee (Tom Cruise), inteligente, mas inexperiente no tribunal e mais disposto a fazer acordos do que ir a julgamento, Kaffee parece escolhido a dedo para encerrar o mais rápido possível o processo de dois soldados acusados de matar um colega de farda na base de Guantánamo em Cuba. A tenente Joanne Calloway (Demi Moore), que lidera a corregedoria das forças armadas, desconfia que a ação não foi dos dois soldados, mas dos superiores da base e pressiona Kaffee a investigar mais a fundo, principalmente por conta da conduta autoritária do coronel Jessep (Jack Nicholson), o responsável pela base.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Drops – Como Hackear Seu Chefe

 

Análise Crítica – Como Hackear Seu Chefe

Review – Como Hackear Seu Chefe
Com uma narrativa toda contada a partir de uma tela de computador e tentando reproduzir a lógica do trabalho remoto, a comédia Como Hackear Seu Chefe tem boas sacadas em como lidar com as limitações de contar uma história desta maneira e uma criatividade para situações cômicas. A trama é bem básica, Victor (Victor Lamoglia) fica bêbado depois de uma noite comemorando o aniversário e envia um e-mail comprometedor para o chefe. Agora, com a ajuda dos colegas João (Esdras Saturnino) e Mariana (Thati Lopes), ele precisa invadir a conta de e-mail do chefe e deletar o conteúdo antes que seja tarde demais.

O texto é criativo em criar situações absurdas, como João fazendo shows eróticos imitando Silvio Santos para pagar um hacker ou Victor delirando sob efeito dos gases tóxicos de dedetização. Também tem algumas boas sacadas em relação ao trabalho remoto, como funcionários usando apps de mensagem para falar mal do chefe durante uma reunião remota, pessoas esquecendo o microfone desligado na hora de falar ou aquele colega que não sabe muito de tecnologia e é sempre pego fazendo ou falando coisas inapropriadas (toda a participação de Nuno Leal Maia é impagável).

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Crítica – Grande Tubarão Branco

 

Análise Crítica – Grande Tubarão Branco

Review – Grande Tubarão Branco
Este Grande Tubarão Branco é daqueles filmes ruins que sequer consegue divertir com sua podreira. É incompetente em praticamente todos os níveis, mas não de um jeito engraçado, o que torna acompanhar seus dolorosos noventa minutos em um entediante exercício de paciência.

Na trama, o casal Charlie (Aaron Jakubenko) e Kaz (Katrina Bowden) trabalham levando turistas em ilhas próximas via hidroavião ao lado do funcionário Benny (Te Kohe Tuhaka). Um dia, eles levam o casal japonês Jo (Tim Kano) e Michelle (Kimie Tsukakoshi) para uma praia remota. Lá, o avião é atacado por um grande tubarão e acaba afundando, agora os cinco estão à deriva em um bote salva-vidas sem recursos ou rastreador e precisam sobreviver.

Alguns filmes conseguiram muito bem construir narrativas tensas ao redor da premissa de estar no meio do mar cercado por um (ou mais de um) tubarão, como Águas Rasas (2016), mas Grande Tubarão Branco faz isso pessimamente. Charlie e Kaz até convencem como um casal que está há muito tempo junto, mas todo o resto de personagens varia entre o inexpressivo e o caricato, com Benny e Jo sempre descambando para um exagero patético.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Crítica – Sex Education: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – Sex Education: 3ª Temporada

Review – Sex Education: 3ª Temporada
A segunda temporada de Sex Education fazia um bom trabalho de expandir o universo da série e desenvolver outros personagens secundários da escola. Esta terceira temporada vai na mesma direção ampliando ainda mais nosso entendimento sobre esses indivíduos e a discussão sobre o lugar do sexo no ambiente educacional.

Depois os eventos da temporada anterior, Moordale ficou marcada como “a escola do sexo”, em virtude disso, a escola recebe uma nova diretora, Hope (Jemima Kirke), que é pressionada pelo comitê gestor para reverter a imagem da instituição. Ao mesmo tempo, os aluno retornam às aulas com novidades depois das férias. Otis (Asa Butterfield) está envolvido com Ruby (Mimi Keene), a menina mais popular do colégio. Enquanto isso, Eric (Ncuti Gatwa) segue com Adam (Connor Swindells), Maeve (Emma Mackey) se aproxima de Isaac (George Robinson) sem saber que ele apagou uma importante mensagem de Otis e Jean (Gillian Anderson) resolve contar a Jakob (Mikael Persbrandt) que está grávida.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Crítica – Good Girls: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Good Girls: 4ª Temporada

Review – Good Girls: 4ª Temporada
O terceiro ano de Good Girls melhorava o desenvolvimento do trio principal e apontava rumos interessantes para a série, ainda que não reparasse os principais problemas. Este quarto ano, lamentavelmente o último por conta do inesperado cancelamento da série, não tem os méritos do anterior e volta a cair nas mesmas inconsistências e tramas pouco convincentes.

A narrativa segue onde o ano anterior parou, com Beth (Christina Hendricks) mais uma vez na mira de agentes federais. Pressionada, ela faz um acordo para entregar Rio (Manny Montana) e quem quer que esteja acima dele, mas Rio também pressiona Beth com provas contra ela. Assim, Beth precisa manobrar entre Rio e os federais para salvar a si mesma, a família, Annie (Mae Whitman) e Ruby (Retta).

O principal problema continua a ser a inconsistência das personagens. Beth é extremamente ardilosa, capaz enganar Rio e os federais, isto é até o roteiro decidir que ela não é e colocá-la para agir como uma completa imbecil. Isso fica evidente quando ela vai na casa de Rio com uma escuta e ao desconfiar que Rio sabe que ela está gravando tudo, ela tenta se livrar da escuta. Apesar de entrar no banheiro, ela não pensa em dar descarga no dispositivo ou mesmo enfiá-lo no fundo de uma lixeira, mas tenta esconder o aparelho atrás de uma pilha de livros onde qualquer um, mesmo acidentalmente conseguiria encontrar. O mesmo acontece com o plano dela de juntar dinheiro e fugir para outro estado. Ora, Dean (Matthew Lillard) está em liberdade condicional e é monitorado pelo governo, quanto tempo ela acha que conseguiria fugir com quatro crianças e um marido procurado? É um plano ingênuo e insustentável a longo prazo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Drops – Amizade de Férias

 

Crítica – Amizade de Férias

Review – Amizade de Férias
Os primeiros minutos deste Amizade de Férias parecem nos colocar diante de uma comédia caótica sobre pessoas perdendo a cabeça durante as férias. Não seria a primeira do tipo e não é difícil prever que ao final o casal certinho Marcus (Lil Rel Howery) e Emily (Yvonne Orji) vai aprender a se soltar mais enquanto que o aloprado casal Ron (John Cena) e Kyla (Meredith Hagner) vai aprender a ser mais responsável.

O problema é que lá pela metade da projeção, a trama decide abandonar o cenário de férias para focar no casamento de Marcus com Emily e as tentativas de Marcus em impressionar o sogro que não o acha digno de Emily. Assim, a narrativa meio que vira um Entrando Numa Fria (2000) genérico, já que o sogro nunca tem um motivo minimamente construído para detestar Marcus e o casal Ron e Kyla acaba relegado a um elemento de caos nessa tentativa de Marcus em impressionar o sogro.

A trama se desenvolve cheia de inconsistências, com os sogros de Marcus adorando o jeito inconveniente de Ron e Kyla em um instante, apenas para se chocarem com a conduta absurda deles em outro, como se eles mudassem de atitude e personalidade a cada cena por pura exigência de roteiro. Considerando que o roteiro tem seis pessoas creditadas nele, é possível que essas inconsistências venham do alto número de mãos interferindo no texto e as coisas acabam desconjuntadas.