Em seu cerne Coquetel Explosivo é um filme de ação aloprado que constrói um
universo de matadores profissionais que vive à sombra da nossa sociedade.
Lembra um pouco a franquia John Wick,
mas tem uma personalidade mais amalucada que os filmes estrelados por Keanu
Reeves.
Na trama, Sam (Karen Gillan) se
tornou uma assassina profissional depois de ser abandonada pela mãe, Scarlet
(Lena Headey). A serviço da poderosa organização criminosa conhecida como “A
Firma”. Quando uma missão dá errado, Sam se vê protegendo a garota Emily (Chloe
Coleman) e na mira da Firma.
A trama demora um pouco a
engrenar, estabelecendo os elementos que compõem esse universo excêntrico de
sororidades de assassinas e grupos mafiosos secretos, mas quando engrena se
entrega a ação amalucada e ultraviolência. A ação é bem criativa, colocando Sam
em situações bem inesperadas para esse tipo de filme. Um dos melhores exemplos
é a sequência em que Sam enfrenta três assassinos enquanto está com os braços anestesiados,
prendendo uma faca e uma arma nas mãos com fita adesiva. É a perfeita síntese
de como o filme mistura uma imaginação completamente pirada com doses cavalares
de violência e sangue.
A fita também se beneficia do
carisma do elenco. De Karen Gillan fazendo uma típica assassina com coração de
ouro, passando por Lena Headey como uma ex-assassina que sempre tem um plano na
manga. Além da dupla principal, a trama tem participações divertidas de Angela
Basset, Carla Gugino e Michelle Yeoh, que também contribuem em algumas cenas de
ação. O grandiloquente embate na biblioteca seria um ótimo clímax, mas o filme
insiste em não acabar, se alongando mais do que deveria.
O material acaba levando muito à
sério a temática sobre pais e filhos da trama, tentando construir alguns
momentos de impacto emocional, no entanto eles não funcionam devido a todo o
contexto acelerado e amalucado do filme, servindo mais como um freio brusco
para o fluxo da narrativa do que algo que opera organicamente com ela. Todo o
segmento da lanchonete poderia ser suprimido se a chegada do vilão acontecesse
na própria biblioteca e isso daria mais agilidade ao desfecho. Do jeito que
está, ao invés de uma conclusão apoteótica, o filme se arrasta em seus minutos
finais, acabando com o senso de energia que foi construído até então. Não deixa
de ser divertido, mas fica a sensação de que poderia ser mais conciso.
Coquetel Explosivo diverte por conta da criatividade amalucada de
suas cenas de ação e por um elenco que consegue dar algum carisma a personagens
que, de outra maneira, seriam bem lugar comum.
Estreia de Halle Berry como
diretora, este Ferida é uma típica
história de superação no esporte. A trama é centrada em Jackie (Halle Berry),
uma ex-lutadora de MMA que se encontra no fundo do poço, trabalhando como
diarista depois de fugir de uma luta. As coisas se complicam quando ela fica
sabendo da morte do ex-marido e precisa cuidar do filho pequeno. Com uma
criança sob sua responsabilidade, Jackie precisa reconstruir a vida,
encontrando uma nova oportunidade para retornar ao meio do MMA e desafiar a
atual campeã.
É uma narrativa que mistura Rocky: Um Lutador (1967), com Nocaute(2015) e outros elementos que já
vimos em filmes de esporte. Não tem nada que saia do traçado esperado e boa
parte dos desenvolvimentos são bem previsíveis, como a eventual relação de
Jackie com a treinadora. Isso seria menos problemático se os personagens ao
redor da protagonista fossem mais interessantes, mas todos eles parecem existir
apenas para gravitar em torno dela, funcionando como obstáculos (o namorado
abusivo, a mãe oportunista) ou facilitadores (a treinadora que sempre está
disponível para tudo e parece não ter vida própria) e nunca como indivíduos
autônomos com suas próprias motivações ou desejos.
O western é um gênero que fala da realidade histórica dos Estados
Unidos. Durante o período clássico hollywoodiano esses filmes ajudavam a
construir mitos ao redor da expansão do país rumo ao oeste. Uma expansão na
qual o homem branco dominava um ambiente selvagem e bravio com sua coragem e
iniciativa. Eram histórias sobre a identidade nacional, o destino do país e
sobre a superioridade de um povo. Já tem um tempo que o western adquiriu um caráter mais revisionista, desde produções como
Dança Com Lobos (1990) até produções
mais recentes como First Cow(2021).
Este Ataque dos Cães, novo trabalho
da diretora Jane Campion também apresenta um olhar revisionista sobre elementos
típicos do western.
Na trama os irmãos George (Jesse
Plemons) e Phil (Benedict Cumberbatch) são fazendeiros com um negócio em
ascensão. George cuida do lado administrativo enquanto Phil supervisiona o
cotidiano dos animais da fazenda. Phil se comporta com um típico caubói de western, um homem estoico e durão, que
fala e socializa pouco e tem orgulho de seu bom manejo da terra e dos animais.
A relação entre os dois irmãos é abalada quando George se casa com a viúva Rose
(Kirsten Dunst), levando ela e o filho Pete (Kodi Smit-McPhee) para morar na
fazenda. Aos poucos Phil começa a atormentar Rose e Pete, ridicularizando Rose
por suas incursões musicais fracassadas e Pete por seus modos afeminados ou sua
paixão por ciência.
Há uma quantidade enorme de
filmes que usam fotografia em preto e branco ou uma taxa de aspecto 4:3 para
parecerem mais “artísticos” ou meramente referenciar o cinema de outrora. Na
maioria dos casos é um floreio estilístico que pouco acrescenta ao produto
final. Neste Identidade, no entanto,
é essencial para a discussão sobre colorismo e identidade que o filme tenta
construir.
Estreia da atriz Rebecca Hall
como diretora, a trama adapta um romance de Nella Larsen, e acompanha Irene
(Tessa Thompson), uma mulher negra na Nova Iorque de 1920. Um dia Irene
reencontra uma amiga de infância, Clare (Ruth Negga), e descobre que ela vive
se passando por branca, inclusive tendo casado com um homem branco fazendo ele
acreditar que ela era branca.
O reencontro desperta emoções em
ambas. De um lado Irene, que assim como Clare tem uma pele mais clara e
conseguiria se passar como branca, se sente incomodada com a possibilidade de
esconder quem é, embora se sinta atraída pelas facilidades e segurança de uma
vida de branca. Por outro lado, Clare vê em Irene um refúgio, uma possibilidade
de ser ela mesma integralmente sem precisar fingir ou temer ser descoberta.
O primeiro Venom(2018) não era lá grande coisa, mas encerrava com um gancho
para continuação que talvez rendesse algo melhorzinho por conta da presença do serial killer Cletus Kasady. Pois bem,
este Venom: Tempo de Carnificina tenta
pegar o gancho final do primeiro e não faz nada de muito interessante.
Na trama, Eddie Brock (Tom Hardy)
consegue uma entrevista exclusive com o serial
killer Cletus Kasady (Woody Harrelson), mas durante a conversa Brock é mordido
por Kasady, que fica com o pedaço do simbionte de Eddie. Usando o novo
simbionte para se tornar o perigoso Carnificina, Cletus foge da cadeia e começa
a causar destruição por onde passa. Cabe a Eddie Brock e ao simbionte Venom
deter a nova ameaça.
De cara incomoda como a relação
entre Brock e Venom parece estagnada em relação aos eventos do filme anterior.
No final do primeiro Brock parecia ter aceito a condição de “protetor letal”
permitindo que Venom devorasse bandidos. Aqui, no entanto, tudo parece ter
voltado à estaca zero, com o filme dando a desculpa de que as autoridades ainda
estavam à procura do simbionte por causa dos eventos do filme anterior, sendo
que nada disso tinha sido dito no final do primeiro filme quando Eddie deixa
Venom devorar um assaltante. Assim, ao invés de mover adiante a relação dos
personagens, tudo soa estagnado, repetindo o que já tinha sido feito no
primeiro filme, sendo que o primeiro filme não é exatamente bom.
Muitos defeitos do anterior
também retornam, como o fato de que o texto não consegue fazer Eddie soar como
um competente repórter investigativo. Porque inicialmente ele recusaria uma
exclusiva com um serial killer?
Porque ele aceitaria publicar uma fala de Cletus que claramente é uma mensagem
cifrada sendo que isso poderia ser um código para que crimes fossem cometidos
em nome dele? É um tipo de coisa que deveria passar pela cabeça de um
jornalista experiente, mas Brock continua a agir como um amador estúpido.
Do mesmo modo, a relação entre
Venom e Eddie continua sendo apresentada mais como uma espécie de comédia
romântica e menos como um sujeito lidando com um parasita alienígena querendo
controlar seu corpo. Ao fazer Venom engraçadinho, o filme diminui a capacidade
intimidadora da criatura como um predador voraz e letal, impedindo que Venom
seja aqui a presença imponente que o texto visa construir.
Qualquer um que já tenha
assistido Assassinos por Natureza (1994)
sabe que Woody Harrelson é perfeitamente capaz de fazer um serial killer caipira cruzando o país ao lado de um interesse
romântico igualmente letal. A escalação dele como Cletus Kasady seria um acerto
fácil, no entanto, não funciona por conta de um texto que não sabe fazer com o
personagem. Kasady muda de personalidade o tempo todo, uma hora sendo enquadrado
como um completo lunático e sádico, um psicopata cruel que busca destruição e
dor. Em outros momentos o filme tenta transformar Cletus em uma vítima das
circunstâncias, um coitado solitário e incompreendido que se tornou violento
por causa dos abusos que sofreu e só queria ser amado. Essas duas abordagens
entram em conflito uma com a outra e o personagem acaba soando vazio.
Não ajuda que o roteiro tenha uma
série de incoerências e elementos mal explicados ou desenvolvidos. Porque, por
exemplo, Cletus só queria dar entrevista para Eddie? O filme nunca dá uma
justificativa crível para isso e soa mais como algo que acontece porque precisa
acontecer para mover a trama. Do mesmo modo, porque exatamente o simbionte
Carnificina precisa matar Venom? É estabelecido desde o início que Carnificina
é naturalmente mais poderoso que Venom, então qual a razão dessa obsessão em
matar o “pai”? Porque Venom fica assustado ao ver Carnificina pela primeira
vez, explicando que é por ele ser vermelho? Qual o motivo do inimigo ser um
simbionte vermelho afetar tanto Venom?
A ação abusa de névoa e espaços
mal iluminados, provavelmente para facilitar os efeitos especiais que criam as
criaturas, mas assim como no anterior são escolhas que tornam tudo
incomodamente escuro. As lutas entre simbiontes continuam parecendo que duas
manchas de tinta foram jogadas em uma folha de papel. São menos confusas que o
filme anterior por causa das cores mais díspares entre as criaturas, entretanto
não empolgam como deveriam. Parte do motivo da ação não empolgar é que o filme
nos diz o tempo todo como esses seres são monstros carniceiros devoradores de
gente, porém nunca vemos essa violência e brutalidade nas cenas de ação, já que
o filme tem classificação indicativa baixa e não pode mostrar nada muito
explícito.
Não esperava nada de Venom: Tempo de Carnificina e ainda
assim o filme conseguiu decepcionar sendo pior que o primeiro em praticamente
tudo.
Escrito por Derek Kolstad,
responsável pelos roteiros dos filmes do John Wick, este Anônimo pode ser resumido como uma espécie de “John Wick tiozão”,
já que tem muitas características similares com os filmes protagonizados por
Keanu Reeves, ainda que este aqui penda também um pouco para o humor. Na trama,
Hutch (Bob Odenkirk) é um pacato homem de meia idade que trabalha como contador
e vive uma tranquila vida suburbana com a esposa e os filhos. Um dia Hutch vê
um grupo de homens assediando uma mulher dentro durante uma viagem de ônibus e
decide interferir, espancando brutalmente todos os envolvidos. O problema é que
um desses homens era irmão de um poderoso chefe da máfia russa, Yulian (Aleksey
Serebryakov), colocando Hutch e sua família como alvo. O que os russos não
sabem é que Hutch tem um passado secreto e que não é tão inofensivo quanto
parece.
Assim como De Volta ao Jogo (2014), primeiro filme do John Wick, o filme
inicialmente se estrutura ao redor do que parece ser uma típica trama de
vingança quando a casa de Hutch é invadida por ladrões, mas logo se mostra uma
história sobre um sujeito que segurou os impulsos homicidas por tempo demais e
agora está mais do que disposto a ir para guerra por qualquer razão. É também
um filme de ação sem muitas firulas em termos de narrativa indo direto ao ponto
de conflito entre Hutch e os russos e usando isso para criar boas cenas de
ação.
A primeira parte de Mestres do Universo: Salvando Etérnia
era muito melhor do que tinha qualquer direito de ser. Explorava as relações
entre os personagens principais e como anos de batalhas entre He-Man e o
Esqueleto afetaram os vários heróis e vilões da série. Essa segunda parte tinha
a difícil missão de manter o mesmo nível e também dar conta satisfatoriamente o
surpreendente ganho da primeira parte.
Essa segunda parte começa do
ponto em que a anterior parou. Esqueleto consegue a Espada do Poder e se
transforma em uma versão mais poderosa de si. Maligna toma o lugar da
Feiticeira no Castelo de Grayskull e o príncipe Adam está gravemente ferido
depois de um ataque do Esqueleto. Os heróis devem se reagrupar e decidir como
lidar com essa versão mais poderosado
Esqueleto ao mesmo tempo em que uma novas crises surgem.
Cowboy Bebop é um dos meus animes
preferidos. Tinha uma ambientação singular que misturava sci-fi com western, film noir e filmes de kung fu embalado por uma marcante trilha
sonora de jazz. Por isso fiquei animado com a possibilidade de uma adaptação
live-action ainda que também tenha ficado preocupado considerando que a maioria
das adaptações de animes é bem ruim.
Aqui o resultado final é irregular, com erros grosseiros para cada elemento que
a série faz direito.
A trama se passa em um futuro no
qual a humanidade colonizou o sistema solar. Em uma sociedade profundamente
desigual e marcada por crimes, caçadores de recompensa prosperam capturando
criminosos que a lei não dá conta de prender. Spike (John Cho) e Jet (Mustafa
Shakir) são dois desses caçadores que vagam pelos planetas atrás de uma
recompensa que garanta a próxima refeição. Conforme caçam criminosos, Spike
acaba sendo confrontando pelo passado que tentou abandonar e fica na mira do
poderoso grupo criminoso conhecido como O Sindicato.
Considero Stephen Sondheim um dos
melhores e talvez o melhor compositor a trabalhar em musicais da Broadway.
Responsável por peças como West Side
Story, Gypsy, A Little Night Music, Sweeney
Todd, Company ou Into The Woods, Sondheim compôs para
alguns dos maiores espetáculos da Broadway, a maioria dos que foram citados
aqui (que representam uma pequena parte da produção dele) inclusive foram
adaptados para cinema com graus variáveis de sucesso. Sondheim nos deixou na
última sexta-feira, 26 de novembro, aos 91 anos e deixa um legado imenso para a
música, o teatro e o cinema.
Como uma pequena homenagem e
celebração ao seu corpus de produção,
resolvi falar um pouco das cinco canções dele que mais gosto. Deixo claro que
faço essa lista com base em preferências pessoais mesmo, daquilo dele que mais
me toca, me impacta. As escolhas também foram baseadas em músicas que servissem
de amostra da versatilidade de Sondheim como compositor, que podia ir de
composições simples a altamente complexas (em geral não é fácil cantar
Sondheim). Em comum, no entanto, todas essas canções são excelentes em externar
aquilo que os personagens sentem. Suas dores, suas dúvidas, seu júbilo e seu
afeto. Muitas vezes tudo isso junto. Mesmo com a dor de termos perdido um
compositor tão singular, encontro conforto em saber que carregarei as músicas
dele comigo para sempre.
Estreia de Lin Manuel Miranda
como diretor, este Tick, Tick...BOOM!
é uma biografia do compositor Jonathan Larson, responsável por Rent um dos musicais teatrais mais
marcantes da década de 1990. Apesar de influente, Larson morreu jovem, antes da
estreia de Rent e nunca viu o sucesso
de seu trabalho.
A trama adapta o monólogo teatral
homônimo escrito e protagonizado por Larson, com cenas do cotidiano do
personagem mais ao estilo de uma biografia tradicional. A narrativa foca na
tentativa de Larson (Andrew Garfield) em emplacar seu primeiro musical,
Superbia, e a pressão que ele sente por estar prestes a fazer trinta anos e não
ter encontrado o sucesso. Então acompanhamos o personagem em sua vida cotidiana
com essas cenas intercaladas pelo personagem performando o espetáculo sobre
esse período da vida dele, como se as cenas no teatro dessem ao espectador a
perspectiva subjetiva do protagonista.
No papel seria um experimento
interessante, com as cenas biográficas e as cenas do teatro dialogando
constantemente. Uma oferecendo o universo interno e subjetivo do personagem e
outra mostrando o universo externo a ele e como Larson se relacionava com as
pessoas ao seu redor. Na prática, no entanto, as cenas biográficas tem pouco a
fazer além de servir como mera ilustração ao monólogo teatral e musical do
personagem. Ele diz algo no palco e entra uma cena ilustrando o que ele disse
sem que essa cena ofereça ao espectador nenhuma nova informação em relação às
cenas no palco.