quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Crítica – Coquetel Explosivo



Em seu cerne Coquetel Explosivo é um filme de ação aloprado que constrói um universo de matadores profissionais que vive à sombra da nossa sociedade. Lembra um pouco a franquia John Wick, mas tem uma personalidade mais amalucada que os filmes estrelados por Keanu Reeves.

Na trama, Sam (Karen Gillan) se tornou uma assassina profissional depois de ser abandonada pela mãe, Scarlet (Lena Headey). A serviço da poderosa organização criminosa conhecida como “A Firma”. Quando uma missão dá errado, Sam se vê protegendo a garota Emily (Chloe Coleman) e na mira da Firma.

A trama demora um pouco a engrenar, estabelecendo os elementos que compõem esse universo excêntrico de sororidades de assassinas e grupos mafiosos secretos, mas quando engrena se entrega a ação amalucada e ultraviolência. A ação é bem criativa, colocando Sam em situações bem inesperadas para esse tipo de filme. Um dos melhores exemplos é a sequência em que Sam enfrenta três assassinos enquanto está com os braços anestesiados, prendendo uma faca e uma arma nas mãos com fita adesiva. É a perfeita síntese de como o filme mistura uma imaginação completamente pirada com doses cavalares de violência e sangue.

A fita também se beneficia do carisma do elenco. De Karen Gillan fazendo uma típica assassina com coração de ouro, passando por Lena Headey como uma ex-assassina que sempre tem um plano na manga. Além da dupla principal, a trama tem participações divertidas de Angela Basset, Carla Gugino e Michelle Yeoh, que também contribuem em algumas cenas de ação. O grandiloquente embate na biblioteca seria um ótimo clímax, mas o filme insiste em não acabar, se alongando mais do que deveria.

O material acaba levando muito à sério a temática sobre pais e filhos da trama, tentando construir alguns momentos de impacto emocional, no entanto eles não funcionam devido a todo o contexto acelerado e amalucado do filme, servindo mais como um freio brusco para o fluxo da narrativa do que algo que opera organicamente com ela. Todo o segmento da lanchonete poderia ser suprimido se a chegada do vilão acontecesse na própria biblioteca e isso daria mais agilidade ao desfecho. Do jeito que está, ao invés de uma conclusão apoteótica, o filme se arrasta em seus minutos finais, acabando com o senso de energia que foi construído até então. Não deixa de ser divertido, mas fica a sensação de que poderia ser mais conciso.

Coquetel Explosivo diverte por conta da criatividade amalucada de suas cenas de ação e por um elenco que consegue dar algum carisma a personagens que, de outra maneira, seriam bem lugar comum.

 

Nota: 6/10


Trailer

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Drops – Ferida

 

Análise Crítica – Ferida

Review Crítica – Ferida
Estreia de Halle Berry como diretora, este Ferida é uma típica história de superação no esporte. A trama é centrada em Jackie (Halle Berry), uma ex-lutadora de MMA que se encontra no fundo do poço, trabalhando como diarista depois de fugir de uma luta. As coisas se complicam quando ela fica sabendo da morte do ex-marido e precisa cuidar do filho pequeno. Com uma criança sob sua responsabilidade, Jackie precisa reconstruir a vida, encontrando uma nova oportunidade para retornar ao meio do MMA e desafiar a atual campeã.

É uma narrativa que mistura Rocky: Um Lutador (1967), com Nocaute (2015) e outros elementos que já vimos em filmes de esporte. Não tem nada que saia do traçado esperado e boa parte dos desenvolvimentos são bem previsíveis, como a eventual relação de Jackie com a treinadora. Isso seria menos problemático se os personagens ao redor da protagonista fossem mais interessantes, mas todos eles parecem existir apenas para gravitar em torno dela, funcionando como obstáculos (o namorado abusivo, a mãe oportunista) ou facilitadores (a treinadora que sempre está disponível para tudo e parece não ter vida própria) e nunca como indivíduos autônomos com suas próprias motivações ou desejos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Crítica – Ataque dos Cães

 Análise Crítica – Ataque dos Cães


Review – Ataque dos Cães
O western é um gênero que fala da realidade histórica dos Estados Unidos. Durante o período clássico hollywoodiano esses filmes ajudavam a construir mitos ao redor da expansão do país rumo ao oeste. Uma expansão na qual o homem branco dominava um ambiente selvagem e bravio com sua coragem e iniciativa. Eram histórias sobre a identidade nacional, o destino do país e sobre a superioridade de um povo. Já tem um tempo que o western adquiriu um caráter mais revisionista, desde produções como Dança Com Lobos (1990) até produções mais recentes como First Cow (2021). Este Ataque dos Cães, novo trabalho da diretora Jane Campion também apresenta um olhar revisionista sobre elementos típicos do western.

Na trama os irmãos George (Jesse Plemons) e Phil (Benedict Cumberbatch) são fazendeiros com um negócio em ascensão. George cuida do lado administrativo enquanto Phil supervisiona o cotidiano dos animais da fazenda. Phil se comporta com um típico caubói de western, um homem estoico e durão, que fala e socializa pouco e tem orgulho de seu bom manejo da terra e dos animais. A relação entre os dois irmãos é abalada quando George se casa com a viúva Rose (Kirsten Dunst), levando ela e o filho Pete (Kodi Smit-McPhee) para morar na fazenda. Aos poucos Phil começa a atormentar Rose e Pete, ridicularizando Rose por suas incursões musicais fracassadas e Pete por seus modos afeminados ou sua paixão por ciência.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Crítica – Identidade

 

Análise Crítica – Identidade

Review – Identidade
Há uma quantidade enorme de filmes que usam fotografia em preto e branco ou uma taxa de aspecto 4:3 para parecerem mais “artísticos” ou meramente referenciar o cinema de outrora. Na maioria dos casos é um floreio estilístico que pouco acrescenta ao produto final. Neste Identidade, no entanto, é essencial para a discussão sobre colorismo e identidade que o filme tenta construir.

Estreia da atriz Rebecca Hall como diretora, a trama adapta um romance de Nella Larsen, e acompanha Irene (Tessa Thompson), uma mulher negra na Nova Iorque de 1920. Um dia Irene reencontra uma amiga de infância, Clare (Ruth Negga), e descobre que ela vive se passando por branca, inclusive tendo casado com um homem branco fazendo ele acreditar que ela era branca.

O reencontro desperta emoções em ambas. De um lado Irene, que assim como Clare tem uma pele mais clara e conseguiria se passar como branca, se sente incomodada com a possibilidade de esconder quem é, embora se sinta atraída pelas facilidades e segurança de uma vida de branca. Por outro lado, Clare vê em Irene um refúgio, uma possibilidade de ser ela mesma integralmente sem precisar fingir ou temer ser descoberta.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Crítica – Venom: Tempo de Carnificina

 

Análise Crítica – Venom: Tempo de Carnificina

Review – Venom: Tempo de Carnificina
O primeiro Venom (2018) não era lá grande coisa, mas encerrava com um gancho para continuação que talvez rendesse algo melhorzinho por conta da presença do serial killer Cletus Kasady. Pois bem, este Venom: Tempo de Carnificina tenta pegar o gancho final do primeiro e não faz nada de muito interessante.

Na trama, Eddie Brock (Tom Hardy) consegue uma entrevista exclusive com o serial killer Cletus Kasady (Woody Harrelson), mas durante a conversa Brock é mordido por Kasady, que fica com o pedaço do simbionte de Eddie. Usando o novo simbionte para se tornar o perigoso Carnificina, Cletus foge da cadeia e começa a causar destruição por onde passa. Cabe a Eddie Brock e ao simbionte Venom deter a nova ameaça.

De cara incomoda como a relação entre Brock e Venom parece estagnada em relação aos eventos do filme anterior. No final do primeiro Brock parecia ter aceito a condição de “protetor letal” permitindo que Venom devorasse bandidos. Aqui, no entanto, tudo parece ter voltado à estaca zero, com o filme dando a desculpa de que as autoridades ainda estavam à procura do simbionte por causa dos eventos do filme anterior, sendo que nada disso tinha sido dito no final do primeiro filme quando Eddie deixa Venom devorar um assaltante. Assim, ao invés de mover adiante a relação dos personagens, tudo soa estagnado, repetindo o que já tinha sido feito no primeiro filme, sendo que o primeiro filme não é exatamente bom.

Muitos defeitos do anterior também retornam, como o fato de que o texto não consegue fazer Eddie soar como um competente repórter investigativo. Porque inicialmente ele recusaria uma exclusiva com um serial killer? Porque ele aceitaria publicar uma fala de Cletus que claramente é uma mensagem cifrada sendo que isso poderia ser um código para que crimes fossem cometidos em nome dele? É um tipo de coisa que deveria passar pela cabeça de um jornalista experiente, mas Brock continua a agir como um amador estúpido.

Do mesmo modo, a relação entre Venom e Eddie continua sendo apresentada mais como uma espécie de comédia romântica e menos como um sujeito lidando com um parasita alienígena querendo controlar seu corpo. Ao fazer Venom engraçadinho, o filme diminui a capacidade intimidadora da criatura como um predador voraz e letal, impedindo que Venom seja aqui a presença imponente que o texto visa construir.

Qualquer um que já tenha assistido Assassinos por Natureza (1994) sabe que Woody Harrelson é perfeitamente capaz de fazer um serial killer caipira cruzando o país ao lado de um interesse romântico igualmente letal. A escalação dele como Cletus Kasady seria um acerto fácil, no entanto, não funciona por conta de um texto que não sabe fazer com o personagem. Kasady muda de personalidade o tempo todo, uma hora sendo enquadrado como um completo lunático e sádico, um psicopata cruel que busca destruição e dor. Em outros momentos o filme tenta transformar Cletus em uma vítima das circunstâncias, um coitado solitário e incompreendido que se tornou violento por causa dos abusos que sofreu e só queria ser amado. Essas duas abordagens entram em conflito uma com a outra e o personagem acaba soando vazio.

Não ajuda que o roteiro tenha uma série de incoerências e elementos mal explicados ou desenvolvidos. Porque, por exemplo, Cletus só queria dar entrevista para Eddie? O filme nunca dá uma justificativa crível para isso e soa mais como algo que acontece porque precisa acontecer para mover a trama. Do mesmo modo, porque exatamente o simbionte Carnificina precisa matar Venom? É estabelecido desde o início que Carnificina é naturalmente mais poderoso que Venom, então qual a razão dessa obsessão em matar o “pai”? Porque Venom fica assustado ao ver Carnificina pela primeira vez, explicando que é por ele ser vermelho? Qual o motivo do inimigo ser um simbionte vermelho afetar tanto Venom?

A ação abusa de névoa e espaços mal iluminados, provavelmente para facilitar os efeitos especiais que criam as criaturas, mas assim como no anterior são escolhas que tornam tudo incomodamente escuro. As lutas entre simbiontes continuam parecendo que duas manchas de tinta foram jogadas em uma folha de papel. São menos confusas que o filme anterior por causa das cores mais díspares entre as criaturas, entretanto não empolgam como deveriam. Parte do motivo da ação não empolgar é que o filme nos diz o tempo todo como esses seres são monstros carniceiros devoradores de gente, porém nunca vemos essa violência e brutalidade nas cenas de ação, já que o filme tem classificação indicativa baixa e não pode mostrar nada muito explícito.

Não esperava nada de Venom: Tempo de Carnificina e ainda assim o filme conseguiu decepcionar sendo pior que o primeiro em praticamente tudo.

 

Nota: 3/10


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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Crítica – Anônimo

 

Análise Crítica – Anônimo

Review – Anônimo
Escrito por Derek Kolstad, responsável pelos roteiros dos filmes do John Wick, este Anônimo pode ser resumido como uma espécie de “John Wick tiozão”, já que tem muitas características similares com os filmes protagonizados por Keanu Reeves, ainda que este aqui penda também um pouco para o humor. Na trama, Hutch (Bob Odenkirk) é um pacato homem de meia idade que trabalha como contador e vive uma tranquila vida suburbana com a esposa e os filhos. Um dia Hutch vê um grupo de homens assediando uma mulher dentro durante uma viagem de ônibus e decide interferir, espancando brutalmente todos os envolvidos. O problema é que um desses homens era irmão de um poderoso chefe da máfia russa, Yulian (Aleksey Serebryakov), colocando Hutch e sua família como alvo. O que os russos não sabem é que Hutch tem um passado secreto e que não é tão inofensivo quanto parece.

Assim como De Volta ao Jogo (2014), primeiro filme do John Wick, o filme inicialmente se estrutura ao redor do que parece ser uma típica trama de vingança quando a casa de Hutch é invadida por ladrões, mas logo se mostra uma história sobre um sujeito que segurou os impulsos homicidas por tempo demais e agora está mais do que disposto a ir para guerra por qualquer razão. É também um filme de ação sem muitas firulas em termos de narrativa indo direto ao ponto de conflito entre Hutch e os russos e usando isso para criar boas cenas de ação.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Crítica – Mestres do Universo Salvando Etérnia: Parte 2

 

Análise Crítica – Mestres do Universo Salvando Etérnia: Parte 2

Review Crítica – Mestres do Universo Salvando Etérnia: Parte 2
A primeira parte de Mestres do Universo: Salvando Etérnia era muito melhor do que tinha qualquer direito de ser. Explorava as relações entre os personagens principais e como anos de batalhas entre He-Man e o Esqueleto afetaram os vários heróis e vilões da série. Essa segunda parte tinha a difícil missão de manter o mesmo nível e também dar conta satisfatoriamente o surpreendente ganho da primeira parte.

Essa segunda parte começa do ponto em que a anterior parou. Esqueleto consegue a Espada do Poder e se transforma em uma versão mais poderosa de si. Maligna toma o lugar da Feiticeira no Castelo de Grayskull e o príncipe Adam está gravemente ferido depois de um ataque do Esqueleto. Os heróis devem se reagrupar e decidir como lidar com essa versão mais poderosa  do Esqueleto ao mesmo tempo em que uma novas crises surgem.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Crítica – Cowboy Bebop

 

Review – Cowboy Bebop

Análise Crítica – Cowboy Bebop
Cowboy Bebop é um dos meus animes preferidos. Tinha uma ambientação singular que misturava sci-fi com western, film noir e filmes de kung fu embalado por uma marcante trilha sonora de jazz. Por isso fiquei animado com a possibilidade de uma adaptação live-action ainda que também tenha ficado preocupado considerando que a maioria das adaptações de animes é bem ruim. Aqui o resultado final é irregular, com erros grosseiros para cada elemento que a série faz direito.

A trama se passa em um futuro no qual a humanidade colonizou o sistema solar. Em uma sociedade profundamente desigual e marcada por crimes, caçadores de recompensa prosperam capturando criminosos que a lei não dá conta de prender. Spike (John Cho) e Jet (Mustafa Shakir) são dois desses caçadores que vagam pelos planetas atrás de uma recompensa que garanta a próxima refeição. Conforme caçam criminosos, Spike acaba sendo confrontando pelo passado que tentou abandonar e fica na mira do poderoso grupo criminoso conhecido como O Sindicato.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Reflexões Boêmias: 5 Canções de Sondheim

 Reflexões Boêmias: 5 Canções de Sondheim


Considero Stephen Sondheim um dos melhores e talvez o melhor compositor a trabalhar em musicais da Broadway. Responsável por peças como West Side Story, Gypsy, A Little Night Music, Sweeney Todd, Company ou Into The Woods, Sondheim compôs para alguns dos maiores espetáculos da Broadway, a maioria dos que foram citados aqui (que representam uma pequena parte da produção dele) inclusive foram adaptados para cinema com graus variáveis de sucesso. Sondheim nos deixou na última sexta-feira, 26 de novembro, aos 91 anos e deixa um legado imenso para a música, o teatro e o cinema.

Como uma pequena homenagem e celebração ao seu corpus de produção, resolvi falar um pouco das cinco canções dele que mais gosto. Deixo claro que faço essa lista com base em preferências pessoais mesmo, daquilo dele que mais me toca, me impacta. As escolhas também foram baseadas em músicas que servissem de amostra da versatilidade de Sondheim como compositor, que podia ir de composições simples a altamente complexas (em geral não é fácil cantar Sondheim). Em comum, no entanto, todas essas canções são excelentes em externar aquilo que os personagens sentem. Suas dores, suas dúvidas, seu júbilo e seu afeto. Muitas vezes tudo isso junto. Mesmo com a dor de termos perdido um compositor tão singular, encontro conforto em saber que carregarei as músicas dele comigo para sempre.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Crítica – Tick, Tick...BOOM!

 

Análise Crítica – Tick, Tick...BOOM!

Review – Tick, Tick...BOOM!
Estreia de Lin Manuel Miranda como diretor, este Tick, Tick...BOOM! é uma biografia do compositor Jonathan Larson, responsável por Rent um dos musicais teatrais mais marcantes da década de 1990. Apesar de influente, Larson morreu jovem, antes da estreia de Rent e nunca viu o sucesso de seu trabalho.

A trama adapta o monólogo teatral homônimo escrito e protagonizado por Larson, com cenas do cotidiano do personagem mais ao estilo de uma biografia tradicional. A narrativa foca na tentativa de Larson (Andrew Garfield) em emplacar seu primeiro musical, Superbia, e a pressão que ele sente por estar prestes a fazer trinta anos e não ter encontrado o sucesso. Então acompanhamos o personagem em sua vida cotidiana com essas cenas intercaladas pelo personagem performando o espetáculo sobre esse período da vida dele, como se as cenas no teatro dessem ao espectador a perspectiva subjetiva do protagonista.

No papel seria um experimento interessante, com as cenas biográficas e as cenas do teatro dialogando constantemente. Uma oferecendo o universo interno e subjetivo do personagem e outra mostrando o universo externo a ele e como Larson se relacionava com as pessoas ao seu redor. Na prática, no entanto, as cenas biográficas tem pouco a fazer além de servir como mera ilustração ao monólogo teatral e musical do personagem. Ele diz algo no palco e entra uma cena ilustrando o que ele disse sem que essa cena ofereça ao espectador nenhuma nova informação em relação às cenas no palco.