quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Drops – Mãe x Androides

 

Análise crítica – Mãe x Androides

Review – Mãe x Androides
Misturando elementos de Exterminador do Futuro com Filhos da Esperança (2006) e vários outros cenários distópicos, Mãe x Androides é uma ficção científica que nunca consegue dar personalidade própria ao cenário apocalíptico que constrói. Na verdade, durante boa parte do filme sequer há de fato uma sensação palpável de urgência ou de perigo iminente.

A trama acompanha Georgia (Chloe Grace Moretz) uma jovem grávida de nove meses que junto do com o namorado, Sam (Algee Smith), cruzam o país em busca de um lugar seguro contra os robôs assassinos que tentam exterminar a humanidade. Conforme Georgia se aproxima do momento do parto, as coisas vão ficando mais difíceis.

Com quase duas horas de duração é impressionante como o filme passa longos segmentos sem que absolutamente nada aconteça ou em situações inanes que não levam a trama ou os personagens a lugar algum. Quando algo de fato acontece, em geral são situações forçadas de tensão, resoluções que ocorrem por conveniência do roteiro ou os personagens tomando decisões completamente estúpidas. Um exemplo é quando Sam e Georgia estão de moto e começam a ser perseguidos pelos robôs. Sam tem a brilhante ideia de deixar Georgia (lembrem ela está grávida de nove meses), sozinha no mato completamente desarmada enquanto ele tenta distrair os perseguidores. É claro que dá errado.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Crítica – Bar Doce Lar

 

Análise Crítica – Bar Doce Lar

Review – Bar Doce Lar
Depois de dirigir dois filmes pretensiosos (Suburbicon e Céu da Meia Noite) que não alcançavam aquilo que ambicionavam, George Clooney se volta para um material mais leve com este Bar Doce Lar. Típico feel good movie feito para a plateia sair se sentindo bem quando os créditos subirem, a trama é baseada na autobiografia de J.R Moehringer.

Depois que a mãe perde o emprego, J.R (Tye Sheridan) se muda para a casa do avô no interior dos Estados Unidos. Lá ele se aproxima do tio Charlie (Ben Affleck), dono de um bar local e começa a tê-lo como figura paterna, já que seu pai biológico é um locutor de rádio que está sempre ausente. A mãe de J.R quer que ele se torne advogado, mas com a convivência com Charlie o jovem passa a desejar se tornar um escritor.

É a típica história de superação, sobre alguém que sai da pobreza para obter sucesso, reproduzindo o mito liberal de que basta ter força de vontade que tudo dá certo. Como outros filmes dessa natureza, a trama pouco se detêm a todas as condicionantes sociais, políticas e culturais que colocaram a família de J.R em uma situação de pobreza, dando a impressão de que eles são pobres simplesmente porque antes de J.R ninguém teve vontade o bastante para mudar as coisas. Por outro lado, o texto evita ficar a todo momento mostrando como eles são miseráveis e tudo é ruim, escapando da armadilha de “pornomiséria” que filmes desse tipo caem.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Reflexões Boêmias: Piores Filmes de 2021

Piores Filmes de 2021

Todo começo de ano nos leva a fazer do balanço do ano que passou. De tudo que vivemos, experimentamos, do que valeu a pena e do que foi péssimo. Nesse sentido, é inevitável não pensar em todos os filmes que assistimos e lembrar daqueles mais nos marcaram, para melhor e para o pior. Como eu gosto de dar as más notícias primeiro, costumo começar listando os piores, as mais horrendas produções, o lixo do lixo, produtos tão radioativos que fariam um braço crescer na sua testa. É nesse clima que dou início à minha lista de piores filmes de 2021. A lista leva em conta as produções que foram lançadas no circuito comercial brasileiro (streaming ou cinema) em 2021.

 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Crítica – A Filha Perdida

 Análise Crítica – A Filha Perdida


Review – A Filha Perdida
Dirigido por Maggie Gyllenhaal adaptando um romance escrito por Elena Ferrante, A Filha Perdida mescla drama com algumas pitadas de suspense para falar a respeito do peso da maternidade sobre as mulheres. Normalmente o cinema costuma romantizar demais a maternidade, retratando como algo mágico, dourando os problemas e ignorando o quanto da responsabilidade de criar e cuidar dos filhos é imposta à mulher. Aqui, Gyllenhaal tenta mostrar um olhar com mais nuance deste aspecto da vida feminina.

A trama acompanha Leda (Olivia Colman), uma professora de literatura que está de férias no litoral da Grécia. Lá ela começa a prestar atenção em Nina (Dakota Johnson), uma jovem mãe com um marido abusivo e que está tendo um caso com o marido da melhor amiga, Callie (Dagmara Dominczyk). Quando a filha de Nina some na praia, Leda ajuda a encontrar a menina e começa a se aproximar de Nina, conversando com ela e com a grávida Callie sobre maternidade. Isso faz Leda remoer segredos do seu passado como mãe de duas garotas.

Olivia Colman é ótima em construir Leda como alguém que chegou a um ponto na vida em que não está disposta a ceder mais nada. Depois de passar boa parte da vida colocando as necessidades de outros em primeiro lugar, a professora não faz nada que não queira fazer, nem aceita que outros estraguem sua experiência, algo evidenciado na cena em que Callie pede para Leda troque de lugar ou na cena em que Leda vai ao cinema.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Crítica – Shiva Baby

 

Análise Crítica – Shiva Baby

Review – Shiva Baby
Primeiro longa metragem da diretora Emma Seligman, Shiva Baby é um daqueles filmes que chega a ser difícil precisar a qual gênero se encaixa. Ele transita por comédia, drama e até mesmo terror com muita naturalidade, nunca perdendo a coesão, e de modo bastante singular.

Adaptando seu curta-metragem de mesmo nome, Seligman conta a história de Danielle (Rachel Sennott), uma jovem universitária judia que vai com os pais ao funeral de um conhecido distante. No funeral ela precisa lidar com os comentários de parentes que pouco vê e que questionam sua aparência e escolhas profissionais, além da ex-namorada de juventude Maya (Molly Gordon), com quem é sempre comparada, sendo que Maya está se saindo melhor profissionalmente. As coisas se complicam, no entanto, quando ela vê Max (Danny Deferrari), seu “sugar daddy” chegando ao evento.

Toda a trama se passa durante esse funeral e a narrativa consegue manter as coisas em movimento e interessantes apesar de confinada a esse único espaço. Na verdade, a limitação espacial serve para ampliar o senso de aprisionamento de Danielle, que se sente confinada naquele lugar com um monte de gente que parece existir apenas para lhe mostrar o quanto ela é incapaz e inadequada.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Crítica – Cobra Kai: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Cobra Kai: 4ª Temporada

Review – Cobra Kai: 4ª Temporada
A terceira temporada de Cobra Kai terminou com a promessa de Johnny (William Zabka) e Daniel (Ralph Macchio) se unindo para enfrentar o dojo de Kreese (Martin Kove). Pois essa quarta temporada segue exatamente neste ponto, com os dois antigos rivais tentando se unir contra a ameaça de Kreese, que agora tem a ajuda do antigo parceiro Terry Silver (Thomas Ian Griffith).

Embora o retorno de Silver, vilão de Karate Kid 3: O Desafio Final (1989), seja um passo relativamente lógico para a trama, tinha minhas dúvidas em relação à inserção do personagem aqui considerando que o terceiro filme é muito ruim e Silver não era nada além de um psicopata histérico. Felizmente Silver acaba funcionando dentro da lógica da série, tendo sua relação com Kreese aprofundada, mostrando como o criador do Cobra Kai manipula o trauma e sentimento de culpa de Silver para mantê-lo sob controle.

Assim, Silver é menos um maluco histérico que é maligno sem nenhuma razão e mais um sujeito instável por conta de traumas e culpa do passado. A série ainda justifica de maneira divertida a conduta de Silver em Karate Kid 3 ao recorrer ao argumento do “foi mal, tava doidão” conforme o personagem admite que passou boa parte da década de oitenta sob efeito de cocaína.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Crítica – Matrix Resurrections

 

Análise Crítica – Matrix Resurrections

Review – Matrix Resurrections
Eu assisti incontáveis vezes Matrix (1999) impressionado pelo estilo visual e por seus temas de simulacro e livre arbítrio. As duas continuações, no entanto, não tiveram o mesmo impacto. O segundo filme apresentava boas cenas de ação, mas se embolava na trama e construção de universo e o terceiro ruía sob o peso de suas próprias pretensões. Diante da decepção das continuações, não estava lá muito empolgado para este Matrix Resurrections. Depois de anos sem demonstrar interesse em retornar a este universo, a ideia de que Lana Wachowski (dessa vez sem a irmã, Lilly) fazer um novo filme parecia mais uma tentativa de cair nas boas graças da Warner depois de sucessivos fracassos financeiros (como o horrendo O Destino de Júpiter), do que em interesse artístico.

Claro, o descontentamento com o atual estado da indústria cultural é visível desde os primeiros minutos do filme, cheio de piadinhas autorreferentes sobre reboots e até cita Matrix e a Warner nominalmente. É como se Lana quisesse nos dizer “olha gente, eu sei que todo mundo tá de saco cheio de reboots, eu também tô, o que faço aqui é um reboot descolado, olhem como sou legal”. Só que não é. Apesar de conduzir tudo como um grande manifesto contra o atual estado de Hollywood, soa mais como um chilique infantil de um adolescente forçado a lavar os pratos do que uma desconstrução dessa reciclagem criativa porque, bem, não há desconstrução.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Crítica – Nomadland

 

Análise Crítica – Nomadland

Review – Nomadland
Dirigido por Chloe Zhao, Nomadland faz um retrato de um Estados Unidos pouco visto e pouco discutido. A parte profunda da nação, às margens, mas que é essencial para o modelo de produção contemporâneo e reflete a natureza da exploração do trabalho atual. Não que Zhao tenha aqui feito um filme denúncia ou que ele exista apenas para falar sobre o capitalismo tardio. O que a diretora quer é entender a vida desses sujeitos, como eles dão sentido a ela, o que move esses indivíduos a assumir essa posição à margem ao invés de tentarem se adequar.

A trama gira em torno de Fern (Frances McDormand), uma mulher na casa dos sessenta anos que passou a morar em uma van e viver como nômade depois que a economia de sua cidade entrou em colapso. Agora Fern vive de trabalhos temporários, rodando o país em busca desses pequenos bicos para poder se sustentar. Em sua jornada, ela encontra apoio em comunidades formadas por outros nômades, tentando lidar com a solidão e a falta de recursos.

Seria fácil reduzir essa história a uma exploração fetichista da pobreza, mostrando apenas o sofrimento e as dificuldades dessas pessoas reduzindo tudo a uma “pornomiséria” (como o péssimo Era Uma Vez um Sonho). Felizmente o olhar de Zhao evita isso e segue com sensibilidade as vidas de suas personagens. Claro, o filme não deixa de mostrar como essas pessoas são fruto de um capitalismo cada vez mais exploratório que precariza as relações de trabalho para dar vantagens a empregadores e consumidores, reduzindo o trabalhador a um animal de carga que não tem outra escolha senão trabalhar sem parar. Por outro lado, Zhao consegue encontrar a beleza, o afeto e a alegria da existência dessas pessoas, mostrando que não estamos diante de meros coitadinhos.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Crítica – Apresentando os Ricardos

 

Análise Crítica – Apresentando os Ricardos

Review – Apresentando os Ricardos
Eu sei que nem todo mundo aprecia o estilo de Aaron Sorkin, seja sua escrita, seja suas incursões recentes como diretor (eu gosto bastante de Os 7 de Chicago, embora não agrade muita gente), mas desde Questão de Honra (1992) que me deixo encantar pela verborragia característica de Sorkin. Digo isso porque apesar de gostar bastante do olhar dele e também do objeto deste Apresentando os Ricardos, o casal Lucille Ball e Desi Arnaz, não consigo afastar a sensação de que Sorkin talvez não tenha sido a melhor pessoa para lidar com esse projeto, seja como roteirista ou diretor.

A trama foca em uma semana específica da vida de Lucille (Nicole Kidman) e Desi (Javier Bardem), quando Lucille é acusada de ser comunista, o que põe em risco o programa do casal, I Love Lucy, a série de maior audiência da época. Enquanto seguem os preparativos para gravar o próximo episódio, o casal se preocupa com a carreira de Lucille e a possibilidade de ainda terem um programa quando tudo passar.

O recorte de uma semana por si só poderia servir como um microcosmo para todos os problemas do casal naquele momento, com as disputas por controle da série com a emissora, os problemas matrimoniais de Desi e Lucy e o fenômeno cultural que era I Love Lucy. O problema é que Sorkin não se contenta com esse recorte e passa a se deslocar temporalmente para o passado, mostrando o início da relação entre Desi e Lucy, e também para o futuro, mostrando os roteiristas da série, já idosos, comentando sobre a fatídica semana.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Crítica – Não Olhe Para Cima

 

Análise Crítica – Não Olhe Para Cima

Review – Não Olhe Para Cima
É curioso como nos acostumamos a viver é uma espécie de distopia maluca. Não me refiro apenas à pandemia, mas todo o contexto social e político que estamos vivendo. Isso se aplica aos Estados Unidos e também aqui no Brasil. Este Não Olhe Para Cima tenta falar um pouco sobre esse estado de coisas em que existimos, mas faz isso de maneira óbvia e excessivamente solene, quase como se esquecesse se tratar de uma comédia.

A trama começa quando a estudante de doutorado Kate (Jennifer Lawrence) descobre um enorme cometa em rota de colisão com a Terra. Seu professor, o Dr. Mindy (Leonardo DiCaprio) confirma os cálculos e alerta as autoridades, já que se nada for feito, todos morreremos em seis meses. O problema é que as autoridades e a mídia não estão exatamente preocupadas em resolver o problema.

Se em filmes catástrofe típicos é a união da humanidade contra os desafios da natureza que leva ao triunfo, aqui a humanidade é uma calamidade maior do que a própria natureza. O mundo não acaba porque lidamos com uma ameaça além de nossa capacidade, o mundo acaba porque somos idiotas. O que é mostrado aqui poderia ser entendido como uma metáfora para o negacionismo científico relativo às mudanças climáticas ou à pandemia, o problema é que enquanto sátira falta um senso de imprevisibilidade e caos para que a subversão cômica acontece e falta substância para funcionar plenamente como drama.