quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Crítica – Mães Paralelas

 

Análise Crítica – Mães Paralelas

Review – Mães Paralelas
Mais novo trabalho de Pedro Almodóvar, Mães Paralelas parte de uma das mais batidas premissas do melodrama: a troca de bebês. Apesar disso, o diretor espanhol insere outros elementos que afastam seu filme de uma mera reprodução de clichês e traz outras ponderações para além do tema da maternidade.

A trama é centrada em Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), duas mulheres cujo parto ocorre no mesmo dia e dividem um quarto de hospital. Quando Janis volta para casa, o pai de sua filha, Arturo (Israel Elejalde) diz não reconhecer a criança, achando não ser o pai. Janis faz um teste de DNA e descobre que ela também não é a mãe do bebê que levou para casa, desconfiando que sua filha foi trocada com a de Ana na maternidade. Assim, ela eventualmente procura Ana, mas ao saber que o bebê que Ana levou para casa morreu, Janis desiste de contar a verdade, mas traz Ana para trabalhar de babá da filha. Aos poucos as duas se aproximam e outros sentimentos afloram.

Como disse antes, o filme podia focar nessa tragédia da troca dos bebês e no sentimento que isso gera, mas parte desse microcosmo para falar sobre maternidade e memória. Sobre o peso das escolhas que mulheres fazem (ou são forçadas a fazer quando se tornam mães) e da importância da memória e conhecimento sobre suas origens. Janis é uma mulher que não conheceu o pai e cuja família é composta de gerações de mães solteiras. Ana não tem certeza do pai de sua filha, que pode ser fruto de um estupro e tem uma relação distante com a mãe que a deixou com o pai para tentar ser atriz. São pessoas marcadas pelo que não conhecem sobre si mesmas ou suas famílias e, por isso, sentem-se à deriva em muitos momentos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Crítica – No Ritmo do Coração

 

Análise Crítica – No Ritmo do Coração

Review – No Ritmo do Coração
Em seu cerne, No Ritmo do Coração é a típica história de um jovem que busca o sonho de ser artista, mas enfrenta resistência da família por ir contra os planos daquilo que esperavam. É algo bem prototípico, presente desde O Cantor de Jazz (1927), um dos primeiros filmes falados. No Ritmo do Coração, no entanto, se diferencia ao falar sobre a experiência de PCDs, especificamente uma família de surdos.

Na trama, Ruby (Emilia Jones) está terminando o colegial e é incentivada por um professor a tentar faculdade de canto. Ela é a única pessoa capaz de ouvir em sua casa, com o pai, Frank (Troy Kutsur), a mãe, Jackie (Marlee Matlin), e o irmão Leo (Daniel Durant), sendo surdos. A família de Ruby trabalha com pesca e eles se acostumaram a ter Ruby como voz e intérprete no seu cotidiano de trabalho. Assim, quando ela começa a se afastar da família para se preparar para tentar uma bolsa de estudos para a faculdade, isso cria conflitos em casa.

Seria aquela estrutura já conhecida da jovem em busca de um sonho que já ouvimos tantas vezes, mas aqui essa trama familiar é usada para falar sobre as experiências das pessoas surdas em nossa sociedade e como é viver em uma família assim. Há uma naturalidade enorme na convivência entre o elenco que interpreta o núcleo familiar principal, nos fazendo acreditar que são de fato pessoas que viveram sempre juntas. O trabalho de Troy Kutsur se destaca, fazendo de Frank um sujeito endurecido pelas dificuldades da vida, mas ainda assim um sujeito bem humorado que ama a esposa e os filhos. Eugenio Derbez também traz leveza e humor como o professor de música de Ruby.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Crítica – Pacificador: 1ª Temporada

 

Análise Crítica – Pacificador: 1ª Temporada

Review – Pacificador: 1ª Temporada
Quando a série do Pacificador foi anunciada antes mesmo da estreia de O Esquadrão Suicida (2021), parecia que mais uma vez a Warner/DC estava metendo os pés pelas mãos forçando o seu universo compartilhado sem saber se funcionaria. Felizmente não só o filme do Esquadrão dirigido por James Gunn é bem bacana, como série surpreende e consegue humanizar um personagem que, de outro modo, seria meramente um babaca fascistoide.

Depois dos eventos de O Esquadrão Suicida, o Pacificador (John Cena) sai do hospital e é mais uma vez recrutado pela Argus para caçar as “borboletas”, seres alienígenas que estão controlando a mente de pessoas em posições de poder. A nova missão também coloca o personagem em rota de colisão com o pai, Auggie (Robert Patrick), que lidera uma gangue de supremacistas brancos.

Desde as primeiras cenas quando um faxineiro do hospital faz piada com o fato do Pacificador ser um exterminador de minorias, já fica claro que James Gunn quer usar essa trama e o personagem como um indiciamento desses heróis violentos que acham que matar os inimigos resolve tudo. Assim como em O Esquadrão Suicida, o roteiro usa ironia para apontar o paradoxo do raciocínio do Pacificador em matar qualquer um em nome da paz e como esse discurso é algo que cabe mais a tiranos ou genocidas do que um super-herói.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Crítica – Inventando Anna

 

Análise – Inventando Anna

Review – Inventando Anna
O final de uma narrativa é muito decisivo na nossa experiência. Por melhor que seja a trama, ela pode ser prejudicada por um final ruim. De maneira semelhante, um bom final pode nos fazer perdoar os problemas que a narrativa apresentou ao longo do percurso. A minissérie Inventando Anna, produzida por Shonda Rhimes se encaixa mais na primeira categoria, com uma ótima construção de suas personagens, mas perde força em seu último episódio.

A trama é baseada em eventos reais, contando a história de Anna Delvey (Julia Garner), uma jovem de origem russa que ganhou destaque na alta sociedade de Nova Iorque ao fingir se passar por uma rica herdeira alemã. Ao longo de meses ela circulou na alta roda da cidade e quase conseguiu empréstimos milionários de grandes bancos para construir um clube social de luxo. Eventualmente Anna é presa por conta das várias pessoas e empresas que engambelou em seus esquemas, despertando a atenção da jornalista Vivian Kent (Anna Chlumsky) que decide fazer uma reportagem sobre ela.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Crítica – Reacher: 1ª Temporada

 

Análise Crítica – Reacher: 1ª Temporada

Review – Reacher: 1ª Temporada

Não esperava grande coisa de Reacher. Os filmes com o personagem que foram estrelados por Tom Cruise eram bem básicos e se sustentavam basicamente pelo carisma do astro. Não tinha muita esperança que sem Cruise ou um grande nome como ele o material pudesse resultar em grande coisa. Depois de assistir toda a primeira temporada, confesso que é melhor do que imaginei.

Na trama, Jack Reacher (Alan Ritchson) está viajando pelo interior dos Estados Unidos quando chega a uma pequena cidade no interior da Geórgia. Lá, acontece um assassinato e como ele é o único forasteiro, logo é considerado suspeito. Agora ele precisa desvendar o crime e provar a inocência. Para isso terá a ajuda do detetive Finlay (Michael Goodwin) e da policial Roscoe (Willa Fitzgerald).

A trama tem alguns eventos excessivamente convenientes no primeiro episódio, mas, no geral, é hábil no manejo da intriga e na criação de uma atmosfera de suspense na qual não sabemos em quem confiar e qualquer um pode estar envolvido na grande conspiração que corrompe a cidade. A temporada consegue nos manter envolvidos no mistério e também trazer algumas reviravoltas inesperadas que constantemente nos fazer reavaliar o que sabemos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Crítica – Spencer

 

Análise Crítica – Spencer

Review – Spencer
Depois de falar sobre Jaqueline Kennedy em Jackie (2016), o diretor chileno Pablo Larraín agora se volta para falar de outra figura feminina do universo político/midiático neste Spencer, acompanhando a princesa Diana. A trama, baseada em eventos reais, acompanha os últimos dias de Diana (Kristen Stewart) na corte britânica até sua eventual decisão de deixar tudo e pedir divórcio do príncipe Charles.

A escolha da escala de planos já mostra muito como Diana se sente em meio à corte. A maioria dos planos se divide entre tomadas bastante abertas que mostram Diana sozinha nos grandes salões ou campinas, evidenciando seu isolamento do resto da corte. Até mesmo a cena em que ela conversa com Charles (Jack Farthing) ao redor de uma mesa de sinuca opta por enquadrá-los à distância, como que mostrando o quanto eles estão distanciados enquanto casal.

O outro tipo de enquadramento mais comum é o super close, com a câmera praticamente invadindo o espaço pessoal de Diana, não lhe dando nenhum espaço e criando um sentimento de opressão, como se ele estivesse sendo sempre observada e vigiada de perto, não dando a ela espaço para respirar. Sem um momento de privacidade ou algum instante que não seja devidamente controlado ou cronometrado pela corte. A todo momento a protagonista é interpelada por criados e funcionários que lhe lembram onde deve estar, o que vestir ou como se comportar. A impressão é que Diana é mais uma prisioneira do lugar do que uma habitante.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Crítica – Uncharted: Fora do Mapa

Análise Crítica – Uncharted: Fora do Mapa


Review – Uncharted: Fora do Mapa
Apesar de adorar os games de Uncharted, não tive nenhuma empolgação quando esta adaptação para os cinemas, Uncharted: Fora do Mapa (sim, colocaram esse subtítulo redundante), foi anunciada. Os jogos já eram cinematográficos por natureza e não imagino o que a transição para live action poderia acrescentar em termos de narrativa, personagens ou ação. Tendo visto o filme, percebo que tinha razão.

A trama acompanha um jovem Nathan Drake (Tom Holland) conhecendo Sully (Mark Wahlberg) pela primeira vez e embarcando na primeira missão juntos. A dupla busca o tesouro de Magalhães, perdido há séculos. Eles, no entanto, não são os únicos perseguindo o tesouro, já que o perigoso milionário Moncada (Antonio Banderas) também busca o ouro perdido.

A primeira coisa que chama atenção é que o filme não parece se decidir em fazer algo totalmente novo ou simplesmente seguir os jogos. A ideia de recontar a história de Nathan, começando a cronologia do zero indicaria que o filme quer seguir seu próprio caminho. No entanto, o filme também insere situações e cenas de ação tiradas diretamente dos jogos, como a luta no avião do terceiro jogo ou o navio encalhado numa caverna do quarto jogo. Se a ideia era começar do zero, porque já reproduzir situações de aventuras com um Nathan mais experiente? Por outro lado, se queriam reproduzir os jogos, porque não adaptar diretamente um dos games? Com isso, o filme fica em um meio termo morno entre uma aventura original e uma adaptação direta, carecendo de identidade.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Crítica – Licorice Pizza

 

Análise Crítica – Licorice Pizza

Review – Licorice Pizza
Já em seu título Licorice Pizza nos apresenta a uma mistura atípica de elementos doces e salgados que nunca deveriam se juntar. Essa ideia de uma mistura agridoce e caótica que deveria resultar em desastre mas que acaba dando um inesperado sabor serve como uma metáfora para a história dos dois protagonistas.

A trama se passa na Los Angeles da década de 1970, seguindo o astro mirim Gary (Cooper Hoffman) que se apaixona pela fotógrafa Alana (Alana Haim), dez anos mais velha que ele. Alana rejeita as investidas amorosas de Gary, mas fica amiga dele e decide ajudá-lo em seus empreendimentos. Aos poucos eles se aproximam e conhecem figuras pitorescas das Hollywood de então.

Há uma energia caótica que une Gary e Alana ao longo de suas perambulações pelos vales californianos, duas pessoas em pontos distintos da vida e com perspectivas diferentes de futuro. Em tese seria uma trama clichê de “opostos se atraem”, mas é justamente por conta dessa energia caótica, dos choques e cumplicidades entre esses dois personagens que o filme se eleva acima de uma premissa tão básica.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Crítica – Morte no Nilo

 

 

Análise Crítica – Morte no Nilo

Review Crítica – Morte no Nilo
Confesso que apesar de adorar as histórias de Hercule Poirot, achei Assassinato no Expresso do Oriente (2017) aquém do que poderia ter sido, inclusive por não lidar com alguns problemas do romance original. Já este Morte no Nilo funciona melhor, inclusive dentro da proposta de um Poirot menos “calculadora humana” que o filme anterior já ensaiava e não construía tão bem. Ou talvez o romance original Morte no Nilo não esteja tão fresco em minha memória quanto Assassinato no Expresso do Oriente estava quando vi o anterior.

Na trama, Poirot (Kenneth Branagh) está de férias no Egito quando encontra o amigo Bouc (Tom Bateman), que o convida para acompanhar ele na comitiva de férias da recém-casada ricaça Linnet (Gal Gadot) e seu marido Simon (Armie Hammer). Quando Linnet é encontrada morta em sua cabine durante uma viagem de barco pelo Rio Nilo, cabe a Poirot descobrir qual dos passageiros é o culpado.

A trama demora a engrenar, levando muito tempo posicionando os personagens e explicando o passado deles até efetivamente ocorrer o assassinato. Talvez tivesse sido melhor se boa parte desses eventos passados tivessem sido mostrados em flashbacks e o crime acontecesse mais cedo, já que todo mundo sabe quem vai ser morta (a trama é pouco sutil em prefigurar isso, inclusive) e adiar demais isso torna tudo um exercício de paciência.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Crítica – Murderville

 

Análise Crítica – Murderville

Review – Murderville
Adaptando uma série britânica, Murderville, nova produção da Netflix, tenta misturar trama policial com jogos de improvisação. A trama é centrada no policial Terry Seattle (Will Arnett) que a cada episódio recebe um convidado especial diferente como parceiro. A questão é que esse convidado não tem o roteiro do episódio, não sabe o que vai acontecer e precisa improvisar suas ações enquanto segue Terry na investigação, ao final o convidado precisa apontar corretamente quem é o culpado.

Apesar da ideia de tudo ser construído em cima de improviso, o formato é um pouco mais engessado do que se imaginaria. Todo episódio segue a mesmíssima estrutura, com o convidado conhecendo Terry em seu escritório, depois uma cena com a legista Amber (Lilan Bowden) na qual ela dá as principais pistas do caso, depois uma cena com cada um dos três suspeitos, por fim uma cena com todos os suspeitos reunidos para que o convidado aponte o culpado. Esse formato rígido acaba tornando tudo menos caótico do que se esperaria de uma trama centrada em improviso.