Em seu cerne, No Ritmo do Coração é a típica história
de um jovem que busca o sonho de ser artista, mas enfrenta resistência da
família por ir contra os planos daquilo que esperavam. É algo bem prototípico,
presente desde O Cantor de Jazz (1927),
um dos primeiros filmes falados. No Ritmo
do Coração, no entanto, se diferencia ao falar sobre a experiência de PCDs,
especificamente uma família de surdos.
Na trama, Ruby (Emilia Jones)
está terminando o colegial e é incentivada por um professor a tentar faculdade
de canto. Ela é a única pessoa capaz de ouvir em sua casa, com o pai, Frank
(Troy Kutsur), a mãe, Jackie (Marlee Matlin), e o irmão Leo (Daniel Durant),
sendo surdos. A família de Ruby trabalha com pesca e eles se acostumaram a ter
Ruby como voz e intérprete no seu cotidiano de trabalho. Assim, quando ela
começa a se afastar da família para se preparar para tentar uma bolsa de
estudos para a faculdade, isso cria conflitos em casa.
Seria aquela estrutura já
conhecida da jovem em busca de um sonho que já ouvimos tantas vezes, mas aqui
essa trama familiar é usada para falar sobre as experiências das pessoas surdas
em nossa sociedade e como é viver em uma família assim. Há uma naturalidade
enorme na convivência entre o elenco que interpreta o núcleo familiar
principal, nos fazendo acreditar que são de fato pessoas que viveram sempre
juntas. O trabalho de Troy Kutsur se destaca, fazendo de Frank um sujeito
endurecido pelas dificuldades da vida, mas ainda assim um sujeito bem humorado
que ama a esposa e os filhos. Eugenio Derbez também traz leveza e humor como o
professor de música de Ruby.