sexta-feira, 4 de março de 2022

Crítica – Cuphead: A Série

 

Análise Crítica – Cuphead: A Série

Review – Cuphead: A Série
Depois do sucesso de animações baseadas em games como Castlevania e Arkane tudo parecia indicar que a produção seguinte da Netflix nesse filão, Cuphead: A Série, manteria o alto nível. O resultado, apesar de competente, não encanta o quanto deveria.

A narrativa acompanha as aventuras dos irmãos Xicrinho e Caneco (acompanhando a tradução dos games para os nomes de Cuphead e Mugman) na Ilha Tinteiro. São episódios com histórias majoritariamente isoladas, com a trama de Xicrinho dever sua alma ao Diabo só voltando em alguns poucos momentos.

Tal como nos games, a estética remete às animações de 1930, com granulações na imagem para imitar película, trilha musical composta por jazz e ragtime, além de personagens com a chamada estética “rubber hose”, no qual eles não tem articulações bem definidas e seus membros se comportam como mangueiras plásticas. Assim como essas animações de outrora, também há uma pecha pelo macabro, com alguns elementos sombrios.

quinta-feira, 3 de março de 2022

Crítica – Space Force: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – Space Force: 2ª Temporada

Review – Space Force: 2ª Temporada
A primeira temporada de Space Force brincava com os delírios militaristas dos Estados Unidos governados por Trump. Todo mote da série se centrava em pensar o quão ridícula era a ideia do então presidente de colocar tropas de soldados no espaço. Pois agora, nesta segunda temporada, a série surge diante um clima político diferente e luta para reestruturar seu caminho agora que o país já não precisa mais lidar com os delírios trompistas.

Esse acaba sendo o grande problema da temporada, que não tem exatamente um arco ou uma mensagem que costure esse segundo ano. Cada episódio parece levar a série em direções diferentes, tentando fazer da “Força Espacial” uma iniciativa internacional em um episódio, para no seguinte a divisão ser responsável pela exploração espacial e no outro por monitoramento de ameaças vindas do espaço. É como se os criadores não tivessem se planejado para a mudança cultural no país e agora estivessem jogando qualquer coisa na parede para ver o que cola tentando achar algum jeito de tornar a série relevante em um contexto pós-Trump.

A temporada tem melhor sorte quando foca nos personagens, aprofundando as relações entre eles ou explorando interações entre diferentes personagens que não aconteciam tanto no ano de estreia. Erin (Diana Silvers), filha do general Naird (Steve Carell), que tinha sido tratada de modo unidimensional na primeira temporada, aqui tem mais tempo para ser desenvolvida, explorando mais suas inquietações em ser constantemente levada pelo pai de uma missão para outra. Tony (Ben Schwartz), o escorregadio assessor de imprensa também ganha mais desenvolvimento conforme a trama explora suas vulnerabilidades e inseguranças. A amizade entre o doutor Mallory (John Malkovich) e o doutor Chan (Jimmy O. Yang) é mais aprofundada, assim como são construídos novos relacionamentos, a exemplo do enlace romântico entre Chan e Ali (Tawny Newsome).

Isso ajuda a dar o espectador alguma coisa para se manter envolvido com a série mesmo quando a temporada soa à deriva e sem foco. Assim como em seu ano de estreia, a série também oferece bons momentos de humor, aqui mais focados em parodiar situações de trabalho do que os elementos de sátira política que estavam mais presentes no primeiro ano. Com situações que divertem pelo puro absurdo, como a “guerra de pegadinhas” entre Naird e Mallory, a temporada consegue divertir, mas sem nunca atingir os níveis de comicidade de outras séries do criador Greg Daniels como The Office ou Parks & Recreation.

Com uma trama que nunca consegue dizer a que veio e um texto que soa perdido em busca de nova identidade, a segunda temporada de Space Force só funciona quando foca em seus personagens.

 

Nota: 6/10


Trailer


quarta-feira, 2 de março de 2022

Crítica – Belfast

 

Análise Crítica – Belfast

Review – Belfast
É difícil não olhar para este Belfast e não pensar em outros filmes sobre infância vivida em tempos de tensões políticas e sociais como Alemanha, Ano Zero (1948) ou O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006). Mostrar esses períodos sobre o prisma da infância permite entender como essas tensões afetaram até mesmo aqueles que não tinham plena consciência do que acontecia à sua volta.

O diretor Kenneth Branagh baseia a trama em sua própria infância na cidade de Belfast, na Irlanda, durante a década de 1960. O garoto Buddy (Jude Hill) gosta de brincar e assistir filmes, mas seu cotidiano é constantemente interrompido pelos conflitos violentos entre protestantes e católicos. Aos poucos o garoto também percebe os conflitos entre o pai (Jamie Dornan) e a mãe (Caitriona Balfe) que brigam por conta de dinheiro e do que fazer diante das tensões sociais que se agravam.

Mais do que falar sobre essas questões sociais e políticas, Branagh usa essa história para falar de seus anos formativos. Sabendo que se baseia em experiências autobiográficas é possível ver como o diretor insere a influência da ficção e do cinema em sua vida, mostrando como Buddy ficava imerso nos filmes que assistia, como na cena em que ele e a família assistem a O Calhambeque Mágico (1968).

terça-feira, 1 de março de 2022

Drops – O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface

 

Análise Crítica – O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface

Review – O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface
Durante todo meu tempo com os entediantes 83 minutos deste novo O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, tudo que eu pensava era: “qual o motivo disso existir?”. Não há aqui nenhuma nova perspectiva, nada interessante a ser dito e apesar de eventualmente apresentar um gore bem feito, é muito pouco para sustentar o tédio do resto da experiência.

Apesar de querer ser uma continuação direta do filme original do Tobe Hooper nos moldes do recente Halloween (2018), a trama não tem nada a dizer sobre o vilão Leatherface ou mesmo sobre a heroína do original, Sally Hardesty, cuja presença não tem qualquer repercussão na trama (poderia ser uma personagem original que não faria diferença). O texto poderia ter usado o fato dos protagonistas serem hipsters dispostos a basicamente gentrificar a cidade-fantasma habitada por Leatherface e transformar esses jovens em vilões que estão ali para expulsar pessoas humildes de seus lares para ganhar dinheiro e Leatherface sendo uma espécie de força de resistência. O filme, no entanto, nunca aproveita o subtexto que tenta apresentar.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Crítica – Batman

 

Análise Crítica – Batman

Review – Batman
A trilogia Batman de Christopher Nolan criou uma espécie de modelo para filmes de super-heróis em termos de apresentarem um realismo convincente ao mesmo tempo em que mantinha a grandiloquência deste tipo de história. Mais de dez anos depois do fim da trilogia, ela continua influenciando a produção deste tipo de história, como este novo Batman, dirigido por Matt Reeves. A questão é que agora esse modelo “nolanizado” de realismo funcional soa mais como limitador do que ampliador de horizontes.

Na trama, Bruce Wayne (Robert Pattinson) já está há dois anos trabalhando como Batman e questiona se está fazendo alguma diferença. Tudo muda quando o misterioso Charada (Paul Dano) começa a matar figuras proeminentes de Gotham City. Cabe ao Batman investigar os crimes ao lado do tenente Gordon (Jeffrey Wright), seu único aliado em meio à corrupção que assola a polícia, e da misteriosa Selina Kyle (Zoe Kravitz), que esconde uma ligação com o mafioso Carmine Falcone (John Turturro).

É uma trama que foca mais no lado detetivesco do Batman e que, por isso, consegue trazer algum frescor, já que é uma faceta que sempre foi deixada de lado em outras versões do personagem. Por outro lado, toda a abordagem que remete ao trabalho de diretores como Michael Mann ou David Fincher já tinha sido explorada na trilogia de Nolan e, nesse sentido, o filme de Reeves acaba sendo mais um retrato realista e funcional do homem morcego, com pouco a se diferenciar do que veio antes.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Crítica – The King of Fighters XV

 

Análise Crítica – The King of Fighters XV

Review – The King of Fighters XV

Quando joguei o primeiro beta de The King of Fighters XV confesso que fiquei bem empolgado. Era um refinamento de tudo que KOF XIV tinha feito com melhores e melhor netcode. Não cheguei a jogar o segundo beta, mas tudo parecia bem promissor. Tendo jogado o produto final, devo dizer que ele entregou tudo que o beta prometia, ainda que falte variedade nos modos.

A trama segue os eventos de KOF XIV. Depois da derrota de Verse, que trouxe de volta personagens que todos acreditavam estar mortos para sempre, um novo torneio é organizado. Shun’ei continua a tentar entender seus poderes, se juntando a Meitenkun e Benimaru, mas o herói encontra uma rival em Isla, uma garota com poderes similares aos seus. Isla se junta à misteriosa sacerdotisa Dolores e a Heidern, que tentam desvendar os mistérios de Verse.

O que o jogo chama de Modo História é basicamente um tradicional modo arcade, no qual o jogador enfrenta uma série de adversários da CPU até enfrentar o chefão final e assistir o desfecho de sua equipe. É bem apresentado, com algumas cutscenes plenamente computadorizadas (principalmente para algumas equipes canônicas) e os finais trazem bastante da trama, embora sejam compostos de imagens estáticas e texto sem voz. Inserir dublagem nos finais ajudaria a dar mais alguma emoção a esses desfechos.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Crítica – The Sinner: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – The Sinner: 4ª Temporada

Review – The Sinner: 4ª Temporada
Depois de uma fraca terceira temporada com um antagonista raso, The Sinner volta à sua boa forma com uma trama mais instigante e personagens interessantes, ainda que o arco do detetive Ambrose não tenha muito a dizer sobre o protagonista. Na trama, Harry Ambrose (Bill Pullman) está aposentado e vai passar férias em uma ilha junto com sua nova namorada. Lá ele conhece a jovem Percy (Alice Kremelberg), com quem desenvolve uma amizade. Quando Percy desaparece, supostamente tendo cometido suicídio, Ambrose se envolve na investigação e começa a desencavar segredos ocultos da pequena cidade.

A trama já se diferencia das outras temporadas ao começar com um suicídio ao invés de assassinato. Isso permite explorar outras facetas de culpa, conforme a investigação de Harry aponta para Percy guardando um segredo que tornou impossível de suportar. A culpa é algo que corrói a jovem por dentro e entender de onde vem um sentimento tão poderoso, tão insuportável que a impele ao suicídio, é a principal força que move a temporada.

Alice Kremelberg aparece relativamente pouco considerando a centralidade de Percy para a trama, mas faz valer cada cena ao construir Percy com um desespero silencioso. Uma pessoa que mesmo quando parece serena ou estoica, demonstra um olhar cansado e uma expressão de que carrega consigo um peso muito maior do que seria capaz de suportar.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Crítica – Mães Paralelas

 

Análise Crítica – Mães Paralelas

Review – Mães Paralelas
Mais novo trabalho de Pedro Almodóvar, Mães Paralelas parte de uma das mais batidas premissas do melodrama: a troca de bebês. Apesar disso, o diretor espanhol insere outros elementos que afastam seu filme de uma mera reprodução de clichês e traz outras ponderações para além do tema da maternidade.

A trama é centrada em Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), duas mulheres cujo parto ocorre no mesmo dia e dividem um quarto de hospital. Quando Janis volta para casa, o pai de sua filha, Arturo (Israel Elejalde) diz não reconhecer a criança, achando não ser o pai. Janis faz um teste de DNA e descobre que ela também não é a mãe do bebê que levou para casa, desconfiando que sua filha foi trocada com a de Ana na maternidade. Assim, ela eventualmente procura Ana, mas ao saber que o bebê que Ana levou para casa morreu, Janis desiste de contar a verdade, mas traz Ana para trabalhar de babá da filha. Aos poucos as duas se aproximam e outros sentimentos afloram.

Como disse antes, o filme podia focar nessa tragédia da troca dos bebês e no sentimento que isso gera, mas parte desse microcosmo para falar sobre maternidade e memória. Sobre o peso das escolhas que mulheres fazem (ou são forçadas a fazer quando se tornam mães) e da importância da memória e conhecimento sobre suas origens. Janis é uma mulher que não conheceu o pai e cuja família é composta de gerações de mães solteiras. Ana não tem certeza do pai de sua filha, que pode ser fruto de um estupro e tem uma relação distante com a mãe que a deixou com o pai para tentar ser atriz. São pessoas marcadas pelo que não conhecem sobre si mesmas ou suas famílias e, por isso, sentem-se à deriva em muitos momentos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Crítica – No Ritmo do Coração

 

Análise Crítica – No Ritmo do Coração

Review – No Ritmo do Coração
Em seu cerne, No Ritmo do Coração é a típica história de um jovem que busca o sonho de ser artista, mas enfrenta resistência da família por ir contra os planos daquilo que esperavam. É algo bem prototípico, presente desde O Cantor de Jazz (1927), um dos primeiros filmes falados. No Ritmo do Coração, no entanto, se diferencia ao falar sobre a experiência de PCDs, especificamente uma família de surdos.

Na trama, Ruby (Emilia Jones) está terminando o colegial e é incentivada por um professor a tentar faculdade de canto. Ela é a única pessoa capaz de ouvir em sua casa, com o pai, Frank (Troy Kutsur), a mãe, Jackie (Marlee Matlin), e o irmão Leo (Daniel Durant), sendo surdos. A família de Ruby trabalha com pesca e eles se acostumaram a ter Ruby como voz e intérprete no seu cotidiano de trabalho. Assim, quando ela começa a se afastar da família para se preparar para tentar uma bolsa de estudos para a faculdade, isso cria conflitos em casa.

Seria aquela estrutura já conhecida da jovem em busca de um sonho que já ouvimos tantas vezes, mas aqui essa trama familiar é usada para falar sobre as experiências das pessoas surdas em nossa sociedade e como é viver em uma família assim. Há uma naturalidade enorme na convivência entre o elenco que interpreta o núcleo familiar principal, nos fazendo acreditar que são de fato pessoas que viveram sempre juntas. O trabalho de Troy Kutsur se destaca, fazendo de Frank um sujeito endurecido pelas dificuldades da vida, mas ainda assim um sujeito bem humorado que ama a esposa e os filhos. Eugenio Derbez também traz leveza e humor como o professor de música de Ruby.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Crítica – Pacificador: 1ª Temporada

 

Análise Crítica – Pacificador: 1ª Temporada

Review – Pacificador: 1ª Temporada
Quando a série do Pacificador foi anunciada antes mesmo da estreia de O Esquadrão Suicida (2021), parecia que mais uma vez a Warner/DC estava metendo os pés pelas mãos forçando o seu universo compartilhado sem saber se funcionaria. Felizmente não só o filme do Esquadrão dirigido por James Gunn é bem bacana, como série surpreende e consegue humanizar um personagem que, de outro modo, seria meramente um babaca fascistoide.

Depois dos eventos de O Esquadrão Suicida, o Pacificador (John Cena) sai do hospital e é mais uma vez recrutado pela Argus para caçar as “borboletas”, seres alienígenas que estão controlando a mente de pessoas em posições de poder. A nova missão também coloca o personagem em rota de colisão com o pai, Auggie (Robert Patrick), que lidera uma gangue de supremacistas brancos.

Desde as primeiras cenas quando um faxineiro do hospital faz piada com o fato do Pacificador ser um exterminador de minorias, já fica claro que James Gunn quer usar essa trama e o personagem como um indiciamento desses heróis violentos que acham que matar os inimigos resolve tudo. Assim como em O Esquadrão Suicida, o roteiro usa ironia para apontar o paradoxo do raciocínio do Pacificador em matar qualquer um em nome da paz e como esse discurso é algo que cabe mais a tiranos ou genocidas do que um super-herói.