De início Naquele Fim de Semana parece mais um daqueles suspenses em que uma
turista estadunidense viaja para um local exótico, mas sua curtição é
abruptamente interrompida por ela se envolver em um crime. São filmes que exalam
colonialismo e xenofobia, tratando qualquer lugar distante dos Estados Unidos
como um antro de perigo, criminalidade e incivilidade. De certa forma o filme é
isso, embora também tente trazer, sem sucesso, alguns outros elementos.
Na trama, Beth (Leighton Meester)
viaja para a Croácia para encontrar Kate (Christina Wolfe), sua melhor amiga
com quem está há anos sem se falar direito. Kate está recém divorciada e quer
curtir a solteirice, enquanto Beth, casada e mãe de um filho pequeno, usa a
viagem como um momento de descanso. Depois de uma noite em uma boate, Beth
acorda no local em que estava hospedada sem memória da noite anterior e sem
Kate, iniciando uma corrida para descobrir o que ocorreu com a amiga.
O início até apresenta algumas
reviravoltas interessantes, como o fato de Kate estar envolvida com o marido de
Beth, mas o filme rapidamente perde a mão nas incessantes revelações e tudo
rapidamente descamba para o absurdo, com um dono de hotel que filma todos os
hóspedes, policiais corruptos e um taxista envolvido com o crime organizado local. O que era uma
trama relativamente “pé no chão” desaba em uma série de eventos que expõem
furos de roteiro, lógica e personagens pouco críveis. A trama até tenta falar
sobre o modo como a sociedade trata as mulheres e culpabiliza as vítimas, no
entanto, o discurso se perde em meio aos vários reveses exagerados.
Misturando Janela Indiscreta (1954) e Um
Tiro na Noite (1981), Kimi: Alguém
Está Escutando é um suspense eficiente, que fala sobre nosso medo de sair
provocado pela pandemia e também a respeito da paranoia de sermos o tempo todo
monitorados por dispositivos como Siri e Alexa.
Na trama, Angela (Zoe Kravitz) é
uma jovem agorafóbica (medo de sair de casa) que trabalha numa companhia de
tecnologia fazendo debug para a assistente virtual Kimi, um dispositivo não
muito diferente da Alexa. Um dia, trabalhando nos áudios cujos comandos o
programa não consegue interpretar, ela ouve o que parece ser um assassinato.
Angela tenta levar o problema aos superiores, mas todos estão preocupados que a
empresa em breve venderá ações na bolsa, preferindo silenciar Angela. Assim, a
jovem precisa superar os medos, lidar com a ameaça e resolver o mistério.
Zoe Kravitz é ótima em construir
o senso de alienação e distanciamento de Kimi, tão incomodada e temerosa por
contato que soa quase como alguém com Asperger. Como o roteiro trata apenas de
maneira vaga os eventos que levaram ao trauma da personagem, cabe à atuação de
Kravitz nos mostrar como a ideia de sair de casa deixa Angela aterrorizada.
Com versões apenas para as
gerações anteriores, o lançamento de Cyberpunk
2077 para consoles dava a impressão de um produto incompleto. Texturas não
carregavam, instabilidade completa na taxa de quadros, vários bugs e crashes
tornavam impossível de jogar. Alguns patches depois a performance estava
razoavelmente estabilizada, mas era evidente que as versões de PS4 e Xbox One
estavam muito abaixo da de PC.
Isso ficou claro para mim jogando
a versão de PS4 no PS5, já que mesmo com a estabilidade de performance da nova
geração, o game ainda tinha problemas. Agora, com o lançamento das versões para
a nova geração de consoles e mais alguns patches que adicionam ou modificam
alguns elementos da jogabilidade, Cyberpunk
2077 soa como o jogo que a desenvolvedora polonesa CD Projekt Red tinha
prometido. As texturas e visuais não tem mais o aspecto borrado de antes e
elementos à distância não se materializam do nada.
Depois do sucesso de animações
baseadas em games como Castlevaniae Arkane tudo parecia indicar que a
produção seguinte da Netflix nesse filão, Cuphead:
A Série, manteria o alto nível. O resultado, apesar de competente, não
encanta o quanto deveria.
A narrativa acompanha as
aventuras dos irmãos Xicrinho e Caneco (acompanhando a tradução dos games para
os nomes de Cuphead e Mugman) na Ilha Tinteiro. São episódios com histórias
majoritariamente isoladas, com a trama de Xicrinho dever sua alma ao Diabo só
voltando em alguns poucos momentos.
Tal como nos games, a estética
remete às animações de 1930, com granulações na imagem para imitar película,
trilha musical composta por jazz e ragtime, além de personagens com a chamada
estética “rubber hose”, no qual eles não tem articulações bem definidas e seus
membros se comportam como mangueiras plásticas. Assim como essas animações de
outrora, também há uma pecha pelo macabro, com alguns elementos sombrios.
A primeira temporada de Space Forcebrincava com os delírios
militaristas dos Estados Unidos governados por Trump. Todo mote da série se
centrava em pensar o quão ridícula era a ideia do então presidente de colocar
tropas de soldados no espaço. Pois agora, nesta segunda temporada, a série
surge diante um clima político diferente e luta para reestruturar seu caminho
agora que o país já não precisa mais lidar com os delírios trompistas.
Esse acaba sendo o grande
problema da temporada, que não tem exatamente um arco ou uma mensagem que
costure esse segundo ano. Cada episódio parece levar a série em direções
diferentes, tentando fazer da “Força Espacial” uma iniciativa internacional em
um episódio, para no seguinte a divisão ser responsável pela exploração
espacial e no outro por monitoramento de ameaças vindas do espaço. É como se os
criadores não tivessem se planejado para a mudança cultural no país e agora
estivessem jogando qualquer coisa na parede para ver o que cola tentando achar
algum jeito de tornar a série relevante em um contexto pós-Trump.
A temporada tem melhor sorte
quando foca nos personagens, aprofundando as relações entre eles ou explorando
interações entre diferentes personagens que não aconteciam tanto no ano de
estreia. Erin (Diana Silvers), filha do general Naird (Steve Carell), que tinha
sido tratada de modo unidimensional na primeira temporada, aqui tem mais tempo
para ser desenvolvida, explorando mais suas inquietações em ser constantemente
levada pelo pai de uma missão para outra. Tony (Ben Schwartz), o escorregadio
assessor de imprensa também ganha mais desenvolvimento conforme a trama explora
suas vulnerabilidades e inseguranças. A amizade entre o doutor Mallory (John
Malkovich) e o doutor Chan (Jimmy O. Yang) é mais aprofundada, assim como são
construídos novos relacionamentos, a exemplo do enlace romântico entre Chan e
Ali (Tawny Newsome).
Isso ajuda a dar o espectador
alguma coisa para se manter envolvido com a série mesmo quando a temporada soa
à deriva e sem foco. Assim como em seu ano de estreia, a série também oferece
bons momentos de humor, aqui mais focados em parodiar situações de trabalho do
que os elementos de sátira política que estavam mais presentes no primeiro ano.
Com situações que divertem pelo puro absurdo, como a “guerra de pegadinhas”
entre Naird e Mallory, a temporada consegue divertir, mas sem nunca atingir os
níveis de comicidade de outras séries do criador Greg Daniels como The Office ou Parks & Recreation.
Com uma trama que nunca consegue
dizer a que veio e um texto que soa perdido em busca de nova identidade, a
segunda temporada de Space Force só
funciona quando foca em seus personagens.
É difícil não olhar para este Belfast e não pensar em outros filmes
sobre infância vivida em tempos de tensões políticas e sociais como Alemanha, Ano Zero(1948) ou O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias
(2006). Mostrar esses períodos sobre o prisma da infância permite entender como
essas tensões afetaram até mesmo aqueles que não tinham plena consciência do
que acontecia à sua volta.
O diretor Kenneth Branagh baseia
a trama em sua própria infância na cidade de Belfast, na Irlanda, durante a
década de 1960. O garoto Buddy (Jude Hill) gosta de brincar e assistir filmes,
mas seu cotidiano é constantemente interrompido pelos conflitos violentos entre
protestantes e católicos. Aos poucos o garoto também percebe os conflitos entre
o pai (Jamie Dornan) e a mãe (Caitriona Balfe) que brigam por conta de dinheiro
e do que fazer diante das tensões sociais que se agravam.
Mais do que falar sobre essas
questões sociais e políticas, Branagh usa essa história para falar de seus anos
formativos. Sabendo que se baseia em experiências autobiográficas é possível
ver como o diretor insere a influência da ficção e do cinema em sua vida,
mostrando como Buddy ficava imerso nos filmes que assistia, como na cena em que
ele e a família assistem a O Calhambeque
Mágico (1968).
Durante todo meu tempo com os
entediantes 83 minutos deste novo O
Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, tudo que eu pensava era: “qual o motivo disso
existir?”. Não há aqui nenhuma nova perspectiva, nada interessante a ser dito e
apesar de eventualmente apresentar um gore
bem feito, é muito pouco para sustentar o tédio do resto da experiência.
Apesar de querer ser uma
continuação direta do filme original do Tobe Hooper nos moldes do recente Halloween (2018), a trama não tem nada a
dizer sobre o vilão Leatherface ou mesmo sobre a heroína do original, Sally
Hardesty, cuja presença não tem qualquer repercussão na trama (poderia ser uma
personagem original que não faria diferença). O texto poderia ter usado o fato
dos protagonistas serem hipsters dispostos a basicamente gentrificar a
cidade-fantasma habitada por Leatherface e transformar esses jovens em vilões que
estão ali para expulsar pessoas humildes de seus lares para ganhar dinheiro e
Leatherface sendo uma espécie de força de resistência. O filme, no entanto,
nunca aproveita o subtexto que tenta apresentar.
A trilogia Batman de Christopher
Nolan criou uma espécie de modelo para filmes de super-heróis em termos de
apresentarem um realismo convincente ao mesmo tempo em que mantinha a grandiloquência
deste tipo de história. Mais de dez anos depois do fim da trilogia, ela
continua influenciando a produção deste tipo de história, como este novo Batman, dirigido por Matt Reeves. A questão
é que agora esse modelo “nolanizado” de realismo funcional soa mais como limitador
do que ampliador de horizontes.
Na trama, Bruce Wayne (Robert
Pattinson) já está há dois anos trabalhando como Batman e questiona se está
fazendo alguma diferença. Tudo muda quando o misterioso Charada (Paul Dano) começa
a matar figuras proeminentes de Gotham City. Cabe ao Batman investigar os
crimes ao lado do tenente Gordon (Jeffrey Wright), seu único aliado em meio à
corrupção que assola a polícia, e da misteriosa Selina Kyle (Zoe Kravitz), que
esconde uma ligação com o mafioso Carmine Falcone (John Turturro).
É uma trama que foca mais no lado
detetivesco do Batman e que, por isso, consegue trazer algum frescor, já que é
uma faceta que sempre foi deixada de lado em outras versões do personagem. Por
outro lado, toda a abordagem que remete ao trabalho de diretores como Michael
Mann ou David Fincher já tinha sido explorada na trilogia de Nolan e, nesse
sentido, o filme de Reeves acaba sendo mais um retrato realista e funcional do
homem morcego, com pouco a se diferenciar do que veio antes.
Quando joguei o primeiro beta de The King of Fighters XV confesso que
fiquei bem empolgado. Era um refinamento de tudo que KOF XIV tinha feito com melhores e melhor netcode. Não cheguei a
jogar o segundo beta, mas tudo parecia bem promissor. Tendo jogado o produto
final, devo dizer que ele entregou tudo que o beta prometia, ainda que falte
variedade nos modos.
A trama segue os eventos de KOF XIV. Depois da derrota de Verse, que
trouxe de volta personagens que todos acreditavam estar mortos para sempre, um
novo torneio é organizado. Shun’ei continua a tentar entender seus poderes, se
juntando a Meitenkun e Benimaru, mas o herói encontra uma rival em Isla, uma
garota com poderes similares aos seus. Isla se junta à misteriosa sacerdotisa
Dolores e a Heidern, que tentam desvendar os mistérios de Verse.
O que o jogo chama de Modo
História é basicamente um tradicional modo arcade, no qual o jogador enfrenta
uma série de adversários da CPU até enfrentar o chefão final e assistir o
desfecho de sua equipe. É bem apresentado, com algumas cutscenes plenamente
computadorizadas (principalmente para algumas equipes canônicas) e os finais
trazem bastante da trama, embora sejam compostos de imagens estáticas e texto
sem voz. Inserir dublagem nos finais ajudaria a dar mais alguma emoção a esses
desfechos.
Depois de uma fraca terceira temporada com um antagonista raso, The
Sinner volta à sua boa forma com uma trama mais instigante e personagens
interessantes, ainda que o arco do detetive Ambrose não tenha muito a dizer
sobre o protagonista. Na trama, Harry Ambrose (Bill Pullman) está aposentado e
vai passar férias em uma ilha junto com sua nova namorada. Lá ele conhece a
jovem Percy (Alice Kremelberg), com quem desenvolve uma amizade. Quando Percy
desaparece, supostamente tendo cometido suicídio, Ambrose se envolve na
investigação e começa a desencavar segredos ocultos da pequena cidade.
A trama já se diferencia das
outras temporadas ao começar com um suicídio ao invés de assassinato. Isso
permite explorar outras facetas de culpa, conforme a investigação de Harry
aponta para Percy guardando um segredo que tornou impossível de suportar. A
culpa é algo que corrói a jovem por dentro e entender de onde vem um sentimento
tão poderoso, tão insuportável que a impele ao suicídio, é a principal força
que move a temporada.
Alice Kremelberg aparece
relativamente pouco considerando a centralidade de Percy para a trama, mas faz
valer cada cena ao construir Percy com um desespero silencioso. Uma pessoa que
mesmo quando parece serena ou estoica, demonstra um olhar cansado e uma
expressão de que carrega consigo um peso muito maior do que seria capaz de
suportar.