terça-feira, 15 de março de 2022

Rapsódias Revisitadas – O Beijo da Mulher-Aranha

Análise – O Beijo da Mulher-Aranha

Review – O Beijo da Mulher-Aranha
Lançado em 1985 e dirigido por Hector Babenco, O Beijo da Mulher-Aranha chama atenção pelo tanto que consegue fazer com poucos personagens e em um espaço limitado. A trama foca em dois personagens, Molina (William Hurt) uma drag queen presa por corrupção de menores e Valentin (Raul Julia), um ativista político detido por fazer parte de um grupo revolucionário que tenta derrubar o governo ditatorial que controla o país. Molina foi incumbido pelo diretor da prisão (José Lewgoy) para se aproximar de Valentin e conseguir dele qualquer informação que os carcereiros não consigam mediante tortura. O problema é que aos poucos Molina se apaixona por Valentin.

Se passando boa parte do tempo dentro da cela de Molina e Valentin, o filme se apoia no desempenho dos dois protagonistas para falar sobre opressão, fuga e liberdade. Os dois personagens são indivíduos perseguidos simplesmente por serem quem são, Valentin por uma ideologia que desagrada ao governo ditatorial (que é claramente uma representação da ditadura militar brasileira) e Molina por sua sexualidade. Suas prisões não são, portanto, apenas a cela física que os detêm, mas também as próprias convenções sociais da época que os tratam como cidadãos de segunda classe.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Crítica – Turma da Mônica: Lições

 

Análise Crítica – Turma da Mônica: Lições

Review – Turma da Mônica: Lições
Adaptando a graphic novel de mesmo nome escrita por Vitor e Lu Cafaggi, este Turma da Mônica: Lições é um esforço melhor em levar a turminha ao live-action do que Turma da Mônica: Laços (2019). Não que Laços fosse ruim, longe disso, mas acabava focando demais no Cebolinha e tinha problemas na maneira como construía a relação entre ele e a Mônica. Aqui, no entanto, cada membro da turma tem seus próprios arcos e seu espaço para brilhar.

Na trama, depois que uma tentativa de fugir da escola dá errado e termina com Mônica (Giulia Benite) quebrando o braço, os pais da turminha decidem separar os garotos, colocando-os em atividades extracurriculares e Mônica muda de escola. Sem a proteção de Mônica, Cebolinha (Kevin Vechiatto) e Cascão (Gabriel Moreira) se tornam vítimas dos valentões da escola, enquanto Magali (Laura Rauseo) tem dificuldade de ficar sem a amiga. Mônica, por sua vez, também se sente sozinha na nova escola, principalmente depois que um garoto mais velho rouba seu coelho de pelúcia, Sansão.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Crítica – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

 

Análise Crítica – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

Review – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing
O documentário Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing é uma daquelas histórias ao estilo “eles sabiam o tempo todo!” no qual descobrimos que alguma grande tragédia que vitimou centenas de pessoas não foi um acidente ou infortúnio, mas fruto de negligência criminosa cometida por uma empresa bilionária que decidiu rifar a vida de pessoas para ampliar suas margens de lucro.

A trama narra os problemas do modelo Boeing 737 Max que causaram duas quedas de avião em um intervalo de cinco meses e causaram centenas de mortes. Através de imagens de arquivo, testemunhos de ex-funcionários, especialistas e familiares das vítimas, o documentário explica quais foram os problemas que causaram a queda das duas aeronaves e como a Boeing não apenas sabia que os aviões tinham defeitos, como ocultaram esses defeitos dos órgãos de regulação e das empresas aéreas que compraram seus aviões.

É uma estrutura bem quadrada de documentário que arrisca ou inova pouco na maneira de contar a história. Nos momentos em que tenta, como as reconstituições de eventos nos cockpits dos aviões, sofre com uma computação gráfica tosca que quebra a imersão ao invés do efeito pretendido de nos deixar mergulhados no caos que os pilotos das duas aeronaves devem ter experimentado. Em alguns momentos também deixa de explicar alguns jargões técnicos de aviação utilizados dificultando o entendimento de certos elementos.

quinta-feira, 10 de março de 2022

Crítica – Diabólicos: 1ª Temporada

 

Análise Crítica  – Diabólicos: 1ª Temporada

Review – Diabólicos: 1ª Temporada
Enquanto a terceira temporada de The Boys não chega, os criadores da série trouxeram essa antologia de curtas animados The Boys Apresenta: Diabólicos para saciar nosso interesse por histórias neste universo. O resultado, como a maioria das antologias, tem histórias em que algumas são claramente melhores, mas, ainda assim, serve para expandir o universo da série. Não sei até que ponto os eventos mostrados aqui são cânone de The Boys, de todo modo, é interessante ter outros olhares e outras perspectivas sobre o universo da série.

Cada curta tem um roteirista e estética diferente, explorando gêneros que vão da comédia, ao romance, passando até pelo drama ou terror, embora a maioria siga pelo terreno da comédia. O primeiro curta, idealizado por Seth Rogen, remete aos antigos desenhos dos Looney Tunes tanto em estética quanto narrativa conforme um cientista da Vought tenta proteger um bebê que dispara raios laser que fugiu do laboratório.

O segundo curta, criado por Justin Roiland, de Rick & Morty, explora um grupo de supers com poderes ridículos rejeitados pelos pais e pela Vought que saem em busca de vingança. O curta diverte pela criatividade de criar poderes estúpidos (como um sujeito com seios no lugar do rosto) e mortes sangrentas. O terceiro adapta diretamente uma trama dos quadrinhos de The Boys, quando Billy e Hughie (aqui com a voz de Simon Pegg e aparência que remete ao ator como é nos quadrinhos) chantageiam um traficante de drogas que atende super-heróis a “batizar” as drogas que vende aos supers, provocando resultados sangrentos e hilários.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Crítica – Naquele Fim de Semana

 

Análise Crítica – Naquele Fim de Semana

Review – Naquele Fim de Semana
De início Naquele Fim de Semana parece mais um daqueles suspenses em que uma turista estadunidense viaja para um local exótico, mas sua curtição é abruptamente interrompida por ela se envolver em um crime. São filmes que exalam colonialismo e xenofobia, tratando qualquer lugar distante dos Estados Unidos como um antro de perigo, criminalidade e incivilidade. De certa forma o filme é isso, embora também tente trazer, sem sucesso, alguns outros elementos.

Na trama, Beth (Leighton Meester) viaja para a Croácia para encontrar Kate (Christina Wolfe), sua melhor amiga com quem está há anos sem se falar direito. Kate está recém divorciada e quer curtir a solteirice, enquanto Beth, casada e mãe de um filho pequeno, usa a viagem como um momento de descanso. Depois de uma noite em uma boate, Beth acorda no local em que estava hospedada sem memória da noite anterior e sem Kate, iniciando uma corrida para descobrir o que ocorreu com a amiga.

O início até apresenta algumas reviravoltas interessantes, como o fato de Kate estar envolvida com o marido de Beth, mas o filme rapidamente perde a mão nas incessantes revelações e tudo rapidamente descamba para o absurdo, com um dono de hotel que filma todos os hóspedes, policiais corruptos e um taxista envolvido com o crime organizado local. O que era uma trama relativamente “pé no chão” desaba em uma série de eventos que expõem furos de roteiro, lógica e personagens pouco críveis. A trama até tenta falar sobre o modo como a sociedade trata as mulheres e culpabiliza as vítimas, no entanto, o discurso se perde em meio aos vários reveses exagerados.

terça-feira, 8 de março de 2022

Crítica – Kimi: Alguém Está Escutando

 

Análise Crítica – Kimi: Alguém Está Escutando

Review – Kimi: Alguém Está Escutando
Misturando Janela Indiscreta (1954) e Um Tiro na Noite (1981), Kimi: Alguém Está Escutando é um suspense eficiente, que fala sobre nosso medo de sair provocado pela pandemia e também a respeito da paranoia de sermos o tempo todo monitorados por dispositivos como Siri e Alexa.

Na trama, Angela (Zoe Kravitz) é uma jovem agorafóbica (medo de sair de casa) que trabalha numa companhia de tecnologia fazendo debug para a assistente virtual Kimi, um dispositivo não muito diferente da Alexa. Um dia, trabalhando nos áudios cujos comandos o programa não consegue interpretar, ela ouve o que parece ser um assassinato. Angela tenta levar o problema aos superiores, mas todos estão preocupados que a empresa em breve venderá ações na bolsa, preferindo silenciar Angela. Assim, a jovem precisa superar os medos, lidar com a ameaça e resolver o mistério.

Zoe Kravitz é ótima em construir o senso de alienação e distanciamento de Kimi, tão incomodada e temerosa por contato que soa quase como alguém com Asperger. Como o roteiro trata apenas de maneira vaga os eventos que levaram ao trauma da personagem, cabe à atuação de Kravitz nos mostrar como a ideia de sair de casa deixa Angela aterrorizada.

segunda-feira, 7 de março de 2022

Crítica – Cyberpunk 2077 (PS5)

 Análise Crítica – Cyberpunk 2077 (PS5)

Review – Cyberpunk 2077 (PS5)
Com versões apenas para as gerações anteriores, o lançamento de Cyberpunk 2077 para consoles dava a impressão de um produto incompleto. Texturas não carregavam, instabilidade completa na taxa de quadros, vários bugs e crashes tornavam impossível de jogar. Alguns patches depois a performance estava razoavelmente estabilizada, mas era evidente que as versões de PS4 e Xbox One estavam muito abaixo da de PC.

Isso ficou claro para mim jogando a versão de PS4 no PS5, já que mesmo com a estabilidade de performance da nova geração, o game ainda tinha problemas. Agora, com o lançamento das versões para a nova geração de consoles e mais alguns patches que adicionam ou modificam alguns elementos da jogabilidade, Cyberpunk 2077 soa como o jogo que a desenvolvedora polonesa CD Projekt Red tinha prometido. As texturas e visuais não tem mais o aspecto borrado de antes e elementos à distância não se materializam do nada.

sexta-feira, 4 de março de 2022

Crítica – Cuphead: A Série

 

Análise Crítica – Cuphead: A Série

Review – Cuphead: A Série
Depois do sucesso de animações baseadas em games como Castlevania e Arkane tudo parecia indicar que a produção seguinte da Netflix nesse filão, Cuphead: A Série, manteria o alto nível. O resultado, apesar de competente, não encanta o quanto deveria.

A narrativa acompanha as aventuras dos irmãos Xicrinho e Caneco (acompanhando a tradução dos games para os nomes de Cuphead e Mugman) na Ilha Tinteiro. São episódios com histórias majoritariamente isoladas, com a trama de Xicrinho dever sua alma ao Diabo só voltando em alguns poucos momentos.

Tal como nos games, a estética remete às animações de 1930, com granulações na imagem para imitar película, trilha musical composta por jazz e ragtime, além de personagens com a chamada estética “rubber hose”, no qual eles não tem articulações bem definidas e seus membros se comportam como mangueiras plásticas. Assim como essas animações de outrora, também há uma pecha pelo macabro, com alguns elementos sombrios.

quinta-feira, 3 de março de 2022

Crítica – Space Force: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – Space Force: 2ª Temporada

Review – Space Force: 2ª Temporada
A primeira temporada de Space Force brincava com os delírios militaristas dos Estados Unidos governados por Trump. Todo mote da série se centrava em pensar o quão ridícula era a ideia do então presidente de colocar tropas de soldados no espaço. Pois agora, nesta segunda temporada, a série surge diante um clima político diferente e luta para reestruturar seu caminho agora que o país já não precisa mais lidar com os delírios trompistas.

Esse acaba sendo o grande problema da temporada, que não tem exatamente um arco ou uma mensagem que costure esse segundo ano. Cada episódio parece levar a série em direções diferentes, tentando fazer da “Força Espacial” uma iniciativa internacional em um episódio, para no seguinte a divisão ser responsável pela exploração espacial e no outro por monitoramento de ameaças vindas do espaço. É como se os criadores não tivessem se planejado para a mudança cultural no país e agora estivessem jogando qualquer coisa na parede para ver o que cola tentando achar algum jeito de tornar a série relevante em um contexto pós-Trump.

A temporada tem melhor sorte quando foca nos personagens, aprofundando as relações entre eles ou explorando interações entre diferentes personagens que não aconteciam tanto no ano de estreia. Erin (Diana Silvers), filha do general Naird (Steve Carell), que tinha sido tratada de modo unidimensional na primeira temporada, aqui tem mais tempo para ser desenvolvida, explorando mais suas inquietações em ser constantemente levada pelo pai de uma missão para outra. Tony (Ben Schwartz), o escorregadio assessor de imprensa também ganha mais desenvolvimento conforme a trama explora suas vulnerabilidades e inseguranças. A amizade entre o doutor Mallory (John Malkovich) e o doutor Chan (Jimmy O. Yang) é mais aprofundada, assim como são construídos novos relacionamentos, a exemplo do enlace romântico entre Chan e Ali (Tawny Newsome).

Isso ajuda a dar o espectador alguma coisa para se manter envolvido com a série mesmo quando a temporada soa à deriva e sem foco. Assim como em seu ano de estreia, a série também oferece bons momentos de humor, aqui mais focados em parodiar situações de trabalho do que os elementos de sátira política que estavam mais presentes no primeiro ano. Com situações que divertem pelo puro absurdo, como a “guerra de pegadinhas” entre Naird e Mallory, a temporada consegue divertir, mas sem nunca atingir os níveis de comicidade de outras séries do criador Greg Daniels como The Office ou Parks & Recreation.

Com uma trama que nunca consegue dizer a que veio e um texto que soa perdido em busca de nova identidade, a segunda temporada de Space Force só funciona quando foca em seus personagens.

 

Nota: 6/10


Trailer


quarta-feira, 2 de março de 2022

Crítica – Belfast

 

Análise Crítica – Belfast

Review – Belfast
É difícil não olhar para este Belfast e não pensar em outros filmes sobre infância vivida em tempos de tensões políticas e sociais como Alemanha, Ano Zero (1948) ou O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006). Mostrar esses períodos sobre o prisma da infância permite entender como essas tensões afetaram até mesmo aqueles que não tinham plena consciência do que acontecia à sua volta.

O diretor Kenneth Branagh baseia a trama em sua própria infância na cidade de Belfast, na Irlanda, durante a década de 1960. O garoto Buddy (Jude Hill) gosta de brincar e assistir filmes, mas seu cotidiano é constantemente interrompido pelos conflitos violentos entre protestantes e católicos. Aos poucos o garoto também percebe os conflitos entre o pai (Jamie Dornan) e a mãe (Caitriona Balfe) que brigam por conta de dinheiro e do que fazer diante das tensões sociais que se agravam.

Mais do que falar sobre essas questões sociais e políticas, Branagh usa essa história para falar de seus anos formativos. Sabendo que se baseia em experiências autobiográficas é possível ver como o diretor insere a influência da ficção e do cinema em sua vida, mostrando como Buddy ficava imerso nos filmes que assistia, como na cena em que ele e a família assistem a O Calhambeque Mágico (1968).