sexta-feira, 18 de março de 2022

Crítica – Amor Sublime Amor

 

Análise Crítica – Amor Sublime Amor

Review – Amor Sublime Amor
Com canções escritas por Stephen Sondheim, um dos melhores compositores a passar pela Broadway, Amor Sublime Amor (1961) foi um dos melhores musicais já feitos. Assim, o diretor Steven Spielberg tinha uma tarefa difícil nas mãos em tentar fazer uma nova versão. Existiam aspectos no original que não envelheceram muito bem que davam uma possibilidade de tentar algo novo, mas o esforço de Spielberg se escora tanto no original ao ponto em que essa nova versão soa desnecessária.

A trama se passa na década de 1950 em uma zona periférica de Nova York, cujo bairro está sendo demolido para dar lugar a novos empreendimentos imobiliários. O terreno é também habitado por duas gangues rivais, os Sharks, uma gangue de imigrantes latinos, e os Jets, uma gangue formada pela comunidade branca local. Nesse cenário de disputas floresce o amor proibido entre Maria (Rachel Zegler), uma jovem imigrante irmã do líder dos Sharks, e Tony (Ansel Elgort), melhor amigo do líder dos Jets e que está tentando reconstruir a vida depois de sair da cadeia.

Muito se falou sobre como Spielberg “corrigiu” os problemas do original. A verdade, no entanto, é que colocar atores de origem latina para os personagens latinos ou não legendar as falas em espanhol, tratando-a como uma língua tão nativa quanto o inglês, é o mínimo que se espera de uma adaptação de um filme de sessenta anos em plena terceira década do século XXI. O filme avança muito pouco em boa parte das discussões sobre classe e raça em relação ao original, o que soa como um desperdício de potencial considerando o quanto esse debate avançou e a ascensão recente de grupos e discursos xenófobos nos EUA. Assim, é estranho que o olhar de Spielberg acerca de todas essas questões ainda soe tão similar a algo produzido na metade do século passado.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Drops – Espiral: O Legado de Jogos Mortais

 

Análise Crítica – Espiral: O Legado de Jogos Mortais

Review – Espiral: O Legado de Jogos Mortais
Existem dois filmes contidos neste Espiral: O Legado de Jogos Mortais e nenhum deles é minimamente interessante. De um lado há uma tentativa de continuar o universo de Jogos Mortais sem Jigsaw, de outro há uma trama de terror e suspense sobre brutalidade policial e impunidade destes.

Na narrativa, o detetive Zeke (Chris Rock) investiga uma série de assassinatos envolvendo policiais e armadilhas mortais que remetem ao trabalho de Jigsaw. Assim, Zeke precisa deter o assassino e descobrir o que está acontecendo. Normalmente os filmes da franquia Jogos Mortais se passam em locais confinados cheios de armadilhas, mas aqui a estrutura é menos Jogos Mortais e mais uma trama genérica de serial killer. Na verdade, sequer há tantas conexões assim com a franquia original e até o assassino é só um qualquer sem envolvimento direto com Jigsaw.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Drops – O Projeto Adam

 

Análise Crítica – O Projeto Adam

Review – O Projeto Adam
De início O Projeto Adam parece uma daquelas aventuras da década de oitenta, cheia de humor e encantamento, mas aos poucos vai perdendo a graça pela natureza frouxa do universo que constrói e a superficialidade de seus personagens. Na trama, Adam (Walker Scobell) é um garoto que tem dificuldade de se ajustar depois da morte do pai. Arranjando problemas na escola e ressentindo a mãe, Ellie (Jennifer Garner), por estar seguindo adiante com a vida, o garoto parece à deriva. Um dia ele encontra um estranho na propriedade da família e logo descobre que esse estranho é ele próprio mais velho, vindo do futuro. O Adam futuro (Ryan Reynolds) veio ao passado para impedir uma catástrofe, mas é caçado por implacáveis vilões.

O garoto Waker Scobell é perfeito em reproduzir a natureza verborrágica da persona de Ryan Reynolds, convencendo como uma versão mirim dele. As interações entre os dois são o ponto alto do filme por conta dos diálogos ágeis e bem humorados nos quais o garoto pergunta várias coisas sobre o próprio futuro. Mais adiante, o contato com o pai de Adam, Louis (Mark Ruffalo), também rende momentos de diversão, além de emoção genuína. O filme também entrega boas cenas de ação que exploram criativamente diversas possibilidades de tecnologias futuristas.

terça-feira, 15 de março de 2022

Rapsódias Revisitadas – O Beijo da Mulher-Aranha

Análise – O Beijo da Mulher-Aranha

Review – O Beijo da Mulher-Aranha
Lançado em 1985 e dirigido por Hector Babenco, O Beijo da Mulher-Aranha chama atenção pelo tanto que consegue fazer com poucos personagens e em um espaço limitado. A trama foca em dois personagens, Molina (William Hurt) uma drag queen presa por corrupção de menores e Valentin (Raul Julia), um ativista político detido por fazer parte de um grupo revolucionário que tenta derrubar o governo ditatorial que controla o país. Molina foi incumbido pelo diretor da prisão (José Lewgoy) para se aproximar de Valentin e conseguir dele qualquer informação que os carcereiros não consigam mediante tortura. O problema é que aos poucos Molina se apaixona por Valentin.

Se passando boa parte do tempo dentro da cela de Molina e Valentin, o filme se apoia no desempenho dos dois protagonistas para falar sobre opressão, fuga e liberdade. Os dois personagens são indivíduos perseguidos simplesmente por serem quem são, Valentin por uma ideologia que desagrada ao governo ditatorial (que é claramente uma representação da ditadura militar brasileira) e Molina por sua sexualidade. Suas prisões não são, portanto, apenas a cela física que os detêm, mas também as próprias convenções sociais da época que os tratam como cidadãos de segunda classe.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Crítica – Turma da Mônica: Lições

 

Análise Crítica – Turma da Mônica: Lições

Review – Turma da Mônica: Lições
Adaptando a graphic novel de mesmo nome escrita por Vitor e Lu Cafaggi, este Turma da Mônica: Lições é um esforço melhor em levar a turminha ao live-action do que Turma da Mônica: Laços (2019). Não que Laços fosse ruim, longe disso, mas acabava focando demais no Cebolinha e tinha problemas na maneira como construía a relação entre ele e a Mônica. Aqui, no entanto, cada membro da turma tem seus próprios arcos e seu espaço para brilhar.

Na trama, depois que uma tentativa de fugir da escola dá errado e termina com Mônica (Giulia Benite) quebrando o braço, os pais da turminha decidem separar os garotos, colocando-os em atividades extracurriculares e Mônica muda de escola. Sem a proteção de Mônica, Cebolinha (Kevin Vechiatto) e Cascão (Gabriel Moreira) se tornam vítimas dos valentões da escola, enquanto Magali (Laura Rauseo) tem dificuldade de ficar sem a amiga. Mônica, por sua vez, também se sente sozinha na nova escola, principalmente depois que um garoto mais velho rouba seu coelho de pelúcia, Sansão.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Crítica – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

 

Análise Crítica – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

Review – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing
O documentário Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing é uma daquelas histórias ao estilo “eles sabiam o tempo todo!” no qual descobrimos que alguma grande tragédia que vitimou centenas de pessoas não foi um acidente ou infortúnio, mas fruto de negligência criminosa cometida por uma empresa bilionária que decidiu rifar a vida de pessoas para ampliar suas margens de lucro.

A trama narra os problemas do modelo Boeing 737 Max que causaram duas quedas de avião em um intervalo de cinco meses e causaram centenas de mortes. Através de imagens de arquivo, testemunhos de ex-funcionários, especialistas e familiares das vítimas, o documentário explica quais foram os problemas que causaram a queda das duas aeronaves e como a Boeing não apenas sabia que os aviões tinham defeitos, como ocultaram esses defeitos dos órgãos de regulação e das empresas aéreas que compraram seus aviões.

É uma estrutura bem quadrada de documentário que arrisca ou inova pouco na maneira de contar a história. Nos momentos em que tenta, como as reconstituições de eventos nos cockpits dos aviões, sofre com uma computação gráfica tosca que quebra a imersão ao invés do efeito pretendido de nos deixar mergulhados no caos que os pilotos das duas aeronaves devem ter experimentado. Em alguns momentos também deixa de explicar alguns jargões técnicos de aviação utilizados dificultando o entendimento de certos elementos.

quinta-feira, 10 de março de 2022

Crítica – Diabólicos: 1ª Temporada

 

Análise Crítica  – Diabólicos: 1ª Temporada

Review – Diabólicos: 1ª Temporada
Enquanto a terceira temporada de The Boys não chega, os criadores da série trouxeram essa antologia de curtas animados The Boys Apresenta: Diabólicos para saciar nosso interesse por histórias neste universo. O resultado, como a maioria das antologias, tem histórias em que algumas são claramente melhores, mas, ainda assim, serve para expandir o universo da série. Não sei até que ponto os eventos mostrados aqui são cânone de The Boys, de todo modo, é interessante ter outros olhares e outras perspectivas sobre o universo da série.

Cada curta tem um roteirista e estética diferente, explorando gêneros que vão da comédia, ao romance, passando até pelo drama ou terror, embora a maioria siga pelo terreno da comédia. O primeiro curta, idealizado por Seth Rogen, remete aos antigos desenhos dos Looney Tunes tanto em estética quanto narrativa conforme um cientista da Vought tenta proteger um bebê que dispara raios laser que fugiu do laboratório.

O segundo curta, criado por Justin Roiland, de Rick & Morty, explora um grupo de supers com poderes ridículos rejeitados pelos pais e pela Vought que saem em busca de vingança. O curta diverte pela criatividade de criar poderes estúpidos (como um sujeito com seios no lugar do rosto) e mortes sangrentas. O terceiro adapta diretamente uma trama dos quadrinhos de The Boys, quando Billy e Hughie (aqui com a voz de Simon Pegg e aparência que remete ao ator como é nos quadrinhos) chantageiam um traficante de drogas que atende super-heróis a “batizar” as drogas que vende aos supers, provocando resultados sangrentos e hilários.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Crítica – Naquele Fim de Semana

 

Análise Crítica – Naquele Fim de Semana

Review – Naquele Fim de Semana
De início Naquele Fim de Semana parece mais um daqueles suspenses em que uma turista estadunidense viaja para um local exótico, mas sua curtição é abruptamente interrompida por ela se envolver em um crime. São filmes que exalam colonialismo e xenofobia, tratando qualquer lugar distante dos Estados Unidos como um antro de perigo, criminalidade e incivilidade. De certa forma o filme é isso, embora também tente trazer, sem sucesso, alguns outros elementos.

Na trama, Beth (Leighton Meester) viaja para a Croácia para encontrar Kate (Christina Wolfe), sua melhor amiga com quem está há anos sem se falar direito. Kate está recém divorciada e quer curtir a solteirice, enquanto Beth, casada e mãe de um filho pequeno, usa a viagem como um momento de descanso. Depois de uma noite em uma boate, Beth acorda no local em que estava hospedada sem memória da noite anterior e sem Kate, iniciando uma corrida para descobrir o que ocorreu com a amiga.

O início até apresenta algumas reviravoltas interessantes, como o fato de Kate estar envolvida com o marido de Beth, mas o filme rapidamente perde a mão nas incessantes revelações e tudo rapidamente descamba para o absurdo, com um dono de hotel que filma todos os hóspedes, policiais corruptos e um taxista envolvido com o crime organizado local. O que era uma trama relativamente “pé no chão” desaba em uma série de eventos que expõem furos de roteiro, lógica e personagens pouco críveis. A trama até tenta falar sobre o modo como a sociedade trata as mulheres e culpabiliza as vítimas, no entanto, o discurso se perde em meio aos vários reveses exagerados.

terça-feira, 8 de março de 2022

Crítica – Kimi: Alguém Está Escutando

 

Análise Crítica – Kimi: Alguém Está Escutando

Review – Kimi: Alguém Está Escutando
Misturando Janela Indiscreta (1954) e Um Tiro na Noite (1981), Kimi: Alguém Está Escutando é um suspense eficiente, que fala sobre nosso medo de sair provocado pela pandemia e também a respeito da paranoia de sermos o tempo todo monitorados por dispositivos como Siri e Alexa.

Na trama, Angela (Zoe Kravitz) é uma jovem agorafóbica (medo de sair de casa) que trabalha numa companhia de tecnologia fazendo debug para a assistente virtual Kimi, um dispositivo não muito diferente da Alexa. Um dia, trabalhando nos áudios cujos comandos o programa não consegue interpretar, ela ouve o que parece ser um assassinato. Angela tenta levar o problema aos superiores, mas todos estão preocupados que a empresa em breve venderá ações na bolsa, preferindo silenciar Angela. Assim, a jovem precisa superar os medos, lidar com a ameaça e resolver o mistério.

Zoe Kravitz é ótima em construir o senso de alienação e distanciamento de Kimi, tão incomodada e temerosa por contato que soa quase como alguém com Asperger. Como o roteiro trata apenas de maneira vaga os eventos que levaram ao trauma da personagem, cabe à atuação de Kravitz nos mostrar como a ideia de sair de casa deixa Angela aterrorizada.

segunda-feira, 7 de março de 2022

Crítica – Cyberpunk 2077 (PS5)

 Análise Crítica – Cyberpunk 2077 (PS5)

Review – Cyberpunk 2077 (PS5)
Com versões apenas para as gerações anteriores, o lançamento de Cyberpunk 2077 para consoles dava a impressão de um produto incompleto. Texturas não carregavam, instabilidade completa na taxa de quadros, vários bugs e crashes tornavam impossível de jogar. Alguns patches depois a performance estava razoavelmente estabilizada, mas era evidente que as versões de PS4 e Xbox One estavam muito abaixo da de PC.

Isso ficou claro para mim jogando a versão de PS4 no PS5, já que mesmo com a estabilidade de performance da nova geração, o game ainda tinha problemas. Agora, com o lançamento das versões para a nova geração de consoles e mais alguns patches que adicionam ou modificam alguns elementos da jogabilidade, Cyberpunk 2077 soa como o jogo que a desenvolvedora polonesa CD Projekt Red tinha prometido. As texturas e visuais não tem mais o aspecto borrado de antes e elementos à distância não se materializam do nada.