quinta-feira, 24 de março de 2022

Crítica – Sorte de Quem?

 

Análise Crítica – Sorte de Quem?

Review – Sorte de Quem?
Dirigido por Charlie McDowell, responsável pelo bacana e pouco visto Complicações do Amor (2015), este Sorte de Quem? está longe de ser um típico suspense sobre invasão doméstica. Na verdade, quem assistir o filme procurando um suspense padrão provavelmente vai se decepcionar, já que McDowell está mais interessado na colisão de personalidades e interesses de seus personagens do que na tensão ou na intriga.

Na trama, um homem que nunca é nomeado (Jason Segel) invade a casa de veraneio de um bilionário da tecnologia, imaginando que o local estará vazio. Quando o dono da casa (Jesse Plemons) e sua esposa (Lily Collins), chegam inesperadamente no local, o estranho acaba fazendo-os de reféns numa tentativa de faturar mais.

Com planos que se estendem bastante e tensões que se constroem aos poucos, a construção da trama é relativamente lenta, mas que compensa conforme tudo chega ao sangrento clímax. É, no entanto, menos sobre o jogo de gato e rato entre sequestrador e reféns e mais uma tentativa de entender quem são essas pessoas através do dispositivo da situação limite na qual são colocadas.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Crítica – Horizon: Forbidden West

 

Análise Crítica – Horizon: Forbidden West

Review – Horizon: Forbidden West
Desenvolvido pela Guerrilla Games, Horizon: Zero Dawn foi um dos melhores jogos de 2017. Com um singular universo pós-apocalíptico no qual a humanidade regrediu a um estado tribal e o mundo foi dominado por máquinas de aparência animal, o jogo entregava uma narrativa envolvente, bons personagens, combate desafiador e uma exploração recompensadora. Então obviamente fiquei empolgado de retornar a este universo em Horizon: Forbidden West.

A trama se passa meses depois do jogo original e da expansão Frozen Wilds. Apesar da vitória contra Hades, o mundo ainda enfrenta um potencial cataclismo ambiental a menos que Aloy consiga restaurar Gaia, a IA responsável pela terraformação do planeta. Depois de expedições malsucedidas, a heroína encontra pistas de que Gaia poderia estar na costa oeste, mas o “oeste proibido” é um lugar perigoso e lá Aloy também encontrará novos e antigos adversários.

A narrativa consegue trazer várias revelações inesperadas e assim como no original, consegue envolver pela condução dos mistérios. Perto do final, no entanto, tudo fica um pouco aloprado demais em relação a tudo que foi construído até então, ao ponto em que não sei se é exatamente uma boa direção para a franquia e próximos games. Eu entendo que a ideia era mostrar como o egocentrismo e irresponsabilidade dos bilionários resulta em uma insensibilidade genocida, mas o jogo original já tinha feito isso bem com a história de Ted Faro. Aqui as adições tanto ao passado quanto ao presente fazem pouco para aprofundar essas questões, na verdade tornam algumas figuras mais superficiais e em alguns momentos destoam do resto da trama.

terça-feira, 22 de março de 2022

Crítica – Águas Profundas

Análise Crítica – Águas Profundas


Review – Águas Profundas
É curioso como filmes estrelados por atores que formam um casal na vida real nem sempre dão certo. Ben Affleck já tinha experimentado isso com Jennifer Lopez quando fizeram o pavoroso Contato de Risco (2003) e agora volta a dividir a tela com uma companheira da vida real (ainda que agora não estejam mais juntos, aparentemente) em Águas Profundas.

Adaptando um romance de Patricia Highsmith (que escreveu, entre outras coisas, O Talentoso Ripley), a trama acompanha o casal Victor (Ben Affleck) e Melinda (Ana de Armas). Os dois vivem há tempos em uma relação estagnada, distante, e Melinda não tem nenhum problema em se envolver em casos extraconjugais e até levar seus amantes para festas da família, exibindo-os diante de todos. Um dia Victor decide abandonar sua postura passiva e resolve matar o mais recente amante (Jacob Elordi) da esposa.

O principal problema da trama é que o roteiro nunca nos dá contexto para como a relação dos dois chegou nesse estado. O que causou a estagnação no relacionamento? Porque Melinda decidiu trair o marido de maneira tão acintosa ao ponto de exibir seus amantes na frente dele e todos os seus amigos? Não é uma decisão que simplesmente acontece em uma pessoa que tem um casamento com filhos.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Crítica – Red: Crescer é uma Fera

 

Análise Crítica – Red: Crescer é  uma Fera

Review – Red: Crescer é  uma Fera
Fazia tempo que a Pixar não fazia um filme tão maduro quanto este Red: Crescer é uma Fera, uma produção que pondera sobre as dores do amadurecimento e a complexidade das relações entre pais e filhos. A trama se passa no Canadá do início dos anos 2000 e é protagonizada por Meilin, uma garota de treze anos que sofre para atender as altas (e por vezes impossíveis) que a mãe, Ming, tem para ela. Um dia, depois de uma discussão com a mãe, Meilin se vê transformada em um enorme panda vermelho, descobrindo que isso é algo que acontece com as mulheres de sua família sempre que alcançam uma certa idade.

Meilin logo aprende a controlar a transformação e pensa em como conviver com ela, mas Ming acha melhor que a filha evite se transformar e pede que Meilin espere até o momento apropriado para um ritual que irá selar o panda dela para sempre. Aos poucos, no entanto, Meilin se questiona se quer se livrar dessa parte de si.

A ideia de uma transformação ligada a emoções extremas e a chegada da adolescência é uma clara metáfora para a puberdade (e a cor vermelha pode ser relacionada à menstruação). Digo isso tanto no sentido das transformações físicas da puberdade e dificuldade de conviver com essas mudanças e entender o próprio corpo, mas também das mudanças comportamentais da adolescência conforme os jovens começam a ser mais independentes, descobrir seu lugar no mundo e sair da proteção dos pais.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Crítica – Amor Sublime Amor

 

Análise Crítica – Amor Sublime Amor

Review – Amor Sublime Amor
Com canções escritas por Stephen Sondheim, um dos melhores compositores a passar pela Broadway, Amor Sublime Amor (1961) foi um dos melhores musicais já feitos. Assim, o diretor Steven Spielberg tinha uma tarefa difícil nas mãos em tentar fazer uma nova versão. Existiam aspectos no original que não envelheceram muito bem que davam uma possibilidade de tentar algo novo, mas o esforço de Spielberg se escora tanto no original ao ponto em que essa nova versão soa desnecessária.

A trama se passa na década de 1950 em uma zona periférica de Nova York, cujo bairro está sendo demolido para dar lugar a novos empreendimentos imobiliários. O terreno é também habitado por duas gangues rivais, os Sharks, uma gangue de imigrantes latinos, e os Jets, uma gangue formada pela comunidade branca local. Nesse cenário de disputas floresce o amor proibido entre Maria (Rachel Zegler), uma jovem imigrante irmã do líder dos Sharks, e Tony (Ansel Elgort), melhor amigo do líder dos Jets e que está tentando reconstruir a vida depois de sair da cadeia.

Muito se falou sobre como Spielberg “corrigiu” os problemas do original. A verdade, no entanto, é que colocar atores de origem latina para os personagens latinos ou não legendar as falas em espanhol, tratando-a como uma língua tão nativa quanto o inglês, é o mínimo que se espera de uma adaptação de um filme de sessenta anos em plena terceira década do século XXI. O filme avança muito pouco em boa parte das discussões sobre classe e raça em relação ao original, o que soa como um desperdício de potencial considerando o quanto esse debate avançou e a ascensão recente de grupos e discursos xenófobos nos EUA. Assim, é estranho que o olhar de Spielberg acerca de todas essas questões ainda soe tão similar a algo produzido na metade do século passado.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Drops – Espiral: O Legado de Jogos Mortais

 

Análise Crítica – Espiral: O Legado de Jogos Mortais

Review – Espiral: O Legado de Jogos Mortais
Existem dois filmes contidos neste Espiral: O Legado de Jogos Mortais e nenhum deles é minimamente interessante. De um lado há uma tentativa de continuar o universo de Jogos Mortais sem Jigsaw, de outro há uma trama de terror e suspense sobre brutalidade policial e impunidade destes.

Na narrativa, o detetive Zeke (Chris Rock) investiga uma série de assassinatos envolvendo policiais e armadilhas mortais que remetem ao trabalho de Jigsaw. Assim, Zeke precisa deter o assassino e descobrir o que está acontecendo. Normalmente os filmes da franquia Jogos Mortais se passam em locais confinados cheios de armadilhas, mas aqui a estrutura é menos Jogos Mortais e mais uma trama genérica de serial killer. Na verdade, sequer há tantas conexões assim com a franquia original e até o assassino é só um qualquer sem envolvimento direto com Jigsaw.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Drops – O Projeto Adam

 

Análise Crítica – O Projeto Adam

Review – O Projeto Adam
De início O Projeto Adam parece uma daquelas aventuras da década de oitenta, cheia de humor e encantamento, mas aos poucos vai perdendo a graça pela natureza frouxa do universo que constrói e a superficialidade de seus personagens. Na trama, Adam (Walker Scobell) é um garoto que tem dificuldade de se ajustar depois da morte do pai. Arranjando problemas na escola e ressentindo a mãe, Ellie (Jennifer Garner), por estar seguindo adiante com a vida, o garoto parece à deriva. Um dia ele encontra um estranho na propriedade da família e logo descobre que esse estranho é ele próprio mais velho, vindo do futuro. O Adam futuro (Ryan Reynolds) veio ao passado para impedir uma catástrofe, mas é caçado por implacáveis vilões.

O garoto Waker Scobell é perfeito em reproduzir a natureza verborrágica da persona de Ryan Reynolds, convencendo como uma versão mirim dele. As interações entre os dois são o ponto alto do filme por conta dos diálogos ágeis e bem humorados nos quais o garoto pergunta várias coisas sobre o próprio futuro. Mais adiante, o contato com o pai de Adam, Louis (Mark Ruffalo), também rende momentos de diversão, além de emoção genuína. O filme também entrega boas cenas de ação que exploram criativamente diversas possibilidades de tecnologias futuristas.

terça-feira, 15 de março de 2022

Rapsódias Revisitadas – O Beijo da Mulher-Aranha

Análise – O Beijo da Mulher-Aranha

Review – O Beijo da Mulher-Aranha
Lançado em 1985 e dirigido por Hector Babenco, O Beijo da Mulher-Aranha chama atenção pelo tanto que consegue fazer com poucos personagens e em um espaço limitado. A trama foca em dois personagens, Molina (William Hurt) uma drag queen presa por corrupção de menores e Valentin (Raul Julia), um ativista político detido por fazer parte de um grupo revolucionário que tenta derrubar o governo ditatorial que controla o país. Molina foi incumbido pelo diretor da prisão (José Lewgoy) para se aproximar de Valentin e conseguir dele qualquer informação que os carcereiros não consigam mediante tortura. O problema é que aos poucos Molina se apaixona por Valentin.

Se passando boa parte do tempo dentro da cela de Molina e Valentin, o filme se apoia no desempenho dos dois protagonistas para falar sobre opressão, fuga e liberdade. Os dois personagens são indivíduos perseguidos simplesmente por serem quem são, Valentin por uma ideologia que desagrada ao governo ditatorial (que é claramente uma representação da ditadura militar brasileira) e Molina por sua sexualidade. Suas prisões não são, portanto, apenas a cela física que os detêm, mas também as próprias convenções sociais da época que os tratam como cidadãos de segunda classe.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Crítica – Turma da Mônica: Lições

 

Análise Crítica – Turma da Mônica: Lições

Review – Turma da Mônica: Lições
Adaptando a graphic novel de mesmo nome escrita por Vitor e Lu Cafaggi, este Turma da Mônica: Lições é um esforço melhor em levar a turminha ao live-action do que Turma da Mônica: Laços (2019). Não que Laços fosse ruim, longe disso, mas acabava focando demais no Cebolinha e tinha problemas na maneira como construía a relação entre ele e a Mônica. Aqui, no entanto, cada membro da turma tem seus próprios arcos e seu espaço para brilhar.

Na trama, depois que uma tentativa de fugir da escola dá errado e termina com Mônica (Giulia Benite) quebrando o braço, os pais da turminha decidem separar os garotos, colocando-os em atividades extracurriculares e Mônica muda de escola. Sem a proteção de Mônica, Cebolinha (Kevin Vechiatto) e Cascão (Gabriel Moreira) se tornam vítimas dos valentões da escola, enquanto Magali (Laura Rauseo) tem dificuldade de ficar sem a amiga. Mônica, por sua vez, também se sente sozinha na nova escola, principalmente depois que um garoto mais velho rouba seu coelho de pelúcia, Sansão.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Crítica – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

 

Análise Crítica – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing

Review – Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing
O documentário Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing é uma daquelas histórias ao estilo “eles sabiam o tempo todo!” no qual descobrimos que alguma grande tragédia que vitimou centenas de pessoas não foi um acidente ou infortúnio, mas fruto de negligência criminosa cometida por uma empresa bilionária que decidiu rifar a vida de pessoas para ampliar suas margens de lucro.

A trama narra os problemas do modelo Boeing 737 Max que causaram duas quedas de avião em um intervalo de cinco meses e causaram centenas de mortes. Através de imagens de arquivo, testemunhos de ex-funcionários, especialistas e familiares das vítimas, o documentário explica quais foram os problemas que causaram a queda das duas aeronaves e como a Boeing não apenas sabia que os aviões tinham defeitos, como ocultaram esses defeitos dos órgãos de regulação e das empresas aéreas que compraram seus aviões.

É uma estrutura bem quadrada de documentário que arrisca ou inova pouco na maneira de contar a história. Nos momentos em que tenta, como as reconstituições de eventos nos cockpits dos aviões, sofre com uma computação gráfica tosca que quebra a imersão ao invés do efeito pretendido de nos deixar mergulhados no caos que os pilotos das duas aeronaves devem ter experimentado. Em alguns momentos também deixa de explicar alguns jargões técnicos de aviação utilizados dificultando o entendimento de certos elementos.