sexta-feira, 8 de abril de 2022

Drops – As Faces da Beleza

 

Análise Crítica – As Faces da Beleza

Review Crítica – As Faces da Beleza
Durante muito tempo o padrão de beleza feminina promovido pelos veículos de comunicação de massa era um padrão que valorizava traços associados a pessoas brancas. Por mais que saibamos que beleza não é tudo, vivemos em uma estrutura social que valoriza a beleza e, por isso, tratar como abjeto, desagradável ou indigno de ser considerado belo um determinado grupo social implica em considerar esse grupo como inferioro. Essa é a discussão que As Faces da Beleza tenta fazer sobre a importância de valorizar e dar visibilidade à beleza negra.

Em termos de estrutura é um documentário bem padrão, com entrevistas e imagens de arquivo, fazendo muito pouco em termos estéticos para ajudar na nossa imersão ao tema, valorizando mais a exposição oral de seus argumentos e usando imagens para ilustrar ou demonstrar certos pontos de vista. É possível ver que há uma ampla pesquisa e presença de estudiosos da área para falar de como o discurso ao redor da aparência da mulher negra foi modulado durante séculos para tratar as feições dessa população como pouco atraentes, aberrantes ou hiperssexualizadas a ponto de reduzi-las a objetos.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Drops – Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial

 

Análise Crítica – Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial

Review – Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial
Dirigido por Richard Linklater, realizador que já fez outros trabalhos com animação em rotoscopia (quando se desenha por cima das performances de atores reais) e neste Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial busca recriar o clima dos anos de 1960. A trama segue Stan, um garoto chamado pela NASA para a missão de testar um módulo espacial que foi erroneamente construído muito pequeno. Assim, Stan seria a primeira pessoa na Lua, antes de Neil Armstrong e a missão da Apollo 11.

Toda a aventura tem um clima de nostalgia, que tenta nos deixar imersos na experiência de como seria viver na década de 60. De certa forma, Linklater parece mais interessado em reconstruir essa experiência sensível a partir do que filme, do que contar sobre a aventura de Stan no espaço. A trama se entrega a longas digressões que impedem a progressão da trama, mas que valem pelo amplo panorama que pintam sobre como era a vida neste período, tudo contado com muito humor e afeto pela maneira com a qual Linklater constrói suas imagens e pela narração de Jack Black, que faz a versão adulta de Stan. Em muitos momentos, a impressão é que a trama envolvendo Stan e a NASA nem precisaria existir para dar conta do que Linklater quer.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Crítica – Kirby and the Forgotten Land

 

Análise Crítica – Kirby and the Forgotten Land

Review – Kirby and the Forgotten Land
Depois de décadas em aventuras bidimensionais, a Nintendo dá ao Kirby uma aventura tridimensional neste Kirby and the Forgotten Land para Nintendo Switch. Os primeiros trailers surpreendiam ao mostrar a bolota rosa caminhando por espaços abertos do que pareciam ser ruínas de uma civilização humana, dando a impressão de um mundo aberto pós-apocalíptico. Embora esse tipo de ruína seja prevalente durante o game, o produto final, como já tinha ficado evidente nos demos lançados, não tem uma estrutura aberta e sim por fases tridimensionais com espaços a explorar e alguma linearidade. Algo similar a Super Mario 3D World.

Na trama, Kirby é inesperadamente tragado por um portal que o leva a um terra arruinada. Lá ele encontra uma criatura chamada Eiflin, que o auxilia a resgatar os Waddle Dees que também foram transportados para este mundo e sequestrados por um misterioso grupo de vilões chamado The Beast Pack. Apesar do mundo em ruínas, o game ainda apresenta um universo colorido e fofo como os outros games do personagem, conseguindo mesclar com habilidade essa estética apocalíptica com os visuais mais cartunescos.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Crítica – Não Confie em Ninguém: A Caça ao Rei da Criptomoeda

 

Análise Crítica – Não Confie em Ninguém: A Caça ao Rei da Criptomoeda

De início esse Não Confie em Ninguém: A Caça ao Rei da Criptomoeda parece mais um desses documentários sobre crimes reais insólitos. O problema é que conforme a trama progride, o filme se rende a muita especulação e expedientes sensacionalistas ao ponto em que quando chegamos ao final fica a impressão de que haviam poucos fatos concretos para justificar seus noventa minutos.

A narrativa conta a história da QuadrigaCX uma empresa de corretagem de criptomoeda que ganhou proeminência no Canadá quando o Bitcoin começou a se tornar uma tendência na especulação financeira. O fundador da empresa, Gerry Cotten, se tornou uma figura proeminente no mercado financeiro e promotor da importância das criptomoedas. Anos depois, a empresa se viu enrolada em escândalos que culminaram com muitos clientes não sendo capazes de retirar seus investimentos, algo que piora quando Gerry inesperadamente morre em uma viagem à Índia, sendo que ele tinha todas as senhas para as carteiras virtuais de Bitcoin da empresa.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Crítica – Sonic 2: O Filme

 

Análise Crítica – Sonic 2: O Filme

Review – Sonic 2: O Filme
Considerando o baixo nível das adaptações de games, Sonic: O Filme foi uma relativa surpresa ao ser bem fiel ao espírito do ouriço azul. Tinha problemas de ritmo e os personagens humanos eram desinteressantes, mas conseguia ser moderadamente divertido. Esse Sonic 2: O Filme melhora em alguns aspectos, mas repete alguns erros do anterior.

Na trama, Robotinik (Jim Carrey) consegue voltar à Terra e busca vingança contra Sonic  (Ben Schwartz) e Tom (James Marsden). O cientista louco, no entanto, não chega sozinho e vem acompanhado de Knuckles (Idris Elba), que busca o poder da Esmeralda Mestra.

Assim como o primeiro filme, essa segunda aventura sofre com problemas de ritmo, ao se render a digressões que pouco acrescentam à trama e apenas quebram o ritmo de urgência e velocidade que a narrativa tenta construir. Alguns segmentos, como a cena de Sonic e Tails (Collen O'Shanussy) em uma taverna russa, poderiam ser cortados sem problemas. O mesmo pode ser dito de boa parte das subtramas envolvendo os personagens humanos, como o casamento da cunhada de Tom ou o momento em que Maddie (Tika Sumpter) vai resgatar Sonic dos militares. São segmentos que apenas protelam o desenvolvimento do conflito principal e oferecem muito pouco em troca.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Lixo Extraordinário – O Bingo Macabro

 

Análise – O Bingo Macabro

Review Lixo Extraordinário – O Bingo Macabro
Este O Bingo Macabro é um daqueles filmes que te dá a impressão de que vai ser um trash divertido por conta de sua premissa aloprada. A verdade é que a produção não faz nada de interessante com suas ideias, nem mesmo em termos de gore ou maluquice, então apesar das imagens de divulgação darem a impressão de que veremos uma idosa armada explodindo demônios no seu salão de bingo, a verdade é que muito pouco acontece.

A trama é protagonizada por Lupita (Adriana Barraza), uma senhora que vê seus amigos se mudarem conforme empresas imobiliárias compram as propriedades do bairro para produzir imóveis caros, atraindo hipsters e gentrificando o local. A gota d’água para Lupita ocorre quando seu salão de bingo é vendido, com o misterioso Sr. Dinheiro (Richard Brake) assumindo o negócio e prometendo prêmios altíssimos. Quando as pessoas que vencem no bingo começam a morrer sob circunstâncias misteriosas, Lupita começa a perceber que forças macabras estão em ação.

quinta-feira, 31 de março de 2022

Crítica – Nossa Bandeira é a Morte

 

Análise Crítica – Nossa Bandeira é a Morte

Review – Nossa Bandeira é a Morte
Confesso que fui pego desprevenido por Nossa Bandeira é a Morte, série de piratas produzida pela HBO Max. De início parece apenas uma paródia com os clichês de filmes de piratas, mas conforme a temporada avança, ela cava mais fundo das ideias por trás da mitologia desse tipo de narrativa e vira tudo do avesso.

A trama é centrada em Stede Bonnet (Rhys Darby) um homem que deixou para trás uma vida infeliz pelo sonho de se tornar pirada. O problema é que Bonnet, apesar de seu otimismo e boa vontade, é completamente incompetente como pirata, mal conseguindo sobreviver aos perigos dessa vida não fosse o auxílio dos excêntricos membros de sua tripulação. Eventualmente ele cruza com o temível Barba Negra (Taika Waititi), que fica intrigado porque alguém da alta sociedade como Stede viraria pirata.

Stede, por sinal, é baseado em uma pessoa real. Um dono de fazenda de Barbados que largou esposa e filhos para se tornar pirata sob a alcunha de “o pirata cavalheiro”, o Stede Bonnet real é basicamente uma nota de rodapé na história da pirataria. Seria fácil a série reduzi-lo ao ridículo (e isso é feito em muitos momentos), mas o personagem nunca se limita a isso.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Crítica – A Pior Pessoa do Mundo

 

Análise Crítica – A Pior Pessoa do Mundo

Review – A Pior Pessoa do Mundo
Em tese, A Pior Pessoa do Mundo é um filme que não deveria dar certo. Mudanças bruscas de tom e de regime estético tinham tudo pra tornar o filme uma bagunça incoerente. No entanto, o diretor norueguês Joachim Trier transforma em força a bricolagem inconstante que estrutura a trama, construindo um retrato agridoce sobre amadurecimento.

A trama acompanha Julie (Renate Reinsve), uma jovem que se aproxima dos trinta anos e se sente à deriva na vida, mudando constantemente de carreiras e prioridades. Em uma narrativa dividida em capítulos, o espectador acompanha Julie ao longo de quatro anos de sua vida enquanto ela tenta se encontrar profissionalmente e afetivamente em parceiros como o cartunista Aksel (Anders Denielsen) e Eivind (Herbert Nordrum).

Renate Reinsve traz um olhar inquieto a Julie, como alguém que sempre parece em busca de algo, de um ponto focal em que possa se fixar. É alguém movida por um desejo de construir uma vida para si ao mesmo tempo em sente a ansiedade de ver todos ao seu redor parecem já estabilizados e seguros de seus rumos de vida. Julie não tem nada disso, um sentimento que muitas pessoas na faixa dos trinta conseguem simpatizar conforme sabemos que não somos mais jovens e já deveríamos saber muito sobre nós mesmos ao mesmo tempo em que não nos sentimos adultos ou plenamente no controle de nossas vidas.

terça-feira, 29 de março de 2022

Crítica – Fantasmas do Passado

 

Análise Crítica – Fantasmas do Passado

Review – Fantasmas do Passado
Queria ter gostado mais deste Fantasmas do Passado, longa dirigido por Mariama Diallo sobre tensões raciais. Não que seja um filme ruim, mas não chega a aproveitar plenamente as ideias que apresenta. A trama se passa em uma universidade de elite no interior dos Estados Unidos. É um espaço predominantemente branco e isso afeta as duas protagonistas. De um lado Gail (Regina Hall) é a primeira mulher negra a assumir um cargo na alta gestão da faculdade, como diretora de assistência estudantil. Do outro está Jasmine (Zoe Renee), uma jovem negra recém ingressa na faculdade, cujo dormitório foi, no passado, um local em que a primeira estudante negra da faculdade cometeu suicídio.

A narrativa constrói bem o desconforto racial experimentado pelas duas personagens, que em seu percurso pela instituição são constantemente lembradas do passado racista daquele lugar e como pessoas como elas eram tratadas como alguém inferiores. Mais que isso, a jornada de ambas é ter esse desconforto relativizado por outros personagens, que acham que a presença delas ali já mostraria por si só como aquele espaço está longe de ser racista.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Crítica – Drive My Car

 

Análise Crítica – Drive My Car

Review – Drive My Car

Alguns filmes nos causam dificuldades de falar sobre ele. Este Drive My Car, dirigido por Ryusuke Hamaguchi, é um desses filmes. São tantas sutilezas, tantos pequenos elementos que se juntam para produzir uma catarse sobre luto e falta de comunicabilidade que fico com receio de deixar algo de fora e não fazer justiça à produção.

A trama acompanha o ator e dramaturgo Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima). Depois da morte da esposa, Kafuku é chamado para uma residência em um teatro em Hiroshima para uma montagem da peça Tio Vânia, de Anton Chekov. Lá ele é colocado sob os cuidados da motorista Misaki Watari (Toko Miura), apesar de dizer que pode dirigir sozinho. Aos poucos um laço de amizade see forma entre eles conforme trocam experiências sobre o que perderam.

Hamaguchi conduz as três horas de projeção em um ritmo bem deliberado, dando tempo para que possamos perceber cada gesto, cada olhar, cada pequeno elemento que parece casual, mas que diz muito sobre a vida interna dos personagens. Um exemplo é como o enquadramento se detem sob o olhar perdido de Kafuku enquanto ele transa com a esposa, mostrando a desconexão entre os dois. Do mesmo, o plano com as mãos de Kafuku e Watari segurando seus cigarros acima do teto solar aberto do carro revela a cumplicidade que se formou entre os dois.