terça-feira, 26 de julho de 2022

Crítica – Boa Sorte, Leo Grande

 

Análise Crítica – Boa Sorte, Leo Grande

Apesar do título, Boa Sorte, Leo Grande é mais sobre a viúva interpretada por Emma Thompson do que o personagem. Não chega a ser um problema grande, que o torne um produto ruim, mas deixa a impressão de que o personagem não tem todo o seu potencial aproveitado. O que fica é uma exploração cheia de sensibilidade dos tabus sexuais sob os quais boa parte da população vive.

A trama é focada em Nancy (Emma Thompson) uma viúva de 55 anos que resolve contratar um garoto de programa, Leo Grande (Daryl McCormack), para experimentar com a própria sexualidade, já que nunca teve outro parceiro além do finado marido e nunca teve um orgasmo. De início ela se mostra arredia em se entregar completamente, mas ao longo dos encontros com Leo vai se conectando a ele e ambos vão se abrindo para o outro.

Nancy é tão tomada por culpa ou pelo sentimento de que está fazendo algo errado que enche Leo de perguntas sobre seu passado ou suas motivações na esperança de encontrar algo repreensível naquele jovem que está ali para servi-la ou na situação em si. Ela está tão convencida da natureza abjeta de suas ações que busca algo de vulgar, sujo ou imoral nas ações de Leo por ter sido convencida a vida toda de que sexo e prazer eram coisas das quais deveria ter vergonha.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Crítica – Agente Oculto

 

Análise Crítica – Agente Oculto

Review – Agente Oculto
Depois de sua primeira incursão em blockbusters de ação de alto orçamento com Alerta Vermelho (2021), a Netflix volta a esse filão em Agente Oculto e a impressão é de o serviço de streaming não aprendeu nada com os problemas da incursão anterior. É certamente uma produção que investe nas cenas de ação e em seus astros, mas não dá nada para sustentar nosso interesse elementos.

A trama é centrada em Seis (Ryan Gosling) um agente oculto da CIA treinado para missões secretas de assassinato. Quando ele topa com um segredo que pode incriminar um de seus superiores, Carmichael (Regé-Jean Page), ele se torna alvo da própria agência. Em seu encalço está o sádico Lloyd (Chris Evans).

É uma trama bem típica do espião com consciência contra o espião sem escrúpulos e se desenvolve sem nenhuma grande surpresa ou qualquer elemento que tente fazer algo diferente dos lugares comuns. Até mesmo as eventuais reviravoltas e mudanças de lado soam protocolares, acontecendo porque precisam acontecer e não por ser uma decorrência orgânica do desenvolvimento daqueles personagens.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Better Call Saul e as simetrias entre seus personagens

 

Better Call Saul Temporada 6 Episódio 9

Eu prometi a mim mesmo que só escreveria sobre a segunda metade da temporada de Better Call Saul quando acabasse, mas o nono episódio desse sexto ano foi tão bom que não tenho como não falar nada. De certa forma o tema central da série era o mesmo de Breaking Bad: o de como o crime corrompe e destrói mesmo alguém que não era maligno. Walt começa com boas intenções e se dedica tanto ao seu império de metanfetamina que relega a família, o exato motivo para ter feito tudo aquilo, a algo menos importante e põe tudo a perder.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Crítica - Killing Eve: 4ª Temporada

 

Análise Crítica - Killing Eve: 4ª Temporada

Review - Killing Eve: 4ª Temporada
Depois de uma terceira temporada que era um pouco inferior às duas primeiras, mas ainda mantinha o que tornava a série interessante, Killing Eve entrega sua pior temporada neste último ano. Quando eu digo que é ruim, não quero dizer que é ruim se comparado ao alto nível do resto da série, quero dizer que é ruim em termos gerais mesmo, se igualando a desastres como as temporadas finais de Dexter ou Glee como um dos piores finais de série. Aviso que o texto inevitavelmente apresentará SPOILERS da temporada.

Nessa última temporada Eve (Sandra Oh) está obcecada em encontrar e destruir os Doze, uma cabala sombria de operativos que manipulam nas sombras eventos globais. Ao mesmo tempo, Villanelle (Jodie Comer) tenta se tornar uma pessoa melhor, se juntando a uma comunidade religiosa. Konstantin (Kim Bodnia), por sua vez, treina uma nova assassina para substituir Villanelle no trabalho para os Doze em Pam (Anjana Vassan).

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Crítica – Medida Provisória

 

Análise Crítica – Medida Provisória

Review – Medida Provisória
É muito significativo dos tempos em que estamos vivendo que o texto da peça Namíbia, Não!, escrita por Aldri Anunciação seja hoje talvez mais atual do que na época em que foi escrito. A peça é adaptada neste Medida Provisória por Lázaro Ramos, em sua estreia como diretor, sendo que Lázaro também atuou na peça de teatro.

A trama se passa em um futuro próximo no qual o governo decide deportar de volta para a África todos os cidadãos afrodescendentes. A medida é tratada como uma espécie de reparação histórica para a diáspora da escravidão, mas na verdade é uma ação higienista que visa se livrar de toda a população negra do Brasil. Em meio a isso, o advogado Antônio (Alfred Enoch) e o primo André (Seu Jorge) se refugiam no apartamento de Antônio já que as autoridades não podem invadir um domicílio sem mandado. Capitu (Taís Araújo), esposa de Antônio, foge do hospital no qual trabalha depois de ser quase capturada e se refugia em um esconderijo com outras pessoas negras que tentam evitar captura.

terça-feira, 19 de julho de 2022

Crítica – Persuasão

 

Análise Crítica – Persuasão

Review – Persuasão
Mais de uma vez eu já falei aqui que não me importo que uma adaptação mude elementos do texto original. Isso faz parte do esforço necessário para transpor um material de uma mídia para outra. Algumas adaptações inclusive conseguem se tornar melhores que o original por conta dessas mudanças como é o caso de The Boys, Tubarão (1975) ou E.T: O Extraterrestre (1982). A questão não é mudar elementos ou seguir à risca a obra, mas se manter fiel ao espírito e as ideias do material fonte. É nesse aspecto que Persuasão, mais nova adaptação do romance homônimo de Jane Austen, falha retumbantemente. É algo tão divorciado de sua fonte, tão incapaz de compreender suas ideias básicas e executá-las com alguma competência que sequer faz sentido querer ser uma adaptação da obra de Austen.

A premissa básica é a mesma do livro. Na Inglaterra do século XIX Anne Elliot (Dakota Johnson) se apaixona por Wentworth (Cosmo Jarvis), mas é persuadida pela mentora e figura materna Lady Russell (Nikki Amuka-Bird) a se afastar dele por ser um homem sem posses ou prospectos. Oito anos depois Anne continua solteira e sua família a vê como um fracasso. O vaidoso pai de Anne, Sir Walter (Richard E. Grant), está atolado em dívidas e família precisa se mudar. Na cidade de Bath, Anne reencontra Wentworth, agora um condecorado oficial da marinha.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Crítica – O Telefone Preto

 

Análise Crítica – O Telefone Preto

Review – O Telefone Preto
Dirigido por Scott Derrickson (responsável pelo primeiro Doutor Estranho) e produzido pela Blumhouse, O Telefone Preto é um competente conto de terror sobre sobrevivência e alcançar o próprio potencial. Em geral não costumo ficar atraído por essas histórias de pessoas em cativeiro, já que costumam ser tramas que se baseiam meramente na espetacularização do sofrimento de seus protagonistas. Aqui, no entanto, o texto consegue usar a situação para dizer algo sobre seus personagens.

Na trama, Finney (Mason Thames) é um garoto tímido, mas inseguro e pouco afeito a conflitos. Ele mora com a irmã mais nova Gwen (Madeleine McGraw) e ambos tem uma relação complicada com o violento pai, Terrence (Jeremy Davies). O fato de Finney sofrer bullying na escola e também ser agredido pelo pai só colabora para que ele seja ainda mais retraído.

O garoto acaba sendo levado por um misterioso sequestrador (Ethan Hawke), que vem abduzindo e matando crianças da cidade. No cativeiro Finney encontra um misterioso telefone preto na parede. O aparelho não funciona, mas Finney começa a receber ligações de outras crianças mortas pelo sequestrador e a partir das informações que obtém começa a tentar encontrar um meio de fugir.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Crítica – Sob Pressão: 5ª Temporada

 

Análise Crítica – Sob Pressão: 5ª Temporada

Review – Sob Pressão: 5ª Temporada
Confesso que não esperava que Sob Pressão fosse ter mais uma temporada. O quarto ano da série acabou tão bem que podia tranquilamente ser o fim da série. Ainda assim, estou feliz por Sob Pressão ter chegado à sua quinta temporada (que provavelmente será a última), já que ela continua a ser uma das melhores séries brasileiras dos últimos anos. Aviso que o texto contem SPOILERS da temporada.

Nesta temporada Evandro (Júlio Andrade) reencontra o pai, Heleno (Marco Nanini), de quem estava afastado há anos. Heleno está com Alzheimer e precisa de cuidados constantes, então Evandro, mesmo não querendo se reaproximar do pai, o leva para casa, já que é o único parente que ele tem. Enquanto isso, Carolina (Marjorie Estiano) descobre um nódulo no seio e procura o mastologista Daniel (Emilio Dantas), com quem ela teve um caso no passado. As duas crises colocam bastante tensão no relacionamento entre Evandro e Carolina.

Além das tramas contínuas dos protagonistas, a série também tem seus típicos “casos da semana” com os pacientes que chegam diariamente ao hospital. Como em outras temporadas, esses casos servem para pensar questões da realidade brasileira. Um deles, por exemplo traz uma mulher com problemas de saúde depois de anos vivendo sob condições de trabalho análogo à escravidão. Em outro um jovem negro é brutalmente agredido na rua ao ser confundindo com um ladrão por uma mulher branca. Uma da influenciadora digital que sofre complicações de uma plástica mal feita por um médico picareta, algo que lamentavelmente tem ocorrido com certa frequência. Além de doenças físicas, são tramas que revelam as doenças sociais de um país marcado por desigualdades e outros problemas.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Crítica – Ms. Marvel

 

Análise Crítica – Ms. Marvel

Review – Ms. Marvel
Depois que Cavaleiro da Lua prometeu algo mais ao estilo de um estudo de personagem e acabou entregando um clímax que se entregava a todos os lugares-comuns de histórias de super-heróis, Ms. Marvel chega para entregar uma trama focada em sua protagonista de maneira mais coesa. Apesar de ter seus momentos de ação, o interesse principal é o amadurecimento de sua protagonista e como ela lida com questões de identidade e pertencimento. Aviso que o texto contem SPOILERS da série.

Na trama, Kamala (Iman Vellani) é uma adolescente de origem paquistanesa que é fã de super-heróis, principalmente da Capitã Marvel (Brie Larson). A vida de Kamala muda quando ela usa um antigo bracelete que pertenceu a sua bisavó e ganha estranhos poderes de manipular energia. Essas habilidades colocam ela na mira do Controle de Danos, agência governamental que monitora indivíduos com potencial destrutivo, e também de um grupo de seres poderosos interessados no bracelete.

A trama é menos sobre combater uma ameaça específica e mais sobre Kamala compreender seu lugar no mundo como uma filha de imigrantes que vive em um constante entrelugar entre o país no qual nasceu, com tudo que ela se identifica nele, e a cultura de sua família cuja comunidade é parte integral da vida dela. É uma questão que impacta boa parte das segundas gerações de imigrantes, principalmente dos imigrantes que são tratados como cidadãos de segunda classe ou como ameaça pelos EUA, a exemplo dos muçulmanos.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Crítica - Resident Evil: Bem-Vindo à Raccoon City

 

Análise Crítica - Resident Evil: Bem-Vindo à Raccoon City

Review - Resident Evil: Bem-Vindo à Raccoon City
A franquia Resident Evil não dá sorte no audiovisual. Seja em live action, seja em animação, as adaptações dos games de horror para cinema e televisão sempre deixam a desejar. O mais novo exemplar disso é este Resident Evil: Bem-Vindo à Raccoon City que tenta ser mais próximo dos games do que os filmes dirigidos por Paul W.S Anderson e protagonizados por Milla Jovovich.

A narrativa se passa no final da década de 90 na fictícia Raccoon City, cidade cuja economia depende quase que exclusivamente da gigante farmacêutica Umbrella. Quando a empresa deixa o local, a cidade colapsa, com poucos habitantes restando. É nesse momento que Claire (Kaya Scodelario) retorna à cidade, visando alertar o irmão Chris (Robbie Amell) dos experimentos escusos que a empresa vem fazendo. Antes que consiga, no entanto, um alerta é emitido e a divisão de elite da polícia local, da qual Chris faz parte, é despachado para investigar uma ocorrência em uma instalação remota da Umbrella. Claire acaba presa na delegacia da cidade com o novato Leon (Avan Jogia) quando criaturas começam a atacar.