terça-feira, 23 de agosto de 2022

Crítica – Como Seria Se...?

 

Análise Crítica – Como Seria Se...?

Review – Como Seria Se...?
Apesar de vendido como um filme dotado de uma estrutura narrativa inovadora, a produção da Netflix Como Seria Se...? é basicamente uma repetição do que já tinha sido feito há mais de vinte anos atrás em De Caso Com o Acaso (1998), estrelado por Gwyneth Paltrow. Duas narrativas concomitantes que mostram duas vidas diferentes de uma mesma protagonista sem que nenhum dos desfechos seja mais “cânone” que o outro.

Essa ideia de explorar possíveis desdobramentos de uma mesma escolha também já tinha sido explorada por Tom Tykwer em Corra Lola, Corra (1998). É possível que toda a onda de multiverso que tem tomado a indústria hollywoodiana tenha devolvido o interesse a esse tipo de estrutura, mas fazer parecer que há algo de novo quando diretores vem experimentando com esse tipo de formato soa bastante míope.

A trama acompanha Natalie (Lili Reinhart) às vésperas de sua formatura. Depois de transar com o melhor amigo, Gabe (Danny Ramirez), e terminar a faculdade, ela passa mal na festa de formatura. Dando ouvidos ao conselho de uma amiga, ela faz um teste de gravidez e daí a trama se divide em duas, com uma seguindo como seria se ela estivesse grávida e precisasse abrir mão dos planos para ficar com a filha e como seria se Natalie não estivesse grávida e fosse para Los Angeles com a amiga Cara (Aisha Dee) para tentar o emprego dos sonhos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Crítica – Não! Não, Olhe!

 

Análise Crítica – Não! Não, Olhe!

Review – Não! Não, Olhe!
Uma das primeiras imagens de Não! Não Olhe! é um versículo bíblico do livro de Naum (3:6) e é difícil não pensar no jogo de palavras que Jordan Peele coloca aqui. Não apenas o texto do versículo bíblico, mas o próprio título do evangelho evoca uma conexão com o imperativo negativo no título do filme. Esse é só um dos muitos elementos com múltiplas camadas de interpretação numa trama que se vale da estrutura típica de um filme de monstro para refletir sobre exclusão, exploração e o ato de olhar.

A narrativa acompanha O.J (Daniel Kaluuya) um jovem treinador de cavalos que prepara animais para aparecerem em filmes. Quando seu pai morre em circunstâncias misteriosas, O.J deseja tocar adiante o negócio da família enquanto que sua irmã Emerald (Keke Palmer) quer vender o rancho. Antes de tomar qualquer atitude, no entanto, ambos notam o fenômeno estranho que provavelmente matou seu pai: um estranho disco voador nas redondezas da fazenda. Os irmãos então decidem encontrar um jeito de filmar e provar a existência do objeto.

É possível pensar como a premissa está fundamentada no desejo e no prazer de olhar, algo que está na base do cinema em si. As tentativas de filmar o objeto e descobrir o que é ponderam sobre a centralidade do olhar e como as coisas só tem valor e sentido na medida que são capturadas por nossos sentidos. Os irmãos sabem que só acreditarão neles com imagens e sabem que só podem extrair valor da história se tudo for bem filmado.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Crítica – Dog: A Aventura de Uma Vida

 

Análise Crítica – Dog: A Aventura de Uma Vida

Resenha Crítica – Dog: A Aventura de Uma Vida
Dirigido por Channing Tatum, Dog: A Aventura de Uma Vida remete a outro filme estrelado por Tatum: Magic Mike (2012). Nele, assim como no filme aqui analisado, Tatum observava a contradição de que mesmo homens que parecem se adequar a certos padrões sociais de masculinidade sofrem por pertencerem a certo ideal conservador do que é ser “homem”. Em Magic Mike e sua continuação isso era observado sob o ponto de vista dos strippers e dos estereótipos que normalmente acompanham a profissão. Aqui ele analisa a partir de soldados que voltam da guerra e a coisa não funciona tão bem, já que a trama passa ao largo das complexidades do militarismo estadunidense em um contexto global.

A trama é focada em Briggs (Channing Tatum) um ex-soldado com dificuldades em reconstruir a vida depois de voltar a ser civil. Quando um companheiro de farda morre em um acidente, o antigo comandante de Briggs pede a ele que transporte Lulu, uma cadela de resgate treinada pelo amigo morto, para o funeral dele. Como Lulu também foi muito afetada pela experiência de guerra, Briggs não pode levá-la de avião. Agora ambos vão pegar a estrada em uma viagem que logicamente obrigará o protagonista a lidar com os traumas passados.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Crítica – Better Call Saul: 6ª Temporada (Parte 2)

 

Análise Crítica – Better Call Saul: 6ª Temporada (Parte 2)

Review – Better Call Saul: 6ª Temporada (Parte 2)
Em Breaking Bad Walter White dizia que a química consistia de crescimento, degradação e transformação. Ao final a série nos mostrava o crescimento e a degradação da vida de Walt, que se encerrava em um ato de sacrifício no qual o personagem retomava as rédeas, mas não necessariamente o redimia de tudo que fez porque ele encontrava uma saída fácil na morte ao invés de enfrentar as consequências de tudo que fez. Em Better Call Saul, por outro lado, vemos todo esse processo de crescimento, degradação e transformação de Jimmy McGill.

Eu já cheguei a escrever a respeito de como essa segunda parte da sexta temporada constrói de maneira magistral a ruptura entre Jimmy/Saul (Bob Odenkirk) e Kim (Rhea Seehorn), bem como já comentei sobre a primeira metade da temporada, então não irei me repetir. Ao invés disso, irei me concentrar nos episódios que se passam após esse rompimento e acompanham os personagens na linha temporal após os eventos de Breaking Bad.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Crítica – Eu Nunca...: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – Eu Nunca...: 3ª Temporada

Review – Eu Nunca...: 3ª Temporada
Poucas séries conseguem manter alguma regularidade em qualidade conforme avançam, principalmente depois de passar da segunda temporada (a recente quarta temporada de Westworld é um exemplo disso). Essa terceira temporada de Eu Nunca... é um desses raros casos. A série poderia dar voltas ao redor de si mesma repetindo o vai e vem amoroso da protagonista e seus possíveis pretendentes, mas ao invés disso escolhe levar seus personagens adiante, aprofundando o que conhecemos sobre eles.

A narrativa segue onde o segundo ano parou. Devi (Maitreyi Ramakrishnan) agora está namorando Paxton (Darren Barnet), o garoto mais popular da escola. Isso deveria significar que os problemas de autoestima estariam resolvidos, no entanto, os comentários de colegas de escola que questionam o porquê do garoto mais popular estaria com ela a fazem ainda mais insegura. Ao mesmo tempo, o relacionamento de Ben (Jaren Lewison) e Aneesa (Megan Suri) se desgasta por Ben não conseguir superar Devi.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Crítica – Westworld: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Westworld: 4ª Temporada

Review – Westworld: 4ª Temporada
Ao falar sobre a terceira temporada de Westworld mencionei como a série acertava ao evitar o hermetismo do segundo ano e levar o conflito a novos espaços e direções. Pois a quarta temporada de Westworld soa, em muitos aspectos, como um passo para trás, que foca demais em conflitos similares a tramas anteriores e em truques de ocultar informação apenas para produzir surpresas depois. Aviso que o texto contem SPOILERS da temporada.

A narrativa se passa alguns anos depois do terceiro ano. Robôs e inteligência artificial foram praticamente proibidos de serem utilizados. Caleb (Aaron Paul) reconstruiu a vida e agora tem esposa e filhos. Isso, no entanto, não significa que a humanidade está completamente livre de ameaças. Hale (Tessa Thompson) continua a tentar controlar a humanidade e substituir humanos por anfitriões. Agora ela conta com a ajuda da versão anfitriã de William (Ed Harris) que obedece a todos os seus comandos.

Os primeiros episódios parecem apenas repetir os mesmos conflitos e ideias do ano anterior, apenas mudando o plano de Hale, que agora quer controlar diretamente as mentes dos seres humanos com parasitas carregados por moscas. Do mesmo modo, a série usa o mesmo truque de reter informação para dar um clima de mistério a certos núcleos de personagem.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Crítica – X: A Marca da Morte

 

Análise Crítica – X: A Marca da Morte

Review – X: A Marca da Morte
Desde o início de X: A Marca da Morte é visível que a produção escrita e dirigida por Ti West que evocar tanto os slashers quanto os exploitations da década de 70. O diretor, no entanto, não está apenas replicando essas estruturas dramatúrgias, ele as usa para comentar o que lhe parece ser um ponto de virada cultural para o país.

A narrativa se passa em 1979 quando uma equipe de filmagem liderada por Wayne (Martin Henderson, de Virgin River) viaja até uma área rural do Texas para gravar um pornô. Não qualquer pornô, mas um com “cara de cinema” como diz o cinegrafista RJ (Owen Campbell). Wayne prevê que com a chegada do home video mais pessoas consumiriam pornô e que suas atrizes, Maxine (Mia Goth) e Bobby-Lynne (Brittany Snow), se tornarão estrelas. O que eles não esperavam é que as atividades deles desagradassem os idosos donos da propriedade e mortes começassem a acontecer.

De certa forma é a típica estrutura de filme de terror dos jovens cosmopolitas que se perdem em meio aos Estados Unidos rural e são “punidos” por sua devassidão, consumo de drogas e visões de mundo progressista. De certa maneira é isso, mas, ao mesmo tempo, esse cenário é usado para pensar como esse momento marca um ponto de virada no modo de vida estadunidense cujos sentidos permanecem em disputa nos campos sociais e políticos até hoje.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Crítica – Passado Violento

 

Análise Crítica – Passado Violento

Review – Passado Violento
O principal problema de Passado Violento é não saber que tipo de filme ele quer ser. De um lado ele começa como um noir melancólico e pessimista sobre as consequências da violência. Do outro ele quer ser um típico filme de vigilantismo urbano no qual um sujeito solitário resolve iniciar uma guerra pessoal contra criminosos que estão atormentando uma pequena comunidade. Com isso o filme acaba entrando em contradição ao simultaneamente condenar a violência, expondo as marcas indeléveis que ela deixa sobre quem convive com isso de perto, e usar a violência de forma catártica e espetacularizante.

Clean (Adrien Brody) trabalha como gari numa tentativa de reconstruir a vida depois de um grande trauma pessoal e de experiências como soldado que marcaram sua psique. Ele se afeiçoa a uma menina do bairro em que trabalha por ela lembrar sua filha e passa a ajudar a garota e mãe. O problema é que a garota acaba se envolvendo com membros do grupo criminoso liderado por Michael (Glenn Fleshler), levando Clean a interferir.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Crítica – Sandman

 

Análise Crítica – Sandman

Review – Sandman
Não tenho muita familiaridade com os quadrinhos de Sandman escritos por Neil Gaiman apesar de já ter ouvido bastante sobre ele e lido algumas histórias soltas. O anúncio de uma série baseada nele me deixou curioso e igualmente cauteloso considerando o quanto Deuses Americanos, outra série baseada em obra de Gaiman, desandou rápido depois de um começo promissor. Aparentemente Gaiman se fez mais presente durante Sandman justamente para evitar os problemas que Deuses Americanos teve.

Na trama, Sonho (Tom Sturridge) é um dos perpétuos, seres que controlam aspectos chave da nossa realidade. Ele reina sobre o Sonhar, dimensão na qual os seres humanos vão quando estão sonhando, e tem pleno domínio sobre nossos sonhos e pesadelos. Preso por humanos durante um ritual de magia que dá errado, Sonho passa quase todo o século XX em cativeiro. Quando finalmente escapa descobre que seu reino ficou em ruínas, os sonhos e pesadelos escaparam para o mundo material e seus objetos de poder estão na mão de humanos. Assim, Sonho parte em uma busca para reconstruir seu reino e seu poder.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Crítica – Multiversus

 

Análise Crítica – Multiversus

Review – Multiversus
Quando foi anunciado Multiversus parecia mais um desses games de luta que tenta emular o sucesso de Smash Bros e que provavelmente morreria na praia como tantos outros (alguém ainda lembra de Playstation All Stars?). A diferença eram as múltiplas propriedades e personagens da Warner que poderiam ser utilizadas bem como a adoção de um modelo free to play o que, em tese, facilitaria o acesso ao game.

Pois tendo jogado ele por tempo considerável, diria que é o melhor “clone de Smash” entre tantos que tentaram não apenas pela variedade de personagens, mas por ter conseguido criar uma identidade própria que eleva de um mero reprodutor. As lutas ainda giram em torno de causar dano ao oponente para expulsá-lo da arena de batalha e modos como 1x1, 2x2 ou todos contra todos. A diferença aqui é o foco nas lutas em dupla e como todos os personagens tem habilidades que beneficiam não apenas o próprio lutador como o outro membro de sua equipe. Quando, por exemplo, Salsicha carrega seu poder total ele aumenta seu próximo ataque e também o do parceiro. Mulher Maravilha pode aumentar a própria capacidade defensiva e compartilhar esse efeito com o aliado caso ele esteja perto.