segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Crítica – Morte Morte Morte

 

Análise Crítica – Morte Morte Morte

Review – Morte Morte Morte
Misturando um suspense ao estilo Agatha Christie com sátira social, seria fácil definir este Morte Morte Morte como uma espécie de O Anjo Exterminador (1962) da Geração Z. Na trama, Sophie (Amandla Stenberg) viaja com a namorada Bee (Maria Bakalova) para passar um final de semana na mansão de um de seus amigos ricos, David (Pete Davidson). O problema é que o grupo fica isolado quando o local é atingido por uma tempestade e as coisas se complicam ainda mais quando eles começam a morrer um a um.

É uma premissa batida, grupo de pessoas preso em uma grande casa, sem ter como se comunicar com o mundo exterior, enquanto precisa descobrir o assassino que há entre eles. Desde o início já conseguimos prever que esses jovens vão morrer um a um até uma conclusão inevitável. Aqui, porém, o foco é menos na resolução dos crimes ou mesmo no gore das mortes e mais em como o clima de paranoia e a sensação de ameaça desperta o pior naquelas pessoas. Claro, o filme é eficiente na construção da tensão, sempre nos deixando incertos em relação a quem aderir ou de onde pode estar vindo a ameaça, porém sua força reside nas relações entre as personagens.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Drops – O Exorcismo da Minha Melhor Amiga

 

Análise Crítica – O Exorcismo da Minha Melhor Amiga

Review – O Exorcismo da Minha Melhor Amiga
Adolescência é um período de muitas mudanças. Não apenas mudanças corporais, mas de sociabilidade. Nesse momento descobrimos novos interesses e é normal nos afastarmos de algumas amizades de infância, perdendo o contato ou até criando inimizades. Este O Exorcismo da Minha Melhor Amiga, explora essas mudanças e conflitos com amigas de infância mesclando comédia adolescente com uma trama de possessão demoníaca.

A narrativa se passa na década de 80 e acompanha as amigas Abby (Elsie Fisher) e Gretchen (Amiah Miller). Durante uma viagem e uma brincadeira com um tabuleiro de Ouija, Gretchen é possuída por uma entidade demoníaca e muda drasticamente o comportamento, se afastando das amigas. De início Abby estranha o comportamento cruel de Gretchen, mas logo desconfia que há algo mais sombrio por trás da mudança.

O filme equilibra com habilidade o tom de comédia, com elementos mais sombrios de terror. De um lado diverte com o absurdo de algumas situações e personagens pitorescos, como a boy band de pop cristão marombeira liderada por Christian (Christopher Lowell), que acaba servindo de exorcista no clímax. Por outro, o filme consegue criar algumas imagens bem sinistras a exemplo da cena em que Margaret (Rachel Ogechi Kanu) vomita um enorme verme.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Crítica – Lou

 

Análise Crítica – Lou

Ex-agente da CIA com passado traumático busca expiar os erros de outrora ao decidir ajudar uma mãe que teve a filha sequestrada pelo marido abusivo. É o tipo de premissa que seria facilmente estrelada por algum astro de ação, mas aqui opta por uma protagonista feminina com a vencedora do Oscar Allison Janney.

A pequena ilha em que Lou (Allison Janney) reside está para ser atingida por uma violenta tempestade quando a filha de Hannah (Jurnee Smollett) é sequestrada por Philip (Logan Marshall-Green), o abusivo ex-marido de Hannah que também é um experiente ex-militar. Agora Lou e Hannah precisam correr contra o tempo e contra a tempestade para encontrarem a filha de Hannah antes que Philip saia da ilha.

Janney dá tudo de si como Lou, uma mulher que carrega o peso de anos de decisões difíceis e sacrifícios, inclusive da própria família, mas também dotada de uma irrefreável força de vontade e engenhosidade para superar obstáculos. Janney nos permite ver o cansaço e peso dos anos de trauma no olhar e no corpo de Lou, sendo também bastante eficiente em nos mostrar como a ex-espiã pode ser bastante letal.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Crítica – Operação Cerveja

 

Análise Crítica – Operação Cerveja

Review – Operação Cerveja
Depois de vencer o Oscar de melhor filme com o bem intencionado, mas problemático Green Book: O Guia (2019), Peter Farrelly volta a tentar fazer um filme mais sério, distante das comédias que dirigia com o irmão, como Debi e Loide (1994) ou Quem Vai Ficar com Mary (1998). Se no filme anterior o diretor tentava abordar temas relativos a racismo e segregação, neste Operação Cerveja o foco é a Guerra do Vietnã.

Baseada em fatos reais, a narrativa se passa em 1967 e é protagonizada por Chickie (Zac Efron), um jovem que passa seus dias bebendo e aproveitando a vida. Ao mesmo tempo, os amigos de Chickie estão sendo mandados para o Vietnã e voltando em caixões. Se sentindo culpado por ficar em casa e por ter passado seu serviço militar em uma base nos EUA, longe da ação, Chickie decide ir ao Vietnã para entregar cerveja aos amigos do bairro e levantar o moral das tropas.

Sim, é uma decisão idiota e o filme sabe disso. Chickie é tratado o tempo inteiro como alguém conscientemente estúpido que não tem a menor noção do apuro em que se meteu. Praticamente uma versão da vida real do personagem de Jim Carrey em Debi e Loide (1994), Chickie se embrenha por zonas de conflito distribuindo latas de cerveja e sobrevivendo basicamente por ser “burro demais para morrer” como diz um dos soldados do local. Zac Efron já tinha se mostrado eficiente em interpretar um idiota completo em produções como Vizinhos (2014) e Baywatch (2017) e aqui volta a funcionar muito bem nesse arquétipo, dando a Chickie um otimismo ingênuo que lhe confere alguma humanidade, evitando que descambe para a caricatura. Efron é ainda auxiliado por uma performance competente de Russell Crowe como um repórter calejado que tenta fazer Chickie enxergar a severidade da situação.

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Crítica – Blonde

Análise Crítica – Blonde


Review – Blonde
Biografias costumam seguir padrões narrativos bem previsíveis e como resultado muitas terminam iguais, são raros os casos de biografias de personalidades famosas conseguem fazer algo diferente, como Não Estou Lá (2007) fez com Bob Dylan. Em Blonde o diretor Andrew Dominik tenta sair do padrão típico das biografias, mas ao invés de usar essa fuga e o esforço de imersão na subjetividade de sua biografada para explorar suas múltiplas facetas, o resultado é raso e unidimensional.

A narrativa acompanha Norma Jean (Ana de Armas) desde sua infância problemática com uma mãe instável até sua transformação na diva do cinema Marilyn Monroe, explorando seus relacionamentos e seus momentos mais icônicos. Há um claro recorte de explorar como ela foi explorada pela indústria, como os holofotes e olhares constantes lhe causaram problemas e dentro dessa proposta o filme faz escolhas estéticas que rendem momentos interessantes, mas, ao mesmo tempo, parece operar em paradoxo com sua proposta.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Crítica – Cyberpunk: Mercenários

 

Análise Crítica – Cyberpunk: Mercenários

Review – Cyberpunk: Mercenários
Apesar do bom histórico da Netflix com animações baseadas em games, não me interessei de imediato por este Cyberpunk: Mercenários, animação que se passa no mesmo universo do game Cyberpunk 2077 (e consequentemente do RPG de mesa em que se baseia). Ainda assim, decidi conferir sem muita expectativa e o resultado é uma das melhores séries baseadas em games desde Castlevania.

A trama se passa um ano antes dos eventos do game e é protagonizada por David, um garoto de origem humilde que tenta sobreviver a Night City ao lado da mãe. Quando a mãe de David morre em um acidente, o jovem descobre que ela tinha implantes de combate altamente avançados no corpo. David instala os implantes em si mesmo e logo é encontrado pelo grupo de mercenários com os quais sua mãe trabalhava, inevitavelmente aceitando prestar serviços para eles já que não tem mais nada a perder.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Drops – Já Fui Famoso

 

Análise Crítica – Já Fui Famoso

Review – Já Fui Famoso
Algumas vezes um filme nos envolve não pela inventividade da narrativa, não pelo apuro estético, mas pela emoção genuína que consegue apresentar. É isso que acontece neste Já Fui Famoso, produção original da Netflix. A trama é protagonizada por Vince (Ed Skrein), um músico que foi famoso há vinte anos atrás e agora tenta reconstruir a carreira. Um dia, tocando na rua, ele improvisa uma jam session com Stevie (Leo Long), um garoto autista, e o vídeo dos dois tocando viraliza na internet, apresentando o caminho de uma segunda chance para Vince.

É a típica história do artista decadente, marcado por um trauma, tirado de sua reclusão por um jovem ingênuo. Logicamente um tem muito a ensinar ao outro e desafios envolvendo liberdade artística ou fazer o que o mercado deseja. É relativamente previsível, conduzido sem grandes surpresas, no entanto, o que nos envolve é a dinâmica entre Vince e Stevie.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Drops – O Escândalo da Wirecard

 

Análise Crítica – O Escândalo da Wirecard

Review – O Escândalo da Wirecard
Produzido pela Netflix, O Escândalo da Wirecard é mais um daqueles documentários de crimes que trata de um grande esquema de fraude dentro do ramo da tecnologia e dos pagamentos digitais. Dessa vez é sobre a empresa alemã Wirecard, que criou um sistema de pagamentos virtuais e cartões pré-pagos que garantiria o sigilo dos usuários, mas logo se tornou um instrumento de lavagem de dinheiro e isso passou a ser seu negócio principal.

A trama é contada a partir da investigação feita por repórteres do Financial Times sobre os negócios escusos da empresa e como as contas declaradas aos acionistas não batiam com a realidade. Nesse sentido, o documentário é consistente em mostrar o processo de apuração jornalística e a quantidade de evidências colhidas para provar a fraude. Pode parecer besteira ter que comentar isso, mas considerando a enxurrada de documentários sobre crimes que se entregam a um sensacionalismo especulativo com pouca base factual (como JohnMcAfee e Não Confie em Ninguém) é importante ver produções que sustentem sua narrativa em fatos e não apenas em especulações feitas para chocar o espectador.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Crítica – A Queda

 

Análise Crítica – A Queda

Review – A Queda
Filmes de suspense confinados a um único espaço vão envolver ou não pela sua capacidade de criar situações de tensão dentro desse espaço para manter o interesse. Em geral A Queda consegue envolver em sua condução da tensão mesmo quando as personagens deixam a desejar.

A narrativa é protagonizada por Becky (Grace Caroline Currey, a Mary do filme Shazam), uma montanhista que fica traumatizada depois da morte do noivo, Dan (Mason Gooding), em um acidente de escalada. Tentando tirar Becky da depressão sua melhor amiga, Hunter (Virginia Gardner), propõe uma viagem para elas espalharem as cinzas de Dan. Não seria, no entanto, uma viagem qualquer, elas subiriam em uma antiga torre de transmissão, a maior do país, e espalhariam as cinzas do alto. O problema é que a torre é muito antiga e durante a subida as escadas enferrujadas colapsam, deixando a dupla presa no topo. Agora elas precisam encontrar um jeito de sobreviverem e saírem da situação.

Claro, num primeiro momento é meio estúpido que elas tenham partido para uma empreitada super perigosa sem avisar ninguém do que fariam, mas não é implausível considerando que isso de fato acontece no mundo real, vide o filme 127 Horas. A partir do momento em que a dupla fica presa, o filme é eficiente em encadear situações de tensão envolvendo a tentativa de recuperar uma mochila de mantimentos, usar um drone para mandar uma mensagem de socorro ou tentar rechaçar ataques de urubus. A narrativa ainda consegue entregar alguns momentos de surpresa que nos fazem reinterpretar alguns momentos aparentemente implausíveis.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Rapsódias Revisitadas – Medo e Delírio em Las Vegas

 

Análise Crítica – Medo e Delírio em Las Vegas

Review – Medo e Delírio em Las Vegas
Em 1971 o jornalista Hunter S. Thompson iniciou o movimento chamado “jornalismo gonzo” ao transformar o que deveria ser uma simples reportagem esportiva sobre uma corrida no meio do deserto de Nevada em um livro que misturava fato e ficção, ponderando sobre o declínio do “sonho americano” e sobre o quanto ele viajou em drogas durante a viagem. O livro de Thompson foi adaptado para os cinemas em 1998 por Terry Gilliam em Medo e Delírio em Las Vegas. O filme não teve uma boa recepção crítica na época do lançamento e foi um fracasso comercial, mas com o tempo ganhou um status cult com audiências celebrando o passeio lisérgico que a obra faz pelo coração dos Estados Unidos e o clima político-social da década de 70.

A trama é protagonizada por Raoul Duke (Johnny Depp), um repórter que viaja para o deserto de Nevada para cobrir uma corrida. Ele está na companhia do advogado, Dr. Gonzo (Benicio del Toro), e uma mala cheia de drogas. No percurso de cobrir a corrida eles se perdem no efeito das drogas e o caos se instaura conforme eles embarcam em bad trips que os fazem pensar no ideal de “sonho americano”.