quarta-feira, 8 de março de 2023

Crítica – Entre Mulheres

 

Análise Crítica – Entre Mulheres

Dirigido por Sarah Polley e adaptado de um romance escrito por Miriam Toews, Entre Mulheres traz questionamentos sobre como as estruturas da sociedade (e particularmente religiosas) trabalham para manter as mulheres sob controle e como é difícil para as mulheres romperem com essas estruturas.

A trama se passa em 2010, em uma colônia menonita no Canadá. Depois de inúmeros incidentes em que mulheres da vila acordam com sinais de abuso, elas finalmente conseguem provar que os homens do local as estavam dopando e abusando sexualmente. A narrativa então acompanha os dois dias de deliberações com as mulheres da colônia debatendo o que deveriam fazer, se enfrentar os homens, se fugir ou perdoar os homens e manter as coisas funcionando.

Considerando que são mulheres que vivem sob uma radical estrutura religiosa (e a autora Miriam Toews foi criada em uma colônia menonita) a ideia de que se rebelar contra a violência sofrida nas mãos dos homens constituiria algum tipo de pecado contra a ordem divina e condenaria elas ao inferno é um dos pontos de debate. Isso serve para mostrar como a religião é usada para dominar as mentes e impor uma ordem social tacanha e excludente, bem como a dificuldade em romper com essa programação cerebral uma vez que ela foi cultivada na cabeça de alguém durante a vida inteira.

terça-feira, 7 de março de 2023

Crítica – As Five: Segunda Temporada

 

Análise Crítica – As Five: Segunda Temporada

Review – As Five: Segunda Temporada
Eu fiquei muito surpreso com o resultado da primeira temporada de As Five, que funcionava como um excelente epílogo para o quinteto de protagonistas de Malhação: Viva a Diferença mostrando as agruras dessas garotas no início de suas vidas adultas e o quanto elas se transformaram a partir da última vez que as vimos. Essa segunda temporada mantem a química entre suas personagens, mas acaba não tendo o mesmo impacto da primeira.

A trama segue alguns eventos da primeira temporada, com Keyla (Gabriela Medvedovski) tentando emplacar sua carreira de cantora, Benê (Daphne Bozaski) navegando sua relação com Nem (Thalles Cabral). Por sua vez Tina (Ana Hikari) está terminando um ciclo de terapia e tentando se reconstruir, enquanto Ellen (Heslaine Vieira) navega por um emprego no setor de tecnologia percebendo que mesmo softwares tem viés racial. Lica (Manoela Aliperti) continua sua jornada como redatora ao mesmo tempo em que lida com a súbita partida de Samantha (Giovanna Grigio).

segunda-feira, 6 de março de 2023

Crítica – Medusa

 

Análise Crítica – Medusa

Review – Medusa
De uns anos para cá o cinema brasileiro vem explorando a ascensão do conservadorismo e retórica autoritária através de distopias. Carro Rei (2021) falava da ascensão do autoritarismo, Bacurau (2019) mostrava um Brasil preconceituoso e vendido a estrangeiros, enquanto que Divino Amor (2019) explora o aspecto do conservadorismo religioso que crescia no país. Dirigido por Anita Rocha da Silveira, Medusa é também uma produção que explora esse conservadorismo religioso que se impõe cada vez mais no Brasil, observando esse tema a partir de um ponto de vista feminino.

A trama é centrada em Mariana (Mari Oliveira), uma jovem evangélica que participa de um grupo de garotas de sua igreja que tem o objetivo de se manter pura. Essas jovens também se organizam em uma espécie de milícia conservadora que ataca na rua mulheres que elas consideram promíscuas ou sujas com o intuito de puni-las ou convertê-las. Um desses ataques dá errado e Mariana leva um corte no rosto, deixando uma cicatriz que a faz ser demitida da clínica em que trabalha. Sem trabalho, Mariana e a melhor amiga, Michele (Lara Tremouroux), começam a investigar a lenda urbana da atriz Melissa (Bruna Linzmeyer), uma mulher supostamente devassa que teve o rosto queimado como punição por sua conduta. Mariana crê ter encontrado a atriz em uma clínica para pessoas em coma e decide conseguir um emprego no local, mas logo coisas estranhas começam a acontecer.

sexta-feira, 3 de março de 2023

Crítica – Excluídos

 

Análise Crítica – Excluídos

Produção da Netflix, Excluídos tenta falar sobre desigualdade racial e preconceito na Inglaterra a partir de uma trama de suspense. É uma narrativa sobre alienação e assimilação, sobre pertencimento e exclusão, orgulho de ser quem é e ódio de si mesmo. Não são ideias simples e nem sempre as coisas são conduzidas com o cuidado que deveriam, mas a produção não deixa de apresentar provocações envolventes.

A trama é protagonizada por Neve (Ashley Madkwe) uma mulher negra que vive com o marido branco e os dois filhos em um idílico subúrbio britânico. Ela tem a vida que sempre desejou, trabalhando como vice-diretora em uma escola de elite e sendo respeitada em sua comunidade. Sua vida cuidadosamente construída, porém, começa a ser perturbada quando um casal de irmãos negros começa a aparecer em seu bairro, interagir com sua família e dizer que tem informações sobre seu passado.

De certa forma, o arco do filme é mostrar como uma elite branca só aceita pessoas negras quando elas se permitem serem assimiladas. Neve, por exemplo, não se permite ser vista sem sua peruca de cabelos lisos e seu tom de pele mais claro permite que ela chame menos atenção entre os brancos. Para ser vista como igual ela precisa parecer igual. Essa noção também está presente no diálogo entre Neve e o marido, Ian (Justin Salinger), no qual Ian exibe uma breve hesitação na voz ao dizer que aceitaria criar os filhos retintos de Neve de um relacionamento anterior.

quinta-feira, 2 de março de 2023

Drops – O Menu

 

Análise Crítica – O Menu

Review Crítica – O Menu
Depois de produções como White Lotus, Glass Onion ou este O Menu, filmes sobre ricos sendo ridicularizados tem se tornado praticamente um subgênero próprio. O Menu por vezes traz metáforas óbvias que operam em dicotomias simplistas, como a ideia de um restaurante como símbolo da nossa estrutura social, mas não deixa de ter comentários relevantes sobre o modo de vida dos ricos.

Na trama, Margot (Anya Taylor-Joy) vai com o namorado, Tyler (Nicholas Hoult), um entusiasta da gastronomia, para um restaurante localizado em uma remota ilha. O restaurante é chefiado pelo misterioso Chef Slowik (Ralph Fiennes), cuja excentricidade beira o fanatismo. Conforme a refeição começa, os presentes percebem que o chef tem planos sinistros para eles.

A trama retrata uma elite entediada, que exige espetáculos cada vez mais bizarros para ficar minimamente entretida, mostrando como seus luxos se dão a partir da humilhação e exploração dos outros. Mais que isso, mostra como essa elite pouco se importa com as consequências dessa exploração, já que muitos inicialmente continuam comendo como se nada estivesse acontecendo a despeito de toda bizarrice ao redor. Tirando Margot os demais personagens acabam não sendo muito desenvolvidos, se limitando a certos estereótipos que o filme acaba tendo pouco a dizer além de alguns lugares comuns sobre ricos. Com isso, o ótimo elenco coadjuvante com nomes como John Leguizamo, Hong Chau ou Janet McTeer fica subaproveitado.

quarta-feira, 1 de março de 2023

Crítica – The Legend of Vox Machina: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – The Legend of Vox Machina: 2ª Temporada

Review – The Legend of Vox Machina: 2ª Temporada
A primeira temporada de The Legend of Vox Machina foi uma grata surpresa ao trazer uma história de fantasia medieval que conseguia traduzir a energia caótica e senso de humor de uma campanha de RPG de mesa com os amigos. A segunda temporada mantem o humor e nos faz conhecer mais sobre os heróis.

A trama segue onde o ano anterior parou, com dragões subitamente invadindo a capital. Autodenominados como o Clonclave Cromático, os dragões são liderados por Thordak, um poderoso dragão vermelho. Para ter uma chance contra os poderosos dragões o Vox Machina parte em uma jornada em busca dos Vestígios, itens de grande poder que seriam capazes de virar a batalha em favor deles.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Crítica – Sharper: Uma Vida de Trapaça

Análise Crítica – Sharper: Uma Vida de Trapaça

 

Review – Sharper: Uma Vida de Trapaça
Filmes sobre golpes muitas vezes desmoronam sob a necessidade de sempre inserir uma reviravolta por cima da outra, um golpe mais surpreendente, ao ponto em que muitas vezes a trama vira uma grande bagunça. Sharper: Uma Vida de Trapaça, produção da AppleTV, consegue evitar isso e cria um elegante suspense que pende para o noir embora ao final suas constantes reviravoltas se tornem um pouco previsíveis.

A trama começa com Tom (Justice Smith), um jovem dono de livraria, se apaixonando pela misteriosa Sandra (Brianna Middleton). O casal vai aos poucos se aproximando e quando Sandra pede ajuda com uma grande quantia para salvar seu irmão, Tom não hesita em ajudar. O que Tom não imaginava é que Sandra fosse sumir logo depois, deixando evidente que tudo fora um golpe. A partir daí a narrativa vai e volta no tempo para mostrar as motivações de Sandra e outros envolvidos.

Como em um noir o crime aqui numa é um fato isolado, mas um longa e complicada teia de fios emaranhados de crimes se conectando a mais crimes criando o panorama de uma metrópole corrompida e hostil no qual todos só se preocupam em tirar vantagem. Dividido em capítulos que evidenciam cada um dos personagens, vamos descobrindo aos poucos que o golpe em Tom é apenas uma pequena peça em um esquema muito maior.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Crítica – A Baleia

 

Análise Crítica – A Baleia

Review – A Baleia
Apesar de uma longa carreira ao longo dos anos 90 e na primeira década dos anos 2000, Brendan Fraser sumiu dos holofotes por um tempo em parte por alguns fracassos de bilheteria e em parte por ter denunciado assédio sexual na indústria durante um tempo em que fazer isso resultava em ser ostracizado. Fraser merecia uma carreira melhor e este A Baleia é um exemplo do quanto ele é capaz de entregar, apesar de uma direção que caminha em descompasso com o roteiro.

A narrativa é protagonizada por Charlie (Brendan Fraser), um homem morbidamente obeso que dá aulas online de literatura, mas nunca abre sua câmera aos alunos. Charlie está com um severo problema cardíaco e recusa tratamento médico, recebendo o prognóstico que tem uma semana para viver. Assim, Charlie se conforma com seu destino, tentando usar o tempo que resta para se reaproximar da filha, Ellie (Sadie Sink), embora a enfermeira Liz (Hong Chau), melhor amiga de Charlie, insiste em tentar salvá-lo.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Crítica – Alguém Que Eu Costumava Conhecer

 

Análise Crítica – Alguém Que Eu Costumava Conhecer

Review – Alguém Que Eu Costumava Conhecer
Segundo filme do ator Dave Franco como diretor, escrito em parceria com sua esposa, Alison Brie, Alguém Que Eu Costumava Conhecer mistura drama e comédia para construir um estudo de personagem. A trama é centrada em Ally (Alison Brie) uma produtora de televisão que volta para sua pacata cidade natal depois que seu programa é cancelado. Lá ela reencontra o ex-namorado Sean (Jay Ellis) e começa a se reconectar com quem era na juventude, mas as coisas se complicam quando ela descobre que Sean está prestes a casar com Cassidy (Kiersey Clemons).

A coisa rapidamente vira uma quase imitação de O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) e o filme meio que reconhece isso em um diálogo. Não que ele use essa referência para fazer qualquer tipo de paródia ou comentário, ele apenas cita um filme melhor que você preferiria estar vendo do que esse material insosso. Um dos principais problemas é que a trama é bastante vaga nas motivações de Ally em se juntar à comitiva de Sean. Se no filme estrelado por Julia Roberts ela tinha a clara intenção de sabotar o casamento, aqui o texto nunca deixa claro o que Ally realmente deseja. Ela quer se reconectar com o passado? Ela quer saber se Cassidy é digna de Sean? Ela quer sabotar o casamento?

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Crítica – Triângulo da Tristeza

Análise Crítica – Triângulo da Tristeza

 

Review – Triângulo da Tristeza
Em The Square: A Arte da Discórdia (2018) o diretor Ruben Ostulund comentava sobre a fragilidade da civilidade e as hipocrisias fúteis dos mais ricos de uma maneira tão abrangente que chegava a ser superficial. Em Triângulo da Tristeza ele faz mais do mesmo e repete os mesmos problemas.

A trama começa acompanhando o casal de modelos Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) que ganham uma viagem em um cruzeiro de luxo. Lá eles encontram vários ricaços excêntricos como passageiros e a trama acompanha as tensões entre passageiros e tripulação. A situação muda depois que o navio é atacado por piratas e todos são deixados em uma ilha deserta, precisando depender das habilidades da tripulação para sobreviver.

Assim como em seu filme anterior, Ostlund comenta sobre a alienação dos mais ricos e como eles tratam quem está abaixo deles como objetos a serem dobrados segundo suas vontades e caprichos, além de comentar de como o verniz de civilidade e polidez que envolve as relações sociais é facilmente diluído em situações de crise. Não apenas não há nada de novo aqui, como a produção se estende mais do que necessário em comentários redundantes, metáforas óbvias e escatologia simplória.