É difícil assistir este O Estrangulador de Boston e não pensar
em Zodíaco (2007), de David Fincher.
Ambos falam de serial killers em
grandes cidades nos Estados Unidos a partir da cobertura midiática desses
crimes. Se Fincher explora o clima de temor imposto por esses assassinatos e a
ansiedade por lidar com um mistério que, ao contrário da ficção, não tem uma
resposta fácil, aqui o diretor Matt Ruskin prefere focar na história real da
repórter Loretta McLaughlin, que investigou o caso e seu papel pioneiro no
jornalismo investigativo.
A trama se passa na década de
1960 e acompanha a investigação de Loretta (Keira Knightley) na série de
assassinatos cometidos contra mulheres e que ficaram conhecidos como os crimes
do Estrangulador de Boston. De início Loretta enfrenta resistência de seu
editor em cobrir os crimes, tanto pelo fato de ser inexperiente e também porque
o jornal não achava que assassinatos de mulheres anônimas eram crimes dignos de
serem noticiados.
A narrativa foca menos nos crimes
do estrangulador e mais na trajetória de Loretta enquanto repórter, começando
como uma jornalista de cultura e estilo de vida até se tornar uma repórter
investigativa respeitada por seus pares, quebrando barreiras de gênero e
expondo o machismo que reinava nas redações. Nesse sentido, o texto amarra o
machismo cotidiano enfrentado por Loretta com o machismo imbricado no modo como
a imprensa e as autoridades ignoravam os estrangulamentos, revelando como
aquela sociedade dava tão pouco valor às mulheres que não considerava o número
crescente de assassinatos cometidos contra mulheres como um fato relevante.