terça-feira, 28 de março de 2023

Crítica – O Urso do Pó Branco

 

Análise Crítica – O Urso do Pó Branco

Review – O Urso do Pó Branco
A internet ficou em polvorosa quando saiu o primeiro trailer deste O Urso do Pó Branco. Era o tipo de premissa maluca que o cinema precisava, ainda por cima levemente (mas muito levemente) baseada em fatos reais (no mundo real o urso simplesmente morreu depois de ingerir a cocaína). O resultado final diverte, mas fica aquém do que poderia ter sido.

A trama se passa na década de 80, no interior dos Estados Unidos. Depois que um traficante joga vários pacotes de cocaína de um avião, as drogas caem nas imediações de uma pequena cidadezinha do interior. A notícia se espalha, com policiais e criminosos vasculhando a mata ao redor em busca do pó, mas eles não esperavam que um grande urso negro tivesse chegado primeiro e estivesse disposto a matar qualquer um por mais narcóticos.

É uma trama completamente pirada, que coloca traficantes, policiais e turistas desavisados na mira do urso drogado. O tipo de coisa que você para e pensa como alguém teve capacidade de fabulação o bastante para fazer um filme com essa narrativa e, no geral, o filme entrega momentos bem divertidos, praticamente todos protagonizados pelo urso titular. Da cena em que ele sobe furiosamente uma árvore ao cheirar um pouco de pó no corpo de um biólogo que foi ajudar a guarda florestal a investigar o local, passando pela perseguição a uma ambulância, as cenas com o urso são os momentos em que o filme se entrega ao mais puro absurdo e é difícil não rir com toda a maluquice em cena. Também há um inegável valor de entretenimento ao ver atores tarimbados como Margo Martindale, Jesse Tyler Ferguson ou Ray Liotta sofrendo mortes brutais nas garras do animal titular.

segunda-feira, 27 de março de 2023

Crítica – John Wick 4: Baba Yaga

 

Análise Crítica – John Wick 4: Baba Yaga

Review – John Wick 4: Baba Yaga
Quando escrevi sobre John Wick 3: Parabellum (2021) mencionei que apesar das ótimas cenas de ação, a trama já não tinha mais para onde ir e prolongar demais a vingança de John Wick contra a Cúpula que domina o submundo dos assassinos só levaria ao desgaste desse universo. Felizmente a equipe criativa parece ter atentado para isso e neste John Wick 4: Baba Yaga o diretor Chad Stahelski entrega uma apoteose bombástica para a história do matador vivido por Keanu Reeves.

A trama começa algum tempo depois do final do terceiro filme. Já reestabelecido depois da traição de Winston (Ian McShane), John decide ir atrás dos anciãos que compõem a Cúpula e mata um deles. A Cúpula reage dando ao cruel Marquês (Bill Skarsgard) plenos poderes para caçar John e a primeira ação do vilão é demolir o hotel Continental de Nova Iorque e matar o concierge Charon (Lance Reddick, em seu último papel) como punição pelo fracasso de Winston. Agora John não tem mais aliados e precisa dar um jeito de sobreviver.

sexta-feira, 24 de março de 2023

The Dropout e o empreendedorismo como performance

 

Crítica - The Dropout

Resenha Crítica - The Dropout
Quando escrevi sobre o documentário A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício (2019) mencionei que muito da razão de Elizabeth Holmes ter prosperado por tanto tempo apesar de ser uma fraude e sua tecnologia não funcionar era porque ela se apresentava publicamente da exata maneira que o mercado financeiro esperava que a criadora de uma startup de tecnologia iria se comportar. Depois de assistir à minissérie The Dropout, que se baseia na trajetória de Holmes, devo dizer que essa impressão foi reforçada.

Ao longo de oito episódios, a série acompanha a trajetória de Holmes (Amanda Seyfried) desde sua entrada em Stanford e seu eventual abandono da faculdade para abrir sua empresa de tecnologia, passando à eventual derrocada da Theranos quando as alegações de fraude vem a público e fica comprovado que a tecnologia que ela oferecia nunca funcionou.

A série não apenas tenta entender como Elizabeth conseguiu passar mais de dez anos acumulando capital e grandes contratos, como também busca alguma compreensão do que impelia a personagem. Nesse sentido, o material faz um retrato humanizado de Holmes, entendendo que ela possivelmente começou com boas intenções e com o desejo genuíno de fazer a diferença. A série, porém, não alivia ao mostrar que a despeito das intenções Holmes agiu de maneira antiética, inconsequente e criminosa ao vender um dispositivo médico que não funcionava, colocando a saúde de pessoas em risco.

quinta-feira, 23 de março de 2023

Rapsódias Revisitadas – Tempo de Valentes

 

Análise Crítica – Tempo de Valentes

Review Crítica – Tempo de Valentes
Lançado em 2005, a produção argentina Tempo de Valentes é tributária a filmes de ação tipo Máquina Mortífera (1987) na qual uma dupla de parceiros improváveis e de personalidades opostas precisa desbaratar alguma perigosa conspiração. Embora derive de um modelo hollywoodiano, a produção evita soar genérica e consegue criar personalidade própria.

A trama acompanha o detetive da polícia federal Alfredo Díaz (Luis Luque), um policial durão que está com dificuldades de continuar com o trabalho depois de descobrir que foi traído pela mulher. Para ajudar Díaz, a corporação traz o terapeuta Mariano (Diego Peretti), que acaba acompanhando o policial em uma investigação de duplo homicídio que pode implicar uma conspiração envolvendo as forças armadas argentinas.

Díaz e Mariano estabelecem uma divertida química juntos ao explorarem a oposição entre o abrasivo detetive e o terapeuta certinho que se vê fora de sua zona de conforto em meio a uma investigação de homicídio. A questão da traição, porém, acaba sendo deixada para segundo plano conforme a trama investigativa engrena, o que é uma pena, já que isso poderia explorar questões de masculinidade que esse tipo de filme não costuma abordar.

quarta-feira, 22 de março de 2023

Crítica – Pornhub: Sexo Bilionário

 

Análise Crítica – Pornhub: Sexo Bilionário

Review – Pornhub: Sexo Bilionário
Produzido pela Netflix, o documentário Pornhub: Sexo Bilionário tenta contar a história da gigante da pornografia digital. O problema, além de uma estrutura bem quadrada e pouco imaginativa, é que o filme não consegue dar a complexidade e nuance necessária aos temas complicados e múltiplos interesses em jogo nas polêmicas que envolvem a plataforma.

O documentário usa a típica combinação de entrevistas e imagens de arquivo que a essa altura já se tornaram clichê em documentários de streaming, fazendo pouco para ir além do uso já batido desses recursos. O documentário entrevista ex-funcionários do Pornhub, atrizes e atores pornô, além de ativistas de grupos que denunciam como  plataforma lucra com vídeos de estupro e pedofilia.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Crítica – O Estrangulador de Boston

 

Análise Crítica – O Estrangulador de Boston

Review – O Estrangulador de Boston
É difícil assistir este O Estrangulador de Boston e não pensar em Zodíaco (2007), de David Fincher. Ambos falam de serial killers em grandes cidades nos Estados Unidos a partir da cobertura midiática desses crimes. Se Fincher explora o clima de temor imposto por esses assassinatos e a ansiedade por lidar com um mistério que, ao contrário da ficção, não tem uma resposta fácil, aqui o diretor Matt Ruskin prefere focar na história real da repórter Loretta McLaughlin, que investigou o caso e seu papel pioneiro no jornalismo investigativo.

A trama se passa na década de 1960 e acompanha a investigação de Loretta (Keira Knightley) na série de assassinatos cometidos contra mulheres e que ficaram conhecidos como os crimes do Estrangulador de Boston. De início Loretta enfrenta resistência de seu editor em cobrir os crimes, tanto pelo fato de ser inexperiente e também porque o jornal não achava que assassinatos de mulheres anônimas eram crimes dignos de serem noticiados.

A narrativa foca menos nos crimes do estrangulador e mais na trajetória de Loretta enquanto repórter, começando como uma jornalista de cultura e estilo de vida até se tornar uma repórter investigativa respeitada por seus pares, quebrando barreiras de gênero e expondo o machismo que reinava nas redações. Nesse sentido, o texto amarra o machismo cotidiano enfrentado por Loretta com o machismo imbricado no modo como a imprensa e as autoridades ignoravam os estrangulamentos, revelando como aquela sociedade dava tão pouco valor às mulheres que não considerava o número crescente de assassinatos cometidos contra mulheres como um fato relevante.

sexta-feira, 17 de março de 2023

Drops – Veja Como Eles Correm

 

Análise – Veja Como Eles Correm

Review – Veja Como Eles Correm
Estrelado por Sam Rockwell e Saoirse Ronan, Veja Como Eles Correm mistura comédia e suspense para brincar com os clichês das narrativas policiais. A trama se passa na Londres da década de 50 quando uma famosa peça teatral escrita por Agatha Christie está para ser adaptada para os cinemas. A produção sofre um revés quando o diretor do vindouro filme, Leo Kopernick (Adrien Brody), é assassinado. O inspetor Stoppard (Sam Rockwell) é destacado para o caso e suspeita que o assassino deve voltar a agir. Ao lado da novata Stalker (Saoirse Ronan) ele deverá decifrar o caso e descobrir quem o elenco ou da equipe de produção foi responsável pelo crime.

Já em seus primeiros minutos a narração de Adrien Brody deixa claro que a trama está ciente dos clichês do gênero e decide se divertir com eles, apontando as conveniências das complicações barrocas que normalmente envolvem essas tramas criminais clássicas. O humor também está presente nos personagens, dos pitorescos suspeitos ao aparvalhado detetive vivido por Sam Rockwell passando pela novata ingênua, mas arguta, interpretada por Saoirse Ronan. Esse plantel de figuras insólitas consegue envolver mesmo quando o mistério em si não tem nada que já não tenhamos visto antes.

quinta-feira, 16 de março de 2023

Crítica – Shazam! Fúria dos Deuses

 

Análise Crítica – Shazam! Fúria dos Deus

Review – Shazam! Fúria dos Deus
O primeiro Shazam! (2019) funcionava como um Quero Ser Grande (1989) com super-poderes. Não era nada que reinventasse a roda dos filmes de heróis, mas tinha carisma e humor o suficiente para entreter. Já esse Shazam! Fúria dos Deuses não se estrutura a partir de algum outro filme e talvez seja a falta de um molde a seguir, somada com o excesso de personagens e tentativas de subtramas, que faça tudo parecer tão morno.

A trama se passa alguns anos depois do primeiro filme. Billy (Asher Angel) está para fazer dezoito anos e teme ter que sair do lar adotivo em que vive e perder a família que construiu. Por isso ele tenta manter os irmãos adotivos o mais próximo de si e acaba sendo muito controlador. Eles atuam juntos como super-heróis, mas acabam causando mais danos à cidade e não são exatamente amados. Em meio à tudo isso, as deusas Héspera (Helen Mirren) e Kalypso (Lucy Liu) chegam ao nosso mundo para recuperarem a magia que o Mago (Djimon Hounsou) pegou dos deuses para criar o herói Shazam (Zachary Levi).

quarta-feira, 15 de março de 2023

Feud e o mito da rivalidade feminina

 

Feud e o mito da rivalidade feminina

Esse texto deveria ter sido publicado no oito de março, Dia Internacional da Mulher, em que eu comentaria a série Feud: Bette and Joan para sobre as mulheres em Hollywood e o tratamento que a indústria dava a elas. Infelizmente não consegui ter esse material pronto a tempo, mas Feud é uma série tão boa (que infelizmente só assisti agora) que não queria deixar as ideias que a série me deu passarem batido.

terça-feira, 14 de março de 2023

Crítica - Magic Mike: A Última Dança

 

Análise Crítica - Magic Mike: A Última Dança

Review Crítica - Magic Mike: A Última Dança
Desde sua narração inicial é visível que Magic Mike: A Última Dança é um filme cheio de pretensões conforme a voz da narradora explica como a dança é capaz de salvar a sociabilidade humana. Se o segundo filme, Magic Mike XXL (2015), que foi dirigido por Gregory Jacobs e não por Steven Soderbergh como o primeiro e este terceiro, assumia tranquilamente seu caráter de exploitation com excessos e comicidade, esse desfecho para a trilogia cai na besteira de se levar a sério demais como o original e talvez se leve até mais a sério.

Na trama, depois de perder seu negócio de móveis por conta da pandemia, Mike (Channing Tatum) passa a trabalhar como barman. É nesse trabalho que ele conhece a ricaça Max (Salma Hayek), que descobre o passado de Mike e o contrata para uma dança. Encantada pelo talento e capacidade sedutora de Mike, Max decide levá-lo para Londres para que ele organize um espetáculo de dança.

Há uma tensão sexual palpável entre Tatum e Hayek, com Hayek sendo especialmente eficiente em mostrar que por trás de toda a exuberância e esbanjamento Max tem em si uma grande medida de insegurança. Os números de dança continuam sendo o ponto alto do filme, com coreografias grandiosas e uma boa dose de sensualidade, o problema é que esses dois elementos que seriam os mais promissores são deixados de lado em prol de ideias inanes. A relação entre Mike e Max fica focada na produção do show e as danças aparecem pouco.