segunda-feira, 17 de abril de 2023

Crítica – Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes

 

Análise Crítica – Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes

Review Crítica – Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes
Considerando que as tentativas anteriores de Hollywood em levar as telonas o universo de Dungeons & Dragons rendeu péssimos filmes, inicialmente não tinha nenhuma vontade de conferir este Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes. As coisas começaram a mudar quando saíram os primeiros trailers, que davam a impressão de uma aventura divertida e também o fato de que estava sendo dirigido pela mesma dupla do super engraçado e pouco visto A Noite do Jogo (2018).

A trama é centrada no bardo Edgin (Chris Pine), outrora um espião hoje ele vive ao lado da bárbara Holga (Michelle Rodriguez) como criminosos. Depois de um tempo preso, Edgin descobre que o antigo aliado, Forge (Hugh Grant), se tornou o governante de Nevenunca e guardião da filha do bardo, mentindo para ela sobre os motivos para o qual o pai fora preso. Agora Edgin vai reunir um grupo de aliados para assaltar os cofres de Forge, provar a verdade para a filha e recuperar um artefato que lhe permitirá ressuscitar a esposa morta.

Da mesma forma que acontece na série A Lenda de Vox Machina, o filme capta muito bem a atmosfera caótica de uma mesa de RPG, no qual os personagens nem sempre se comportam como se espera, as coisas dão errado e é preciso improvisar com o que se tem para tentar sobreviver. Isso é evidente na cena em que o paladino Xenk (Regé Jean-Page, de Bridgerton) tenta explicar o complexo funcionamento de uma armadilha apenas para o feiticeiro Simon (Justice Smith) acioná-la por acidente, obrigando o grupo a pensar em alternativas para superar o obstáculo.

Outro acerto são as interações entre os personagens, que de fato soam como um grupo de pessoas que não necessariamente gosta um do outro, mas é obrigado a conviver por conta de um objetivo em comum, precisando aprender a ajudar um ao outro e trocando farpas e provocações no processo. O elenco tem uma química divertida entre si e faz todas as piadas soarem naturais diante daquelas situações, algo que pessoas naquela situação poderiam dizer e não apenas um chiste inane para dar a impressão de que algo está acontecendo em cena. Aqui é tudo consistente com as personalidades que a trama estabelece para os heróis e ao fim vemos um crescimento genuíno neles e nas interações.

Chris Pine é perfeito como o tipo de herói blasé e cafajeste que Hollywood tenta há anos forçar Chris Pratt a fazer, mas Pine já provou ser bem mais eficiente desde suas performances como Kirk no reboot de Star Trek. O jeito largado de Edgin rende interações divertidas com o sisudo e galante paladino vivido por Regé Jean-Page (outra escalação precisa de elenco), sendo uma pena que Page acabe aparecendo tão pouco. Justice Smith e Sophia Lillis tem bons momentos como Simon e a druida Doric, mas o foco acaba sendo a amizade entre Edgin e a bárbara Holga, interpretada por Michelle Rodriguez com uma personalidade abrasiva, mas repleta de calor humano.

Hugh Grant rouba todas as cenas em que aparece como o cínico lorde Forge, sendo uma pena que ele seja abandonado no clímax por uma necromante clichê interpretada por Daisy Head. Tudo bem que a atriz é eficiente em criar uma aura de ameaça ao redor da bruxa Sofina, mas ela é o tipo de vilã que já vimos a rodo em tramas de fantasia e o texto não faz nada para lhe dar qualquer nuance. Na verdade, toda a narrativa é a típica caça para achar e/ou destruir itens mágicos que a fantasia nos entrega há séculos, sem muito o que sair desse molde.

O que faz o material ser envolvente é o já citado carisma do elenco e também o modo criativo como as cenas de ação exploram as habilidades dos heróis, vilões e monstros que encontramos ao longo da jornada, sejam as formas animais de Doric, a varinha de portais de Simon ou as ilusões de uma pantera deslocadora. Tudo é conduzido de modo a manter um frescor aos embates e perseguições, mantendo nosso interesse tanto pela inventividade visual quanto por nossa conexão com os personagens.

Assim, mesmo que apresente uma trama típica de fantasia, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes capta bem a diversão caótica de uma sessão de RPG de mesa, conquistando pelo seu despretensioso senso de aventura, o carisma de seus personagens e a inventividade de algumas cenas de ação.

 

Nota: 7/10


Trailer

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Rapsódias Revisitadas – O Grande Lebowski

 

Crítica – O Grande Lebowski

Review – O Grande Lebowski
Você já imaginou como seria se personagens como Philip Marlowe e Sam Spade fossem hippies maconheiros ao invés de detetives argutos? De certa forma O Grande Lebowski, dirigido pelos irmãos Coen, é uma resposta para essa pergunta, colocando um sujeito relaxado e sempre sob efeito de narcóticos em uma trama criminal rocambolesca típica de film noir, misturando suspense e comédia. Lançado em 1998, o filme originalmente teve uma recepção morna da crítica, mas eventualmente ascendeu ao status de cult graças aos personagens excêntricos, em especial o protagonista interpretado Jeff Bridges.

A trama é centrada na figura de Jeff “O Cara” Lebowski (Jeff Bridges), um hippie desempregado que passa seu tempo fumando maconha e jogando boliche. Um dia criminosos invadem o apartamento dele, lhe dão uma surra e urinam em seu tapete enquanto cobram uma dívida até descobrirem que pegaram o Jeff Lebowski errado. O Cara então descobre que a pessoa que os bandidos estavam atrás era um milionário e decide cobrar dele pelo tapete que foi estragado, já que o item “dava coesão a sua sala”. O contato do Cara com “o grande Lebowski” dá início a uma complicada trama de chantagem e sequestro que mais soa como uma bad trip do Dude.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Crítica – Criaturas do Senhor

 

Análise Crítica – Criaturas do Senhor

Review – Criaturas do Senhor
Em geral não tenho problemas com tramas que caminham por um ritmo deliberado e fervem lentamente as tensões entre seus personagens. Criaturas do Senhor, porém, tem um cozimento tão lento de seus conflitos principais que durante sua metade inicial chegamos a perder de vista seu foco. Isso não significa necessariamente que é uma produção ruim, ele tem uma boa parcela de virtudes, mas não aproveita plenamente o potencial de sua trama e as inquietações que ela suscita.

A narrativa se passa em uma pequena vila pesqueira na Irlanda. Aileen (Emily Watson) sustenta a família trabalhando em uma fábrica de processamento de pescados. Um dia Brian (Paul Mescal), filho mais velho de Aileen, retorna da Austrália decidido a retomar a criação de ostras que deixara. Sua mãe o ajuda a recomeçar, mas a presença de Brian começa a causar problemas para a família quando ele é acusado de violência sexual contra uma garota local. Aileen mente para a polícia, fornecendo a Brian um álibi, mas a mentira começa a rondar a pequena comunidade e a matriarca fica dividida entre seu senso de proteção ao filho e seu senso de justiça.

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Succession e a banalidade da morte

 

O impacto da morte de Logan Roy em Sucession

Antes de qualquer coisa, aviso que o texto a seguir contem SPOILERS da atual temporada de Succession, então se você não está acompanhando a série e não quer que eventos da quarta e última temporada sejam revelados, sugiro voltar depois. Dito isso, irei me deter especificamente ao terceiro episódio da quarta temporada, intitulado Connor’s Wedding.

Pelo título imaginamos que o episódio irá focar no casamento de Connor (Alan Ruck), o mais velho dos filhos de Logan (Brian Cox), ao mesmo tempo em que seguimos o patriarca em sua viagem para Suécia para renegociar a venda de seu conglomerado a um excêntrico bilionário e seus outros três filhos, Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) tentam arrancar ainda mais dinheiro do negócio. Até então tudo parece típico da série, os esquemas corporativos, a alienação afetiva dos Roy, Logan tentando sair por cima.

terça-feira, 11 de abril de 2023

Crítica – Rye Lane: Um Amor Inesperado

 

Análise Crítica – Rye Lane: Um Amor Inesperado

Review – Rye Lane: Um Amor Inesperado
Em tempos em que qualquer blockbuster ou comédia romântica despretensiosos passam facilmente da marca de duas horas, é um alívio encontrar uma produção que sabe ir direto ao ponto e usa os elementos conhecidos dos gêneros para construir uma economia narrativa que permite trama focar no que é singular de seus personagens ao invés de apenas repetir elementos conhecidos. Bastante celebrado no festival de Sundance, a produção britânica Rye Lane: Um Amor Inesperado, que chega ao Brasil via Star Plus, é uma bela surpresa.

A trama é centrada no casal Dom (David Jonsson) e Yas (Vivian Oparah). Eles se conhecem em uma tarde no sul de Londres quando ambos estão passando por términos ruins, especialmente Dom que é encontrado por Yas chorando em um banheiro. A partir daí eles compartilham um com o outro as recentes desilusões afetivas e aos poucos vão se aproximando conforme conversam ao longo do dia.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Crítica - Atlanta: 3ª Temporada

 

Análise Crítica - Atlanta: 3ª Temporada

Review - Atlanta: 3ª Temporada
A série Atlanta sempre flertou com o surrealismo, com o segundo ano entrando ainda mais nessa seara e também em episódios com histórias mais isoladas, remetendo a uma estrutura de antologia. Em sua terceira temporada, que chegou aos streamings brasileiros com anos de atraso (a quarta e última temporada já foi exibida lá fora ano passado), a série mergulha ainda mais no surrealismo, dividindo a narrativa do quarteto principal com episódios que contem histórias isoladas, tentando um meio termo entre uma narrativa seriada e uma estrutura antológica.

A terceira temporada começa com Earn (Donald Glover), Al (Brian Tyree Henry) e Darius (Lakeith Stanfield) chegando à Amsterdã para a turnê europeia de Al. Inesperadamente Vanessa (Zazie Beets) se une ao trio, sem dar muita explicação do motivo de ter ido para a Europa. É claro que isso é o início para uma série de eventos bizarros que podem ou não ser reais.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Drops – Mistério em Paris

 

Análise Crítica - Mistério em Paris

Review - Mistério em Paris
Assim como foi Mistério no Mediterrâneo (2019), este Mistério em Paris é mais uma comédia do Adam Sandler em que ele usa um filme para poder sair de férias com os amigos e botar a conta para algum estúdio pagar. Não tenho nenhum problema em particular com artistas tentando aproveitar as locações dos seus filmes, desde que o público tenha a contrapartida de um produto que valha a pena assistir, o que não é o caso aqui.

Depois dos eventos do primeiro filme, Nick (Adam Sandler) e Audrey (Jennifer Aniston) veem sua agência de detetive à beira da falência e seu casamento em crise novamente. As coisas mudam quando recebem um convite para o casamento do Marajá (Adeel Akhtar) em uma ilha paradisíaca, mas o que deveria ser um momento de respiro dá lugar ao caos quando o Marajá é sequestrado.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Crítica – Tetris

 

Análise Crítica – Tetris

Review – Tetris
Quem imaginaria que a negociação pelos direitos de um jogo de videogame renderia um drama envolvente? Eu certamente não, mas Tetris, produção da AppleTV+ faz exatamente isso, embora tome muitas liberdades com a história real em que se inspira. A narrativa se passa no final da década de oitenta, sendo baseada na história real do empresário Henk Rogers (Taron Egerton), que descobriu o jogo Tetris em uma feira de eletrônicos e viu o potencial de vendas do game. O problema é que o jogo foi criado por um russo dentro da União Soviética e conseguir comprar ou vender algo do país é um desafio burocrático, principalmente quando rivais mais ricos do ocidente estão dispostos a conseguir os direitos do jogo.

De início a narrativa consegue imprimir um ritmo ágil e uma estética pop conforme ouvimos Henk narrar como conheceu Tetris e o emaranhado jurídico dos direitos do jogo a partir de visuais que emulam a estética 8 bits enquanto introduzem os principais personagens do filme. O que deveria ser basicamente uma história envolvendo longas reuniões e rodadas de negócios consegue criar um senso palpável de suspense ao estabelecer claros riscos para Henk e para o criador do jogo, Alexey Pajitnov (Nikita Efremov). Além disso, a trama consegue deixar claro para o espectador o motivo do fascínio com o game e as razões para ele ser tão viciante, então entendemos bem o valor do que está disputa.

sexta-feira, 31 de março de 2023

Crítica – Sombras de Um Crime

 

Análise Crítica – Sombras de Um Crime

Review Crítica – Sombras de Um Crime
O detetive Philip Marlowe foi um dos personagens mais marcantes do ciclo noir aparecendo em filmes como À Beira do Abismo (1946), na interpretação icônica de Humphrey Bogart. Este Sombras de Um Crime marca uma nova tentativa de colocar o personagem de volta às marquises do cinema, mas deixa bastante a desejar.

Na trama Marlowe (Liam Neeson) é contratado pela misteriosa Cavendish (Diane Kruger) para encontrar seu amante desaparecido, Nico (François Arnaud). Conforme investiga, Marlowe descobre que Cavendish está no meio de uma briga com a mãe, Dorothy (Jessica Lange) pelo dinheiro da família e que Nico pode ser a chave para tudo.

Liam Neeson traz modos brutos e secos para Marlowe, mas carece do charme cínico de Bogart e outros intérpretes do famoso detetive particular. As personagens de Diane Kruger e Jessica Lange, por sua vez, carecem de ambiguidade já que deixam evidente desde o início que tem segundas intenções e assim nunca ficamos em dúvida que as estão manipulando Marlowe desde o início. Na verdade, o único destaque é o excêntrico criminoso vivido por Alan Cumming.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Lixo Extraordinário – Assalto Aéreo

 

Crítica – Assalto Aéreo

Review - Money Plane
Lançado em plataformas digitais durante o auge da pandemia, Assalto Aéreo rapidamente se espalhou em comentários pela internet sobre o quanto ele era ruim. Parecia o tipo de podreira tosca que todos precisavam naquele momento em que não sabíamos como seriam nossas vidas nos meses subsequentes, com o filme se transformando em piada nos meios de cinefilia. Tendo finalmente assistido, consigo atestar que de fato é muito ruim, mas lamentavelmente não é aquele tipo de produção que se torna divertida por ser ruim.

A narrativa é protagonizada por Jack (Adam “Edge” Copeland), um ladrão que está em dívida com o poderoso Darius “The Rumble” Emanuel Grouch III (Kelsey Grammer) que propõe a Jack uma perigosa missão para compensar a dívida. Jack deve se infiltrar no “avião da fortuna”, uma aeronave que funciona como um cassino aéreo fornecendo todo tipo de jogos ou apostas ilegais para os mais ricos do submundo do crime, e roubar bilhões em criptomoedas armazenadas nos servidores do avião.