Depois de duas temporadas intensas, a terceira temporada de O
Mandaloriano apresenta uma trama que demora mais para se encontrar e parece
vaguear em busca de sentido por boa parte da temporada. A questão aqui nem é a
trama ser lenta, mas que boa parte da temporada parece não saber o que quer
desses personagens ou mesmo quem é o ponto focal da narrativa.
A trama deste terceiro ano começa
mais ou menos no ponto em que encontramos Din Djarin (Pedro Pascal) quando ele
apareceu na série The Book of Boba Fett.
Ele conseguiu uma nova nave e se reuniu com Grogu e agora tenta montar uma
expedição para Mandalore para se banhar nas águas sagradas de seu subterrâneo como
forma de penitência por ter removido o capacete. Para conseguir tal feito, o
mercenário acaba recorrendo à relutante ajuda de Bo-Katan (Katee Sackhoff).
De início a impressão é que a
jornada penitente de Din será a trama principal da temporada, mas isso logo é
resolvido nos primeiros episódios ao invés de ser alongado por todos os oito
episódios. O problema é que uma vez que Din e Bo-Katan retornam ao enclave
mandaloriano, a trama não parece saber para onde ir. Nas duas temporadas
anteriores havia um claro senso de urgência, de uma crise que precisava ser
resolvida e dava uma sensação real de perigo desde o primeiro episódio de cada
temporada. Aqui, mesmo em nas tramas isoladas de cada episódio, os eventos
carecem de urgência.
Considerando que Hollywood não
tem feito nada que preste com antigos heróis de capa, preferindo entregar
produções que tentam transformar essas aventuras em blockbusters explosivos ou
filmes de super-heróis como os péssimos Os
Três Mosqueteiros (2011) ou Robin Hood: A Origem (2018), fico feliz que os franceses tenham pego a obra de
Alexandre Dumas para tentar fazer algo mais fiel neste Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan.
Funcionando como a primeira parte
da história (o texto integral de Dumas é bem longo) a trama se passa no século
XVII e segue o jovem D’Artagnan (François Civil) que chega a Paris esperando se
tornar um mosqueteiro, a tropa de elite do rei. Lá ele conhece os três
mosqueteiros Athos (Vincent Cassell), Porthos (Pio Marmai) e Aramis (Romain
Duris), entrando acidentalmente em uma conspiração arquitetada pelo Cardeal
Richelieu (Eric Ruf) e a misteriosa Milady (Eva Green) para iniciar uma guerra
entre a França e a Inglaterra.
Há um ditado que diz “a grandeza
tem pequenos começos”. Isso é dito muitas vezes para falar sobre como pessoas
que realizam grandes feitos tem origens humildes, mas poderíamos aplicar isso
também a tragédias ou rivalidades. Como nos mostrou o recente Os Banshees de Inisherin, um grande ódio
pode nascer de algo pequeno. A minissérie Treta
dialoga com essa ideia mostrando como uma discussão de trânsito banal pode
escalonar para um conflito que destrói a vida de duas pessoas.
A trama é focada em Danny (Steve Yeun),
um empreiteiro que tenta fazer seu negócio decolar, e Amy (Ali Wong), uma
empresária bem sucedida que está às portas de fechar um negócio milionário. Um
dia Amy dá uma fechada em Danny no estacionamento de uma loja e Danny a
persegue pelo trânsito depois que Amy mostra o dedo do meio para ele. Danny
perde o carro de Amy de vista mais decora a placa e resolve ir atrás dela em
sua casa. A partir daí a rivalidade dos dois só aumenta, bem como os problemas
pessoais de cada um.
Considerando que as tentativas
anteriores de Hollywood em levar as telonas o universo de Dungeons & Dragons rendeu péssimos filmes, inicialmente não
tinha nenhuma vontade de conferir este Dungeons
& Dragons: Honra Entre Rebeldes. As coisas começaram a mudar quando
saíram os primeiros trailers, que davam a impressão de uma aventura divertida e
também o fato de que estava sendo dirigido pela mesma dupla do super engraçado
e pouco visto A Noite do Jogo (2018).
A trama é centrada no bardo Edgin
(Chris Pine), outrora um espião hoje ele vive ao lado da bárbara Holga
(Michelle Rodriguez) como criminosos. Depois de um tempo preso, Edgin descobre
que o antigo aliado, Forge (Hugh Grant), se tornou o governante de Nevenunca e
guardião da filha do bardo, mentindo para ela sobre os motivos para o qual o
pai fora preso. Agora Edgin vai reunir um grupo de aliados para assaltar os
cofres de Forge, provar a verdade para a filha e recuperar um artefato que lhe
permitirá ressuscitar a esposa morta.
Da mesma forma que acontece na
série A Lenda de Vox Machina, o filme
capta muito bem a atmosfera caótica de uma mesa de RPG, no qual os personagens
nem sempre se comportam como se espera, as coisas dão errado e é preciso improvisar
com o que se tem para tentar sobreviver. Isso é evidente na cena em que o
paladino Xenk (Regé Jean-Page, de Bridgerton)
tenta explicar o complexo funcionamento de uma armadilha apenas para o
feiticeiro Simon (Justice Smith) acioná-la por acidente, obrigando o grupo a
pensar em alternativas para superar o obstáculo.
Outro acerto são as interações
entre os personagens, que de fato soam como um grupo de pessoas que não
necessariamente gosta um do outro, mas é obrigado a conviver por conta de um
objetivo em comum, precisando aprender a ajudar um ao outro e trocando farpas e
provocações no processo. O elenco tem uma química divertida entre si e faz
todas as piadas soarem naturais diante daquelas situações, algo que pessoas
naquela situação poderiam dizer e não apenas um chiste inane para dar a
impressão de que algo está acontecendo em cena. Aqui é tudo consistente com as
personalidades que a trama estabelece para os heróis e ao fim vemos um
crescimento genuíno neles e nas interações.
Chris Pine é perfeito como o tipo
de herói blasé e cafajeste que Hollywood tenta há anos forçar Chris Pratt a fazer, mas Pine já provou ser bem mais eficiente desde suas performances como
Kirk no reboot de Star Trek. O jeito
largado de Edgin rende interações divertidas com o sisudo e galante paladino
vivido por Regé Jean-Page (outra escalação precisa de elenco), sendo uma pena
que Page acabe aparecendo tão pouco. Justice Smith e Sophia Lillis tem bons
momentos como Simon e a druida Doric, mas o foco acaba sendo a amizade entre Edgin
e a bárbara Holga, interpretada por Michelle Rodriguez com uma personalidade
abrasiva, mas repleta de calor humano.
Hugh Grant rouba todas as cenas
em que aparece como o cínico lorde Forge, sendo uma pena que ele seja
abandonado no clímax por uma necromante clichê interpretada por Daisy Head.
Tudo bem que a atriz é eficiente em criar uma aura de ameaça ao redor da bruxa
Sofina, mas ela é o tipo de vilã que já vimos a rodo em tramas de fantasia e o
texto não faz nada para lhe dar qualquer nuance. Na verdade, toda a narrativa é
a típica caça para achar e/ou destruir itens mágicos que a fantasia nos entrega
há séculos, sem muito o que sair desse molde.
O que faz o material ser
envolvente é o já citado carisma do elenco e também o modo criativo como as
cenas de ação exploram as habilidades dos heróis, vilões e monstros que
encontramos ao longo da jornada, sejam as formas animais de Doric, a varinha de
portais de Simon ou as ilusões de uma pantera deslocadora. Tudo é conduzido de
modo a manter um frescor aos embates e perseguições, mantendo nosso interesse
tanto pela inventividade visual quanto por nossa conexão com os personagens.
Assim, mesmo que apresente uma
trama típica de fantasia, Dungeons &
Dragons: Honra Entre Rebeldes capta bem a diversão caótica de uma sessão de RPG de mesa, conquistando pelo seu despretensioso senso de
aventura, o carisma de seus personagens e a inventividade de algumas cenas de
ação.
Você já imaginou como seria se
personagens como Philip Marlowe e Sam Spade fossem hippies maconheiros ao invés
de detetives argutos? De certa forma O
Grande Lebowski, dirigido pelos irmãos Coen, é uma resposta para essa
pergunta, colocando um sujeito relaxado e sempre sob efeito de narcóticos em
uma trama criminal rocambolesca típica de film
noir, misturando suspense e comédia. Lançado em 1998, o filme originalmente
teve uma recepção morna da crítica, mas eventualmente ascendeu ao status de cult graças aos personagens excêntricos, em especial o protagonista
interpretado Jeff Bridges.
A trama é centrada na figura de
Jeff “O Cara” Lebowski (Jeff Bridges), um hippie desempregado que passa seu
tempo fumando maconha e jogando boliche. Um dia criminosos invadem o
apartamento dele, lhe dão uma surra e urinam em seu tapete enquanto cobram uma
dívida até descobrirem que pegaram o Jeff Lebowski errado. O Cara então
descobre que a pessoa que os bandidos estavam atrás era um milionário e decide
cobrar dele pelo tapete que foi estragado, já que o item “dava coesão a sua
sala”. O contato do Cara com “o grande Lebowski” dá início a uma complicada
trama de chantagem e sequestro que mais soa como uma bad trip do Dude.
Em geral não tenho problemas com
tramas que caminham por um ritmo deliberado e fervem lentamente as tensões
entre seus personagens. Criaturas do
Senhor, porém, tem um cozimento tão lento de seus conflitos principais que durante
sua metade inicial chegamos a perder de vista seu foco. Isso não significa
necessariamente que é uma produção ruim, ele tem uma boa parcela de virtudes,
mas não aproveita plenamente o potencial de sua trama e as inquietações que ela
suscita.
A narrativa se passa em uma
pequena vila pesqueira na Irlanda. Aileen (Emily Watson) sustenta a família
trabalhando em uma fábrica de processamento de pescados. Um dia Brian (Paul
Mescal), filho mais velho de Aileen, retorna da Austrália decidido a retomar a criação
de ostras que deixara. Sua mãe o ajuda a recomeçar, mas a presença de Brian
começa a causar problemas para a família quando ele é acusado de violência
sexual contra uma garota local. Aileen mente para a polícia, fornecendo a Brian
um álibi, mas a mentira começa a rondar a pequena comunidade e a matriarca fica
dividida entre seu senso de proteção ao filho e seu senso de justiça.
Antes de qualquer coisa, aviso
que o texto a seguir contem SPOILERS da atual temporada de Succession, então se você não está acompanhando a série e não quer
que eventos da quarta e última temporada sejam revelados, sugiro voltar depois.
Dito isso, irei me deter especificamente ao terceiro episódio da quarta
temporada, intitulado Connor’s Wedding.
Pelo título imaginamos que o
episódio irá focar no casamento de Connor (Alan Ruck), o mais velho dos filhos
de Logan (Brian Cox), ao mesmo tempo em que seguimos o patriarca em sua viagem
para Suécia para renegociar a venda de seu conglomerado a um excêntrico bilionário
e seus outros três filhos, Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman
(Kieran Culkin) tentam arrancar ainda mais dinheiro do negócio. Até então tudo
parece típico da série, os esquemas corporativos, a alienação afetiva dos Roy,
Logan tentando sair por cima.
Em tempos em que qualquer blockbuster ou comédia romântica
despretensiosos passam facilmente da marca de duas horas, é um alívio encontrar
uma produção que sabe ir direto ao ponto e usa os elementos conhecidos dos
gêneros para construir uma economia narrativa que permite trama
focar no que é singular de seus personagens ao invés de apenas repetir
elementos conhecidos. Bastante celebrado no festival de Sundance, a produção
britânica Rye Lane: Um Amor Inesperado,
que chega ao Brasil via Star Plus, é uma bela surpresa.
A trama é centrada no casal Dom (David
Jonsson) e Yas (Vivian Oparah). Eles se conhecem em uma tarde no sul de Londres
quando ambos estão passando por términos ruins, especialmente Dom que é
encontrado por Yas chorando em um banheiro. A partir daí eles compartilham um
com o outro as recentes desilusões afetivas e aos poucos vão se aproximando
conforme conversam ao longo do dia.
A série Atlantasempre flertou com o surrealismo, com o segundo ano entrando ainda mais nessa seara e também em episódios com histórias mais
isoladas, remetendo a uma estrutura de antologia. Em sua terceira temporada,
que chegou aos streamings brasileiros com anos de atraso (a quarta e última
temporada já foi exibida lá fora ano passado), a série mergulha ainda mais no
surrealismo, dividindo a narrativa do quarteto principal com episódios que
contem histórias isoladas, tentando um meio termo entre uma narrativa seriada e
uma estrutura antológica.
A terceira temporada começa com
Earn (Donald Glover), Al (Brian Tyree Henry) e Darius (Lakeith Stanfield) chegando à
Amsterdã para a turnê europeia de Al. Inesperadamente Vanessa (Zazie Beets) se
une ao trio, sem dar muita explicação do motivo de ter ido para a Europa. É
claro que isso é o início para uma série de eventos bizarros que podem ou não
ser reais.
Assim como foi Mistério no Mediterrâneo(2019), este Mistério em Paris é mais uma comédia do
Adam Sandler em que ele usa um filme para poder sair de férias com os amigos e
botar a conta para algum estúdio pagar. Não tenho nenhum problema em particular
com artistas tentando aproveitar as locações dos seus filmes, desde que o público
tenha a contrapartida de um produto que valha a pena assistir, o que não é o
caso aqui.
Depois dos eventos do primeiro
filme, Nick (Adam Sandler) e Audrey (Jennifer Aniston) veem sua agência de
detetive à beira da falência e seu casamento em crise novamente. As coisas
mudam quando recebem um convite para o casamento do Marajá (Adeel Akhtar) em
uma ilha paradisíaca, mas o que deveria ser um momento de respiro dá lugar ao
caos quando o Marajá é sequestrado.