Estrelado por Jena Malone, O Covento prometia ser uma mistura de thriller e terror sobrenatural, mas o
resultado final acaba não aproveitando nenhuma das abordagens. A trama é
centrada em Grace (Jena Malone), uma médica que recebe a notícia de que o
irmão, Michael (Steffan Cennydd), que vivia como padre em uma remota abadia na
Escócia, teria matado um colega de batina e cometido suicídio. Grace viaja ao
local e ao examinar o corpo do irmão começa a desconfiar da versão oficial dos
fatos.
Daí é evidente que ela vai
esbarrar em uma grande conspiração do clero local e ações conectadas ao
sobrenatural. O problema é que apesar de todas as ideias a respeito de como a
clausura da religião produz um fanatismo tão virulento que torna difícil
distinguir deus e diabo, o texto nunca vai além do que já foi dito antes sobre
esse tema, então a exploração dessas questões soa superficial e em nada
diferente de outros produtos que já vimos antes.
O filme solo do Bumblebee (2018) mostrou que a franquia
Transformers poderia ficar melhor sem a direção epilética e narrativa inchada
dos filmes conduzidos por Michael Bay. Este Transformers:
O Despertar das Feras segue a cronologia iniciada em Bumblebee, tentando fornecer um novo começo para a trupe de Optimus
Prime depois do pavoroso Transformers: O Último Cavaleiro(2017).
A trama se passa na década de
noventa sendo protagonizada por Noah Diaz (Anthony Ramos), um ex-soldado em
busca de emprego para ajudar o irmão caçula doente e cujas despesas médicas a
mãe não tem como pagar. Noah aceita roubar carros para fazer um dinheiro extra
e é aí que ele acidentalmente conhece o transformer Mirage (Pete Davidson), sendo
jogado no meio da busca dos Autobots liderados por Optimus Prime (Peter Cullen)
pela chave Transwarp, um meio deles retornarem ao planeta Cybertron. O problema
é que a chave também é procurada pelos Terrorcons liderados por Scourge (Peter
Dinklage), que a desejam para entregá-la ao temível Unicron.
O filme se beneficia de uma
duração mais enxuta, que evita que a trama simples se alongue mais do que
necessário e também de um número reduzido de personagens humanos, focando
apenas em Noah e Elena (Dominique Fishback) evitando o excesso de núcleos de
personagem que atrapalhava tanto os filmes dirigidos por Bay. Sim, Noah é um
personagem relativamente básico cujo arco é previsível, mas Anthony Ramos ao
menos traz a ele algum carisma e evita que ele descambe para uma caricatura
irritante e sem graça como outros protagonistas da franquia.
A maior novidade do filme seria a
presença dos Maximals, facção de transformers que usam formas animais ao invés
de veículos. Esperava que não cometessem o mesmo erro de Transformers: Era da Extinção (2014) quando relegaram os Dinobots a
figurantes de luxo, no entanto, o mesmo problema acontece com os Maximals aqui.
Eles tem um pouco mais tempo de tela que os Dinobots, é verdade, porém a
presença deles acaba sendo de pouca consequência para o esquema geral da trama,
já que os principais desdobramentos da narrativa seriam os mesmos sem a
presença deles. A narrativa inclusive é bem vaga em estabelecer o lugar dos
Maximals na mitologia desse universo, com uma fala vaga da Airrazor (Michelle
Yeoh) dizendo que eles são o passado e o futuro do Autobots, algo que
provavelmente só quem assistiu Beast Wars
(como eu) vai entender.
A ação se beneficia por não ter
mais a câmera chacoalhante e montagem epilética dos filmes de Michael Bay.
Momentos como a batalha final contam com planos mais longos em que a câmera
passeia pela arena de combate em que os diferentes personagens lutam e
constroem um senso de coesão a todo o embate. A ação também usa de modo
criativo as habilidades dos personagens, como as ilusões de Mirage ou a
mobilidade de Arcee, embora mesmo durante as batalhas os Maximals acabem
aparecendo pouco. O fato do clímax ser uma batalha contra um exército genérico
enquanto um raio é disparado nos céus faz o filme parecer um blockbuster de dez anos atrás quando
raios para o céu estavam em tudo quanto é filme de grande orçamento.
Transformers: O Despertar das Feras não chega a ser tão bacana
quanto Bumblebee e não aproveita bem
os novos personagens que introduz, mas tem boas cenas de ação e um protagonista
suficientemente carismático para funcionar como uma diversão despretensiosa.
É curioso que Oppenheimer, novo filme do diretor
Christopher Nolan, tenha recebido tanto estardalhaço por estrear na mesma
semana que Barbie por conta aparente
oposição entre os dois filmes. Afinal, um era sobre uma boneca num mundo cor de
rosa e outro era sobre o sujeito responsável pela bomba atômica. Na real, os
dois filmes tem mais similaridade do que parece, já que ambos analisam o complicado
e contraditório legado de duas figuras que estão no imaginário popular há mais
de meio século.
A trama segue a trajetória do
físico J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), de sua juventude estudando na
Europa, passando por sua participação no Projeto Manhattan que construiu a
bomba atômica e os anos posteriores quando o governo dos EUA atacou sua
reputação por ele se opor à proliferação de armas nucleares.
O filme se estrutura em torno de
personagens depondo em dois processos. Um para cassar a liberação de segurança
de Oppenheimer, como parte do projeto de prejudicar sua reputação, e outra das
audiências no Senado para a confirmação de Lewis Strauss (Robert Downey Jr.)
como ministro, no qual ele é perguntado de sua relação com Oppenheimer. É um
arranjo que lembra A Rede Social (2010),
com o protagonista depondo em diferentes processos, indo e voltando no tempo,
enquanto narra a história.
Confesso que a ideia de um filme
da Barbie não me era lá muito atrativa, mas depois dos primeiros trailers da
produção dirigida por Greta Gerwig confesso que fiquei rendido pela maluquice
que eles traziam. Tendo visto o produto final, posso dizer que é ainda mais
excêntrico do que imaginava, trazendo um olhar simultaneamente irônico e
inspirador para a boneca da Mattel.
A trama é centrada em Barbie
(Margot Robbie), que vive uma vida perfeita na Barbielândia com outras Barbies
e Kens. Um dia Barbie começa a questionar sua própria existência e sua vida
colorida passa a perder a graça. Consultando a Barbie Esquisita (Kate
McKinnon), a protagonista que isso acontece por causa da conexão emocional
entre Barbie e a garota que está brincando com ela, sendo necessário que Barbie
vá ao mundo real ajudar a garota. Na empreitada, a boneca é acompanhada por Ken
(Ryan Gosling), que se surpreende ao descobrir que ao contrário da
Barbielândia, o mundo real é controlado por homens.
Lançado em 2018 Bird Box era um terror pós apocalíptico
típico que se sustentava pela performance de Sandra Bullock e alguns momentos
de tensão. Agora a Netflix tenta expandir o universo desse filme com Bird Box: Barcelona e o resultado é bem
fraquinho.
A trama é protagonizada por Sebastian
(Mario Casas) que vaga por uma Barcelona vazia com a filha tentando sobreviver.
As criaturas continuam vagando por espaços abertos, sendo obrigatório cobrir os
olhos ao sair na rua. No entanto, proteger a visão não é mais o suficiente, já
que os seres podem se fazer ouvir pelas pessoas e emulam as vozes de entes
queridos deles. Sebastian chegou a sobreviver um encontro com esses seres, mas
agora parece estar sob a influência deles.
Eu não sabia que Meus Sogros Tão Pro Crime era uma
realização da Happy Madison, produtora que pertence a Adam Sandler. Com o
passar dos anos, ver a vinheta da produtora no início de um filme se tornou uma
espécie de aviso de que eu deveria temer pela minha sanidade e Meus Sogros Tão Pro Crime é o mais
recente exemplo de que meus temores não são infundados.
A trama é protagonizada por Owen
(Adam Devine), um gerente de banco que está prestes a se casar com Parker (Nina
Dobrev), mas ainda não conheceu os sogros. Dias antes do casamento seus sogros,
que estariam viajando e não viriam para a cerimônia, decidem aparecer. Ao
conhecer Billy (Pierce Brosnan) e Lilly (Ellen Barkin), Owen pensa que eles são
pessoas excêntricas, mas logo descobre que eles são ladrões de banco que tem
uma dívida a pagar com uma perigosa criminosa.
Como é de costume em muitas
produções de Adam Sandler, boa parte do que o filme entende como comédia se
resume a ofensas preconceituosas, como os insultos machistas que os pais de
Owen direcionam a Parker, ou a escatologia gratuita sem qualquer construção na
cena como se a mera menção de fezes ou vômito automaticamente nos fizesse rir.
Não lembro se o programa American Gladiators chegou a passar no
Brasil, mas sei o quanto ele influenciou uma série de game shows e programas de auditório por aqui, como muitas provas do
quadro Olimpíadas do Faustão. A
minissérie documental Músculos e
Confusão: A História por Trás de American Gladiators tenta contar a
história do programa e o impacto dele na cultura pop.
Estruturalmente é um documentário
típico de entrevistas e imagens de arquivo, recorrendo a gravações dos
programas antigos e falas de produtores, diretores e principalmente o elenco de
“gladiadores” do programa. Narrativamente segue a estrutura de “ascensão e queda”
bem comum nesse tipo de programa sobre os bastidores de Hollywood, mas
conseguem captar bem o clima cultural do início dos anos 90 quando a televisão
passa a recorrer a programas mais apelativos e a regulação em termos do que
poderia ser mostrado (a Banheira do Gugu que o diga), bem como os parâmetros de
segurança de certas práticas, eram bem mais frouxos.
Baseado no quadrinho de mesmo
nome escrito por Mike Mignola (criador de Hellboy) para o selo Elseworlds da
DC, Batman: A Perdição Chegou a Gotham
situa o herói no começo do século XX e coloca o personagem em uma trama de
horrores lovecraftianos.
A trama começa com Bruce e seus
aprendizes no ártico, investigando o desaparecimento de uma expedição
científica liderada por Oswald Cobblepot. Chegando nos destroços da expedição,
são atacados por pinguins monstruosos e descobrem que todos foram mortos e que
algum horror ancestral foi desencavado do local e está partindo para Gotham.
Agora Bruce precisa retornar à sua cidade e investigar o misterioso culto que
parece dominar a cidade secretamente.
Como muitas histórias do selo
Elseworlds, é uma trama que vai direto ao ponto e faz pouco para situar os não
iniciados em elementos do universo do Batman. Nesse sentido, muito da graça de
ver como elementos desse universo são imaginados dentro desse contexto de
horror lovecraftiano só farão sentido se você tiver algum conhecimento prévio
para entender que ao invés de ser hábil com computadores, a Barbara
Gordon/Oráculo apresentada aqui é uma médium que canaliza espíritos.
O Brasil é um país tão grande que
nós mesmos não temos pleno conhecimento de como é a vida em certas regiões
distantes de onde vivemos. O cinema brasileiro, a despeito de seus esforços em
promover a diversidade de uns tempos para cá ainda tem sua produção muito
focada no sudeste. Por isso é instigante quando encontramos produções de outros
lugares do Brasil, principalmente daqueles sub representados no meio
audiovisual como o caso do estado do Acre retratado neste Noites Alienígenas.
A trama acompanha três amigos de
infância que cresceram na periferia de Rio Branco, capital do Acre, Rivelino
(Gabriel Knox), Sandra (Gleici Damasceno) e Paulo (Adanilo Reis). Sandra e
Paulo têm um filho pequeno juntos e enfrentam dificuldades por conta da
dependência química de Paulo. Rivelino trabalha para o excêntrico traficante
Alê (Chico Diaz), que tem um certo código de ética de como operar no local. A
relação entre Rivelino e Alê começa a desandar quando o jovem passa a discordar
de certos princípios do chefe e passa a se envolver com facções criminosas do
sudeste recém chegadas no Acre e que visam tomar o território de Alê. Sandra
luta para sustentar o filho e tocar a vida enquanto Paulo tenta resolver suas
dívidas com diferentes facções do tráfico.
Guy Richie é um diretor conhecido
pelo seu estilo visual marcante em produções como Snatch: Porcos e Diamantes (2000) e mesmo suas realizações menos
sucedidas como o fraco Rei Arthur: A Lenda da Espada (2017) exibem a energia visual do diretor. Talvez seja por
isso que O Pacto seja tão
surpreendente no sentido que não traz praticamente nada do cinema de Richie e
poderia ter sido dirigido por qualquer operário padrão da indústria, talvez por
isso o título original (Guy Richie’s The
Covenant) já traga consigo o nome do diretor porque de outro modo não seria
possível identificar a presença dele no filme.
A narrativa acompanha a história
ficcional do soldado John Kinley (Jake Gyllenhaal). Servindo na guerra do
Afeganistão, Kinley é ferido em uma emboscada, perde todo seu pelotão e é salvo
pelo tradutor afegão Ahmed (Dar Salim), que o transporta por mais de 100
quilômetros em território talibã. Kinley volta aos Estados Unidos, mas Ahmed
não recebe a prometida extração do país e visto estadunidense. Com um senso de
dívida e descrente na burocracia das forças armadas, Kinley decide voltar ao
Afeganistão e financiar do próprio bolso a retirada de Ahmed e família do país.