Depois que o Superman de Zack Snyder dividiu opiniões com uma visão mais cínica sobre o personagem, a
impressão é que nos últimos anos a Warner vem tentado resgatar a imagem de um
Superman mais esperançoso, benevolente e mais humano. Isso se aplica ao
tratamento do personagem na série Superman
& Lois e também nesta nova série animada Minhas Aventuras com o Superman.
A trama acompanha os primeiros
anos de Clark Kent em Metropolis, iniciando como estagiário no Planeta Diário
ao lado do colega de faculdade Jimmy Olsen e conhecendo a intensa Lois Lane.
Clark, Jimmy e Lois logo se tornam amigos e se unem para investigar o
aparecimento de criminosos usando uma tecnologia extremamente avançada. Diante
da ameaça desses criminosos, Clark decide usar seus poderes para proteger a
cidade como Superman, mas isso o torna alvo dos militares.
Para quem tem alguma
familiaridade com o personagem muitos desdobramentos e reviravoltas são
relativamente previsíveis. É bem óbvio, por exemplo, que o misterioso general
investigando as ações do Superman é o general Sam Lane, pai de Lois. Do mesmo
modo, os sinais na tecnologia kryptoniana que ataca a Terra claramente indicam
a intervenção de Brainiac (ou algo similar) e não de Jor-El como Clark
acredita.
Considerando o péssimo histórico
de produções ocidentais que fazem adaptações live action de animes e mangás, como o recente Os Cavaleiros do Zodíaco: O Começo ou o pavoroso Dragonball Evolution (2009), não
esperava muita coisa deste One Piece: A
Série, que adapta a interminável obra de Eiichiro Oda. Depois de assistir a
produção da Netflix, confesso que achei...bom?!? Como assim? Que sensação
estranha é essa? Eu assisti um live
action de anime e gostei? Por essa eu não esperava.
Devo dizer que não sou um
profundo conhecedor de One Piece, com
meu contato com esse universo se limitando a games como One Piece Pirate Warriors ou One Piece Odyssey. Eu sei quem são os personagens e tenho alguma noção dos
principais arcos, mas não seria a melhor pessoa para dizer se é fiel ou não.
A trama segue a mesma premissa do
mangá e do anime. Luffy (Iñaki Godoy) deseja encontrar o mítico tesouro One
Piece e se tornar o Rei dos Piratas, para tal precisa encontrar uma tripulação
que tope cruzar a perigosa Grand Line ao seu lado. Ele encontra aliados em Zoro
(Mackenyu, que foi o Seiya no pavoroso live
action de Cavaleiros do Zodíaco)
e Nami (Emile Rudd), mas o caminho até a Grand Line é cheio de perigos e eles
encontrarão muitos obstáculos, seja na poderosa Marinha, que combate os piratas
com mão de ferro, seja em outros piratas que veem Luffy como um problema.
Se a maioria das adaptações
ocidentais de animes tenta inscrever seus universos e personagens em uma estética
realista, One Piece acerta em manter
tudo dentro de um regime cartunesco, mantendo as matizes saturadas, cabelos
coloridos e armas exageradas, deixando claro que estamos diante de um desenho
que ganhou vida ao invés de forçar esse universo em um regime estético que não
dá conta da inventividade visual do material original.
O texto também acerta na
construção da amizade entre o bando dos Chapéus de Palha, que aos poucos
aprendem a confiar um no outro. Os episódios dão espaço não apenas para que
eles se desenvolvam como um coletivo, mas também dando cenas isoladas com cada
um ao lado de cada companheiro (ou da maioria deles) permitindo que vejamos
como essas diferentes personalidades vão se ajustando umas as outras. Muito do
mérito vem também do elenco, no modo como Iñaki Godoy dá uma energia vibrante e
interminável a Luffy, Mackenyu traz uma sisudez estoica a Zoro ou como Emily
Rudd faz de Nami alguém que usa sua dubiedade moral e fachada durona para não
ter que se abrir aos outros.
A ação mantem o espírito das
lutas grandiloquentes do anime, com personagens como Luffy, Zoro ou Sanji (Taz
Skylar) despachando dezenas de inimigos de vez ou golpes que põem abaixo
prédios inteiros. Muito do motivo de tudo funcionar não é apenas a qualidade
dos efeitos visuais ou a energia das coreografias de luta, mas o já citado
regime visual cartunesco que faz tudo soar coeso. Mesmo poderes como as
habilidades elásticas de Luffy soam convincentes dentro do regime estético
excêntrico que a série adota para si e a linguagem corporal de Iñaki Godoy
ajuda a dar um senso de peso e movimento aos golpes do pirata, com Luffy
“engatilhando” os braços brevemente antes de esticá-los, como que fazendo um
movimento pendular para que eles tenham energia para chegar longe com bastante
força.
Como a temporada condensa todo o
arco de East Blue, é visível mesmo para um neófito que alguns eventos acontecem
rápido demais. Toda a batalha com Buggy (Jeff Ward) e a libertação da cidade
sob seu controle parece se resolver de maneira muito repentina, como se a série
precisasse resolver logo o conflito para partir para o seguinte. A velocidade
também faz alguns temas ficarem na superficialidade. O vilão Arlong (McKinley
Belcher) menciona como o Governo Mundial escravizou os homens-peixe e que mesmo
depois do fim da escravidão eles ainda são estigmatizados. É claramente uma
tentativa de fazer um paralelo com a escravidão e diáspora negra no mundo real
(o fato de Arlong ser interpretado por um ator negro não parece ser
coincidência), mas o texto não investe realmente nessas ideias, rapidamente
levando à batalha entre Luffy e Arlong, deixando de lado a discussão dessas
ideias.
Ainda assim, One Piece: A Série é uma competente adaptação live action que traz as batalhas empolgantes, senso de humor e
conexão emocional entre os protagonistas que tornaram o material original tão
longevo.
Parte de uma renascença recente
de beat’em upsTMNT: Shredder’s Revenge transitava bem entre a nostalgia pela
época de fliperamas e o desenho oitentista das Tartarugas Ninjas e uma
tentativa de agregar mecânicas mais contemporâneas ao gênero, com mais opções
de mobilidade, defesa e oportunidades de combos. Agora em sua primeira
expansão, intitulada Dimension Shellshock,
o jogo tenta trazer novos elementos para enriquecer a experiência.
As principais ofertas são os
novos personagens e modos. O DLC traz dois novos combatentes na forma do coelho
samurai Usagi Yojimbo e a ninja Karai. Ambos são bem diferentes entre si e
divertidos de usar, com Yojimbo sendo um lutador rápido e dotado de combos
aéreos enquanto Karai prima pela força e ataques com alcance mais amplo. Os
dois são diferentes o suficiente para valer retornar à campanha ou o modo
arcade para jogar com eles.
Boas comédias besteirol parecem
ter se perdido em Hollywood. Com um foco cada vez maior em produções de grande
orçamento, a impressão é que a indústria deixou de lado esse tipo de filme.
Claro, aqui e ali surgem coisas como A Noite do Jogo(2018), mas são ocorrências pontuais que tem aparecido a cada
punhado de anos. Este Que Horas Eu Te
Pego? tenta resgatar esse espírito de absurdo e falta de noção,
surpreendendo ao conseguir conciliar isso com momentos eficientes de emoção.
A trama é centrada em Maddie (Jennifer
Lawrence), uma mulher que nunca saiu de sua pequena cidade e está prestes a
perder a casa por dívidas com impostos municipais. Ela trabalha e roda como
motorista de aplicativo para levantar o dinheiro, mas quando seu carro é
guinchado tudo parece se complicar. É nesse momento que ela encontra um anúncio
de pais que buscam uma jovem para se relacionar com seu filho tímido,
oferecendo um carro como pagamento. Apesar da proposta estranha, ela vai
conhecer o rico casal Laird (Matthew Broderick) e Allison (Laura Benanti), pais
controladores que acham melhor que o filho, Percy (Andrew Barth Feldman), perca
a virgindade antes de ir para a faculdade. Assim, Maddie aceita seduzir o
rapaz.
A comédia tem sido um dos gêneros
mais rentáveis do cinema brasileiro nos últimos anos. Depois do sucesso de
adaptações de produções teatrais como Minha
Mãe é Uma Peça ou Os Homens São de
Marte e é pra lá Que Eu Vou era de se imaginar que voltássemos ao teatro em
busca de novos sucessos. O Porteiro é
a nova tentativa de fazer uma comédia audiovisual de carona em um sucesso teatral.
A trama acompanha Waldisney
(Alexandre Lino), porteiro de um prédio de classe média na zona sul do Rio de
Janeiro. Quando uma confusão irrompe no condomínio todos são levados para a
delegacia e o porteiro precisa explicar o que aconteceu para um impaciente
delegado (Maurício Manfrini). O relato de Waldisney rememora tudo que aconteceu
ao longo do dia e suas interações com os pitorescos habitantes do prédio.
Ao assistir o sexto episódio da
segunda temporada de O Urso me
lembrei do pôster do filme Os Excêntricos
Tenenbaums (2001) que trazia a frase “família não é uma palavra, é uma
sentença”. A frase trazia uma brincadeira de duplo sentido com a palavra
sentença. De um lado podia significar sentença no sentido de período ou frase,
afirmando que família é algo tão complicado que é uma frase inteira em uma só
palavra. Por outro lado, sentença podia ser entendido como uma sentença
jurídica, uma decisão de uma instância de poder que decide o rumo de sua vida.
Nesse caso seria possível entender a família como algo que carregamos conosco
querendo ou não e que para o bem ou para o mal define muito de nossos rumos,
transmitindo valores, visões de mundo, bens matérias, traumas, preconceitos e
uma série de outras coisas.
De início The Beanie Bubble: O Fênomeno das Pelúcias parece mais um desses
filmes sobre produtos para tentar contar uma história de um produto bem
sucedido para falar de superação de dificuldades e sucesso. A impressão é que
filmes como esse, Air, Tetris ou Flamin Hot são feitos para reproduzir mitos capitalistas sobre como
basta trabalhar duro e acreditar em si para ter sucesso, mas como a ideia de
meritocracia já não convence tanto e vivemos em um desencanto com o
capitalismo, Hollywood decide contar histórias de sucesso de produtos.
Felizmente a produção da AppleTV+ não cai nessa mera exaltação do capitalismo,
mas exibe outros problemas.
A trama conta a história de
ascensão e queda dos Beanie Babies bichinhos de pelúcia colecionáveis que
viraram febre no início da década de 90 e gerou todo um mercado paralelo de
colecionadores já que cada pelúcia era produzida em número limitado. A
narrativa foca em Ty Warner (Zach Galifianakis), criador da empresa, e nas
mulheres ao redor dele que foram essenciais para o sucesso da empresa. Robbie
(Elizabeth Banks) era a sócia de Ty e responsável pelo dia a dia administrativo
da corporação, Maya (Geraldine Viswanathan) foi quem teve a ideia dos Beanies
serem lançados em número limitado e usar a nascente internet para fomentar
comunidades de colecionadores e Sheila (Sarah Snook) era a noiva de Ty e as
filhas dela deram ao empresário muitos designs para as pelúcias.
Quando a vinheta da Happy
Madison, produtora de Adam Sandler, passou no início deste Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá temi pela minha sanidade.
Parecia mais um projeto para Sandler dar dinheiro para seus chapas e parentes.
Não deixa de ser isso já que ele coloca praticamente toda a família e alguns
comediantes que só fazem filmes com ele. No entanto a diretora Sammi Cohen, do
bacana e pouco visto Crush: Amor Colorido(2022),
consegue dar alguma emotividade consistente que faz o filme funcionar apesar de
ser uma trama de amadurecimento bem típica.
A trama é protagonizada por Stacy
(Sunny Sandler) é uma jovem prestes a fazer seu bat mitzvá e quer ter a festa
dos sonhos. Ela e a melhor amiga, Lydia (Samantha Lorraine), estão planejando
tudo para ser perfeito e Stacey tem esperanças de conquistar o garoto de quem
gosta, Andy (Dylan Hoffman), mas as coisas se complicam quando Lydia fica com
Andy e as duas amigas rompem.
Estrelado por Priyanka Chopra e
Sam Heughan, O Amor Mandou Mensagem
começa como uma comédia romântica bem padrão e previsível que poderia até
funcionar por conta do carisma da dupla principal, mas acaba prejudicada pelo
modo como lida com seus temas centrais. A trama segue a ilustradora Mira
(Priyanka Chopra), cujo noivo morreu há dois anos. Ainda assim ela se sente
conectada a ele e manda mensagens para seu antigo número como forma de
desabafar. O repórter Rob (Sam Heughan) recebe um novo telefone de seu trabalho
e, por coincidência, é o número do falecido noivo de Mira. Ele se encanta pelas
mensagens que ela manda e decide encontrá-la, a questão é que Rob não revela
que recebia as mensagens.
É óbvio que eles vão se
apaixonar. É óbvio que o fato de Rob ocultar o motivo de ter se aproximado de
Mira irá dar errado e fazê-la se afastar. É óbvio que ele irá reconquistá-la
com um grande gesto romântico ao final. É possível chegar a essas conclusões já
nos primeiros minutos e todas as batidas da história vão exatamente nessa
direção. O casal principal até tem carisma e química, mas Heughan é prejudicado
por um texto que força a barra em fazer Rob soar como um sujeito que não sabe
lidar com mulher com mulheres e enche o personagem de diálogos ruins. A fala
dele sobre o que ele gosta em basquete, por exemplo, poderia se aplicar a qualquer
esporte.
Já falei de muitos filmes ruins
nessa coluna, já me alonguei contando histórias de produções problemáticas e
malucas (como o caso de The Room),
mas nenhum dos filmes abordados até aqui foi tão ruim ao ponto de levar à
prisão do diretor como aconteceu em Rollerball.
Lançado em 2002, o filme era um remake
de Rollerball: Gladiadores do Futuro
(1975), estrelado por James Caan. A produção de 1975 adaptava um conto de
William Harrison e era uma ficção científica distópica na qual em 2018
corporações controlavam o mundo, detinham todo o conhecimento, livros não mais
existiam e a televisão era usada para alienar a população através do espetáculo
violento do esporte conhecido como Rolleball, uma mistura de hockey e roller
derby. O remake de 2002, por sua vez,
teve uma produção extremamente conturbada e disputas entre o diretor John
McTiernan e os produtores acabaram levando à prisão de McTiernan. Antes de
analisar o que faz o filme ser tão ruim, é inevitável falar sobre os bastidores
e tudo que deu errado.