Quando escrevi sobre o quarto ano
de O Conto da Aia falei que a série
dava sinais de desgaste, mas que o impactante desfecho sinalizava um caminho
adiante e que as próximas temporadas talvez não ficassem andando em círculos.
Isso não aconteceu nesta quinta temporada e a impressão é que a trama fica
vagando a esmo sem um senso de direcionamento, com ideias jogadas de qualquer
jeito na tela, abandonadas e sendo substituídas por outras logo depois. A
impressão é que não há um plano, não há uma visão e tudo é feito só para
alongar a série e render mais temporadas ao invés de contar uma história
consistente.
A trama segue onde o ano anterior
parou, com June (Elizabeth Moss) matando o comandante Fred (Joseph Fiennes) e
as consequências disso. Serena (Yvonne Strahovski) tenta usar o evento para
atrair simpatia do mundo para Gilead e retomar sua posição na nação. Enquanto
June aproveita para pressionar ainda mais Gilead e tentar recuperar a filha,
que agora está sendo treinada para se tornar uma esposa e pode ser forçada a
casar com um comandante a qualquer momento.
Depois de dois filmes adaptando
algumas das histórias mais famosas do detetive Hercule Poirot em Assassinato no Expresso do Oriente
(2017) e Morte no Nilo(2022), o
diretor Kenneth Branagh se desloca para um dos romances menos célebres do
detetive e um dos últimos escritos por Agatha Christie neste A Noite das Bruxas. A verdade é que o
filme basicamente só pega o título e a premissa de um assassinato cometido na
noite do Dia das Bruxas, todo resto é bem distante do material original.
Na trama, Poirot (Kenneth
Branagh) está vivendo em Veneza quando é convidado pela escritora Ariadne
Oliver (Tina Fey) a participar de uma sessão espírita em um prédio da cidade
tido como mal assombrado. A escritora espera que Poirot seja capaz de
desmascarar a suposta médium Reynolds (Michelle Yeoh), que diz ser capaz de se
comunicar com a filha morta da cantora de ópera Rowena Drake (Kelly Reilly). A
noite da sessão é marcada por uma forte chuva que os deixa presos no prédio e
assassinatos começam a acontecer.
Desenvolvido pela Sabotage, mesmo
estúdio responsável pelo ótimo The
Messenger, que misturava ação ao estilo Ninja
Gaiden com exploração metroidvania, Sea
of Stars é um RPG que homenageia produtos da era 16 bits como Chrono Trigger, Super Mario RPG ou Star Ocean.
Ao contrário de muitos games indie
que tentam esse tipo de construção referencial, Sea of Stars vai além da mera referência e cria um produto com
personalidade própria, cuja força da trama, construção de mitologia e mecânicas
de combate e exploração são bem mais do que uma colagem de elementos de games
de outrora.
A trama se passa no mesmo
universo de The Messenger, mas ele
não é necessário para entender a história, já que ela se passa séculos antes.
Claro, quem jogou The Messenger vai
apreciar como elementos do jogo, como o templo do sol e da lua ou os cristais
temporais ganham mais contexto aqui, mas não faz diferença no entendimento da
narrativa. Centrada em Valere e Zale, dois guerreiros nascidos no solstício e dotados
de poderes vindos da lua e do sol, respectivamente, que recebem a missão de
cruzar o mundo para derrotarem horrores abissais conhecidos como Residentes
para impedir o retorno do poderoso Fleshmancer.
Mais nova tentativa de um live action de suas animações clássicas,
A Pequena Sereia é mais uma animação
a usar tecnologia de ponta para recriar de maneira bastante realista o universo
submarino de sua protagonista. A exemplo de produções como o remake de O Rei Leão (2019) esse fotorrealismo
mais tira do que acrescenta à experiência.
Na trama Ariel (Halle Bailey) é
uma sereia sonhadora que anseia em conhecer o mundo da superfície apesar de seu
pai, o poderoso Rei Tritão (Javer Bardem) alertá-la dos perigos que os humanos
representam. Quando Ariel salva o príncipe Eric (Jonah Hauer King) ela se torna
ainda mais decidida em experimentar o modo de vida dos humanos. A sereia decide
aceitar um perigoso acordo com a bruxa do mar Ursula (Melissa McCarthy) para se
tornar humana, mas isso coloca os mares e a superfície em risco.
O filme recria o fundo do mar com
muita fidelidade e competência técnica, mas essa escolha por realismo faz o
reino submarino soar vazio, sem graça e desprovido de encantamento. Isso fica
evidente no número musical de Aqui no Mar,
uma das canções mais marcantes da animação que perde muito da sua energia e
deslumbramento porque as criaturas marinhas estão presas a se movimentarem como
criaturas marinhas. Se até o filme do Aquaman
(2018) conseguiu colocar um polvo tocando bateria, não vejo porque uma trama
mais lúdica e fantasiosa como A Pequena
Sereia deveria se prender tanto ao realismo.
Depois que o Superman de Zack Snyder dividiu opiniões com uma visão mais cínica sobre o personagem, a
impressão é que nos últimos anos a Warner vem tentado resgatar a imagem de um
Superman mais esperançoso, benevolente e mais humano. Isso se aplica ao
tratamento do personagem na série Superman
& Lois e também nesta nova série animada Minhas Aventuras com o Superman.
A trama acompanha os primeiros
anos de Clark Kent em Metropolis, iniciando como estagiário no Planeta Diário
ao lado do colega de faculdade Jimmy Olsen e conhecendo a intensa Lois Lane.
Clark, Jimmy e Lois logo se tornam amigos e se unem para investigar o
aparecimento de criminosos usando uma tecnologia extremamente avançada. Diante
da ameaça desses criminosos, Clark decide usar seus poderes para proteger a
cidade como Superman, mas isso o torna alvo dos militares.
Para quem tem alguma
familiaridade com o personagem muitos desdobramentos e reviravoltas são
relativamente previsíveis. É bem óbvio, por exemplo, que o misterioso general
investigando as ações do Superman é o general Sam Lane, pai de Lois. Do mesmo
modo, os sinais na tecnologia kryptoniana que ataca a Terra claramente indicam
a intervenção de Brainiac (ou algo similar) e não de Jor-El como Clark
acredita.
Considerando o péssimo histórico
de produções ocidentais que fazem adaptações live action de animes e mangás, como o recente Os Cavaleiros do Zodíaco: O Começo ou o pavoroso Dragonball Evolution (2009), não
esperava muita coisa deste One Piece: A
Série, que adapta a interminável obra de Eiichiro Oda. Depois de assistir a
produção da Netflix, confesso que achei...bom?!? Como assim? Que sensação
estranha é essa? Eu assisti um live
action de anime e gostei? Por essa eu não esperava.
Devo dizer que não sou um
profundo conhecedor de One Piece, com
meu contato com esse universo se limitando a games como One Piece Pirate Warriors ou One Piece Odyssey. Eu sei quem são os personagens e tenho alguma noção dos
principais arcos, mas não seria a melhor pessoa para dizer se é fiel ou não.
A trama segue a mesma premissa do
mangá e do anime. Luffy (Iñaki Godoy) deseja encontrar o mítico tesouro One
Piece e se tornar o Rei dos Piratas, para tal precisa encontrar uma tripulação
que tope cruzar a perigosa Grand Line ao seu lado. Ele encontra aliados em Zoro
(Mackenyu, que foi o Seiya no pavoroso live
action de Cavaleiros do Zodíaco)
e Nami (Emile Rudd), mas o caminho até a Grand Line é cheio de perigos e eles
encontrarão muitos obstáculos, seja na poderosa Marinha, que combate os piratas
com mão de ferro, seja em outros piratas que veem Luffy como um problema.
Se a maioria das adaptações
ocidentais de animes tenta inscrever seus universos e personagens em uma estética
realista, One Piece acerta em manter
tudo dentro de um regime cartunesco, mantendo as matizes saturadas, cabelos
coloridos e armas exageradas, deixando claro que estamos diante de um desenho
que ganhou vida ao invés de forçar esse universo em um regime estético que não
dá conta da inventividade visual do material original.
O texto também acerta na
construção da amizade entre o bando dos Chapéus de Palha, que aos poucos
aprendem a confiar um no outro. Os episódios dão espaço não apenas para que
eles se desenvolvam como um coletivo, mas também dando cenas isoladas com cada
um ao lado de cada companheiro (ou da maioria deles) permitindo que vejamos
como essas diferentes personalidades vão se ajustando umas as outras. Muito do
mérito vem também do elenco, no modo como Iñaki Godoy dá uma energia vibrante e
interminável a Luffy, Mackenyu traz uma sisudez estoica a Zoro ou como Emily
Rudd faz de Nami alguém que usa sua dubiedade moral e fachada durona para não
ter que se abrir aos outros.
A ação mantem o espírito das
lutas grandiloquentes do anime, com personagens como Luffy, Zoro ou Sanji (Taz
Skylar) despachando dezenas de inimigos de vez ou golpes que põem abaixo
prédios inteiros. Muito do motivo de tudo funcionar não é apenas a qualidade
dos efeitos visuais ou a energia das coreografias de luta, mas o já citado
regime visual cartunesco que faz tudo soar coeso. Mesmo poderes como as
habilidades elásticas de Luffy soam convincentes dentro do regime estético
excêntrico que a série adota para si e a linguagem corporal de Iñaki Godoy
ajuda a dar um senso de peso e movimento aos golpes do pirata, com Luffy
“engatilhando” os braços brevemente antes de esticá-los, como que fazendo um
movimento pendular para que eles tenham energia para chegar longe com bastante
força.
Como a temporada condensa todo o
arco de East Blue, é visível mesmo para um neófito que alguns eventos acontecem
rápido demais. Toda a batalha com Buggy (Jeff Ward) e a libertação da cidade
sob seu controle parece se resolver de maneira muito repentina, como se a série
precisasse resolver logo o conflito para partir para o seguinte. A velocidade
também faz alguns temas ficarem na superficialidade. O vilão Arlong (McKinley
Belcher) menciona como o Governo Mundial escravizou os homens-peixe e que mesmo
depois do fim da escravidão eles ainda são estigmatizados. É claramente uma
tentativa de fazer um paralelo com a escravidão e diáspora negra no mundo real
(o fato de Arlong ser interpretado por um ator negro não parece ser
coincidência), mas o texto não investe realmente nessas ideias, rapidamente
levando à batalha entre Luffy e Arlong, deixando de lado a discussão dessas
ideias.
Ainda assim, One Piece: A Série é uma competente adaptação live action que traz as batalhas empolgantes, senso de humor e
conexão emocional entre os protagonistas que tornaram o material original tão
longevo.
Parte de uma renascença recente
de beat’em upsTMNT: Shredder’s Revenge transitava bem entre a nostalgia pela
época de fliperamas e o desenho oitentista das Tartarugas Ninjas e uma
tentativa de agregar mecânicas mais contemporâneas ao gênero, com mais opções
de mobilidade, defesa e oportunidades de combos. Agora em sua primeira
expansão, intitulada Dimension Shellshock,
o jogo tenta trazer novos elementos para enriquecer a experiência.
As principais ofertas são os
novos personagens e modos. O DLC traz dois novos combatentes na forma do coelho
samurai Usagi Yojimbo e a ninja Karai. Ambos são bem diferentes entre si e
divertidos de usar, com Yojimbo sendo um lutador rápido e dotado de combos
aéreos enquanto Karai prima pela força e ataques com alcance mais amplo. Os
dois são diferentes o suficiente para valer retornar à campanha ou o modo
arcade para jogar com eles.
Boas comédias besteirol parecem
ter se perdido em Hollywood. Com um foco cada vez maior em produções de grande
orçamento, a impressão é que a indústria deixou de lado esse tipo de filme.
Claro, aqui e ali surgem coisas como A Noite do Jogo(2018), mas são ocorrências pontuais que tem aparecido a cada
punhado de anos. Este Que Horas Eu Te
Pego? tenta resgatar esse espírito de absurdo e falta de noção,
surpreendendo ao conseguir conciliar isso com momentos eficientes de emoção.
A trama é centrada em Maddie (Jennifer
Lawrence), uma mulher que nunca saiu de sua pequena cidade e está prestes a
perder a casa por dívidas com impostos municipais. Ela trabalha e roda como
motorista de aplicativo para levantar o dinheiro, mas quando seu carro é
guinchado tudo parece se complicar. É nesse momento que ela encontra um anúncio
de pais que buscam uma jovem para se relacionar com seu filho tímido,
oferecendo um carro como pagamento. Apesar da proposta estranha, ela vai
conhecer o rico casal Laird (Matthew Broderick) e Allison (Laura Benanti), pais
controladores que acham melhor que o filho, Percy (Andrew Barth Feldman), perca
a virgindade antes de ir para a faculdade. Assim, Maddie aceita seduzir o
rapaz.
A comédia tem sido um dos gêneros
mais rentáveis do cinema brasileiro nos últimos anos. Depois do sucesso de
adaptações de produções teatrais como Minha
Mãe é Uma Peça ou Os Homens São de
Marte e é pra lá Que Eu Vou era de se imaginar que voltássemos ao teatro em
busca de novos sucessos. O Porteiro é
a nova tentativa de fazer uma comédia audiovisual de carona em um sucesso teatral.
A trama acompanha Waldisney
(Alexandre Lino), porteiro de um prédio de classe média na zona sul do Rio de
Janeiro. Quando uma confusão irrompe no condomínio todos são levados para a
delegacia e o porteiro precisa explicar o que aconteceu para um impaciente
delegado (Maurício Manfrini). O relato de Waldisney rememora tudo que aconteceu
ao longo do dia e suas interações com os pitorescos habitantes do prédio.
Ao assistir o sexto episódio da
segunda temporada de O Urso me
lembrei do pôster do filme Os Excêntricos
Tenenbaums (2001) que trazia a frase “família não é uma palavra, é uma
sentença”. A frase trazia uma brincadeira de duplo sentido com a palavra
sentença. De um lado podia significar sentença no sentido de período ou frase,
afirmando que família é algo tão complicado que é uma frase inteira em uma só
palavra. Por outro lado, sentença podia ser entendido como uma sentença
jurídica, uma decisão de uma instância de poder que decide o rumo de sua vida.
Nesse caso seria possível entender a família como algo que carregamos conosco
querendo ou não e que para o bem ou para o mal define muito de nossos rumos,
transmitindo valores, visões de mundo, bens matérias, traumas, preconceitos e
uma série de outras coisas.