sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Crítica – Cassandro

 

Análise Crítica – Cassandro

Review – Cassandro
Dentro da luta livre, cada combatente encarna um personagem com traços bem definidos e uma função específica para cumprir dentro da luta. É menos sobre uma luta em si e mais um espetáculo que se constrói em cima de narrativas relativamente maniqueístas com heróis, vilões, protagonistas e coadjuvantes bem definidos. Cassandro, produção da Prime Video, conta a história real de um lutador que desafiou a função de seu papel e com isso desafiou a própria maneira como a sociedade lidava com homens gays.

A trama gira em torno de Saúl (Gael Garcia Bernal) um jovem gay que deseja se tornar um astro da cena de lucha libre mexicana na cidade de El Paso, Texas. É um ambiente extremamente impregnado de um tipo arcaico de masculinidade e Saúl inicialmente se contenta em criar um personagem que se adequa ao arquétipo do “fraco” para ter chance de obter uma narrativa em que ele vença como azarão. Todos dizem que ele deveria usar sua criatividade e extravagância para ser um “exótico”, mas ele se recusa pelo fato de que os exóticos nunca ganham lutas. Cansado de fugir de si mesmo, eventualmente Saúl decide criar um personagem exótico em Cassandro, um gay extravagante que vai na contramão dos tipos machos da lucha libre, decidido a mudar a narrativa e fazer um exótico vencer.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Crítica – Ahsoka

 

Análise Crítica – Ahsoka

Review – Ahsoka
A primeira vez que vi Ahsoka Tano foi no longa animado Star Wars: Clone Wars e eu a detestei. Parecia uma personagem criada numa reunião de executivos desesperados por fazer Star Wars ter apelo a jovens garotas e disso saiu o que parecia ser o modo como um bando de homens de meia idade achavam que garotas pré-adolescentes se comportavam. Era uma personagem irritante que destoava do resto do universo de Star Wars e parecia não ter futuro.

Felizmente o produtor Dave Filoni conseguiu reverter essa impressão ao longo da série animada Clone Wars e expandiu ainda mais a personagem na animação Rebels. Nas duas séries Filoni conseguiu redimir a trilogia prelúdio usando a relação entre Ahsoka e Anakin para dar mais contexto à eventual queda de Anakin ao lado sombrio. Agora na série Ahsoka Filoni se coloca à caminho de redimir também a trilogia sequência, ampliando nosso entendimento do que aconteceu após a queda do Império e os desafios da Nova República, elementos que a última trilogia aludiu apenas vagamente, falhando em dar o devido peso ou importância às ameaças que se apresentavam.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Crítica – Carga Máxima

 

Análise Crítica – Carga Máxima

Review – Carga Máxima
Começando com uma cena de ação que mostra um roubo de caminhão, a produção brasileira Carga Máxima exibe de cara sua inspiração no primeiro Velozes e Furiosos. Isso em si não é um problema, derivações são feitas o tempo todo na indústria do audiovisual, a questão é que muitos elementos do filme não funcionam como deveriam.

A trama gira em torno de Roger (Thiago Martins) um piloto de fórmula truck que perde tudo depois que seu pai e dono de sua equipe morre em um acidente. Para manter a equipe de pé, o piloto aceita a proposta do bicheiro Odilon (Evandro Mesquita) para dirigir caminhões roubados e levar a carga em segurança ao seu destino, colocando o piloto para participar de audaciosos roubos.

O principal problema é como a trama se move tão rápido que não há tempo nenhum para construir as relações entre os personagens. Mal conhecemos a relação complicada entre Roger e o pai e ele já morre em um acidente tão súbito que soa quase cômico. A amizade entre Roger e seu mecânico, Danilo (Raphael Logam) tem um desfecho previsível, já que o mecânico constantemente fala que está fazendo tudo aquilo para sustentar a filha, o que nesse tipo de filme invariavelmente significa que ele irá morrer. De maneira semelhante, a trama não dá tempo para construir a relação paternal entre Roger e a filha de Danilo ou para a rivalidade que se torna romance com a pilota Rainha (Sheron Menezzes).

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Crítica – Atlanta: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Atlanta: 4ª Temporada

Review – Atlanta: 4ª Temporada
A quarta e última temporada entrega mais uma dezena de episódios repletos de um surrealismo singular que reflete sobre a realidade contemporânea dos Estados Unidos sob os olhos de pessoas negras e o caráter de absurdo que muitas dessas experiências tem. Como em outras temporadas, os episódios funcionam mais como narrativas autocontidas, que dão alguns vestígios das transformações ocorridas em cada personagem do que uma trama devidamente serializada.

O primeiro episódio já nos lembra do caráter surrealista da série com a trama de Darius (Lakeith Stanfield) sendo perseguido por uma senhora branca de cadeira de rodas que tenta esfaqueá-lo por achar que ele roubou uma airfryer de uma loja quando Darius na verdade comprou o produto. Tal como uma versão geriátrica de Jason, a velhinha sempre aparece do nada em sua cadeira de rodas sempre que o personagem acha que está seguro.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Crítica – Ninguém Vai Te Salvar

 

Análise Crítica – Ninguém Vai Te Salvar

Review – Ninguém Vai Te Salvar
Desde que desenvolveu a projeção síncrona de som e imagem o cinema é predominantemente vococêntrico. A banda sonora em geral vai colocar a voz, em específico a voz falada, em primeiro plano, o elemento sonoro mais proeminente. Por isso soa tão pouco usual quando um filme como Ninguém Vai Te Salvar resolve construir toda sua história praticamente sem diálogos.

A trama é protagonizada por Brynn (Kaitlyn Dever), uma jovem solitária que recentemente perdeu a mãe e que guarda um trauma de infância em relação à morte de uma amiga próxima. Uma noite sua casa é invadida por uma estranha criatura alienígena que tenta atacá-la e agora Brynn precisa lutar para sobreviver.

Filmes com protagonistas isolados normalmente usam expedientes como o personagem gravando uma mensagem ou se comunicando com alguém para ter alguma desculpa desse personagem sozinho falar sobre o que acontece consigo. Ninguém Vai Te Salvar não tenta fazer esse tipo de malabarismo e Brynn não fala durante o filme todo, deixando que seu rosto e outros elementos do cenário contem a história da solidão e traumas da personagem.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Rapsódias Revisitadas – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox

 

Rapsódias Revisitadas – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox

Review – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox
Cinebiografias de músicos são um filão constantemente explorado pela indústria do cinema. Artistas famosos como Johnny Cash, Ray Charles, Elton John ou Elvis já ganharam filmes inspirados em suas vidas. Com uma produção tão profícua era apenas questão de tempo até que esse tipo de filme fosse parodiado. Isso aconteceu em 2007 com o lançamento de A Vida é Dura: A História de Dewey Cox.

O filme conta a história do fictício músico Dewey Cox (John C. Reilly) e o modo como superou adversidades para alcançar o sucesso. A trama brinca bastante com os clichês de como esse tipo de filme é estruturado, apresentando todos os momentos padrão dessas histórias, como a infância pobre e traumática (ele acidentalmente corta o irmão no meio com um facão), o abuso de drogas, os amores e as influências dele sobre outros músicos.

É tudo construído com um exagero extremo, ciente de como certos formatos já estão batidos em cinebiografias, como o fato da primeira esposa de Dewey, Edith (Kristen Wiig) dizer sem sutileza o tempo todo de como ele precisa desistir do sonho de ser músico ou como o pai de Dewey fala constantemente que o filho errado morreu. Em um dado momento, quando Dewey grava Walk Hard, a música que o tornaria famoso, o filme faz piada no modo como a montagem desses filmes dá a impressão de que o sucesso vem rápido com a cena do estúdio cortando diretamente para um locutor de rádio anunciando a canção que terminou de ser gravada há três minutos atrás.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Crítica – Mortal Kombat 1

 

Análise Crítica – Mortal Kombat 1

Review – Mortal Kombat 1
O ano de 2023 tem sido bom para jogos de luta, com algumas de suas principais franquias lançando novos games. Depois do excelente Street Fighter 6, agora é a vez de Mortal Kombat 1 ganhar os holofotes, reiniciando a continuidade da história depois dos eventos de Mortal Kombat 11.

A trama se passa na nova linha do tempo criada por Liu Kang. Ele moldou os eventos para criar uma era de paz entre o nosso mundo e a Exoterra, no qual o torneio entre os reinos é mais uma celebração da cooperação entre os dois mundos e não um instrumento de conquista. Um novo torneio está prestes a começar, com Liu Kang treinando os novos campeões da Terra em Raiden e Kung Lao, mas uma misteriosa visitante de fora dessa linha do tempo instiga antigos vilões, como Shang Tsung, a recuperarem seus poderes e tramarem contra a nova paz.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Crítica – As Tartarugas Ninja: Caos Mutante

 

Análise Crítica – As Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Review – As Tartarugas Ninja: Caos Mutante
Apesar de gostar do universo das Tartarugas Ninja, não estava lá muito interessado na animação As Tartarugas Ninja: Caos Mutante. Provavelmente porque os últimos dois filmes live-action não foram grande coisa e isso esfriou minha vontade de ver qualquer coisa com esses personagens. Felizmente essa nova animação acerta no espírito de aventura e na energia adolescente de seus protagonistas.

A trama reconta a origem de Leonardo, Michelangelo, Donatello, Raphael e o mestre Splinter. Animais comuns transformados em humanoides quando um mutagênico cai nos esgotos. Já adolescentes, as tartarugas querem se integrar no mundo dos humanos, mas Splinter teme que eles sejam tratados como monstros e caçados ou usados como arma. Os quatro irmãos acabam ficando amigos da adolescente April O’Neil e juntos vão investigar a gangue do Superfly, que vem aterrorizando a cidade. Ao longo da investigação descobrem que Superfly é também um mutante que lidera um bando de outros mutantes.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Crítica – Jagun Jagun: O Guerreiro

 

Análise Crítica – Jagun Jagun: O Guerreiro

Review – Jagun Jagun: O Guerreiro
Apesar de algum contato com os filmes produzidos por países africanos, confesso que ainda conheço pouco a respeito sobre os filmes iorubás feitos na Nigéria. Talvez por isso minha curiosidade em conferir este Jagun Jagun: O Guerreiro, épico iorubá produzido na Nigéria e distribuído pela Netflix.

A trama conta a história de Ogunjimi (Femi Adebayo), um líder tribal que ganhou renome e temor pela região por conta de suas habilidades de guerreiro e exércitos que comanda. Qualquer um que busque vencer uma batalha procura a ajuda do temível Ogunjimi e qualquer guerreiro que busque provar seu valor almeja treinar sob o comando dele. É então que aparece Gbotija (Lateef Adedimeji), um jovem valoroso que tem a habilidade de se comunicar com as árvores e quer se tornar um guerreiro para vingar o pai e a destruição de sua vila. O talento e o caráter de Gbotija despertam atenção do exército de Ogunjimi, mas o líder vê a ascensão do jovem como uma ameaça a seu comando e tenta eliminá-lo ao lhe incumbir de cumprir três tarefas praticamente impossíveis para ser aceito em suas fileiras.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Crítica – Sex Education: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Sex Education: 4ª Temporada

Review – Sex Education: 4ª Temporada
O fim de uma série da qual gostamos é sempre algo agridoce. Por um lado queremos ver mais, por outro temos a satisfação de vê-la encerrar antes que se alongue demais. No caso de Sex Education esses sentimentos ainda encontram a constatação de que o elenco já passou do ponto em que é capaz de nos convencer de que são adolescentes, então é melhor mesmo colocar um ponto final.

Quando escrevi sobre a terceira temporada, mencionei como um dos grandes méritos da série era sua capacidade de sempre dar complexidade a seus personagens e mesmo figuras que operam como antagonistas ou vilões nunca são reduzidos a figuras unidimensionais. A temporada começa com Otis (Asa Butterfield), Eric (Ncuti Gatwa) e os demais chegando a um novo colégio, este mais inclusivo e aberto. Enquanto isso Maeve (Emma Mackey) começa seu curso nos Estados Unidos e a mãe de Otis, Jean (Gillian Anderson), começa a demonstrar que está sofrendo de depressão pós-parto. Na nova escola Otis tenta abrir uma nova clínica de aconselhamento, mas descobre que o local já tem sua terapeuta sexual em O (Thaddea Graham), iniciando uma rivalidade com a garota.