segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Crítica – Camaleões

 

Análise Crítica – Camaleões

Review – Camaleões
Estrelado por Benicio del Toro e Justin Timberlake, Camaleões é mais uma daquelas tramas investigativas que tenta seguir o tom realista e sorumbático das produções dirigidas por David Fincher, mas sem alcançar  impacto ou a precisão da condução do diretor. A trama gira em torno do detetive Nichols (Benicio del Toro), transferido para uma nova cidade depois que seu parceiro anterior é pego em um escândalo de corrupção e Nichols é inocentado, sendo marcado como delator. O detetive é incumbido de investigar o assassinato de uma jovem corretora de imóveis que namorava um dos empresários mais proeminentes da cidade, Will (Justin Timberlake).

Conforme a investigação progride, o que parecia ser um crime brutal e inexplicável vai aos poucos se conectando com negócios escusos da elite da cidade, traficantes de drogas e a própria polícia ao ponto em que Nichols não sabe em quem confiar, já que até a família de sua esposa, Judy (Alicia Silverstone), parece estar envolvida. Se no início o brutal assassinato dá a impressão de uma intenção específica, como se fosse um trabalho de serial killer, as coisas vão se tornando mais banais conforme a verdade começa a aparecer e todo o pano de fundo de corrupção policial se torna mundano demais diante de toda a atmosfera soturna que o filme tenta construir.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Crítica – Dezesseis Facadas

 

Análise Crítica – Dezesseis Facadas

Review – Dezesseis Facadas
Misturando viagem no tempo com um serial killer saído diretamente de um terror slasher, Dezesseis Facadas parte de uma premissa insólita para produzir um misto de comédia e suspense bem divertido. A mistura poderia render algo tonalmente bagunçado, mas a produção é competente em equilibrar as várias facetas de sua narrativa de maneira equilibrada.

A trama é protagonizada por Jamie (Kiernan Shipka), uma garota que foi criada pela mãe, Pam (Julie Bowen), para sobreviver qualquer tipo de ataque depois que Pam passou pelo trauma na adolescência de ver todas as amigas mortas por um serial killer mascarado. Décadas depois o assassino reaparece para atacar Pam e Jamie, com Jamie acidentalmente ativando o protótipo de uma máquina do tempo que uma amiga fez para a feira de ciências da escola, levando a protagonista à década de 80. Lá Jamie encontra uma versão adolescente de Pam (Olivia Holt) e precisa usar seu conhecimento do futuro para que as amigas da mãe não sejam assassinadas.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Crítica – Meu Nome é Gal

 

Análise Crítica – Meu Nome é Gal

Review – Meu Nome é Gal
As cinebiografias de músicos são um constante filão explorado pelo cinema brasileiro. Meu Nome é Gal é o exemplar mais recente dessa tendência, contando a história da cantora Gal Costa e sua importância para a MPB. É um projeto que começou a ser tocado com a cantora ainda viva, pensado como uma celebração de seu legado e uma homenagem em vida para ela, ao contrário de muitas biografias feitas após a morte de artistas.

A trama foca na ascensão de Gal Costa (Sophie Charlotte) como cantora, em especial a partir de sua colaboração com os músicos do movimento do Tropicalismo e como ela usou a arte para comentar sobre a política brasileira e sobre a opressão da ditadura militar. Como muitas cinebiografias de músicos, a trama sofre com um ritmo muito episódico, saltando rapidamente no tempo entre vários momentos apesar de acompanhar um período relativamente curto da vida da personagem.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Crítica - Castlevania: Noturno

 

Análise Crítica - Castlevania: Noturno

Review - Castlevania: Noturno
Considerando que Castlevania foi um dos primeiros sucessos da Netflix em adaptar um game como série animada era estranho que eles tenham encerrado na quarta temporada. Sim, a história de Trevor Belmont tinha acabado, mas existiam dezenas de outras histórias a serem contadas nesse universo que podiam se apoiar em mais de 30 anos de games. Por isso não foi nenhuma surpresa quando anunciaram este Castlevania: Noturno que saltaria no tempo para a revolução francesa para acompanhar Richter Belmont, protagonista de Castlevania: Rondo of Blood e figura central do excelente Castlevania: Symphony of the Night.

Claro, o fato de ter um novo título ao invés de ser uma nova temporada de Castlevania soa como uma decisão estranha, embora as informações sobre royalties em TV e streaming que saíram durante a recente greve de roteiristas revelam que há uma motivação financeira por colocá-la como uma nova série ao invés de ser quinta temporada de Castlevania.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Crítica – Cassandro

 

Análise Crítica – Cassandro

Review – Cassandro
Dentro da luta livre, cada combatente encarna um personagem com traços bem definidos e uma função específica para cumprir dentro da luta. É menos sobre uma luta em si e mais um espetáculo que se constrói em cima de narrativas relativamente maniqueístas com heróis, vilões, protagonistas e coadjuvantes bem definidos. Cassandro, produção da Prime Video, conta a história real de um lutador que desafiou a função de seu papel e com isso desafiou a própria maneira como a sociedade lidava com homens gays.

A trama gira em torno de Saúl (Gael Garcia Bernal) um jovem gay que deseja se tornar um astro da cena de lucha libre mexicana na cidade de El Paso, Texas. É um ambiente extremamente impregnado de um tipo arcaico de masculinidade e Saúl inicialmente se contenta em criar um personagem que se adequa ao arquétipo do “fraco” para ter chance de obter uma narrativa em que ele vença como azarão. Todos dizem que ele deveria usar sua criatividade e extravagância para ser um “exótico”, mas ele se recusa pelo fato de que os exóticos nunca ganham lutas. Cansado de fugir de si mesmo, eventualmente Saúl decide criar um personagem exótico em Cassandro, um gay extravagante que vai na contramão dos tipos machos da lucha libre, decidido a mudar a narrativa e fazer um exótico vencer.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Crítica – Ahsoka

 

Análise Crítica – Ahsoka

Review – Ahsoka
A primeira vez que vi Ahsoka Tano foi no longa animado Star Wars: Clone Wars e eu a detestei. Parecia uma personagem criada numa reunião de executivos desesperados por fazer Star Wars ter apelo a jovens garotas e disso saiu o que parecia ser o modo como um bando de homens de meia idade achavam que garotas pré-adolescentes se comportavam. Era uma personagem irritante que destoava do resto do universo de Star Wars e parecia não ter futuro.

Felizmente o produtor Dave Filoni conseguiu reverter essa impressão ao longo da série animada Clone Wars e expandiu ainda mais a personagem na animação Rebels. Nas duas séries Filoni conseguiu redimir a trilogia prelúdio usando a relação entre Ahsoka e Anakin para dar mais contexto à eventual queda de Anakin ao lado sombrio. Agora na série Ahsoka Filoni se coloca à caminho de redimir também a trilogia sequência, ampliando nosso entendimento do que aconteceu após a queda do Império e os desafios da Nova República, elementos que a última trilogia aludiu apenas vagamente, falhando em dar o devido peso ou importância às ameaças que se apresentavam.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Crítica – Carga Máxima

 

Análise Crítica – Carga Máxima

Review – Carga Máxima
Começando com uma cena de ação que mostra um roubo de caminhão, a produção brasileira Carga Máxima exibe de cara sua inspiração no primeiro Velozes e Furiosos. Isso em si não é um problema, derivações são feitas o tempo todo na indústria do audiovisual, a questão é que muitos elementos do filme não funcionam como deveriam.

A trama gira em torno de Roger (Thiago Martins) um piloto de fórmula truck que perde tudo depois que seu pai e dono de sua equipe morre em um acidente. Para manter a equipe de pé, o piloto aceita a proposta do bicheiro Odilon (Evandro Mesquita) para dirigir caminhões roubados e levar a carga em segurança ao seu destino, colocando o piloto para participar de audaciosos roubos.

O principal problema é como a trama se move tão rápido que não há tempo nenhum para construir as relações entre os personagens. Mal conhecemos a relação complicada entre Roger e o pai e ele já morre em um acidente tão súbito que soa quase cômico. A amizade entre Roger e seu mecânico, Danilo (Raphael Logam) tem um desfecho previsível, já que o mecânico constantemente fala que está fazendo tudo aquilo para sustentar a filha, o que nesse tipo de filme invariavelmente significa que ele irá morrer. De maneira semelhante, a trama não dá tempo para construir a relação paternal entre Roger e a filha de Danilo ou para a rivalidade que se torna romance com a pilota Rainha (Sheron Menezzes).

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Crítica – Atlanta: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Atlanta: 4ª Temporada

Review – Atlanta: 4ª Temporada
A quarta e última temporada entrega mais uma dezena de episódios repletos de um surrealismo singular que reflete sobre a realidade contemporânea dos Estados Unidos sob os olhos de pessoas negras e o caráter de absurdo que muitas dessas experiências tem. Como em outras temporadas, os episódios funcionam mais como narrativas autocontidas, que dão alguns vestígios das transformações ocorridas em cada personagem do que uma trama devidamente serializada.

O primeiro episódio já nos lembra do caráter surrealista da série com a trama de Darius (Lakeith Stanfield) sendo perseguido por uma senhora branca de cadeira de rodas que tenta esfaqueá-lo por achar que ele roubou uma airfryer de uma loja quando Darius na verdade comprou o produto. Tal como uma versão geriátrica de Jason, a velhinha sempre aparece do nada em sua cadeira de rodas sempre que o personagem acha que está seguro.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Crítica – Ninguém Vai Te Salvar

 

Análise Crítica – Ninguém Vai Te Salvar

Review – Ninguém Vai Te Salvar
Desde que desenvolveu a projeção síncrona de som e imagem o cinema é predominantemente vococêntrico. A banda sonora em geral vai colocar a voz, em específico a voz falada, em primeiro plano, o elemento sonoro mais proeminente. Por isso soa tão pouco usual quando um filme como Ninguém Vai Te Salvar resolve construir toda sua história praticamente sem diálogos.

A trama é protagonizada por Brynn (Kaitlyn Dever), uma jovem solitária que recentemente perdeu a mãe e que guarda um trauma de infância em relação à morte de uma amiga próxima. Uma noite sua casa é invadida por uma estranha criatura alienígena que tenta atacá-la e agora Brynn precisa lutar para sobreviver.

Filmes com protagonistas isolados normalmente usam expedientes como o personagem gravando uma mensagem ou se comunicando com alguém para ter alguma desculpa desse personagem sozinho falar sobre o que acontece consigo. Ninguém Vai Te Salvar não tenta fazer esse tipo de malabarismo e Brynn não fala durante o filme todo, deixando que seu rosto e outros elementos do cenário contem a história da solidão e traumas da personagem.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Rapsódias Revisitadas – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox

 

Rapsódias Revisitadas – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox

Review – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox
Cinebiografias de músicos são um filão constantemente explorado pela indústria do cinema. Artistas famosos como Johnny Cash, Ray Charles, Elton John ou Elvis já ganharam filmes inspirados em suas vidas. Com uma produção tão profícua era apenas questão de tempo até que esse tipo de filme fosse parodiado. Isso aconteceu em 2007 com o lançamento de A Vida é Dura: A História de Dewey Cox.

O filme conta a história do fictício músico Dewey Cox (John C. Reilly) e o modo como superou adversidades para alcançar o sucesso. A trama brinca bastante com os clichês de como esse tipo de filme é estruturado, apresentando todos os momentos padrão dessas histórias, como a infância pobre e traumática (ele acidentalmente corta o irmão no meio com um facão), o abuso de drogas, os amores e as influências dele sobre outros músicos.

É tudo construído com um exagero extremo, ciente de como certos formatos já estão batidos em cinebiografias, como o fato da primeira esposa de Dewey, Edith (Kristen Wiig) dizer sem sutileza o tempo todo de como ele precisa desistir do sonho de ser músico ou como o pai de Dewey fala constantemente que o filho errado morreu. Em um dado momento, quando Dewey grava Walk Hard, a música que o tornaria famoso, o filme faz piada no modo como a montagem desses filmes dá a impressão de que o sucesso vem rápido com a cena do estúdio cortando diretamente para um locutor de rádio anunciando a canção que terminou de ser gravada há três minutos atrás.