quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Crítica – O Melhor Está Por Vir

 

Análise Crítica – O Melhor Está Por Vir

Review – O Melhor Está Por Vir
O diretor italiano Nanni Moretti é famoso por fazer filmes que exploram o momento em que ele vive em sua vida pessoal. São produções com um cunho autoficcional que partem de um sentimento autobiográfico para tecer tramas que remetem às inquietações e sentimentos do diretor sem necessariamente possuírem a ambição de serem um reflexo fidedigno de sua vida. Em Caro Diário (1993), por exemplo, ele falou de seus problemas de saúde. Neste O Melhor Está Por Vir ele fala de crises matrimoniais, desilusões políticas e as transformações no mercado audiovisual.

A trama segue o diretor Giovanni (Nanni Moretti) que está prestes a começar a produção sobre um filme a respeito do Partido Comunista Italiano na década de 1950 e como eles reagiram à invasão soviética a Hungria. Ao mesmo tempo, ele tem problemas em casa por conta da decisão de sua esposa, Paola (Margherita Buy), de produzir um outro filme além do dele. O outro filme produzido por Paola é um filme de máfia bem típico, o que incomoda Giovanni e vai criando conflitos entre eles.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Crítica – Wish: O Poder dos Desejos

 

Análise Crítica – Wish: O Poder dos Desejos

Feito para celebrar os 100 anos da Disney, Wish: O Poder dos Desejos é uma homenagem mais focada em nos lembrar do longevo legado do estúdio do que para mostrar o espírito de inovação que o tornou tão amado. É uma produção que tem sua parcela de qualidades, mas que não tem o impacto que esperaríamos de uma celebração de um século.

A trama é focada em Asha, uma jovem que deseja se tornar aprendiz do rei Magnifico, um monarca que trouxe paz e prosperidade ao reino com seu poder de extrair e guardar os desejos de seus cidadãos, realizando-os periodicamente. Quando Asha descobre que o rei usa os desejos como forma de controlar a população ao invés de inspirá-la, ela decide devolver os desejos ao povo. A jovem faz um pedido para uma estrela e ela ganha vida. Agora, com a ajuda da estrela e seus poderes mágicos, ela decide enfrentar o rei.

É uma trama típica da Disney, com animais falantes e números musicais que nos lembra da importância de sonhar e perseguir os próprios desejos. Não tem nada aqui que quebre o molde do estúdio, mas não chega a ser um grande problema já que a produção tem carisma e encantamento o suficiente para nos manter interessados. Os números musicais são vibrantes e alguns deles, como o que envolve galinhas dançantes, remetem aos mosaicos das coreografias de Busby Berkeley. Não tem nenhuma música que soe com o impacto de hit instantâneo algo como Dos Oruguitas ou Não Falamos do Bruno de Encanto (2021), mas são canções carismáticas que entregam o que se espera.

Muito da graça do filme vem de como a trama costura referências aos vários filmes da Disney ao longo do último século, da silhueta da Malévola que aparece no livro de magia sombria do rei, passando pelo fato de que os amigos de Asha se vestem como os sete anões, que o manto que a protagonista usa remete ao da fada madrinha de Cinderela (1950) ou o vilão basicamente se tornar ao final no espelho da Rainha Má de Branca de Neve e os Sete Anões (1937). Nesse sentido, o avô de Asha ser um idoso de 100 anos em busca de alcançar seu desejo de inspirar as pessoas é uma clara metáfora para a Disney em si, que chega ao seu aniversário de um século ainda tentando nos fazer acreditar nos sonhos e na magia.

Como algo que nos diz o tempo todo que foi feito para celebrar o legado do seu estúdio, é relativamente decepcionante que ele arrisque tão pouco e prefira que sua celebração consista meramente de repousar sobre os próprios louros passados (nos lembrando de vários filmes melhores do que esse que estamos assistindo) do que em nos mostrar que a Disney ainda é capaz de inovar, de nos surpreender, de nos pegar desprevenidos e nos fazer nos perguntar “como eles imaginaram isso?” como fizemos em seus filmes mais memoráveis. Ao invés de nos mostrar como tem vigor para mais outros 100 anos de encantamento Wish: O Poder dos Desejos se acomoda em meramente nos fazer lembrar das glórias passadas. Claro, o filme tem lá seus bons momentos e não tem nada de particularmente problemático, só não está plenamente à altura de ser celebração que se propõe a ser.

 

Nota: 6/10


Trailer

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Drops – Trocados

 

Análise Crítica – Trocados

Review – Trocados
Filmes de trocas de corpos já foram feitos aos montes por Hollywood e até pelo cinema brasileiro. Mãe que troca de corpo com filha, pai com filho, marido com esposa. Muitas combinações já foram explorados e, talvez justamente por isso, Trocados, produção da Netflix resolve simplesmente fazer todas ao mesmo tempo. O resultado é um filme que tenta chamar atenção pelo volume e não necessariamente pela qualidade do humor ou das personagens.

A trama segue a família liderada por Jess (Jennifer Garner) e Bill (Ed Helms). Quando eles discutem com os filhos CC (Emma Myers, a Enid de Wandinha) e Wyatt (Brady Noon) durante um alinhamento planetário, eles acordam com os corpos trocados. Os filhos estão no corpo dos pais e até o bebê trocou de corpo com o cachorro.

É óbvio desde o início que a troca de corpos servirá para que cada membro da família entenda as dores e dificuldades do outro aprendendo grandes lições de vida no processo. Além de uma estrutura previsível, a trama é prejudicada por um roteiro que se apoia em recriar todas as situações que já vimos antes nesse tipo de produção. A filha no corpo da mãe precisa fazer a “grande apresentação” que ira render uma promoção no emprego, o pai no corpo do filho precisa fazer a entrevista para uma faculdade de prestigio que selará seu futuro.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Crítica – Saltburn

 

Análise Crítica – Saltburn

Resenha Crítica – Saltburn
Se tem uma coisa que aprendi assistindo O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e a este Saltburn é que convidar Barry Keoghan para sua casa certamente acabará em tragédia. Dirigido e escrito por Emerald Fennell, Saltburn foi bastante divulgado como algo próximo de um thriller erótico, mas na prática é mais um suspense sobre conflitos de classe do que sobre sexualidade.

A trama é centrada em Oliver (Barry Keoghan), um jovem que acabou de entrar na faculdade de Oxford, e se encanta pelo colega aristocrata Felix (Jacob Elordi), membro de uma família que descende de nobreza e dona de uma extravagante propriedade chamada Saltburn. Oliver se aproxima de Felix e é convidado a passar as férias de verão com ele na mansão de sua família. Chegando lá, Oliver conhece os membros excêntricos da família do colega, como seu pai, Sir James (Richard E. Grant), sua mãe, Eslpeth (Rosamund Pike), e sua irmã Venetia (Alison Oliver). Aos poucos Oliver descobre como ele e vários outros agregados da família precisam bajular e disputar a atenção deles para não serem mandados embora e como Felix e seus parentes veem todos como brinquedos a seu serviço. O que começou como férias entre amigos logo se torna um tenso jogo de intrigas para tentar se manter sob os bons olhos da família e continuar vivendo no luxo deles.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Crítica – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo

 

Análise Crítica – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo

Review – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo
Os primeiros escritos sobre gêneros dramatúrgicos datam da Grécia antiga e de pensadores como Aristóteles. O filósofo ponderava como os gêneros, com suas estruturas típicas, propiciavam certa economia narrativa. Como o espectador já sabia mais ou menos como a história iria se estruturar, o dramaturgo poderia focar sua atenção nas particularidades dos personagens ou do universo. Hollywood se vale até hoje desse princípio de economia narrativa, com filmes tipo John Wick ou Missão Impossível simplificando suas tramas (porque já sabemos como elas irão transcorrer) para focar no espetáculo de ação.

Zack Snyder, por outro lado, parece ignorar a ideia de economia narrativa neste Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo, um filme que é basicamente uma cópia de Star Wars misturado com algumas outras produções (como Os Sete Samurais do Kurosawa). Não há nada de original na trama ou universo criado por ele e não teria problema se Snyder ao menos reconhecesse essa natureza derivativa e oferecesse visuais, locais ou cenas de ação bem construídas (como os dois Avatar de James Cameron), mas ao invés disso o diretor parece tão deslumbrado com sua própria criação que conduz tudo com absoluta segurança de que fez algo completamente original, resultando em uma trama arrastada pela necessidade de explicar os próprios clichês sem fazer nada para subvertê-los, como se estivéssemos assistindo algo completamente novo.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Crítica – Plano em Família

 

Análise Crítica – Plano em Família

Review – Plano em Família
Um agente secreto esconde sua verdadeira ocupação da família e vive como um pacato pai suburbano sem que a esposa e filhos saibam a verdade sobre ele até que terroristas tomam sua família de refém e ele precisa conciliar esses dois mundos. Essa é a trama de True Lies (1994) excelente comédia de ação dirigida por James Cameron que este Plano em Família, produção original da AppleTV+, basicamente copia sem qualquer pudor ou brilho.

A história gira em torno de Dan (Mark Wahlberg), um pacato vendedor de carros usados que tem um passado como operativo secreto que esconde da esposa, Jessica (Michelle Monaghan), e dos filhos. As coisas mudam quando mercenários começam a atacar Dan e ele sugere uma viagem em família para fugir dos assassinos ao mesmo tempo em que tenta manter tudo oculto da família.

A estrutura de viagem pela estrada parece feita sob medida para alongar a narrativa sem lhe adicionar nenhum estofo, jogando os personagens em encontros fortuitos e subtramas que não tem muita repercussão na trama ou não servem para dar nenhum desenvolvimento aos membros da família. A busca da filha, Nina (Zoe Colletti), por uma vaga na universidade dos sonhos não faz muito diferença, enquanto a subtrama de Kyle (Van Crosby) tentando se tornar um atleta de esports parece existir apenas para adicionar um longo segmento que é meramente uma longa e pouco sutil publicidade de um game online. A verdade é que o filme poderia ter tranquilamente 90 ou 100 minutos ao invés das suas inchadas duas horas de duração.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Crítica – Yu Yu Hakusho

 

Análise Crítica – Yu Yu Hakusho

Review – Yu Yu Hakusho
Depois de um live action de One Piece que surpreendeu ao não ser péssimo, a Netflix entrega outra adaptação com atores razoavelmente bem sucedida com este Yu Yu Hakusho. É fiel ao espírito do anime ainda que peque por tentar cobrir uma quantidade grande de tramas em apenas cinco episódios.

A história é a mesma do anime e do mangá. Yusuke Urameshi (Takumi Kitamura) é um valentão que não se importa muito com escola, mas tem um bom coração. Quando ele se coloca na frente de um caminhão e morre para evitar que uma criança seja atropelada, o governante do mundo dos mortos, Koenma (Keita Machida), lhe dá a chance de retornar ao mundo dos vivos como um detetive sobrenatural para enfrentar yokais que saíram do mundo espiritual para atormentar os humanos.

Inicialmente parece que essa primeira temporada irá adaptar o arco do detetive sobrenatural, a primeira grande saga do material original. Nos últimos episódios, porém, a série mescla o resgate a Yukina, que seria o clímax do primeiro arco, com o arco do torneio das trevas, basicamente cobrindo metade do anime em apenas cinco episódios de cerca de cinquenta minutos cada. Logicamente é muito pouco para dar conta de quatro protagonistas, as relações entre eles, com os coadjuvantes importantes e a rivalidade com certos vilões como o Toguro (Go Ayano).

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Crítica – Aquaman 2: O Reino Perdido

 

Análise Crítica – Aquaman 2: O Reino Perdido

Considerando que o universo DC está morto e enterrado, com a Warner querendo rapidamente chegar aos novos filmes sob a batuta do James Gunn, não tinha muitas expectativas quanto a este Aquaman 2: O Reino Perdido. Afinal, assim como The Flash era um filme que estava pronto faz tempo, foi adiado várias vezes e sofreu várias mudanças por conta das trocas de lideranças na Warner/DC e por polêmicas envolvendo o elenco (mais notadamente Amber Heard), embora este filme tenha passado por menos perrengues de bastidores que o do velocista escarlate.

A trama se passa alguns anos depois do primeiro filme. Arthur (Jason Momoa) e Mera (Amber Heard) agora tem um filho e a responsabilidade de gerir o reino de Atlântida. As coisas se complicam quando o Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) encontra o tridente sombrio do Reino Perdido e passa a ser influenciado pelo espírito do rei maligno que reside na arma. O Arraia sabe que está sendo usado pelo rei, mas decide aceitar para poder se vingar de Arthur.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Crítica – Priscilla

 

Análise Crítica – Priscilla

Review – Priscilla
O Elvis (2022) de Baz Luhrmann focava tanto na relação do rei do rock com o Coronel Parker que Priscilla Presley, esposa do cantor, virava basicamente uma nota de rodapé na história. Em Priscilla a diretora Sofia Coppola decide contar a história dela e de como a relação com Elvis a afetou.

A narrativa se baseia no livro autobiográfico de Priscilla Presley, acompanhando Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny) desde sua adolescência, quando conhece um Elvis (Jacob Elordi, de Euphoria e A Barraca do Beijo) já adulto durante o período em que ele serviu no exército, até os anos finais de seu casamento com ele. Sob o olhar de Coppola, a história de Priscilla é narrada como a de alguém presa em uma gaiola de ouro. Por mais que ela tivesse tudo que o dinheiro pudesse proporcionar, isso não a impedia de se sentir solitária e infeliz, já que sua existência era reduzida a ser um bibelô nas mãos de Elvis.

É um olhar sobre o vazio e o tédio de uma jovem inadvertidamente jogada em um universo de riqueza para ser tratada como objeto que remete a outros filmes de Sofia Coppola, como a personagem de Scarlett Johansson em Encontros e Desencontros (2003) ou Maria Antonieta (2006). Priscilla é constantemente colocada sozinha no quadro, construindo seu senso de isolamento e alienação, amplificando isso com o uso de planos abertos a partir do momento em que ela vai para Graceland que ressaltam como aquela opulência pode soar opressiva, vazia e solitária.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Crítica – Se Eu Fosse Luísa Sonza

 


Review – Se Eu Fosse Luísa Sonza
Tudo que eu sei sobre a cantora Luísa Sonza foi contra a minha vontade. A garota é tão exposta na mídia que sei mais sobre a vida pessoal dela do que a respeito de alguns parentes e olha que nunca procurei ativamente nada sobre ela. Na verdade, ficaria bem contente em saber menos a respeito. Curiosamente, apesar da exposição sei mais sobre as tretas de sua vida pessoal do que sobre sua música, o que raramente é um bom sinal. O documentário Se Eu Fosse Luísa Sonza soa como um desdobramento inevitável para uma artista em ascensão, mas se muitos usam esse tipo de produto como um veículo para expandir sua audiência, o documentário da Netflix dividido em três episódios parece se dirigir aos fãs mais ardorosos, já que a maneira como tudo é contado dificilmente vai convencer ou aproximar qualquer outro espectador.

Trata-se de um documentário meramente laudatório, sem qualquer nuance ou interesse de tentar entender a personalidade do objeto do documentário. Tudo é posto para que Luísa seja vista como uma grande artista (sem nada de muito convincente para justificar essa visão) ou como uma grande coitada perseguida pela mídia (com um sensacionalismo exagerado que faz tudo soar artificial) para atrair nossa comiseração. É um produto marcado pela contradição de querer se expor intimamente e uma preocupação extrema em controlar a narrativa e imagem que cerca a cantora.