quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Rapsódias Revisitadas – Sindicato de Ladrões

 

Crítica – Sindicato de Ladrões

Análise – Sindicato de Ladrões
Em uma determinada cena de Sindicato de Ladrões, o protagonista menciona que ter uma consciência é algo que pode levar uma pessoa à loucura. O filme seminal de Elia Kazan estrelado por Marlon Brando comemora seus 70 anos de lançamento em 2024 e suas reflexões sobre consciência de classe e manter seus princípios diante da corrupção ao nosso redor seguem válidos.

A trama acompanha Terry (Marlon Brando), um ex-boxeador que passou a trabalhar para os mafiosos que controlam o sindicato dos portuários em New Jersey. Quando uma pessoa próxima a Terry é morta por falar contra esses corruptos líderes sindicais e Terry se aproxima da irmã do morto, o ex-boxeador começa a se questionar se proteger esses mafiosos é mesmo a melhor escolha. A narrativa é levemente baseada na história real de um portuário que tentou derrubar o sindicato corrupto de onde trabalhava, mas se na vida real ele fracassou, na ficção Kazan tece uma trama que nos lembra da força que os trabalhadores tem quando se unem, mesmo que seja contra suas supostas lideranças.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Crítica – Os Rejeitados

 

Análise Crítica – Os Rejeitados

Review – Os Rejeitados
Dirigido por Alexander Payne, Os Rejeitados é um filme sobre solidão que pondera a respeito da importância de conexões humanas em nossa vida. A trama se passa no final de 1970, em um colégio interno no interior dos Estados Unidos. Todos estão indo embora para as festas de fim de ano, mas um professor precisa ficar para cuidar dos alunos que, por qualquer motivo, não irão para casa durante o recesso. É uma tarefa ingrata da qual muitos docentes fogem, recaindo para o professor de História, Sr. Hunham (Paul Giamatti), por ele não ter família nem vida pessoal.

Detestado pelos alunos e sem mais ninguém pela escola, Hunham acaba se aproximando de Tully (Dominic Sessa), aluno problemático que basicamente foi largado na escola pela mãe que resolveu sair em lua de mel com o novo marido. Aos dois se junta a cozinheira Mary (Da’Vine Joy Randolph), que está passando pelo luto da perda do filho, falecido no Vietnã. São pessoas que se sentem isoladas do mundo, desamparadas e sem rumo por um motivo ou outro. Sem pressa e com um ritmo bem deliberado vamos aprendendo sobre esses personagens conforme eles passam tempo juntos e se abrem uns com os outros.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Crítica – Dave The Diver

 

Análise Crítica – Dave The Diver

Review – Dave The Diver
Nunca fui exatamente fã de roguelikes, mas o excelente Hades me fez ter interesse em jogos do tipo. De lá para cá experimentei títulos como 20XX e Rogue Legacy 2 que me mostraram como um exemplar bem feito do gênero pode ser viciante. Dave The Diver me chamou atenção pela sua mistura singular de roguelike e simulador de restaurante.

O jogador controla Dave, um mergulhador profissional que é chamado por amigos para investigar uma estranha fenda oceânica que parece se modificar a cada dia e traz peixes de diferentes partes do mundo. Além de tentar descobrir o mistério do local, Dave também ajuda o chef Bancho com seu restaurante japonês, pegando peixes para que ele faça pratos cada vez mais elaborados e lucrativos.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Crítica – Maestro

 

Análise Crítica – Maestro

Review – Maestro
O termo oscar bait é normalmente usado para qualificar produções que parecem feitas sob medida para a temporada de premiações. São filmes que seguem de perto aquilo que normalmente encontramos em películas indicadas a prêmios, como tramas baseadas em fatos reais, atores realizando transformações físicas e alguns outros elementos. Maestro, biografia de Leonard Bernstein dirigida e estrelada por Bradley Cooper, parece um filme perfeitamente formatado para a temporada de prêmios, embora acabe não entregando nada de interessante.

A narrativa segue Bernstein (Bradley Cooper) da juventude, quando rege a Filarmônica de Nova Iorque pela primeira vez, até seus últimos. O filme foca tanto no trabalho musical de Bernstein quanto na relação dele com o a esposa, Felicia (Carey Mulligan). O problema é que a trama parece não ter muito a dizer sobre o maestro além do fato dele ser genial e dele ser bissexual, sem, no entanto, explorar esses dois elementos.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Crítica – What If...?: Segunda Temporada

 

Análise Crítica – What If...?: Segunda Temporada

Review – What If...?: Segunda Temporada
A primeira temporada de What If...? tinha algumas boas histórias, mas sofria um pouco com alguns episódios que não desenvolviam suas premissas de modo interessante. Essa segunda temporada é mais consistente na sua curadoria de histórias e apresenta tramas que se valem melhor de suas ideias.

Como na primeira temporada, a série acerta ao situar suas tramas em diferentes gêneros. O primeiro episódio protagonizado pela Nebulosa é bem tributário ao film noir, remetendo a produções como O Falcão Maltês (1940) ou o noir futurista de Blade Runner (1982). O episódio de Peter Quill invadindo a Terra remete a filmes de monstro e aquele que traz Happy preso na torre dos Vingadores com um bando de criminosos é claramente feito para remeter a Duro de Matar (1988).

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Crítica – O Melhor Está Por Vir

 

Análise Crítica – O Melhor Está Por Vir

Review – O Melhor Está Por Vir
O diretor italiano Nanni Moretti é famoso por fazer filmes que exploram o momento em que ele vive em sua vida pessoal. São produções com um cunho autoficcional que partem de um sentimento autobiográfico para tecer tramas que remetem às inquietações e sentimentos do diretor sem necessariamente possuírem a ambição de serem um reflexo fidedigno de sua vida. Em Caro Diário (1993), por exemplo, ele falou de seus problemas de saúde. Neste O Melhor Está Por Vir ele fala de crises matrimoniais, desilusões políticas e as transformações no mercado audiovisual.

A trama segue o diretor Giovanni (Nanni Moretti) que está prestes a começar a produção sobre um filme a respeito do Partido Comunista Italiano na década de 1950 e como eles reagiram à invasão soviética a Hungria. Ao mesmo tempo, ele tem problemas em casa por conta da decisão de sua esposa, Paola (Margherita Buy), de produzir um outro filme além do dele. O outro filme produzido por Paola é um filme de máfia bem típico, o que incomoda Giovanni e vai criando conflitos entre eles.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Crítica – Wish: O Poder dos Desejos

 

Análise Crítica – Wish: O Poder dos Desejos

Feito para celebrar os 100 anos da Disney, Wish: O Poder dos Desejos é uma homenagem mais focada em nos lembrar do longevo legado do estúdio do que para mostrar o espírito de inovação que o tornou tão amado. É uma produção que tem sua parcela de qualidades, mas que não tem o impacto que esperaríamos de uma celebração de um século.

A trama é focada em Asha, uma jovem que deseja se tornar aprendiz do rei Magnifico, um monarca que trouxe paz e prosperidade ao reino com seu poder de extrair e guardar os desejos de seus cidadãos, realizando-os periodicamente. Quando Asha descobre que o rei usa os desejos como forma de controlar a população ao invés de inspirá-la, ela decide devolver os desejos ao povo. A jovem faz um pedido para uma estrela e ela ganha vida. Agora, com a ajuda da estrela e seus poderes mágicos, ela decide enfrentar o rei.

É uma trama típica da Disney, com animais falantes e números musicais que nos lembra da importância de sonhar e perseguir os próprios desejos. Não tem nada aqui que quebre o molde do estúdio, mas não chega a ser um grande problema já que a produção tem carisma e encantamento o suficiente para nos manter interessados. Os números musicais são vibrantes e alguns deles, como o que envolve galinhas dançantes, remetem aos mosaicos das coreografias de Busby Berkeley. Não tem nenhuma música que soe com o impacto de hit instantâneo algo como Dos Oruguitas ou Não Falamos do Bruno de Encanto (2021), mas são canções carismáticas que entregam o que se espera.

Muito da graça do filme vem de como a trama costura referências aos vários filmes da Disney ao longo do último século, da silhueta da Malévola que aparece no livro de magia sombria do rei, passando pelo fato de que os amigos de Asha se vestem como os sete anões, que o manto que a protagonista usa remete ao da fada madrinha de Cinderela (1950) ou o vilão basicamente se tornar ao final no espelho da Rainha Má de Branca de Neve e os Sete Anões (1937). Nesse sentido, o avô de Asha ser um idoso de 100 anos em busca de alcançar seu desejo de inspirar as pessoas é uma clara metáfora para a Disney em si, que chega ao seu aniversário de um século ainda tentando nos fazer acreditar nos sonhos e na magia.

Como algo que nos diz o tempo todo que foi feito para celebrar o legado do seu estúdio, é relativamente decepcionante que ele arrisque tão pouco e prefira que sua celebração consista meramente de repousar sobre os próprios louros passados (nos lembrando de vários filmes melhores do que esse que estamos assistindo) do que em nos mostrar que a Disney ainda é capaz de inovar, de nos surpreender, de nos pegar desprevenidos e nos fazer nos perguntar “como eles imaginaram isso?” como fizemos em seus filmes mais memoráveis. Ao invés de nos mostrar como tem vigor para mais outros 100 anos de encantamento Wish: O Poder dos Desejos se acomoda em meramente nos fazer lembrar das glórias passadas. Claro, o filme tem lá seus bons momentos e não tem nada de particularmente problemático, só não está plenamente à altura de ser celebração que se propõe a ser.

 

Nota: 6/10


Trailer

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Drops – Trocados

 

Análise Crítica – Trocados

Review – Trocados
Filmes de trocas de corpos já foram feitos aos montes por Hollywood e até pelo cinema brasileiro. Mãe que troca de corpo com filha, pai com filho, marido com esposa. Muitas combinações já foram explorados e, talvez justamente por isso, Trocados, produção da Netflix resolve simplesmente fazer todas ao mesmo tempo. O resultado é um filme que tenta chamar atenção pelo volume e não necessariamente pela qualidade do humor ou das personagens.

A trama segue a família liderada por Jess (Jennifer Garner) e Bill (Ed Helms). Quando eles discutem com os filhos CC (Emma Myers, a Enid de Wandinha) e Wyatt (Brady Noon) durante um alinhamento planetário, eles acordam com os corpos trocados. Os filhos estão no corpo dos pais e até o bebê trocou de corpo com o cachorro.

É óbvio desde o início que a troca de corpos servirá para que cada membro da família entenda as dores e dificuldades do outro aprendendo grandes lições de vida no processo. Além de uma estrutura previsível, a trama é prejudicada por um roteiro que se apoia em recriar todas as situações que já vimos antes nesse tipo de produção. A filha no corpo da mãe precisa fazer a “grande apresentação” que ira render uma promoção no emprego, o pai no corpo do filho precisa fazer a entrevista para uma faculdade de prestigio que selará seu futuro.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Crítica – Saltburn

 

Análise Crítica – Saltburn

Resenha Crítica – Saltburn
Se tem uma coisa que aprendi assistindo O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e a este Saltburn é que convidar Barry Keoghan para sua casa certamente acabará em tragédia. Dirigido e escrito por Emerald Fennell, Saltburn foi bastante divulgado como algo próximo de um thriller erótico, mas na prática é mais um suspense sobre conflitos de classe do que sobre sexualidade.

A trama é centrada em Oliver (Barry Keoghan), um jovem que acabou de entrar na faculdade de Oxford, e se encanta pelo colega aristocrata Felix (Jacob Elordi), membro de uma família que descende de nobreza e dona de uma extravagante propriedade chamada Saltburn. Oliver se aproxima de Felix e é convidado a passar as férias de verão com ele na mansão de sua família. Chegando lá, Oliver conhece os membros excêntricos da família do colega, como seu pai, Sir James (Richard E. Grant), sua mãe, Eslpeth (Rosamund Pike), e sua irmã Venetia (Alison Oliver). Aos poucos Oliver descobre como ele e vários outros agregados da família precisam bajular e disputar a atenção deles para não serem mandados embora e como Felix e seus parentes veem todos como brinquedos a seu serviço. O que começou como férias entre amigos logo se torna um tenso jogo de intrigas para tentar se manter sob os bons olhos da família e continuar vivendo no luxo deles.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Crítica – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo

 

Análise Crítica – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo

Review – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo
Os primeiros escritos sobre gêneros dramatúrgicos datam da Grécia antiga e de pensadores como Aristóteles. O filósofo ponderava como os gêneros, com suas estruturas típicas, propiciavam certa economia narrativa. Como o espectador já sabia mais ou menos como a história iria se estruturar, o dramaturgo poderia focar sua atenção nas particularidades dos personagens ou do universo. Hollywood se vale até hoje desse princípio de economia narrativa, com filmes tipo John Wick ou Missão Impossível simplificando suas tramas (porque já sabemos como elas irão transcorrer) para focar no espetáculo de ação.

Zack Snyder, por outro lado, parece ignorar a ideia de economia narrativa neste Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo, um filme que é basicamente uma cópia de Star Wars misturado com algumas outras produções (como Os Sete Samurais do Kurosawa). Não há nada de original na trama ou universo criado por ele e não teria problema se Snyder ao menos reconhecesse essa natureza derivativa e oferecesse visuais, locais ou cenas de ação bem construídas (como os dois Avatar de James Cameron), mas ao invés disso o diretor parece tão deslumbrado com sua própria criação que conduz tudo com absoluta segurança de que fez algo completamente original, resultando em uma trama arrastada pela necessidade de explicar os próprios clichês sem fazer nada para subvertê-los, como se estivéssemos assistindo algo completamente novo.