Acompanhando um recorte bem específico de seu biografado, Ferrari é uma ponderação sobre controle
e a dificuldade em aceitar os limites de nossa capacidade de controlar as
condições ao nosso redor. A narrativa se passa em 1957 e acompanha um Enzo
Ferrari (Adam Driver) cuja montadora está prestes a falir e o casamento com a
esposa Laura (Penelope Cruz) está em frangalhos. Enzo também tem uma amante,
Lina (Shailene Woodley), com quem tem um filho que mantem em segredo de Laura. Para
tentar virar a situação da empresa, Enzo aposta tudo em vencer a corrida Mille
Miglia e para isso aposta no piloto espanhol Alfonso de Portago (Gabriel
Leone).
Desde os primeiros minutos me chamou atenção o modo como o
diretor Michael Mann usa o som. É um filme com pouca música e mesmo quando há
ela é bem discreta, pouco intrusiva. Apesar das tensões constantes no cotidiano
do protagonista, o filme é permeado por ambientes silenciosos. Isto é, exceto
quando Ferrari está nas pistas de corrida e o intenso ronco dos motores domina
a paisagem sonora. Parece haver uma clara intenção de manter o resto do filme
mais discreto em termos de presença de sons para criar um contraste com a
intensidade do ruído dos motores ressaltando a potência desses veículos, não
apenas em termos de seu potencial para corridas, mas também de sua brutal
letalidade quando algo dá errado.
Carros de corrida nos anos de 1950 eram bem menos seguros do
que são hoje e o filme investe as cenas de corrida de um senso de perigo e
velocidade que dá a impressão de que um desastre espera a cada curva. O uso de
câmeras acopladas à frente dos carros ajuda a transmitir a sensação de vertigem
causada pela alta velocidade e como é difícil guiar tão rápido. As cenas são
bastante gráficas ao mostrar o que acontece quando aqueles carros colidem ou
saem do controle em altíssima velocidade. Perto do final, o filme exibe uma dos
acidentes mais chocantes e brutais que me recordo de ter visto no cinema,
mostrando o quão horrível são as consequências quando algo dá errado.
Esse acidente, por sinal, é contraposto com imagens de
outros membros da equipe de Ferrari cruzando a linha de chegada e comemorando a
vitória. É uma escolha que parece ilustrar como o triunfo de uma empresa como a
Ferrari se constrói, entre outras coisas, em cima da morte desses pilotos, como
se fossem animais abatidos em sacrifício para um bem maior. Enzo, apesar de
claramente impactado por essas mortes e disposto a prestar suporte para as
famílias, continua a colocar pilotos em seus carros como se isso fosse a coisa
mais normal do mundo.
A morte de pilotos, algumas vezes em acidentes fortuitos
como o que ocorre no clímax, é só um dos elementos do cotidiano de Enzo que
escapa de seu controle e que o protagonista precisa aceitar as próprias
limitações. Ao longo do filme vemos como Enzo sempre tenta se manter no
controle, apesar de nem todos os seus esforços serem suficientes, como na morte
de seu primeiro filho ou no modo em que sua vontade de controlar todas as
decisões da empresa sem qualquer sócio a colocaram em risco financeiro. Essa
obstinação, intensidade e senso de controle são muito bem construídos na
performance de Adam Driver, cujo corpo parece sempre estar em movimento e a
mente está sempre maquinando um jeito de resolver os problemas que se
apresentam. O roteiro é inteligente o bastante para não romantizar seu
biografado, mostrando Ferrari como um homem vaidoso, egocêntrico, controlador e
mulherengo, além de expor a contradição de seu discurso sobre se preocupar com
os pilotos enquanto lucra com os riscos que eles correm.
O filme também acerta ao evitar tornar Laura Ferrari uma
figura passiva que existe apenas para gravitar em torno do marido. Penélope
Cruz faz de Laura uma mulher em frangalhos por conta da perda do filho e que
agora vive como uma sombra de quem fora por não conseguir lidar com essa perda.
A animosidade que ela tem com Enzo parte tanto das traições que ela sabe que o
marido comete (embora a esse ponto a relação deles seja mais uma parceria de
negócios do que um casamento de fato) como também por culpar Enzo por não ter
conseguido salvar o filho deles, uma culpa que o próprio marido carrega também.
O arco de Laura é o de aceitar essa perda e entender que ela
ou Enzo não tinham controle sobre isso. O casal só chega a alguma medida de
conciliação justamente quando Enzo desiste de manter controle sobre a parte de
Laura na empresa e passa a vê-la mais como uma igual do que alguém a ser
conduzida por ele. De certa forma, os dois lidavam com questões de controle e
só consertam alguns aspectos de sua relação quando abrem mão dessas tentativas
de controle;
Shailene Woodley, por outro lado, é o elo fraco do filme.
Sua Lina existe mais como um ponto de conflito para Enzo e Laura do que como
uma personagem autônoma, falhando em nos fazer entender o que despertou o
interesse de Ferrari em Lina. Além disso, a composição de Woodley se perde em
um sotaque inconstante, no qual às vezes ela tenta um sotaque italiano e em
outros momentos ela parece falar sem sotaque algum, causando algum
estranhamento.
Ainda assim, Ferrari é
uma competente biografia que examina o que move seu protagonista e exibe os
riscos brutais do universo do automobilismo na década de 1950.
Não sou lá grande fã do Sr.
& Sra. Smith (2005) estrelado por Brad Pitt e Angelina Jolie, então o
anúncio de uma série baseada no filme não fez muito para me empolgar. Mesmo a
informação de que Donald Glover, responsável pela excelente Atlanta, estaria à frente da série como
astro e produtor me fez mudar muito de ideia. Tendo visto a série Sr. & Sra. Smith, porém, posso dizer
que é um esforço melhor sucedido que o longa de 2005.
A trama acompanha John (Donald Glover) e Jane (Maya
Erskine), uma dupla de agentes que aceitam trabalhar para a misteriosa
Companhia. A atividade envolve fingirem ser um casal enquanto desempenham as
missões dadas por um contato misterioso que se comunica com eles via mensagens
de computador. Aos poucos, a relação de conveniência vai se tornando um
casamento de verdade, com um se apaixonando pelo outro, mas o cotidiano de
perigo ameaça o relacionamento entre eles.
Primeira temporada sem o criador original, Nic Pizzolatto, True Detective: Terra Noturna colocava
em questão se a série conseguiria seguir com outra mente criativa, já que era o
olhar de Pizzolatto que trazia muito da personalidade da série. Conduzida por
Issa López, esse quarto ano se desloca para as paisagens geladas do Alasca e
continua a apresentar o tipo de trama sombria e fatalista pelas quais a série
se tornou conhecida.
A narrativa se passa em Ennis, pequena cidade ao norte do Alasca,
no início do período do inverno em que a região fica trinta dias sem sol. Nessa
noite perene a chefe de polícia Liz Danvers (Jodie Foster) é chamada para uma ocorrência
na estação de pesquisa Tslal onde todos os cientistas desapareceram. Ao lado da
patrulheira Evangeline Navarro (Kali Reis), Danvers descobre que os pesquisadores
estão todos mortos, encontrados congelados e nus em posições bizarras no meio
do nada a centenas de metros da estação. Ao curso da investigação a dupla
encontra conexões entre a morte dos pesquisadores e o assassinato de Annie K, uma
ativista ambiental indígena que foi morta anos atrás ao denunciar a poluição causada
por uma mina da região. Poluição essa que só fez piorar nos anos seguintes.
Hollywood gosta de modernizar clássicos da literatura e
teatro em forma de comédia romântica. Emma,
de Jane Austen, foi transformado em As
Patricinhas de Beverly Hills (1995), A
Megera Domada, de Shakespeare, virou 10
Coisas Que Eu Odeio em Você (1999). Agora outra peça de Shakespeare se
torna uma comédia romântica passada na contemporaneidade, com Todos Menos Você tentando ser uma versão
modernizada de Muito Barulho Por Nada.
A trama é protagonizada por Ben (Glen Powell) e Bea (Sydney
Sweeney). Anos atrás eles tiveram um encontro que não deu muito certo e agora
se detestam. Os dois se reencontram indo para um casamento na Austrália, onde
Halle (Hadley Robinson), irmã de Bea, vai se casar com Claudia (Alexandra Shipp),
melhor amiga de Ben. Temendo que a animosidade dos dois estrague o clima do
casamento, as noivas e suas famílias tentam armar para que os dois se
apaixonem.
Divulgado como o último filme do venerável Hayao Miyazaki, O Menino e a Garça foi lançado nos
cinemas japoneses sem qualquer trailer, apenas com um pôster para dar alguma
noção do que seria. Até o lançamento no ocidente saíram alguns trailers, mas
preferi assisti-lo sem ver nada, aberto a qualquer coisa que Miyazaki colocasse
diante de mim e sem saber o que esperar.
A trama se passa no Japão da década de 1940 e acompanha
Mahito, um garoto que perde a mãe em um bombardeio em sua vila durante a
Segunda Guerra Mundial. Ele é então mandado para morar com o pai e sua nova
esposa, que está grávida. Mahito tem dificuldade de se adaptar a essa nova vida
e as coisas começam a ficar estranhas quando uma garça que habita o lago da propriedade
começa a falar com ele e chamá-lo para uma torre em ruínas próxima que é alvo
de lendas dos moradores locais. Ao entrar na torre Mahito é levado para um
estranho universo paralelo e agora precisa sobreviver às ameaças e voltar para
casa.
Em termos de games de luta, sempre fui mais próximo de jogos
2D como Street Fighter ou Mortal Kombat do que jogos 3D tipo Tekken ou Soul Calibur. Joguei um pouco de Tekken 3 no primeiro Playstation, mas nunca tive muita proximidade.
Só em Tekken 7 que retornei à série,
pegando a edição definitiva em promoção, e isso renovou meu interesse por esse
universo e acabei me empolgando para jogar Tekken
8. Tendo passado um bom tempo com o game, posso dizer que ele me pegou
tanto pelas mecânicas de lutas quanto pela variedade de modos.
Modos
Como muitos games de luta recentes, Tekken 8 tem um modo história bem cinematográfico que narra a trama
principal do jogo. A trama é focada em Jin e em seu conflito com Kazuya. Se em Tekken 7 Jin ficou à margem da trama
principal e suas ações em Tekken 6
quase não repercutiam, aqui a narrativa coloca o personagem para confrontar
suas ações e o fato de que ele basicamente cometeu genocídio em escala global
no sexto jogo por influência de seu lado demoníaco. A narrativa trata do
percurso de Jin em entender seu lugar no mundo, enfrentar seu passado e aceitar
a ajuda dos aliados para deter a ameaça de Kazuya.
Se em games como Mortal Kombat 1 a trama te faz saltar rapidamente de um personagem para outro,
aqui você controla Jin durante boa parte do tempo. A escolha te ajuda a dominar
a quantidade enorme de movimentos do personagem ao invés de sair de um para
outro tendo que parar as lutas o tempo todo para checar os movimentos. Ainda
assim, a história na deixa de oferecer variedade, incluindo um capítulo
envolvendo uma batalha campal que te coloca para controlar diferentes
personagens contra múltiplos oponentes lembrando o modo beat’em up Tekken Force em Tekken
3. A narrativa acerta no drama entre Jin e Kazuya, na grandiloquência dos
embates e também nos momentos de humor. O embate final entre Jin e Kazuya é uma
competente apoteose da jornada desses personagens até aqui, com Jin transitando
entre os diferentes estilos de luta que teve ao longo do tempo.
Além da história principal, o jogo também tem os episódios
de personagem. São campanhas breves, com cerca de cinco lutas cada, que
introduzem a trama de cada personagem e lhe dão um final. Esses desfechos são
não canônicos na maioria das vezes, mas seguem o histórico de Tekken de serem
mais puxados para o humor, como os finais de Kazuya ou Kuma. O jogo ainda
apresenta um modo árcade mais tradicional com o jogador enfrentando uma
sequência de oponentes aleatórios até chegar a um chefão (como Devil Kazuya ou
Azazel). Nesse modo não há finais de personagem, mas há mais variedade de
oponentes que nos episódios de personagem.
Outro modo single player de destaque é o Missão Arcade, no
qual o jogador cria um avatar de personagem e embarca em uma trama para se
tornar um jogador campeão de Tekken 8.
A trama é simplória, mas ao menos acerta ao lembrar que o mais importante é se
divertir e que não existe um jeito certo de ser fã de Tekken ou qualquer outro game. Nesse modo o jogador transita por
diferentes fliperamas desafiando oponentes e participando de torneios até
chegar no campeonato nacional para enfrentar seu rival. O modo é mais curto do
que eu esperava, mas faz um ótimo trabalho de introduzir aos poucos as
mecânicas de Tekken 8 ensinando como
lançar um oponente no ar, estender combos ou punir adversários. Quem é
iniciante recebe uma série de ferramentas para se acostumar às diferentes
mecânicas.
Essa amplitude de ferramentas também está presente no modo
treino, que além das funções que se tornaram padrão em games de luta, como
dados de frames ou desafios de combo, oferece a oportunidade de assistir
replays de suas partidas e receber dicas de como poderia ter reagido em
determinados momentos da luta para ser mais eficiente. O jogador pode então
assumir o controle de seu personagem no replay e treinar os golpes sugeridos. É
uma ferramenta fantástica que permite compreender e refinar cada ação e escolha
que fazemos a cada momento da luta.
O modo Super Ghost Battle é outro meio para o jogador
refinar seu domínio do jogo, permitindo que ele lute contra um “fantasma”
criado a partir de seus próprios dados de combate, lutando de uma maneira que
replica seu estilo de lutar, e também contra os fantasmas de outros usuários,
dando a oportunidade de aprender a derrotar um determinado oponente que te
venceu em partidas online. O modo também oferece algumas lutas contra fantasmas
da CPU, que vão aprendendo a te enfrentar quanto mais você luta contra eles.
Mecânicas
A estrutura dos combates segue similar à de Tekken 7, mas com algumas adições
significativas. A principal delas é a barra de Heat que pode ser ativada de
diferentes maneiras, colocando o lutador temporariamente em Heat Mode. Durante
esse período os golpes causam mais dano e tiram vida do oponente mesmo em
bloqueio. O lutador também tem acesso a alguns movimentos que gastam toda a
barra de Heat de vez, como os Heat Smashs que causam dano alto ou Heat Dashes,
que permitem correr para o adversário depois de jogá-lo para longe, estendendo combos
que não poderiam ser normalmente estendidos.
Causar dano durante Heat Mode amplia a duração do efeito,
enquanto que tomar dano diminui. Isso estimula a agressividade ao mesmo tempo
em que adiciona um componente estratégico, afinal usar o modo no momento errado
significa desperdiçá-lo. Como o jogo lhe dá uma barra cheia de Heat no início
de cada round, o usuário é sempre estimulado a usar e experimentar com ela.
Outro elemento que estimula um estilo de jogo mais agressivo é a adição de vida
recuperável. Tomar dano deixa espaços cinzentos na barra de vida e causar dano
recupera um pouco da vida desses espaços cinzentos, ajudando o lutador a ter
uma sobrevida e dando mais estímulo para manter a ofensiva. As Rage Arts
retornam de Tekken 7 e continuam sendo
um meio de virar a mesa contra o oponente em momentos de sufoco liberando um
ataque poderoso que causa dano altíssimo.
A variedade de mecânicas e de golpes por personagem pode
parecer inicialmente intimidadora no começo, mas é muito recompensador quando
você começa a dominar um personagem e fazer longos combos. Tekken 8 oferece expressivos 32 personagens em seu lançamento, uma
quantidade considerável levando em conta que outros games de luta recentes
lançaram com cerca de 20. Se você é iniciante e se sente intimidado com a
complexidade das mecânicas, o jogo oferece um esquema de controle simplificado
que pode ser ativado ou desativado quando você quiser, bastando apertar L1
(isso no controle do PS5). Ao fazer isso é possível encaixar combos apertando um
botão, realizar golpes especiais com outro, um é dedicado a arremessos e golpes
agachados e daí por diante. É uma maneira de deixar jogadores pouco experientes
terem acesso a movimentos avançados, mas não chega a substituir o domínio pleno
das mecânicas já que o número limitado de golpes desse esquema simplificado
torna o lutador previsível e fácil de contra atacar por um usuário experiente.
Online
O jogo oferece duas maneiras de nos relacionarmos com seus
componentes online. Podemos entrar nos lobbies virtuais nos quais controlamos
nosso avatar e encontramos diretamente os outros jogadores logados no servidor,
podendo interagir com eles e chamá-los para partidas ou fazer isso através de
menus, sem precisar navegar pelos espaços virtuais. No online encontramos as típicas partidas
ranqueadas e partidas casuais, além da possibilidade de criar salas e disputar
com grupos de amigos. Nas salas de batalha chama a atenção a impossibilidade de
assistir batalhas de outros jogadores caso não seja sua vez de lutar ou entrar
no modo de treino, uma omissão estranha considerando que nos lobbies virtuais é
possível assistir a luta de qualquer jogador que você encontre e acessar
livremente o treino enquanto espera uma partida. Tekken Ball, o aloprado modo
que mistura lutas e vôlei pode ser disputado tanto off-line quanto online.
Em geral o netcode foi bem estável sempre que eu joguei com
oponentes no Brasil, independente deles estarem jogando em PS5, PC ou outro
console (o jogo tem crossplay). Mesmo contra pessoas de outros países as
partidas fluíram bem contra oponentes que tivessem boas conexões. As lutas
online são bem mais suaves do que em Tekken
7 e o jogo te dá várias opções de como ajustar sua conectividade, delay de
frames e uma série de outros elementos para que você ajuste sua experiência
online.
Como em outros jogos da franquia, é possível encontrar
múltiplas opções de customizar a aparência de seus personagens, de skins a
diferentes peças de roupa individuais ou mudança do retrato na tela de seleção.
Todos os itens são desbloqueados com a moeda virtual obtida completando lutas
(on ou off-line) e o game é bem generoso com sua moeda virtual, permitindo
desbloquear tudo que você quer sem longas horas de grind ou cobrando valores altos de dinheiro real como tem
acontecido em games de luta comoMortal
Kombat 1. Nem vou elogiar muito porque Street Fighter 6 também lançou sem nenhuma prática muito predatória e três meses
depois estava cobrando quase 50 reais por uma skin de personagem, então vamos esperar para ver como Tekken 8 vai se comportar.
Com uma variedade grande de modos e personagens, bom online
e combates envolventes, Tekken 8
entrega um excelente jogo de luta com conteúdo para satisfazer veteranos e
novatos.
O célebre romance de Alice Parker já tinha sido adaptado
para os cinemas por Steven Spielberg em 1985. Depois se tornou um musical da
Broadway e agora esse musical é novamente adaptado para os cinemas novamente no
eterno ouroboros que é Hollywood neste A
Cor Púrpura.
Na trama, Celie (Fantasia Barrino) uma mulher que desde cedo
sofre abusos nas mãos do pai, Alfonso (Deon Cole), e depois é forçada por ele a
se casar com o violento viúvo Mister (Colman Domingo). Além de agredir Celie e
reduzi-la a uma empregada doméstica, o marido também expulsa Nettie (Halle
Bailey) da casa da família, privando Celie do contato com a única irmã. Ao
longo dos anos, Celie encontra em outras mulheres da vizinhança o apoio e
conforto para suportar os maus tratos do marido.
O filme acerta ao situar os números musicais de Celie como
parte de sua imaginação, fazendo esses momentos funcionarem como uma fuga dela
de sua realidade dura, ajudando a entender como ela se mantem suportando tudo
aquilo. Por outro lado, nem todos os números musicais funcionam tão bem. A cena
de Sofia (Danielle Brooks) deixando o marido basicamente só faz musicar o
diálogo original e acaba carecendo de um certo senso de espetáculo, diferente
dos números que envolvem Celie.
O título desse Reality
parece fazer um jogo duplo. Primeiramente ele parece se referir à sua
protagonista, a tradutora Reality Winner (Sydney Sweeney), alvo de uma operação
do FBI. Em uma segunda análise, pode também se referir à realidade de sua
história, baseada em eventos reais e o compromisso do filme em aderir ao
realismo da história que conta. Adaptando a própria peça de teatro Is This a Room? a diretora Tina Satter
constrói todo o filme em tempo real reproduzindo os diálogos a partir das
gravações que o FBI fez durante todo o interrogatório de Reality.
A trama é foca em Reality Winner, uma tradutora de persa que
trabalha para uma empresa que presta serviços à NSA. Um dia, chegando em casa,
ela encontra agentes do FBI esperando por ela. De início ela pensa se tratar de
alguma checagem de rotina considerando a natureza confidencial de seu trabalho
na NSA e necessidade de atualizar suas credenciais de segurança. Conforme os
dois agentes que lideram a operação começam a fazer perguntas, a tradutora se
dá conta de que o propósito do FBI em sua residência é bem mais severo.
Alguns filmes nos ganham não por terem uma trama inovadora,
mas pela construção visual de seu universo e o espetáculo que ele proporciona.
Os filmes de James Cameron (como a franquia Avatar) certamente se encaixam
nessa categoria, assim como os filmes do John Wick. Resistência, novo filme de Gareth Edwards (de Godzilla e Rogue One),
quase se encaixa nessa categoria se sua trama não fosse tão aderente a clichês
ao ponto de se tornar entediante e suas pretensões de discutir noções de pós
humanismo não fossem tão simplórias.
A trama se passa em um futuro no qual a humanidade
desenvolveu robótica muito cedo e inteligências artificiais viviam entre nós
desde a segunda metade do século XX. Quando uma bomba nuclear explode em Los
Angeles, a humanidade declara guerra às IAs, que se concentram no sul da Ásia
devotadas à figura de Nirmata, o seu criador. Joshua (John David Washington) é
um militar dos Estados Unidos colocado para se infiltrar em linhas inimigas e
descobrir a identidade de Nirmata, mas acaba se apaixonando por Maya (Gemma
Chan). Maya é morta em um ataque dos EUA e Joshua deixa o serviço. Isso até o
exército lhe mostrar imagens de que Maya poderia estar viva, pedindo ao soldado
que volte ao Vietnã não apenas para localizar Maya, mas para encontrar uma
suposta arma poderosa criada por Nirmata que poderia destruir o sistema de
defesa dos EUA. A tal arma, porém, se revela como Alphie (Madeleine Yuna
Voyles), uma criança híbrida entre humano e IA.
Depois que Mestres do Universo: Salvando Etérniame pegou de surpresa com a maturidade com a qual
trabalhava seus personagens e trazia transformações significativas para o
universo da trama e os protagonistas, estava curioso para ver o que o produtor
e roteirista Kevin Smith faria com os ganchos deixados pela série. O resultado
é esse Mestres do Universo: A Revolução,
que entrega uma aventura mais tradicional do He-Man e passa longe da ousadia da
série anterior.
A trama continua do ponto em que a anterior parou. Esqueleto
se reconstruiu usando tecnologia e ajuda Hordak e sua horda a invadirem
Eternia. Enquanto isso Adam lida com a morte do pai e se divide entre seu papel
de herói e a possibilidade de ser Rei. Teela tenta usar seus poderes de
feiticeira para recriar Preternia de modo que as almas dos heróis caídos tenham
para onde ir.
A impressão é que muito dessa nova série foi pensado em
resposta às reações negativas de fãs à série anterior e o quanto ela mexia com
o status quo desse universo (o que
era seu melhor atributo na minha opinião, afinal bons personagens se
transformam com o tempo). Aqui, durante boa parte dos cinco episódios, não
temos qualquer tentativa de mexer na fórmula ou na dinâmica entre os personagens,
entregando uma aventura mais típica de He-Man contra o Esqueleto sem muito
desenvolvimento para os personagens.