quarta-feira, 6 de março de 2024

Crítica - Bom Dia, Verônica: 3ª Temporada

 

Análise Crítica - Bom Dia, Verônica: 3ª Temporada

Review - Bom Dia, Verônica: 3ª Temporada
Depois de um segundo ano em que a trama se perde um pouco em uma conspiração excessivamente mirabolante, Bom Dia, Verônica chega em sua terceira e última temporada com uma duração abreviada de apenas três episódios. Imagino que deve ter sido mais uma decisão de financiamento da Netflix do que da equipe criativa da série, já que o número reduzido não dá conta de resolver tudo que foi construído até aqui com o impacto que deveria.

A trama começa no ponto onde o segundo ano parou. Depois que Verônica (Tainá Muller) prende o evangelista Matias (Reynaldo Gianecchini) ela vai atrás do misterioso Doúm, líder da máfia da qual Matias fazia parte. Investigando as origens do grupo criminoso, ela fica na mira de Jerônimo (Rodrigo Santoro), que parece saber mais do que parece. Quando a filha de Verônica é sequestrada, ela precisa correr para solucionar tudo.

terça-feira, 5 de março de 2024

Crítica – Garra de Ferro

 

Análise Crítica – Garra de Ferro

Review – Garra de Ferro
Em certo sentido Garra de Ferro me lembrou um pouco Foxcatcher (2014) por ser uma biografia sobre lutadores que tentam melhorar de vida, se envolvem em relações tóxicas com as pessoas responsáveis por seu treino e tudo acaba em tragédia. A diferença é que Foxcatcher era todo focado em mostrar esse lado sombrio do dito “sonho americano” enquanto Garra de Ferro parece incerto do que efetivamente quer, variando entre uma análise crítica da tragédia da família Von Erich e uma celebração de seu legado no universo da luta livre.

Focada em Kevin Von Erich (Zac Efron), a narrativa conta a história real de sua família. O mais velho de quatro irmãos, Kevin é conduzido pelo pai, Fritz (Holt McCallany), a se tornar um lutador. Fritz conduz a família com rigidez, criando um ambiente de competição entre os filhos no qual eles não disputam apenas títulos, mas também a afeição do pai. A exigência de Fritz que os filhos sejam os melhores os leva a excessos, como uso de anabolizantes, drogas e uma série de inseguranças. Essa combinação acaba levando a maioria dos filhos a destinos trágicos.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Crítica – Ficção Americana

 

Análise Crítica – Ficção Americana

Em O Perigo da História Única a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie fala sobre o período em que estudou nos Estados Unidos e como um professor que teve na faculdade avaliou um trabalho seu de escrita dizendo que os personagens dela não soavam genuinamente africanos. O professor dizia que ela criava personagens de classe média que mais soavam como brancos do norte global como ele do que como pessoas africanas. Ele ignorava que a escritora vinha de uma família negra de classe média urbana da Nigéria e Chimamanda usa essa anedota para mostrar como pessoas de fora da África negra acham que escrever sobre a região consistiria em falar quase que exclusivamente sobre pobreza, miséria e doença. A escritora alerta para o perigo dessa história única dizendo que reduzir todas as experiências e vivências da população negra na África simplificaria toda a complexidade de um conjunto enorme de pessoas.

Esse debate sobre o que seria uma “arte negra” está no cerne do filme Ficção Americana. Embora a trama se passe nos Estados Unidos ele discute questões muito similares à fala Chimamanda Ngozi Adichie, criticando como a indústria cultural estadunidense reduz a experiência negra a essa história única. A trama segue Thelonious “Monk” Ellison (Jeffrey Wright), um escritor talentoso que não consegue vender seu novo livro para editoras. Sempre que submete a uma editora diferente recebe elogios por sua escrita, mas é criticado por não falar sobre “a experiência negra”, uma fala que o personagem considera duplamente problemática.

sexta-feira, 1 de março de 2024

Crítica – Eu, Capitão

 

Análise Crítica – Eu, Capitão

Review – Eu, Capitão
O brutal processo de travessia do Mar Mediterrâneo por imigrantes africanos já foi narrado por inúmeras produções europeias e africanas. O italiano Eu, Capitão é mais um fazer uma crônica a respeito disso, mas a despeito deu seu realismo implacável não tem muito a acrescentar a esses discursos.

A trama é focada em Seydou (Seydou Sarr) um jovem senegalês que está juntando dinheiro com um primo para que ambos consigam atravessar de barco para a Itália. A mãe de Seydou e outras pessoas ao seu redor tentam dissuadi-lo dessa atitude, alertando para os perigos dessa travessia, bem como do fato de que a Europa não é a utopia que os retratos midiáticos fazem parecer. Ainda assim Seydou decide empreender a viagem e é defrontado com uma realidade tacanha de violência e exploração.

O filme enquadra a viagem migratória de Seydou e do primo como um verdadeiro calvário no qual ele não encontra nada além de sofrimento. Autoridades dos países que ele atravessa os extorquem cobrando subornos para deixá-los passar por pontos de checagem, atravessadores criminosos os tornam reféns e tentam cobrar dinheiro de suas famílias e o status ilegal deles em países como Líbia, que Seydou passa um tempo durante a travessia, os impede até mesmo de procurar um hospital em caso de necessidade.

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Crítica – A Memória Infinita

 

Análise Crítica – A Memória Infinita

Review – A Memória Infinita
A memória do passado orienta nosso presente e informa nossas decisões do futuro. Sem memória seria difícil até estabelecermos nossa personalidade. A importância da memória na identidade pessoal e nacional é o cerne do documentário chileno A Memória Infinita, que indiretamente também pondera sobre o papel do audiovisual na preservação da memória.

O filme é centrado no casal Augusto e Paulina. Eles são casados há 25 anos e há oito Augusto descobriu que está com Alzheimer. Ambos se preocupam com a degeneração mental de Augusto e com a eventualidade de que ele não reconheça mais a esposa ou a si mesmo. O documentário acompanha o cotidiano do casal e das crises causadas pela doença de Augusto e imagens de arquivo que mostram a vida pregressa tanto de Augusto quanto de Paulina.

É tocante ver o cuidado que Paulina tem com o marido e a paciência com a qual conversa com ele nos momentos em que ele está mais confuso e o faz lembrar de quem é e da relação entre eles. É igualmente tocante como Augusto volta a se apaixonar por Paulina mesmo quando não a reconhece, revelando como o amor entre dois sobrevive até mesmo ao esquecimento.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Crítica – Duna: Parte Dois

 

Análise Crítica – Duna: Parte Dois

Review – Duna: Parte Dois
Depois de um Duna: Parte Um (2021) que servia como um grande prólogo para o conflito principal do romance de Frank Herbert, o diretor Denis Villeneuve chega neste Duna: Parte Dois com a expectativa de entregar um desfecho para todos os conflitos iniciados na primeira parte. É uma responsabilidade grande considerando que o livro é bastante denso e nunca teve uma adaptação que fizesse jus a ele.

A narrativa segue no ponto em que o primeiro parou. Paul (Timothee Chalamet) e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson) agora vivem entre os fremen, o povo do deserto. Paul deseja aprender os modos dele para enfrentar a ocupação dos Harkonnen, mas sua mãe tem planos ainda maiores, usar uma antiga profecia para convencer os fremen de que Paul é o messias prometido e assim fazê-lo se tornar o líder dos povos de Arrakis. As coisas se complicam quando o Barão Harkonnen (Stellan Skarsgard) manda seu cruel sobrinho Feyd-Rautha (Austin Butler) para atacar os fremen e controlar a extração da especiaria no planeta.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Crítica – Zona de Interesse

 

Análise Crítica – Zona de Interesse

Review – Zona de Interesse
O diretor Jonathan Glazer já explorou imagens cruéis e aterrorizantes em filmes como Reencarnação (2004) e Sob a Pele (2013), então a ideia dele explorar o nazismo e os campos de concentração me deixou curioso para ver como ele mostraria os horrores do genocídio perpetrado pelos nazistas. Diante de um horror tão real, as escolhas de Glazer neste Zona de Interesse, que adapta um romance escrito por Martin Amis, vão na contramão do que se esperaria conhecendo seus trabalhos anteriores.

O Naturalismo

O diretor opta por nunca mostrar o que acontece em Auschwitz, ao invés disso focando toda a trama no cotidiano da família do oficial nazista Rudolf Hoss (Christian Fiedel) e sua família que vivem em uma luxuosa casa de dois andares ao lado do campo de concentração, separados por um alto muro. Ao mostrar a normalidade da vida dos nazistas que não apenas moravam ao lado dos campos como gerenciavam o extermínio o filme torna todo o extermínio ainda mais inaceitável. Enquanto famílias inteiras morriam nos campos, Rudolph passeava de canoa com seus filhos em um riacho próximo e sua esposa, Hedwig (Sandra Huller, de Anatomia de Uma Queda), pensa em que flores plantar no jardim. Essa normalidade diante do horror me lembrou um pouco o argentino O Clã (2015), de Pablo Trapero, que se passava durante a ditadura argentina e também contava a história de uma família que vivia uma vida de conforto às custas do horror que acontecia adjacente à sua residência.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Crítica – Amanhã

 

Análise Crítica – Amanhã

Review – Amanhã
O que muda em um país ao longo de vinte e como os problemas sociais se transformam ao longo do tempo? Parece ser a partir dessa pergunta que o documentário Amanhã estrutura sua narrativa. Ele começa em 2002 filmando três crianças e as trocas entre elas. Em Belo Horizonte a Barragem Santa Lúcia divide a cidade em duas realidades distintas: de um lado a favela e de outro um bairro de classe média. Os habitantes de um lado não cruzam para o outro, construindo uma espécie de fronteira implícita que revela a separação de classes no Brasil.

Em 2002 o diretor Marcos Pimentel filma três crianças. Julia e Christian moram no lado pobre da barragem, enquanto Zé Thomaz vive no lado de classe média. Essas crianças passam alguns dias na casa do outro para experimentar as realidades diferentes. Vinte anos depois o filme retoma o contato com esses personagens e usa a vida deles como uma metonímia para as mudanças no Brasil ao longo dessas duas décadas.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Drops – O Jogo do Disfarce

 

Crítica – O Jogo do Disfarce

Review Drops – O Jogo do Disfarce
Produção da Prime Video, O Jogo do Disfarce parece um daqueles filmes que acha que basta combinar elementos de produções de sucesso para ser bem sucedido. O filme é basicamente uma mistura de elementos de filmes como A Honra do Poderoso Prizzi (1985) e True Lies (1994), lembrando o recente (e igualmente fraco) Plano em Família da AppleTV.

A trama é focada em Emma (Kaley Cuoco) e Dave (David Oyelowo), um casal suburbano aparentemente banal. Querendo apimentar o casamento, eles resolvem passar uma noite em um hotel chique e brincam de construir personagens para si. No hotel Emma é acuada pelo assassino internacional Bob (Bill Nighy) e descobrimos que ela está com a cabeça a prêmio por ser uma assassina de aluguel extremamente letal. Agora Emma precisa descobrir quem está atrás dela ao mesmo tempo em que mantem o marido e os filhos em segurança. 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Crítica – O Sequestro do Voo 375

 

Análise Crítica – O Sequestro do Voo 375

Review – O Sequestro do Voo 375
O cinema brasileiro tem alguns gêneros que são constantemente explorados como filão comercial a exemplo de comédias e biografias. Outros, como o terror, vem até crescendo de produção nos últimos anos. O suspense, por outro lado, segue como um gênero pouco explorado nas nossas produções de vocação mais comercial e O Sequestro do Voo 375 vem para mudar isso.

A trama se passa em 1988 e se baseia na história real do sequestro de um voo da VASP saindo de Minas Gerais. O sequestrador, Nonato (Jorge Paz) toma o controle do avião e ordena que os pilotos mudem a rota para Brasília, desejando jogar a aeronave em cima do Palácio do Planalto para matar o então presidente José Sarney, a quem culpa pelo desemprego e alta inflação que assola o país. Sob a arma do sequestrador, o piloto Murilo (Danilo Grangheia) precisa achar um meio de aterrissar em segurança e manter todos vivos na aeronave.