quinta-feira, 21 de março de 2024

Crítica – A Flor do Buriti

 

Análise Crítica – A Flor do Buriti

Review – A Flor do Buriti
Depois de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018) os diretores João Salaviza e Renée Nader Messora voltam a falar sobre a população indígena Krahô no interior do Tocantins. Em A Flor do Buriti os realizadores focam em narrar a história de luta pela terra dessa população e como eles resistiram a múltiplos massacres.

A narrativa vai da década de 1940 aos dias atuais, mas sem seguir uma cronologia, acompanhando a população da Aldeia Pedra Branca no presente e se deslocando no tempo conforme eles contam as histórias do passado ou seus espíritos entram em contato com ancestrais no passado, misturando cenas encenadas e personagens reais para narrar como a opressão aos indígenas sempre foi uma constante em suas vidas.

Se filmes como Martírio (2016) mostram anos de descaso ou políticas questionáveis da parte do Estado brasileiro, aqui essas décadas de descaso e perseguição são apresentadas do ponto de vista dos próprios indígenas, narrado, inclusive em sua própria língua. O fato dos Krahô falarem seu em sua língua é uma escolha estética e política, permite que eles se coloquem em seus próprios termos, com seu vernáculo e com toda a construção subjetiva e visão de mundo imbricada na própria língua.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Crítica – Ecos do Silêncio

 

Análise Crítica – Ecos do Silêncio

Review – Ecos do Silêncio
Protagonizado por Thalles Cabral (o Nem de As Five) Ecos do Silêncio é um filme sobre errância, sobre se perder, se encontrar e tentar dar algum sentido ao caos da nossa existência. Infelizmente a produção nem sempre alcança as pretensões temáticas que se propõe a discutir.

A narrativa é centrada em Davi (Thalles Cabral), que viaja para a Argentina para estudar musicoterapia na esperança de poder ajudar o irmão que tem autismo severo. De lá ele parte para a Índia em uma jornada espiritual e acaba confrontando sua relação com a família e os traumas que o moveram até então.

O filme se move entre o presente de Davi, memórias de seu passado e ocasionais flashfowards de sua jornada na Índia. A impressão é que o filme tenta nos mergulhar no fluxo de consciência do personagem, mostrando como o passado materializa seu presente e informa o seu futuro, bem como nos faz sentir a conexão metafísica que o protagonista diz sentir em relação ao irmão.

terça-feira, 19 de março de 2024

Crítica – A Batalha da Rua Maria Antônia

 

Análise Crítica – A Batalha da Rua Maria Antônia

Review – A Batalha da Rua Maria Antônia
Apesar do golpe militar de 1964 ter acontecido há sessenta anos e o Brasil ter se redemocratizado em 1988, ainda existem muitos fatos e eventos do período da ditadura que não são conhecidos pelo grande público. Embora certamente deva ser algo conhecido em São Paulo, os eventos narrados em A Batalha da Rua Maria Antônia não são o tipo de coisa que vemos nos livros de história (pelo menos não na minha época de colégio), mas são importantes para compreender como funcionava a violenta repressão do governo do período.

A narrativa se passa ao longo de um dia em outubro de 1968 durante a ocupação da Faculdade de Filosofia da USP pelo movimento estudantil e os confrontos dos estudantes com alunos da Mackenzie e de instituições repressoras. O filme se divide em 21 cenas, todas construídas como planos-sequência, para narrar o aumento das tensões e eventual invasão do prédio da USP pela polícia. No centro disso tudo está Lilian (Pâmela Germano), uma estudante de filosofia que não está envolvida diretamente com o movimento estudantil, mas decide ficar na ocupação para ajudar a amiga Ângela (Isamara Castilho) na esperança de conversar com ela e entender porque Ângela tem se afastado apesar das duas serem amigas de infância.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Crítica – Estranho Caminho

 

Análise Crítica – Estranho Caminho

Review – Estranho Caminho
Dirigido por Guto Parente, Estranho Caminho parece ser sobre a experiência da pandemia de Covid-19. Inicialmente temi que, como muitos filmes brasileiros recentes, a urgência de tratar uma crise contemporânea deixasse a produção tão presa a esse contexto que não comunicasse nada fora dele. Felizmente não é o caso e Estranho Caminho, na verdade, acaba sendo mais sobre nossa relação com a morte, usando a pandemia apenas como um pano de fundo sobre esses temas.

A trama é focada em David (Lucas Limeira), um jovem cineasta brasileiro radicado em Portugal que volta para sua cidade natal para apresentar seu longa em um festival de cinema. Quando a pandemia estoura e o lockdown é decretado no Brasil ele fica sem ter como voltar para Portugal e sem hospedagem na cidade. Sem opção, ele tenta entrar em contato com o pai, Geraldo (Carlos Francisco, do excelente Marte Um), com quem não fala há anos.

domingo, 17 de março de 2024

Crítica – Sem Coração

 

Análise Crítica – Sem Coração

Review – Sem Coração
Certos filmes te prendem não pela sua trama em si, mas pelo modo como apresentam essa trama. Sem Coração é um desses casos. Dirigido por Nara Normande e Tião, com um roteiro levemente baseado na juventude de Normande, a produção conta uma típica história de amadurecimento, despertar afetivo e perda de inocência. É um tipo de narrativa que já vimos aos montes, mas, ainda assim, conquista pela sensibilidade na construção dos arcos de seus personagens.

A narrativa se passa durante o verão de 1996 na região litorânea de Alagoas. Tamara (Maya de Vicq) está para ir para a faculdade em Brasília, então aproveita seu último verão com os amigos. Eles passam os dias na praia, em festas e entrando em imóveis vazios ou abandonados no lugar. Tamara acaba voltando a sua atenção para uma garota que seus amigos chamam de Sem Coração (Eduarda Samara) e que se mantem distante do resto da juventude do local. Tamara decide então se aproximar da garota.

sábado, 16 de março de 2024

Crítica – Eros

 

Análise Crítica – Eros

Review – Eros
Apesar de termos mais abertura para falar sobre isso, as discussões sobre sexo ainda encontram tabus nos meio social. O documentário Eros visa abrir uma conversa sobre isso, especificamente sobre o universo de motéis e o que atrai as pessoas para ir a um motel fazer sexo.

A produção retrata diferentes casais que frequentam motéis com filmagens feitas pelos próprios personagens. São imagens que retratam a experiências dessas pessoas nos motéis, conversas sobre relacionamentos, sexo ou o motivo de irem a locais como aquele com frequência e ocasionalmente até as próprias experiências sexuais dos personagens. Com casais de diferentes idades, sexualidades e fetiches, o filme tenta construir um panorama amplo da experiência das pessoas em motéis ao mesmo tempo em que busca pontos comuns.

Nesse sentido, as experiências retratadas nos fazem ver o motel como um lugar de realizar fantasias ou ter experiências que, em geral, não podemos ter em casa já que a maioria das pessoas não pode construir uma gruta artificial dentro de casa ou deixar o quarto todo equipado com artefatos de sadomasoquismo, um casal praticante de BDSM chega a comentar como seria pouco prático colocar em algum cômodo de casa os equipamentos que encontram no motel.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Crítica – Saudade Fez Morada Aqui Dentro

 

Análise Crítica – Saudade Fez Morada Aqui Dentro

Review – Saudade Fez Morada Aqui Dentro
Histórias sobre amadurecimento e adolescência são comuns no cinema. É uma fase de transição em que o jovem começa a perceber as complexidades da vida adulta e desapegar de uma série de noções infantis sobre o mundo. Saudade Fez Morada Aqui Dentro trata exatamente sobre essa transição e o senso de certas perdas irreversíveis que vem nesse momento da vida.

A trama é centrada em Bruno (Bruno Jefferson), um adolescente de 15 anos do interior da Bahia que descobre uma doença degenerativa que o fará perder a visão. Ciente das dificuldades que virão, o garoto tenta aproveitar o tempo em que ainda consegue enxergar ao mesmo tempo em que tenta se preparar para o futuro. Ele contará com a ajuda do irmão Ronny (Ronnaldy Gomes) e da colega de escola Angela (Angela Maria).

A narrativa segue o cotidiano de Bruno enquanto ele tenta manter um senso de normalidade a despeito do risco de perder a visão a qualquer momento. Seguimos o personagem na escola, em festas, enquanto brinca com os amigos ou pratica seus desenhos, talvez a habilidade que ele mais tema perder por conta de seu problema de visão. É uma espécie de luto em vida experimentado por Bruno, já que ele ainda não perdeu a visão, mas já lida com a dor de ter que se despedir de sonhos e desejos futuros do que ele poderia ser.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Crítica – Meninas Malvadas

 

Análise Crítica – Meninas Malvadas

Review – Meninas Malvadas
Quando foi lançado em 2004, Meninas Malvadas surpreendeu pelo seu olhar crítico sobre o universo de panelinhas adolescentes. O sucesso do filme gerou uma continuação sem o envolvimento da equipe criativa original, Meninas Malvadas 2 (2011), cujo resultado foi execrável, e também um musical da Broadway inspirado no filme de 2004. Agora a versão musical é adaptada aos cinemas e não tem muita coisa a acrescentar ao ótimo original.

A trama segue a mesma. Cady (Angourie Rice) é uma garota ingênua que cresceu educada pelos pais enquanto eles viajavam pela África em pesquisa. Quando eles voltam para os Estados Unidos Cady vai experimentar pela primeira vez um colégio comum. Lá faz amizade com os excluídos Janis (Auli’i Cravalho) e Damian (Jaquel Spivey), mas também chama a atenção do grupo de garotas populares liderados por Regina George (Reneé Rapp) e logo aprende como o colégio não é muito diferente de uma selva.

quarta-feira, 13 de março de 2024

Crítica – Donzela

 

Análise Crítica – Donzela

Review – Donzela
Abrindo com um diálogo que diz algo tipo “existem muitas histórias sobre cavaleiros salvando donzelas em perigo, essa não é uma delas” faz parecer que Donzela, produção original da Netflix, tem algo de bastante subversivo. O problema é que o filme não faz nada de interessante com essa ideia e ou que já tenha sido feito melhor por outros filmes com protagonistas femininas.

A trama é protagonizada por Elodie (Millie Bobby Brown), uma princesa de um reino que está definhando e é convencida pelo pai, lorde Bayford (Ray Winstone), e pela madrasta, Lady Bayford (Angela Bassett), a se casar com um príncipe de um próspero reino distante para salvar o seu próprio. Chegando lá se encanta pela beleza do local e como é recebida pela rainha Isabelle (Robin Wright) e o príncipe Henry (Nick Robinson). No casamento, porém, ela descobre que tudo não passa de uma farsa e um ritual para sacrificá-la a um dragão que habita o reino muito antes dos humanos chegarem. Sozinha no covil do dragão, Elodie precisa encontrar um jeito de sobreviver.

terça-feira, 12 de março de 2024

Crítica – Ricky Stanicky

 

Análise Crítica – Ricky Stanicky

Review – Ricky Stanicky
Quando comecei a assistir Ricky Stanicky senti nele um clima de comédias besteirol dos anos 90 e início dos anos 2000 com tudo de bom e de ruim que isso carrega. A trama conta a história de três amigos de infância que, após uma tentativa de pregar uma peça dar errado, inventam provas de que tudo foi causado por um garoto inexistente chamado Ricky Stanicky. Ao longo de suas vidas, Dean (Zac Efron), JT (Andrew Santino) e Wes (Jermaine Fowler) usam esse amigo imaginário como desculpa para fugir de problemas.

Quando JT perde o parto do filho para ir a um show com os amigos sob o pretexto de irem visitar um Ricky doente, a esposa dele exige conhecer esse amado amigo de infância de quem sempre ouviu falar, mas nunca viu. Sem querer admitir a mentira, o trio contrata Rod (John Cena), um ator alcoólatra e fracassado, para se passar por Ricky durante o bris do filho de JT. O problema é que “Ricky” conquista todos com seu carisma e é convencido a ficar mais tempo pela família e amigos do trio principal, causando uma série de problemas para eles e pondo em risco a mentira de anos.