sexta-feira, 26 de julho de 2024

Crítica – Pequenas Cartas Obscenas

 

Análise Crítica – Pequenas Cartas Obscenas

Review – Pequenas Cartas Obscenas
Estrelado por Olivia Colman e Jessie Buckley Pequenas Cartas Obscenas é uma daquelas produções que nos lembra como a realidade pode ser mais maluca que a ficção. A trama é baseada na história real de um pequeno vilarejo no interior da Inglaterra pós Segunda Guerra que ficou em polvorosa quando cartas cheias de ofensas e palavrões começaram a ser recebidas por diferentes habitantes da cidade.

A narrativa é focada em Edith Swan (Olivia Colman), uma carola solteirona que mora com os pais e é um dos primeiros alvos das cartas obscenas. Depois de receber algumas correspondências os pais de Edith, Edward (Timothy Spall) e Victoria (Gemma Jones), chamam a polícia. Edith acha que a responsável é sua vizinha, a irlandesa Rose (Jessie Buckley), uma viúva de vida livre e boca suja que chegou na cidade pouco tempo depois da guerra com a filha Nancy (Alisha Weir, de Abigail). Como Rose é a única mulher “sem decoro” da cidade ela é automaticamente tratada como culpada pela polícia local, sendo presa enquanto aguarda julgamento pelo crime. Enquanto isso, Gladys (Anjana Vassan), a única policial mulher da cidade, crê na inocência de Rose e tenta encontrar o real culpado.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Rapsódias Revisitadas – Dublê de Corpo

 

Resenha – Dublê de Corpo

Review – Dublê de Corpo
O cinema de Brian de Palma sempre teve algo de referencial, com o diretor misturando influências de diferentes cineastas. Isso é visível em Dublê de Corpo, thriller erótico lançado em 1984 em que o diretor tenta fazer algo hitchcockiano. A trama segue Jake (Craig Wasson), um ator iniciante que recentemente perdeu um papel por conta de sua claustrofobia e pegou a namorada na cama com outro homem. Sem ter onde ficar, ele acaba aceitando a oferta Sam (Gregg Henry), um outro ator que ele conhece durante testes. Sam vai ficar fora da cidade por um tempo e oferece a Jake a casa onde ele está ficando. Ao levar Jake para o imóvel, Sam chama a atenção do amigo para a vizinha, que toda noite dança pelada em seu quarto. Jake começa a observá-la todo dia até que a vê ser abusada pelo marido e percebe uma figura estranha seguindo a mulher. Obecado, Jake tenta avisar a vizinha do que está ocorrendo.

É uma narrativa que claramente mistura Janela Indiscreta (1954) com Um Corpo que Cai (1958). Do primeiro de Palma pega a narrativa de viés voyeurístico, um sujeito que fica fascinado em observar as janelas até que observa algo que não deveria e se coloca em problemas. Do segundo ele pega a ideia de um protagonista com uma fobia paralisante que é usado como bode expiatório e cujo plano do vilão envolve usar uma mulher se passando por outra para atrair o protagonista.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Crítica – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 1

 

Análise Crítica – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 1

Review – Cobra Kai: Sexta Temporada Parte 1
A quinta temporada de Cobra Kai já mostrava que a série estava perdendo seu fôlego e não tinha muito para onde ir. Essa primeira parte da sexta temporada Cobra Kai reforça isso, servindo de alívio que será a última da série. A impressão é que tudo deveria ter encerrado na temporada anterior, com a destruição do dojo Cobra Kai, a derrota final de Terry Silver (Thomas Ian Griffith) e a resolução da maior parte dos arcos de personagem. Tirando a fuga de Kreese (Martin Kove) da prisão e o torneio internacional não tinham muito mais pontas soltas que poderiam ser puxadas e esse sentimento é visível nesta primeira parte.

A narrativa segue do ponto onde o último ano terminou. Silver foi derrotado, não há mais inimigos para Daniel (Ralph Macchio) e Johnny (William Zabka) se preocuparem e agora eles podem focar em preparar seus alunos para o torneio internacional Seikai Taikai. As coisas se complicam quando a organização do torneio muda as regras e diz que cada dojo só pode levar seis competidores, cabendo a Johnny e Daniel encontrar uma maneira de selecionar seus alunos. Ao mesmo tempo, Kreese vai até o Japão, propondo que a sensei Kim (Alicia Hannah Kim) e seu dojo tomem o lugar da Cobra Kai de Silver no torneio já que lutaram por ele, iniciando um conflito final entre Kreese, Daniel e Johnny.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Crítica – Aprendiz de Espiã: Na Cidade Eterna

 

Análise Crítica – Aprendiz de Espiã: Na Cidade Eterna

Review – Aprendiz de Espiã: Na Cidade Eterna
Quando escrevi sobre o primeiro Aprendiz de Espiã (2020) mencionei como o filme era uma bagunça tonal que não parecia saber que público queria atingir. Continuações normalmente são um espaço que permite aprender com os erros, refinar o que não deu certo antes em uma nova iteração para levar os personagens adiante. Nada disso acontece neste Aprendiz de Espiã: Na Cidade Eterna, que repete os erros do filme anterior e ainda adiciona vários novos.

Na trama, JJ (Dave Bautista) percebe que Sophie (Chloe Coleman) está se distanciando dele e não tem mais o mesmo interesse de antes em treinar para se tornar espiã. Quando o coral do qual ela participa na escola se classifica para uma competição na Itália JJ se voluntaria para ser um dos acompanhantes da turma num esforço para se aproximar novamente de Sophie. As coisas se complicam quando o filho do chefe da CIA é sequestrado e os criminosos exigem que informações sigilosas sejam dadas a eles em troca do refém, cabendo a JJ resolver o caso.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Crítica – A Garota de Miller

 

Análise Crítica – A Garota de Miller

Review – A Garota de Miller
Primeiro longa metragem da diretora Jade Halley Bartlett, A Garota de Miller investiga o limite que separa desejo e desespero. A narrativa tenta dar conta das complexidades disso, mas fica na superfície de suas várias ideias apesar do esforço de seu elenco. A trama é centrada na estudante Cairo Sweet (Jenna Ortega), uma garota precoce e com talento para ser escritora que anseia por uma conexão real, mas não encontra ninguém que considere estar a sua altura na pequena cidade em que mora. As coisas mudam quando conhece o professor Jonathan Miller (Martin Freeman), um escritor frustrado que se resignou a ser professor de colegial.

Ter alguém que a compreende desperta o interesse de Cairo, do mesmo modo que Miller se atrai pela possibilidade de ser o mentor de alguém com talento real para ter sucesso no universo literário. São personagens movidos por suas carências. Cairo é uma garota rica cujos pais ausentes tentam compensar a distância afetiva (e física) dando tudo que ela quer, criando alguém que deseja ser próxima de alguém ao mesmo tempo em que não é alguém acostumada a ouvir um não. Jonathan é um escritor medíocre que nunca conseguiu o sucesso que almejava e sente que o mundo foi injusto consigo. Ele também ressente o sucesso da esposa, Beatrice (Dagmara Dominczyk de Succession), que o faz sentir diminuído e emasculado, enquanto que Beatrice parece ressentir a mediocridade do marido, constantemente soltando farpas passivo-agressivas lembrando-o de sua inferioridade.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Crítica – The Boys: Quarta Temporada

 

Análise Crítica – The Boys: Quarta Temporada

Resenha Crítica – The Boys: Quarta Temporada
A terceira temporada de The Boys foi provavelmente a melhor da série até aqui. As expectativas para a quarta temporada estavam altas e, embora este penúltimo ano tenha sua parcela de qualidades, o resultado é o ano mais fraco da série até agora, com a temporada funcionando mais como uma preparação para o clímax que será o quinto e provavelmente último ano da série.

Depois dos eventos do terceiro ano, o Capitão Pátria (Antony Starr) conseguiu tudo o que desejava, ele se livra do processo por ter matado uma pessoa no meio da rua, consolida seu controle da Vought e se move para tornar Victoria Neuman (Claudia Doumit) sua marionete na Casa Branca. Enquanto isso Billy Bruto (Karl Urban) lida com a piora de seu estado de saúde por conta do uso do composto V, percebendo que seu tempo está contado. Leitinho (Laz Alonso) assume o controle da equipe, tentando encontrar um meio de deter Victoria e o Capitão Pátria, com a resposta sendo o vírus encontrado por Bruto no final de Gen V. Annie (Erin Moriarty) se tornou uma ativista anti-Vought e tenta mobilizar a opinião pública com a ajuda de Hughie (Jack Quaid) e os demais.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Rapsódias Revisitadas – Garota Sombria Caminha Pela Noite

 

Crítica – Garota Sombria Caminha Pela Noite

A ideia de uma mulher vagando sozinha pelas ruas durante a madrugada em muitos casos pode estar ligada a uma noção de que ela estaria correndo perigo. A diretora Ana Lily Amirpour vira ao avesso essas expectativas sociais em Garota Sombria Caminha Pela Noite, seu primeiro longa metragem. Lançado em 2014, o filme traz como protagonista uma vampira que vaga pelas ruas à noite vestindo um hijab e usa a ideia de que uma mulher caminhando sozinha seria uma presa fácil para atrair suas vítimas.

A garota (Sheila Vand) vaga pelas ruas da ficcional Bad City em busca de vítimas para se alimentar. Seu caminho cruza com o de Arash (Arash Marandi), um jovem descolado e solitário preso entre os hábitos destrutivos do pai viciado, Hossein (Marshall Manesh), e a opressão do traficante Saeed (Dominic Rains). O modo como as vidas da garota e de Arash se cruzam acaba por transformar a vida de ambos.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Crítica – The Acolyte

 

Análise Crítica – The Acolyte

Review – The Acolyte
A ideia de uma série de Star Wars que se passasse no período da chamada Alta República, séculos antes dos eventos das três trilogias, poderia ser uma chance de fazer algo com mais liberdade, sem um cânone tão amplo para limitar escolhas. The Acolyte até apresenta boas ideias, ampliando algumas noções apresentadas na trilogia prelúdio e na trilogia sequência sobre como a soberba dos jedi é parcialmente responsável pelo retorno dos Sith. O problema da série está na execução, com personagens inconsistentes, dramaturgia problemática e ritmo descompassado. Aviso que o texto contem SPOILERS.

A trama se passa cerca de cem anos antes de A Ameaça Fantasma (1999). Ela segue o mestre jedi Sol (Lee Jung-Jae) que investiga as mortes de outros jedi ao redor da galáxia. Os jedi mortos parecem ter relação com um incidente no qual Sol se envolveu anos atrás e com Osha (Amandla Stenberg), uma antiga padawan de Sol que deixou a ordem. Sol, porém, descobre que quem está por trás de tudo não Osha, mas Mae (Amandla Stenberg), irmã gêmea de Osha que todos acreditavam estar morta. Apresentando poderosas habilidades da Força, Sol logo desconfia que Mae possa ter sido treinada por alguém com domínio do lado sombrio e que algum propósito nefasto está em ação na galáxia.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Crítica – Assassino Por Acaso

 

Análise Crítica – Assassino Por Acaso

Review – Assassino Por Acaso
Não esperava muita coisa de Assassino Por Acaso, já que o material de divulgação não dava a impressão do quão esquisito era o filme. Ainda bem que resolvi dar uma chance a ele e conferir essa ponderação bem humorada que o diretor Richard Linklater faz a respeito de nossa relação com a ficção e nosso senso de identidade.

A narrativa é levemente baseada em uma história real. Gary Johnson (Glen Powell) é um tímido professor de filosofia que ocasionalmente trabalha disfarçado com a polícia de Nova Orleans. Ele lida com operações de vigilância, prendendo pessoas que buscam contratar assassinos profissionais. Quando o policial que costuma “interpretar” o falso assassino nas operações é suspenso, Gary acaba assumindo a função e revela ter naturalidade para fingir ser outra pessoa. É aí que ele conhece Madison (Adria Arjona), uma mulher disposta a contratar alguém para matar seu marido abusivo. Entendendo as razões dela, Gary a convence a desistir e acaba se apaixonando por Madison. O problema é que ela continua acreditando que ele é um matador de aluguel e então tenta se comportar como um.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Crítica – A Filha do Pescador

 

Análise Crítica – A Filha do Pescador

Review – A Filha do Pescador
Em uma das primeiras cenas de A Filha do Pescador vemos um homem mergulhando no mar tentando pescar um mero. O mero é um peixe que está em extinção e que em situações de escassez pode trocar de sexo para continuar a se reproduzir e garantir a sobrevivência da espécie e de si. A ideia da transição como parte da natureza é central para o filme, cujo título original, La Estrategia del Mero, já faz alusão ao peixe e seu mecanismo de sobrevivência.

A trama se passa na década de noventa em uma pequena ilha do Caribe colombiano. Samuel (Roamir Pineda) é um pescador em apneia que vive uma existência solitária e amargurada, tendo sido abandonado pela esposa e filho anos atrás. As coisas mudam quando um amigo pescador lhe informa do retorno do filho à cidade, que agora é uma mulher trans e atende pelo nome de Priscilla (Nathalia Rincon). Ela está com problemas e precisa se esconder na pequena ilha por algum tempo, mas o pai não aceita o modo de vida da filha, tratando-a com preconceito.