segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Crítica – Armadilha

 

Análise Crítica – Armadilha

Review – Armadilha
Um sujeito leva a filha para o show de uma diva pop e se espanta com o volume de policiais no local. Ele logo fica sabendo que as autoridades montaram no show uma armadilha para prender um perigoso assassino em série ao saberem que ele estaria lá. O problema é que o sujeito é o assassino que polícia procura. Novo filme do M. Night Shyamalan, Armadilha parte de uma premissa que parece saída de um suspense B e abraça completamente essa natureza, talvez o filme de sensibilidade mais B do diretor desde A Visita (2015).

A prisão do pop

Cooper (Josh Hartnett) está com a filha no show da cantora pop Lady Rave (Saleka Shyamalan, filha do diretor). Ao descobrir que a polícia montou uma armadilha para prendê-lo ele usa todas as suas habilidades para encontrar um meio de fugir do local ao mesmo tempo em que tenta manter sua fachada diante da filha.

A narrativa tem sua parcela de conveniências, como o fato de Cooper constantemente encontrar pessoas que revelam facilmente os segredos da operação ou algumas soluções pouco plausíveis, como o avental roubado de um funcionário estar com a carteira do sujeito dentro para que Cooper possa usar um documento para sair de um problema. Muito disso, no entanto, é tratado com alguma medida de humor, parte da autoconsciência que o filme exibe a respeito de toda a sua vibe de filme B.

Hartnett, que vem experimentando uma renascença na carreira com participações em produções como Black Mirror ou Oppenheimer (2023), é ótimo em construir a dualidade de Cooper. Um pai amoroso, que parece se importar de verdade com a filha e quer mantê-la longe de sua faceta mais sombria, e um assassino ardiloso e cruel que não se importa em mentir, manipular ou ferir os outros para conseguir o que quer. A composição de Harnett mostra aos poucos as rachaduras que vão aparecendo em sua fachada de cidadão pacato, ficando mais agitado e com mais dificuldade de se manter no controle.

Esse desvelamento da personalidade do protagonista se dá também pelo modo como Shyamalan o filma, recorrendo a closes mais fechados ou planos detalhe de pequenos tiques e expressões do personagem que revelam sua tensão e gradual perda de controle, além de ressaltar a sensação de acuamento e como as opções e espaços estão diminuindo ao seu redor. A narrativa se equilibra em uma corda bamba tonal, tentando ao mesmo tempo nos fazer temer Cooper por sua natureza cruel e implacável e fazer nos importarmos com sua relação com a filha, a exemplo de toda a subtrama envolvendo a briga da filha com uma colega de escola. Essas duas facetas eventualmente convergem, como no momento em que Cooper convence a produção do show a escolher sua filha para ser chamada para dançar com Lady Raven no palco, simultaneamente conseguindo acesso aos bastidores da arena e fazendo a filha provocar ciúmes na patricinha que a maltratou.

O caos da liberdade

É uma pena que toda essa construção cuidadosa e o crescimento da tensão desmoronem assim que a narrativa deixa o estádio. A impressão é que Shyamalan tinha umas três ideias diferentes de como encerrar sua narrativa e resolveu executar todas ao mesmo tempo, resultando em um vai e vêm constante de caminhos narrativos, reviravoltas que se acumulam tão rápido que não causam o impacto devido e soluções tão convenientes que mesmo no clima de excesso do filme soam pouco críveis.

A revelação envolvendo a personagem de Alison Pill, por exemplo, falha em ser a grande reviravolta que o filme a conduz para ser por soar desonesta. A personagem aparece muito tarde e muito pouco para sentirmos que aquela é uma guinada inesperada que ressignifica o que achávamos entender da dinâmica daquelas personagens e mais algo que o roteiro tira da cartola no último minuto porque precisava chocar o espectador. Para funcionar como o filme esperava que funcionasse era preciso apresentar a personagem antes, mostrar o estado da relação de Cooper com ela e ir construindo alguma medida subjacente de ambiguidade.

É mais um exemplo que mostra como Shyamalan é um ótimo diretor, mas um péssimo roteirista, algo que já mencionei quando escrevi sobre Batem à Porta (2023). Shyamalan só tinha a ganhar se concentrasse seus esforços na direção e tivesse alguém para desenvolver os roteiros ao seu lado a partir dos argumentos que ele próprio cria.

Armadilha vale pelo modo como constrói o senso crescente de tensão no jogo de gato e rato entre o protagonista e seus perseguidores, bem como na dualidade que traz ao protagonista, sendo lamentável que ele se perca no clímax, desperdiçando o seu próprio potencial.

 

Nota: 6/10


Trailer

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Crítica – Tipos de Gentileza

 

Análise Crítica – Tipos de Gentileza

Review – Tipos de Gentileza
Os filmes do diretor grego Yorgos Lanthimos costumam ser divisivos, com reações que muitas vezes se localizam em polos extremos do amor ao ódio por suas produções. Em geral costumo gostar do niilismo surrealista do diretor, mas confesso que Tipos de Gentileza não me pegou.

Absurdo previsível

A produção consiste de um tríptico de três histórias curtas. Na primeira história seguimos Robert (Jesse Plemons), um sujeito completamente devotado ao chefe, Raymond (Willem Dafoe), que controla todos os seus horários e ações ao longo do dia. Quando Raymond pede a Robert que bata seu carro em alta velocidade contra outro veículo, Robert não fica confortável com a possibilidade de matar outra pessoa, criando um conflito na relação. Na segunda história um policial, Daniel (Jesse Plemons) se reúne com a esposa, Liz (Emma Stone), depois que ela se envolve em um naufrágio e fica meses perdida no mar. O problema é que Daniel desconfia que a mulher que voltou não é a sua esposa. A terceira história é protagonizada por Emily (Emma Stone) que é devotada a um bizarro culto sexual liderado por Omi (Willem Dafoe) e Aka (Hong Chau) e é incumbida de encontrar uma mulher que, segundo profecias, seria capaz de ressuscitar os mortos.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Drops – O Reencontro da Turma

 

Análise – O Reencontro da Turma

Review – O Reencontro da Turma
Depois de assistir O Reencontro da Turma pensei seriamente se eu escreveria algo respeito. É uma produção tão inane, tão desprovida de qualquer qualidade minimamente memorável que pensei que seria difícil fazer render um texto sobre ele, mesmo nas pílulas críticas da coluna Drops. Ainda assim, resolvi tentar como um desafio (ou penitência, sei lá) auto imposto para ver o que consigo extrair.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Crítica – Sailor Moon: Cosmos

 

Análise Crítica – Sailor Moon: Cosmos

Review – Sailor Moon: Cosmos
Depois que Sailor Moon: Eternal adaptou o quarto arco do mangá em dois filmes, a saga de Usagi e suas aliadas iniciada em Sailor Moon Crystal chega ao fim neste Sailor Moon: Cosmos, que adapta o arco final do mangá. Como na história anterior, o anime produzido pela Netflix vem no formato de dois filmes.

A Lenda da Luz da Lua

A história inicia com Usagi e as demais voltando ao seu cotidiano de estudantes, mas essa paz é logo interrompida pela chegada das misteriosas Sailor Starlights, guerreiras de outro planeta que vieram à Terra um busca de sua princesa, e também da poderosa vilã Sailor Galaxia, que está em busca dos Sailor Crystals que Usagi e as outras carregam consigo.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Crítica – Os Novatos

 

Análise Crítica – Os Novatos

Review – Os Novatos
História mais velha que o próprio tempo: grupo de garotos meio nerds chega no ensino médio decididos a se tornarem populares e conquistarem garotas, a oportunidade vem na primeira grande festa do ano. É essa premissa extremamente típica de filmes adolescentes que Os Novatos vai construir, com o grosso do filme se passando em uma festa que sai do controle não muito diferente de produções como Mal Posso Esperar (1998) ou Projeto X (2012).

Só mais um besteirol americano

A trama gira em torno de Benj (Mason Thames, de O Telefone Preto), que vê na primeira festa do ensino médio uma chance de ficar com Bailey (Isabella Ferreira, de Crush: Amor Colorido), a melhor amiga de sua irmã, Alyssa (Ali Gallo), por quem é apaixonado há anos. Na festa Benj e seus amigos se envolvem em muitas confusões para tentar parecerem descolados.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Crítica – Longlegs: Vínculo Mortal

 

Análise Crítica – Longlegs: Vínculo Mortal

Review – Longlegs: Vínculo Mortal
Dirigido por Osgood Perkins, filho do ator Anthony Perkins (famoso pelo Norman Bates de Psicose), este Longlegs: Vínculo Mortal mistura um thriller de serial killer com horror sobrenatural. Nem sempre a mistura transita de maneira fluida entre os gêneros, mas a condução de Perkins é eficiente em criar uma atmosfera de constante tensão.

Instinto sombrio

A narrativa é centrada em Lee Harker (Maika Monroe, de Corrente do Mal) uma jovem agente do FBI que tem um instinto afiado para encontrar criminosos. Ela acaba incumbida pelo seu superior, Carter (Blair Underwood), de investigar os assassinatos cometidos pelo misterioso Longlegs (Nicolas Cage). Ao longo de anos, o assassino matou cerca de dez famílias inteiras, sempre deixando uma carta cifrada no local do crime, mas nenhuma evidência física de sua participação nos crimes, que são considerados assassinatos seguidos de suicídio e as provas apontam para os pais de cada família cometendo os crimes.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Crítica – Jackpot: Loteria Mortal!

 

Análise Crítica – Jackpot: Loteria Mortal!

Review – Jackpot: Loteria Mortal!
Dirigido por Paul Feig, Jackpot: Loteria Mortal! se passa em um futuro próximo no qual o estado da Califórnia criou uma loteria na qual qualquer um pode tomar o prêmio do vencedor desde que consiga matá-lo até o fim do dia. Katie (Awkwafina) chega recentemente a Los Angeles para tentar a sorte como atriz, acidentalmente ela se cadastra na loteria e acaba vencendo, ficando na mira de todas as pessoas da cidade. O guarda-costas Noel (John Cena) aparece oferecendo proteção em troca de um percentual do prêmio e assim eles se tornam aliados relutantes.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Crítica – A Primeira Profecia

 

Análise Crítica – A Primeira Profecia

Funcionando como prelúdio para A Profecia (1976) este A Primeira Profecia conta as origens da seita sinistra que tenta trazer o anticristo para o mundo e mergulhá-lo em trevas. Considerando que nenhuma tentativa de continuar A Profecia foi lá grande coisa eu não tinha muitas expectativas em relação a esse prelúdio, mas, felizmente, o resultado é um terror bem executado.

A trama se passa no final da década de 60 e gira em torno de Margaret (Nell Tiger Free), freira que é enviada para trabalhar em um orfanato em Roma. Chegando lá ela conhece a jovem Carlita (Nicole Sorace), que exibe um comportamento instável e esquisito. Com o tempo Margaret experimenta visões e outras ocorrências estranhas e começa a desconfiar que a responsável pelo local, a Irmã Silva (Sônia Braga) guarda algum segredo sombrio.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Crítica – Estômago 2: O Poderoso Chef

 

Análise Crítica – Estômago 2: O Poderoso Chef

Review – Estômago 2: O Poderoso Chef
O primeiro Estômago (2007) divertia por sua mistura narrativa inusitada entre gastronomia, comédia e trama criminal. Era uma história bem executada, que amarrava com habilidade seus arcos narrativos e nunca senti que havia necessidade ou espaço para uma continuação. Talvez por isso vi com estranhamento o anúncio deste Estômago 2: O Poderoso Chef, que nos coloca novamente ao lado do cotidiano do protagonista como um detento e cozinheiro.

O chef agora é outro

Nonato (João Miguel) continua preso e continua cozinhando, agora não apenas para o líder de facção Etcetera (Paulo Miklos), mas para os guardas e o diretor do presídio, usando seu talento para obter mordomias. A dinâmica da prisão muda quando o misterioso italiano Dom Caroglio (Nicola Siri), chega para cumprir pena. As tensões aumentam e Nonato tenta acalmar os ânimos ao mesmo tempo em que voltamos ao passado para descobrir como o italiano passou de um ator fracassado chamado Roberto ao Dom de uma família criminosa.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Crítica – Motel Destino

 

Análise Crítica – Motel Destino

Review – Motel Destino
Motéis são um espaço de discrição e também de livre exercício de nossos desejos. Um lugar em somos encorajados a fazer o que queremos porque ninguém nos vê. Não é acidente, portanto, que a locação central de Motel Destino, um filme cuja história gira em torno de desejo e da necessidade de se esconder, seja um motel.

Neon Noir

A trama é protagonizada por Heraldo (Iago Xavier). Ele e o irmão trabalham para a chefe de uma facção local e são incumbidos de eliminar um rival dela. Um dia antes do assassinato, Heraldo se envolve com uma mulher que conheceu em um show e vai com ela para um motel, ele acorda no dia seguinte atrasado para o assassinato e quando chega no local combinado descobre que o irmão tentou o ataque sozinho e foi morto. Temendo a vingança da chefe e dos companheiros, Heraldo volta ao motel para se esconder e convence o casal de donos, Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção) a deixá-lo ficar lá em troca de emprego. Aos poucos, tanto Elias quanto Dayana demonstram interesse nele, com Heraldo eventualmente se envolvendo com Dayana.