Se não me engano foi o crítico Roger
Ebert que disse que um filme bom nunca é longo o bastante e um filme ruim nunca
é curto o bastante. Isso se aplica perfeitamente a este O Cara da Piscina, cujos meros cem minutos de duração se
transformam em algo tão dolorosamente excruciante que o filme parece ter mais
de quatro horas de duração.
A trama é centrada em Darren (Chris
Pine), um tratador de piscinas hiponga, conspiracionista, metido a filósofo e
ativista político, sempre cobrando mudanças nas linhas de ônibus na câmara de
vereadores. Quando ele esbarra em um escândalo envolvendo o presidente da
câmara, Stephen Toronkowski (Stephen Tobolowski), que pode estar recebendo
propina do magnata imobiliário Theodore Hollandaise (Clancy Brown) para aprovar
um grande empreendimento, Darren decide investigar a questão. No meio do
caminho encontra a femme fatale June
(DeWanda Wise) e mais uma série de personagens pitorescos.
Escrito por Diablo Cody (de Garota Infernal e Tully) e dirigido por Zelda Williams (filha do comediante Robin
Williams) este Lisa Frankenstein tem
cara de algo feito para virar cult entre certos setores da cinefilia com sua
trama insólita e personagens excêntricos. A trama se passa em 1989 sendo
protagonizada por Lisa (Kathryn Newton) uma garota introspectiva que vive à
sombra da meio-irmã popular Taffy (Liza Soberano) e da madrasta opressora Janet
(Carla Gugino). Sem sorte com garotos por ser considerada esquisita, as coisas
mudam para ela quando acidentalmente reanima um cadáver vitoriano (Cole
Sprouse, de Riverdale) durante uma
tempestade e decide fazer dele seu homem ideal com partes que pega de outros
garotos.
Lançado em 1989, Campo dos Sonhos foi tão referenciado e
parodiado que mesmo que não assistiu conhecia a frase “se você construir, ele virá”. É um drama que se vale do realismo fantástico
para falar sobre beisebol, sonhos, relações entre pais e filhos e como o
esporte pode unir gerações.
Sonhos e desilusões
A trama adapta um romance escrito
por W.P Kinsella, sendo protagonizada por Ray (Kevin Costner), um fazendeiro
que está se aproximando da idade que o pai tinha quando ele morreu e teme que,
assim como o pai, vai envelhecer sem nunca ter concretizado seus sonhos. Um dia
ele ouve uma voz dizendo “se você
construir, ele virá” e tem uma visão de um campo de beisebol sendo construído
em seu milharal. Com o apoio da esposa, Annie (Amy Madigan), Ray ceifa parte de
sua plantação para construir um campo de beisebol. Com o campo pronto, o
jogador Shoeless Joe Jackson (Ray Liotta), ídolo do pai de Ray, surge
misteriosamente do meio do milharal para jogar apesar de ter morrido há
décadas. Ray então começa a ter visões envolvendo o recluso escritor Terrance
Mann (James Earl Jones) e decide ir atrás dele, acreditando ser possível resolver
o mistério do campo de beisebol.
Histórias sobre a colonização de
algum espaço costumam ser narradas como feitos heroicos de pessoas enfrentando
ermos cheios de intempéries ou subjugando populações nativas, sem, no entanto,
ponderar sobre as consequências ou a inerente violência desse processo
colonial. A produção dinamarquesa O
Bastardo, uma das escolhas do país para o Oscar, traz um pouco de
ponderação sobre o egoísmo humano que está no cerne desse impulso desbravador.
A narrativa é baseada na história
real de Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen) militar dinamarquês responsável por
colonizar a península da Jutlândia no século XVIII, que hoje compreende a maior
parte do território dinamarquês. Estabelecer o primeiro assentamento da região,
no entanto, não era uma tarefa fácil e o reinado dinamarquês já tinha perdido o
interesse no espaço. É apenas quando Kahlen propõe custear a empreitada do
próprio bolso que a Coroa lhe dá permissão para construir seu assentamento. Lá,
Kahlen enfrenta as intempéries do ermo, a dificuldade de cultivar um solo tomado
por urzes, os saqueadores e principalmente as sabotagens perpetradas pelo
magistrado local Frederik De Schinkel (Simon Bennebjerg) que quer as terras
para si.
Reunindo Casey Affleck e Matt
Damon depois de ambos dividirem a cena na trilogia Onze Homens e Um Segredo, Os Provocadores tenta ser um filme de
roubo que mistura comédia e algum comentário político. A trama segue Rory (Matt
Damon) e Cobby (Casey Affleck), dois sujeitos que estão em um péssimo momento
de suas vidas que aceitam a proposta do pequeno criminoso Scalvo (Jack Harlow,
do fraco remake de Homens Brancos Não Sabem Enterrar) para roubarem o dinheiro de propina que o prefeito Miccelli
(Ron Perlman) tem escondido em um cofre. O assalto dá errado e agora Rory e
Cobby são homens procurados precisando encontrar um meio de fugirem da cidade,
indo pedir ajuda à terapeuta de Rory, a dra. Rivera (Hong Chau).
Filmes-catástrofe não fazem muito
meu estilo e não morro de amores pelo primeiro Twister (1996), então não fiquei exatamente empolgado com o anúncio
desse Twisters. Parecia só mais uma
dessas continuações tardias que existe para capitalizar em cima da nostalgia do
espectador. Talvez por isso eu tenha ficado surpreso com o fato de que o filme
se concentra mais em seus novos personagens sem se preocupar muito com
referências ao original.
Novos rostos
A trama é protagonizada por Kate
(Daisy Edgar-Jones), meteorologista que desenvolve um protótipo que pode
dissipar tornados. As coisas dão errado durante o teste e quase toda sua equipe
morre. Anos depois, ela trabalha em Nova Iorque quando o antigo colega, Javi
(Anthony Ramos), a procura para uma nova caçada a tornados. Javi está
trabalhando para o empreendedor Scott (David Corenswet), que financia sua
pesquisa de escaneamento de tornados. Com esse mapeamento, Kate poderia
aperfeiçoar seu protótipo e, assim, ela aceita participar da empreitada.
Chegando no interior do país, a equipe de Kate esbarra no grupo de youtubers
liderado por Tyler (Glen Powell), cuja postura é bem menos profissional que a
equipe de cientistas da qual Kate faz parte.
Um dos atores de carreira mais
longeva e marcante na dramaturgia brasileira, Grande Otelo, nome artístico de Sebastião
Bernardes de Souza Prata, demorou para ter o devido reconhecimento. Parte disso
se deve ao racismo da época em que ele atuou, parte por sua trajetória ser
muito marcada pela comédia, um gênero muitas vezes considerado “menos artístico”
ou “menos sofisticado”. O documentário Othelo:
O Grande reconta a trajetória do ator, suas dificuldades, seus triunfos e
seu ativismo político.
Memória audiovisual
A narrativa é toda contada através
de imagens de arquivo, usando produções das quais Otelo participou e também
várias entrevistas e discursos públicos que o ator deu ao longo de sua carreira.
A pesquisa de arquivo é a principal força do filme trazendo imagens raras e em
ótima qualidade de trabalhos antigos, como o Moleque Tião ou suas comédias para
a Atlântida, que quase sempre encontramos em qualidade ruim pela internet.
A pesquisa de arquivo também é
eficiente nas falas que traz do ator, com ele trazendo desde seus
posicionamentos, denunciando o racismo ao longo de sua trajetória, narrando experiências
com diretores renomados, como a impagável fala em que conta como foi trabalhar
com Werner Herzog em Fitzcarraldo (1982),
e também refletindo sobre a natureza da dramaturgia brasileira nos palcos, no
cinema e na televisão. Há uma fala interessante de Grande Otelo sobre o Cinema
Novo em que ele pondera que o fato do movimento nunca ter atingido as massas
como almejavam seus agitadores provavelmente se relacionava com a linguagem
experimental de seus filmes, mencionando como uma produção como Macunaíma (1969) teve penetração junto
ao público justamente por ter uma linguagem mais próxima das comédias populares
de sua época.
Otelo e o cinema brasileiro
Nesse sentido, conhecer a
história de Grande Otelo é também conhecer a história do teatro e do
audiovisual brasileiro, considerando a longevidade de sua trajetória e a
amplitude de diretores e movimentos com os quais colaborou. Vemos o histórico
de racismo na dramaturgia onde até mesmo alguém da competência de Grande Otelo
tinha dificuldade em conseguir trabalho porque papéis negros eram interpretados
por brancos em blackface, algo que
Joel Zito Araújo também mostrou no documentário A Negação do Brasil (2001).
Acompanhando a trajetória de
Grande Otelo vemos a ascensão das chanchadas (não confundir com pornochanchadas)
da Atlântida em filmes como Carnaval Atlântida (1952). Testemunhamos o surgimento de diretores como Nelson
Pereira dos Santos, com quem Grande Otelo trabalhou em Rio, Zona Norte (1957) e a eclosão de vanguardas como o Cinema
Novo. Vemos o surgimento e a consolidação da televisão como meio de comunicação
de massa e sua difusão pelo país no trabalho de Grande Otelo em programas como A Escolinha do Professor Raimundo. Como
o filme nos mostra, conhecer Grande Otelo é conhecer o desenvolvimento do
audiovisual brasileiro.
Por outro lado, o documentário se
prende demais às convenções de um filme de arquivo, soando demasiadamente
expositivo e convencional para uma figura que não pode ser facilmente colocada
em caixinhas. Grande Otelo é uma figura complexa, multifacetada e bastante
singular. O filme transmite isso nas falas e depoimentos, mas fica a impressão de
que a forma, não apenas o conteúdo, poderia também ser usada para construir a
complexidade do biografado.
Mesmo nunca saindo das convenções
de um documentário de arquivo, Othelo: O
Grande envolve pela trajetória longeva do ator e como ela se mescla com o
desenvolvimento do cinema brasileiro.
Um sujeito leva a filha para o
show de uma diva pop e se espanta com o volume de policiais no local. Ele logo
fica sabendo que as autoridades montaram no show uma armadilha para prender um
perigoso assassino em série ao saberem que ele estaria lá. O problema é que o
sujeito é o assassino que polícia procura. Novo filme do M. Night Shyamalan, Armadilha parte de uma premissa que
parece saída de um suspense B e abraça completamente essa natureza, talvez o
filme de sensibilidade mais B do diretor desde A Visita (2015).
A prisão do pop
Cooper (Josh Hartnett) está com a
filha no show da cantora pop Lady Rave (Saleka Shyamalan, filha do diretor). Ao
descobrir que a polícia montou uma armadilha para prendê-lo ele usa todas as
suas habilidades para encontrar um meio de fugir do local ao mesmo tempo em que
tenta manter sua fachada diante da filha.
A narrativa tem sua parcela de
conveniências, como o fato de Cooper constantemente encontrar pessoas que
revelam facilmente os segredos da operação ou algumas soluções pouco
plausíveis, como o avental roubado de um funcionário estar com a carteira do
sujeito dentro para que Cooper possa usar um documento para sair de um
problema. Muito disso, no entanto, é tratado com alguma medida de humor, parte
da autoconsciência que o filme exibe a respeito de toda a sua vibe de filme B.
Hartnett, que vem experimentando
uma renascença na carreira com participações em produções como Black Mirrorou Oppenheimer (2023), é ótimo em construir a dualidade de Cooper. Um
pai amoroso, que parece se importar de verdade com a filha e quer mantê-la
longe de sua faceta mais sombria, e um assassino ardiloso e cruel que não se
importa em mentir, manipular ou ferir os outros para conseguir o que quer. A
composição de Harnett mostra aos poucos as rachaduras que vão aparecendo em sua
fachada de cidadão pacato, ficando mais agitado e com mais dificuldade de se
manter no controle.
Esse desvelamento da
personalidade do protagonista se dá também pelo modo como Shyamalan o filma,
recorrendo a closes mais fechados ou planos detalhe de pequenos tiques e
expressões do personagem que revelam sua tensão e gradual perda de controle,
além de ressaltar a sensação de acuamento e como as opções e espaços estão
diminuindo ao seu redor. A narrativa se equilibra em uma corda bamba tonal,
tentando ao mesmo tempo nos fazer temer Cooper por sua natureza cruel e
implacável e fazer nos importarmos com sua relação com a filha, a exemplo de
toda a subtrama envolvendo a briga da filha com uma colega de escola. Essas
duas facetas eventualmente convergem, como no momento em que Cooper convence a
produção do show a escolher sua filha para ser chamada para dançar com Lady
Raven no palco, simultaneamente conseguindo acesso aos bastidores da arena e
fazendo a filha provocar ciúmes na patricinha que a maltratou.
O caos da liberdade
É uma pena que toda essa
construção cuidadosa e o crescimento da tensão desmoronem assim que a narrativa
deixa o estádio. A impressão é que Shyamalan tinha umas três ideias diferentes
de como encerrar sua narrativa e resolveu executar todas ao mesmo tempo,
resultando em um vai e vêm constante de caminhos narrativos, reviravoltas que
se acumulam tão rápido que não causam o impacto devido e soluções tão
convenientes que mesmo no clima de excesso do filme soam pouco críveis.
A revelação envolvendo a
personagem de Alison Pill, por exemplo, falha em ser a grande reviravolta que o
filme a conduz para ser por soar desonesta. A personagem aparece muito tarde e
muito pouco para sentirmos que aquela é uma guinada inesperada que ressignifica
o que achávamos entender da dinâmica daquelas personagens e mais algo que o
roteiro tira da cartola no último minuto porque precisava chocar o espectador.
Para funcionar como o filme esperava que funcionasse era preciso apresentar a
personagem antes, mostrar o estado da relação de Cooper com ela e ir
construindo alguma medida subjacente de ambiguidade.
É mais um exemplo que mostra como
Shyamalan é um ótimo diretor, mas um péssimo roteirista, algo que já mencionei
quando escrevi sobre Batem à Porta(2023).
Shyamalan só tinha a ganhar se concentrasse seus esforços na direção e tivesse
alguém para desenvolver os roteiros ao seu lado a partir dos argumentos que ele
próprio cria.
Armadilha vale pelo modo como constrói o senso crescente de tensão
no jogo de gato e rato entre o protagonista e seus perseguidores, bem como na
dualidade que traz ao protagonista, sendo lamentável que ele se perca no
clímax, desperdiçando o seu próprio potencial.
Os filmes do diretor grego Yorgos
Lanthimos costumam ser divisivos, com reações que muitas vezes se localizam em
polos extremos do amor ao ódio por suas produções. Em geral costumo gostar do
niilismo surrealista do diretor, mas confesso que Tipos de Gentileza não me pegou.
Absurdo previsível
A produção consiste de um tríptico
de três histórias curtas. Na primeira história seguimos Robert (Jesse Plemons),
um sujeito completamente devotado ao chefe, Raymond (Willem Dafoe), que
controla todos os seus horários e ações ao longo do dia. Quando Raymond pede a
Robert que bata seu carro em alta velocidade contra outro veículo, Robert não
fica confortável com a possibilidade de matar outra pessoa, criando um conflito
na relação. Na segunda história um policial, Daniel (Jesse Plemons) se reúne
com a esposa, Liz (Emma Stone), depois que ela se envolve em um naufrágio e
fica meses perdida no mar. O problema é que Daniel desconfia que a mulher que
voltou não é a sua esposa. A terceira história é protagonizada por Emily (Emma
Stone) que é devotada a um bizarro culto sexual liderado por Omi (Willem Dafoe)
e Aka (Hong Chau) e é incumbida de encontrar uma mulher que, segundo profecias,
seria capaz de ressuscitar os mortos.
Depois de assistir O Reencontro da Turma pensei seriamente
se eu escreveria algo respeito. É uma produção tão inane, tão desprovida de
qualquer qualidade minimamente memorável que pensei que seria difícil fazer
render um texto sobre ele, mesmo nas pílulas críticas da coluna Drops. Ainda
assim, resolvi tentar como um desafio (ou penitência, sei lá) auto imposto para
ver o que consigo extrair.