Quando escrevi sobre o péssimo Mentes Sombriasnos idos de 2018 e o
fraco Máquinas Mortaisem 2019
mencionei como eles chegaram atrasados para a festa das adaptações de romances
jovens distópicos, estreando em um momento em que todo mundo já estava cansado
dos clichês desse tipo de história e com tramas que não faziam muito mais do
que repetir tropos desgastados. Pois é com surpresa ver que Hollywood ainda
insiste neste gênero que ninguém mais quer com este Feios. Produzido pela Netflix, é mais uma adaptação de uma série de
romances sobre distopias protagonizadas por adolescentes e, como era de se
esperar, é muito, muito ruim.
A ausência de um ente querido
promove mudanças no cotidiano de todo mundo afetado por esse vazio. A produção
cearense Quando Eu Me Encontrar se
propõe justamente a examinar as consequências dessa ausência e como as pessoas
reexaminam suas vidas diante dela.
Marcas da ausência
Na trama, a jovem Dayane vai
embora de casa sem dar satisfação nenhuma à família. Sua mãe, Marluce (Luciana
Souza) fica em choque com a partida repentina que a faz reexaminar sua relação
com a própria mãe. Antônio (David Santos), noivo de Dayane, tenta de algum modo
encontrar uma explicação para o sumiço da amada, se aproximando da melhor amiga
dela, Cecília (Di Ferreira). A irmã mais nova de Dayane, Mariana (Pipa),
enfrenta problemas na escola de classe média que ela frequenta como bolsista
depois que uma amiga é abusada durante uma festa e elas se tornam alvos de
comentários maldosos.
De uns anos para cá a Capcom parece
interessada em resgatar a memória de seus clássicos games de luta. Primeiro
lançaram a Capcom Fighting Collection
trazendo games da década de 90 que a empresa nunca fez novas iterações como Darkstalkers ou Cyberbots. Este ano a empresa pegou todo mundo de surpresa com o
anúncio desta Marvel vs Capcom Fighting
Collection que compila os jogos de fliperama que a Capcom fez em parceria
com a Marvel. Digo que pegou de surpresa porque desde o fracasso de Marvel vs Capcom Infinite a relação entre
as duas empresas não parecia estar em um bom momento e mesmo campanhas de fãs para
trazer de volta games como Marvel vs
Capcom 2, como a liderada pelo youtuber Maximilian Dood, eram recebidas com
frieza pela Capcom e com respostas de que era difícil algo assim acontecer.
Se não me engano foi o crítico Roger
Ebert que disse que um filme bom nunca é longo o bastante e um filme ruim nunca
é curto o bastante. Isso se aplica perfeitamente a este O Cara da Piscina, cujos meros cem minutos de duração se
transformam em algo tão dolorosamente excruciante que o filme parece ter mais
de quatro horas de duração.
A trama é centrada em Darren (Chris
Pine), um tratador de piscinas hiponga, conspiracionista, metido a filósofo e
ativista político, sempre cobrando mudanças nas linhas de ônibus na câmara de
vereadores. Quando ele esbarra em um escândalo envolvendo o presidente da
câmara, Stephen Toronkowski (Stephen Tobolowski), que pode estar recebendo
propina do magnata imobiliário Theodore Hollandaise (Clancy Brown) para aprovar
um grande empreendimento, Darren decide investigar a questão. No meio do
caminho encontra a femme fatale June
(DeWanda Wise) e mais uma série de personagens pitorescos.
Escrito por Diablo Cody (de Garota Infernal e Tully) e dirigido por Zelda Williams (filha do comediante Robin
Williams) este Lisa Frankenstein tem
cara de algo feito para virar cult entre certos setores da cinefilia com sua
trama insólita e personagens excêntricos. A trama se passa em 1989 sendo
protagonizada por Lisa (Kathryn Newton) uma garota introspectiva que vive à
sombra da meio-irmã popular Taffy (Liza Soberano) e da madrasta opressora Janet
(Carla Gugino). Sem sorte com garotos por ser considerada esquisita, as coisas
mudam para ela quando acidentalmente reanima um cadáver vitoriano (Cole
Sprouse, de Riverdale) durante uma
tempestade e decide fazer dele seu homem ideal com partes que pega de outros
garotos.
Lançado em 1989, Campo dos Sonhos foi tão referenciado e
parodiado que mesmo que não assistiu conhecia a frase “se você construir, ele virá”. É um drama que se vale do realismo fantástico
para falar sobre beisebol, sonhos, relações entre pais e filhos e como o
esporte pode unir gerações.
Sonhos e desilusões
A trama adapta um romance escrito
por W.P Kinsella, sendo protagonizada por Ray (Kevin Costner), um fazendeiro
que está se aproximando da idade que o pai tinha quando ele morreu e teme que,
assim como o pai, vai envelhecer sem nunca ter concretizado seus sonhos. Um dia
ele ouve uma voz dizendo “se você
construir, ele virá” e tem uma visão de um campo de beisebol sendo construído
em seu milharal. Com o apoio da esposa, Annie (Amy Madigan), Ray ceifa parte de
sua plantação para construir um campo de beisebol. Com o campo pronto, o
jogador Shoeless Joe Jackson (Ray Liotta), ídolo do pai de Ray, surge
misteriosamente do meio do milharal para jogar apesar de ter morrido há
décadas. Ray então começa a ter visões envolvendo o recluso escritor Terrance
Mann (James Earl Jones) e decide ir atrás dele, acreditando ser possível resolver
o mistério do campo de beisebol.
Histórias sobre a colonização de
algum espaço costumam ser narradas como feitos heroicos de pessoas enfrentando
ermos cheios de intempéries ou subjugando populações nativas, sem, no entanto,
ponderar sobre as consequências ou a inerente violência desse processo
colonial. A produção dinamarquesa O
Bastardo, uma das escolhas do país para o Oscar, traz um pouco de
ponderação sobre o egoísmo humano que está no cerne desse impulso desbravador.
A narrativa é baseada na história
real de Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen) militar dinamarquês responsável por
colonizar a península da Jutlândia no século XVIII, que hoje compreende a maior
parte do território dinamarquês. Estabelecer o primeiro assentamento da região,
no entanto, não era uma tarefa fácil e o reinado dinamarquês já tinha perdido o
interesse no espaço. É apenas quando Kahlen propõe custear a empreitada do
próprio bolso que a Coroa lhe dá permissão para construir seu assentamento. Lá,
Kahlen enfrenta as intempéries do ermo, a dificuldade de cultivar um solo tomado
por urzes, os saqueadores e principalmente as sabotagens perpetradas pelo
magistrado local Frederik De Schinkel (Simon Bennebjerg) que quer as terras
para si.
Reunindo Casey Affleck e Matt
Damon depois de ambos dividirem a cena na trilogia Onze Homens e Um Segredo, Os Provocadores tenta ser um filme de
roubo que mistura comédia e algum comentário político. A trama segue Rory (Matt
Damon) e Cobby (Casey Affleck), dois sujeitos que estão em um péssimo momento
de suas vidas que aceitam a proposta do pequeno criminoso Scalvo (Jack Harlow,
do fraco remake de Homens Brancos Não Sabem Enterrar) para roubarem o dinheiro de propina que o prefeito Miccelli
(Ron Perlman) tem escondido em um cofre. O assalto dá errado e agora Rory e
Cobby são homens procurados precisando encontrar um meio de fugirem da cidade,
indo pedir ajuda à terapeuta de Rory, a dra. Rivera (Hong Chau).
Filmes-catástrofe não fazem muito
meu estilo e não morro de amores pelo primeiro Twister (1996), então não fiquei exatamente empolgado com o anúncio
desse Twisters. Parecia só mais uma
dessas continuações tardias que existe para capitalizar em cima da nostalgia do
espectador. Talvez por isso eu tenha ficado surpreso com o fato de que o filme
se concentra mais em seus novos personagens sem se preocupar muito com
referências ao original.
Novos rostos
A trama é protagonizada por Kate
(Daisy Edgar-Jones), meteorologista que desenvolve um protótipo que pode
dissipar tornados. As coisas dão errado durante o teste e quase toda sua equipe
morre. Anos depois, ela trabalha em Nova Iorque quando o antigo colega, Javi
(Anthony Ramos), a procura para uma nova caçada a tornados. Javi está
trabalhando para o empreendedor Scott (David Corenswet), que financia sua
pesquisa de escaneamento de tornados. Com esse mapeamento, Kate poderia
aperfeiçoar seu protótipo e, assim, ela aceita participar da empreitada.
Chegando no interior do país, a equipe de Kate esbarra no grupo de youtubers
liderado por Tyler (Glen Powell), cuja postura é bem menos profissional que a
equipe de cientistas da qual Kate faz parte.
Um dos atores de carreira mais
longeva e marcante na dramaturgia brasileira, Grande Otelo, nome artístico de Sebastião
Bernardes de Souza Prata, demorou para ter o devido reconhecimento. Parte disso
se deve ao racismo da época em que ele atuou, parte por sua trajetória ser
muito marcada pela comédia, um gênero muitas vezes considerado “menos artístico”
ou “menos sofisticado”. O documentário Othelo:
O Grande reconta a trajetória do ator, suas dificuldades, seus triunfos e
seu ativismo político.
Memória audiovisual
A narrativa é toda contada através
de imagens de arquivo, usando produções das quais Otelo participou e também
várias entrevistas e discursos públicos que o ator deu ao longo de sua carreira.
A pesquisa de arquivo é a principal força do filme trazendo imagens raras e em
ótima qualidade de trabalhos antigos, como o Moleque Tião ou suas comédias para
a Atlântida, que quase sempre encontramos em qualidade ruim pela internet.
A pesquisa de arquivo também é
eficiente nas falas que traz do ator, com ele trazendo desde seus
posicionamentos, denunciando o racismo ao longo de sua trajetória, narrando experiências
com diretores renomados, como a impagável fala em que conta como foi trabalhar
com Werner Herzog em Fitzcarraldo (1982),
e também refletindo sobre a natureza da dramaturgia brasileira nos palcos, no
cinema e na televisão. Há uma fala interessante de Grande Otelo sobre o Cinema
Novo em que ele pondera que o fato do movimento nunca ter atingido as massas
como almejavam seus agitadores provavelmente se relacionava com a linguagem
experimental de seus filmes, mencionando como uma produção como Macunaíma (1969) teve penetração junto
ao público justamente por ter uma linguagem mais próxima das comédias populares
de sua época.
Otelo e o cinema brasileiro
Nesse sentido, conhecer a
história de Grande Otelo é também conhecer a história do teatro e do
audiovisual brasileiro, considerando a longevidade de sua trajetória e a
amplitude de diretores e movimentos com os quais colaborou. Vemos o histórico
de racismo na dramaturgia onde até mesmo alguém da competência de Grande Otelo
tinha dificuldade em conseguir trabalho porque papéis negros eram interpretados
por brancos em blackface, algo que
Joel Zito Araújo também mostrou no documentário A Negação do Brasil (2001).
Acompanhando a trajetória de
Grande Otelo vemos a ascensão das chanchadas (não confundir com pornochanchadas)
da Atlântida em filmes como Carnaval Atlântida (1952). Testemunhamos o surgimento de diretores como Nelson
Pereira dos Santos, com quem Grande Otelo trabalhou em Rio, Zona Norte (1957) e a eclosão de vanguardas como o Cinema
Novo. Vemos o surgimento e a consolidação da televisão como meio de comunicação
de massa e sua difusão pelo país no trabalho de Grande Otelo em programas como A Escolinha do Professor Raimundo. Como
o filme nos mostra, conhecer Grande Otelo é conhecer o desenvolvimento do
audiovisual brasileiro.
Por outro lado, o documentário se
prende demais às convenções de um filme de arquivo, soando demasiadamente
expositivo e convencional para uma figura que não pode ser facilmente colocada
em caixinhas. Grande Otelo é uma figura complexa, multifacetada e bastante
singular. O filme transmite isso nas falas e depoimentos, mas fica a impressão de
que a forma, não apenas o conteúdo, poderia também ser usada para construir a
complexidade do biografado.
Mesmo nunca saindo das convenções
de um documentário de arquivo, Othelo: O
Grande envolve pela trajetória longeva do ator e como ela se mescla com o
desenvolvimento do cinema brasileiro.