Apesar do título, The First Slam Dunk não é um prelúdio
para a história do anime/mangá Slam Dunk
de Takehiko Inoue. Na verdade, ele é uma espécie de continuação do anime ao
adaptar o último arco do mangá e mostrar a partida decisiva entre os
protagonistas do colégio Shohoku e os rivais do colégio Sannoh. De partida isso
pode afastar novatos a este universo, já que encontramos esses personagens e
suas relações plenamente desenvolvidos, mas o filme, dirigido pelo próprio
Inoue em sua estreia como realizador de cinema, consegue funcionar como uma
ótima introdução a Slam Dunk.
Vidas em jogo
A narrativa se passa durante a
partida derradeira entre Shohoku e Sannoh e ao logo do jogo volta algumas vezes
ao passado dos protagonistas para construir suas histórias e o que está em
disputa para cada um naquela partida numa estrutura similar a Rivais(2024). Se o anime e mangá eram
protagonizados pelo jovem delinquente Sakuragi, que entrava para um time de
basquete para se aproximar de uma garota de quem gostava, aqui o foco da
narrativa é Ryota, um armador de baixa estatura, mas muito ágil.
Não esperava muita coisa de Operação Natal. O trailer dava a
impressão de um blockbuster genérico,
feito para cumprir a cota de filmes natalinos do ano, mas o resultado é uma
aventura divertida, que cria um universo interessante e tem um inesperado calor
humano. Além do mais, em um ambiente em que praticamente todos os blockbusters são continuações de
franquias longevas ou pertencem a algum universo compartilhado, é um alívio
enorme assistir um filme-pipoca que não te cobra o “dever de casa” de ter
acompanhado meia dúzia de outros filmes, séries e spin-offs para conseguir minimamente se situar na narrativa. É bom
ver que Hollywood ainda sabe fazer filmes que você pode simplesmente sentar e
se divertir.
Papai Noel em perigo
A trama é centrada em Cal (Dwayne
“The Rock” Johnson), o guarda-costas pessoal do Papai Noel (J.K Simmons). Ele
está prestes a se aposentar por estar descrente com a humanidade, cuja lista de
pessoas malvadas já superou a de pessoas boazinhas. No seu último dia de
trabalho, Noel é sequestrado e a única pista é o hacker que ajudou os
sequestradores a encontrarem a fábrica do Papai Noel. Assim, Jack (Chris
Evans), que nunca acreditou em Papai Noel, é arrastado por Cal para descobrir o
paradeiro do bom velhinho.
De certa forma é uma trama bem
esquemática. Uma dupla de personalidades opostas, com Cal sendo o sisudo focado
na missão enquanto Jack é um malandro que tenta resolver tudo na lábia e sempre
busca tirar vantagem. É claro que ao longo da trama eles irão aprender algo um
com o outro e Jack, que está na lista dos malcriados desde criança, vai
aprender a ser bonzinho e se reaproximar do filho com quem tem pouco contato. É
previsível, mas funciona pelo carisma do elenco.
Chris Evans é bem divertido
fazendo um canalha de bom coração que aos poucos aprende a importância de
formar laços com outras pessoas enquanto Johnson funciona como o contraponto
mais sério à personalidade escorregadia de Jack. Evans inclusive encontra
momentos de emoção genuína nas conversas entre Jack e o filho durante o clímax.
J.K Simmons traz a Noel uma presença que é simultaneamente marcante e humilde.
É um sujeito que demonstra um grande poder, mas uma medida similar de
benevolência e afeto.
Universo fantasioso
A produção é criativa na
construção de seu universo em que seres mitológicos vivem ocultos em meio ao
nosso mundo, com uma agência secreta que mantem a paz entre seres lideradas
pela expediente Zoe (Lucy Liu). Cal, por exemplo, consegue se mover rapidamente
para qualquer lugar do mundo usando uma rede de portais que são acessados em
qualquer loja de brinquedos e uma manopla que pode transformar qualquer
brinquedo em um objeto real, como transformar um carrinho em miniatura em um
carro de verdade. Sim, esses momentos muitas vezes servem de publicidade para
algumas marcas de brinquedos, mas não deixam de gerar alguns momentos
divertidos.
O filme também acerta nas cenas
de ação e como usa diferentes criaturas de histórias natalinas, como os bonecos
de neve que congelam tudo em que tocam e servem de capangas para a vilã ou o
modo como Cal altera entre sua forma humana e sua forma de elfo enquanto luta usando
a variação de tamanho ao seu favor como se fosse o Homem-Formiga. O fato de boa
parte dessas criaturas serem feitas usando próteses e maquiagem ajuda a tornar
tudo mais crível e a dar um senso de materialidade a esse universo, como no
segmento em que Cal e Jack invadem o lar do Krampus (Kristofer Hivju), o irmão
maligno do Papai Noel, e todas as criaturas ali são primordialmente fruto de
efeitos práticos.
Inclusive nos momentos em que o
filme recorre a criaturas completamente digitais chega a ser difícil não sentir
algum estranhamento, já que elas não parecem pertencer ao mesmo universo que o
resto dos personagens, Alguns, como o urso polar Garcia, são convincentes, mas
outros nem tanto. O melhor exemplo disso é quando a bruxa Gryla (Kiernan Shipka,
de O Mundo Sombrio de Sabrina) assume
sua forma monstruosa durante o clímax e o resultado parece mais um design rejeitado para chefão de Dark Souls.
O texto ocasionalmente apresenta
algumas incongruências. Um exemplo é o fato de Cal trabalhar há séculos
protegendo o Noel e agindo como um guarda-costas pró-ativo e diligente, mas
quando é conveniente para o roteiro ele desconhece completamente como lidar com
determinadas criaturas embora ele se comporte como se já tivesse enfrentado
esses seres antes.
Mesmo com uma trama previsível, Operação Natal diverte pelo elenco
carismático e pelo universo criativo que mistura fantasia e realidade.
Hoje na coluna Drops, dedicada a
textos mais curtos, vou falar sobre dois filmes que acabei deixando passar
quando foram exibidos nos cinemas, Transformers:
O Início e Hellboy e o Homem Torto,
dois filmes que funcionam como recomeços para seus respectivos personagens.
Aventura “padrão Marvel”
Transformers: O Início acompanha a história de dois mineradores,
Orion Pax (Chris Hemsworth) e D-16 (Bryan Tyree Henry, de Atlanta) antes que eles se tornem os lendários Optimus Prime e
Megatron respectivamente. A trama mostra uma Cybertron arruinada, que depende
da constante mineração de energon para sobreviver enquanto o líder, Sentinel
Prime busca a mítica matriz da liderança para resolver o problema de energia do
planeta.
Desde o início incomoda como o
filme se apoia no expediente de ter seus personagens trocando piadinhas ou
diálogos engraçadinhos o tempo todo, muitas vezes comentando a própria trama,
como se esse tipo de humor “padrão Marvel” fosse um substituto para personagens
sem personalidade ou para uma trama mal escrita (tentar rir de um roteiro ruim
não é por si só engraçado). Isso é principalmente evidente em B-127 (que virará
o Bumblebee), cujo falatório constante é mais constrangedor e irritante do que
engraçado, e em Elita-1 (Scarlett Johansson), que é reduzida à “a garota”, se
limitando a reagir exasperada às ações dos demais personagens de maneira tão
clichê que imaginei que em algum momento ela fosse jogar os braços para cima e
dizer “ah, homens” aborrecida.
Essa terceira temporada de The Legend of Vox Machina tem um clima
de apoteose considerando que ela marca o confronto derradeiro entre os
aventureiros da Vox Machina e o conclave de dragões liderado pelo poderoso
dragão vermelho Thordak. É um conflito que foi construído ao longo das duas temporadas anteriores e cuja execução aqui não decepciona.
Masmorras e dragões
Mesmo depois de coletarem os Vestígios na segunda temporada, o grupo ainda não é páreo para Thordak. Eles
são abordados por Raishan, antiga aliada de Thordak, que propõe uma aliança com
eles, já que ela quer se vingar do dragão por ter se recusado a ajudá-la a
eliminar uma maldição que a estava matando aos poucos. Mesmo relutantes, a
equipe aceita o acordo e parte em busca de uma armadura que pode absorver o
poder de Thordak. A missão se torna mais urgente com a descoberta que o dragão
está chocando centenas de ovos que estão prestes a eclodir para liberar novos
dragões contra o reino.
Semanas atrás a Netflix lançou o
suspense Não Se Mexa e agora chega
aos cinemas o terror Não Solte!, os
dois filmes não tem nenhuma conexão entre si, mas achei curiosa a tendência de
dois títulos imperativos (um imperativo já contido nos títulos originais dos
filmes) chegando tão próximos um do outro. Dirigido por Alexandre Aja,
responsável por filmes como Oxigênio(2021)
e Predadores Assassinos (2019), a
produção tenta discutir maternidade, proteção e como nosso esforço de evitar
que nossos problemas recaiam sobre nossos filhos muitas vezes é o que os deixa
iguais a nós.
O diretor Sean Baker sempre
demonstrou interesse por pessoas que vivem nas margens, que sobrevivem nas
fissuras, nos cantos que nosso olhar não alcança ou não se interessa muito em
chegar. Em Projeto Flórida(2017)
acompanhava o cotidiano de uma garotinha que vivia uma existência nômade por
hotéis baratos ao lado da mãe viciada. Neste Red Rocket o diretor acompanha um ator pornô fracassado que volta
para sua cidade natal na costa do Texas.
Uma vida obscena
Mike (Simon Rex) chega cheio de
hematomas à sua cidade natal e pede para ficar uns dias na casa da ex-esposa
Lexi (Bree Elrod), de quem nunca se divorciou. Ela e sua mãe, Lil (Brenda
Deiss), que vive na mesma casa, não o querem ali, mas Mike usa sua lábia para
convencê-las em troca de ajudar no aluguel. Ele tenta conseguir emprego, mas é
recusado por conta de seu passado como ator pornô. Ele acaba convencendo uma
traficante local a deixá-lo vender maconha e passa a fazer ponto em uma loja de
rosquinha vendendo para trabalhadores que passam no local durante a troca de
turnos. Ele também fica interessado pela balconista da loja, a jovem Raylee
(Suzanna Son), cujo apelido é Morango.
Apesar de ter adorado a vilã
afrontosa vivida por Kathryn Hahn em Wandavision,
confesso que não estava muito empolgado para a minissérie Agatha Desde Sempre. Primeiro porque não sabia se a personagem
tinha estofo suficiente para sustentar uma série sozinha. Segundo porque a produção
teve tantas atribulações, sendo reescrita, adiada e sofrendo alterações de
título tantas vezes que temi que o resultado fosse uma bagunça incoerente. Felizmente
a série é melhor do que eu esperava.
Algo oculto e impuro
A trama reencontra Agatha (Kathryn
Hahn) ainda presa na vida ilusória que Wanda (Elizabeth Olsen) criou para ela
no final de Wandavision. Ela é
libertada graças à intervenção de um misterioso jovem (Joe Locke) que deseja a
ajuda de Agatha para adentrar o mítico Caminho das Bruxas e alcançar o poder
dado a quem supera seus desafios. Agatha vê no garoto uma oportunidade de
recuperar seu poder, montando um novo coven de bruxas de quem poderá extrair
poder.
Depois de reunir Matt Damon e
Casey Affleck com o fraco Os Provocadores, a AppleTV volta a promover mais uma mini reunião de Onze Homens e um Segredo (2001) ao
juntar novamente Brad Pitt e George Clooney neste Lobos. Infelizmente assim como Os
Provocadores o resultado aqui é um thriller
morno
Operativos discretos
Na trama, Clooney é um mercenário
especialista em fazer desaparecer as indiscrições dos poderosos. Ele é
contratado pela promotora Margaret (Amy Ryan) depois que um jovem com quem ela
está tendo um caso aparentemente morre em seu quarto de hotel. O problema é que
os donos do hotel também contrataram seu próprio mercenário no operativo vivido
por Brad Pitt. Como os dois clientes têm seus próprios interesses a proteger,
os mercenários são obrigados a trabalharem juntos. As coisas se complicam
quando os dois encontram uma quantidade enorme de drogas na mochila do garoto
morto e precisam descobrir a quem as drogas pertencem para que os donos não
mirem em seus clientes.
Chegando a sua terceira
temporada, O Poder e a Lei funciona
como uma espécie de série conforto para mim. Não tem nada de novo em termos de
drama de tribunal, mas executa esses elementos com competência e carisma para
me manter interessado mesmo que eu perceba todos os lugares comuns em cena.
Lei para quem precisa
A trama segue onde o segundo ano parou, com Mickey (Manuel Garcia-Rulfo) tentando descobrir quem matou sua
antiga cliente, Gloria (Fiona Rene), ao mesmo tempo em que defende o homem
acusado de matá-la, Julian (Devon Graye), a quem Mickey considera inocente.
Para o advogado inocentar Julian o levará diretamente ao culpado pela morte de
Gloria, mas isso o coloca em meio a uma perigosa teia de crimes.
Uma mulher enlutada pela morte do
filho vai até o parque florestal em que ele morreu com o intento de se matar.
Lá ela conhece um estranho que a convence a desistir do suicídio, mas logo a
derruba com uma arma de choque e a leva cativa. Ela tenta se libertar, mas
descobre que foi drogada com um paralisante potente que em questão de minutos
irá travar seus músculos, então ela precisa correr contra o tempo.